Capítulo 17

1268 Words
Santiago sentia o perfume de seus cabelos, e se perguntou se ela estava dormindo...ou perdido o sono como ele. Júlia não ousou se virar por um longo tempo, seu braço já estava dormente por ter passado tanto tempo na mesma posição. Em sua mente, os acontecimentos do casamento não paravam de passar em sua mente várias e várias vezes. Heitor parecia um louco, berrando a plenos pulmões, e ela se perguntou se teria tido a mesma coragem...se tivesse estado presente no casamento dele. A noite estava sendo longa. Júlia sentia calor, e desejou que Santiago já tivesse pegado no sono. Aos poucos foi se virando, e seus olhos encontraram um Santiago adormecido. Ficou assim, por alguns minutos...o observando, tinha traços bonitos, os cabelos um pouco ondulados e brilhosos lhe davam charme. Um nó em sua garganta se formou. "Não era pra ter sido assim, nada disso foi o que desejei" Ela pensou em completo silêncio. "A noite de núpcias era pra ter sido incrível...Heitor era quem estaria deitado aqui" Mas nada do que seu coração desejou aconteceu, e assim como ele, ela também se vendeu a um valor alto...para que pudesse ter a mãe por mais alguns anos, e Lúcia ter uma vida melhor. No fim, foi ela quem deixou de ser livre...afinal, agora era a esposa de Santiago Monterrubio, mesmo que não fosse na prática. Júlia se levantou lentamente da cama, vestiu o robe e seus pés descalços sentiram o chão frio. Olhou para trás para se certificar que Santiago continuava dormindo, e caminhou até a sacada. Abriu o porta janelas que dava para o jardim, e o vento frio balançou seus cabelos. Não se ouvia absolutamente nada, o silêncio reinava por toda a fazenda Monterrubio, apenas os barulhos dos pássaros noturnos. Júlia abraçou o próprio corpo e fechou os olhos, desejou de todo o coração que ao menos fosse um pouco feliz, mesmo não sendo com o homem que seu coração ainda insistia em amar. [...] Almerinda entrou na sala de jantar logo cedo, e se deparou com um banquete. Os empregados pareciam ter multiplicado do dia para a noite, e passavam por ela sem ao menos lhe dirigirem a palavra. _Carlota, mande que sirvam meu café no jardim_ Maura entra na sala de jantar e também não pode disfarçar o olhar de descontentamento _O patrão pediu para que o café da manhã seja servido, assim que ele e a esposa descerem_ A governanta sorri ao ver a expressão de Almerinda. _Essa...mulherzinha, não é patroa de nada e nem de ninguém. Sirva o café agora! _Bom dia_ Santiago estava parado na entrada_ Almerinda, você se quiser, pode ir comer até nos estábulos, eu não ligo. _É o cúmulo que você nos obrigue a suportar a presença dessa...garota...em nossa própria casa. Santiago respira fundo e se senta na ponta da mesa. _Onde está Mercedes_ Ele pergunta sem dar atenção alguma a madrasta. Maura se senta e encara Santiago. _Ja vai descer, minha irmã não teve um bom dia desde ontem... Heitor entrou na sala de jantar e Mercedes estava logo atrás. Ambos haviam desistido desistido de deixar o povoado por enquanto. _Pensei que fossem para a capital _ Almerinda diz surpresa_ Não acho que seja uma boa ideia... _Não me importo com o que pensas, mamãe _ Santiago sorriu ao ouvir aquilo _ Por hora, Mercedes e eu decidimos ficar na fazenda. Almerinda fechou a cara e olhou em volta impaciente. _Até quando teremos que espera Santiago? Essa moça não tem um pingo de educação... _Bom dia_ A voz suave de Júlia cala a voz irritante de Almerinda _ Perdão por fazê-los esperar_ Ela sorri tímida_ Pedi para Santiago começar sem mim. _Você é a pessoa mais importante dessa casa_ Santiago se levantou e abriu a cadeira para Júlia, que agradeceu baixinho_ Nenhuma refeição será iniciada de agora em diante, sem você estar presente. Ele beija a mão de Júlia. Mercedes olhou de canto para o marido, mas Heitor tinha os olhos fixos no prato a sua frente. _Desde que não nos faça esperar uma eternidade...querida_ Almerinda encara Júlia_ Entendo que lá no seu barraco não devia haver regras para as refeições... _Ao contrário, no meu barraco havia regras sim_ Júlia sorri venenosa_ A diferença é que se comia de boca fechada... _Olha aqui sua... _JÁ CHEGA!_ Santiago falou alto fazendo Júlia se assustar, ele viu de canto de olho a forma como ela se encolheu diante de seu descontrole_ Se é tão r**m para você ter que esperar os outros, Almerinda, vá comer com os porcos...não está sendo obrigada a ficar na mesa, muito menos nessa casa! Santiago começou a tossir e a massagear o peito. Hugo atravessou a sala a passos largos, mas Júlia foi mais rápida e o virou para ela, abrindo os primeiros botões da camisa e massageando as laterais de seu pescoço, com os polegares em sua garganta. Tinha muita experiência com isso, afinal fizera muitas vezes em sua mãe em suas crises. A tosse foi passando e a cor no rosto de Santiago foi voltando. _Hugo, me ajude a levá-lo pro quarto, e peça que tragam o café da manhã pra ele_ Júlia passa o braço de Santiago por seu ombro e envolve a cintura dele com o seu braço. _Ouviu a patroa, vá logo preparar o café do patrão _ Carlota diz alto para a empregada. Hugo e Júlia subiram com Santiago. _Vamos deita-lo na cama_ Hugo abre a porta do quarto. _Não. Vamos senta-lo na poltrona_ Júlia ajudou Santiago a se sentar_ Ele sente falta de ar e as tosses não ajudam, ficar deitado piora ainda mais. Júlia abre as cortinas deixando a claridade entrar, e em seguida a porta janelas, fazendo a brisa fresca arejar o ambiente. _Ele precisa de ar fresco, o quarto fechado e ele deitado não ajuda muito_ Santiago não dizia uma palavra, apenas observava cada movimento de Júlia. _ Pode ir Hugo_ Ele finalmente disse. _Com licença. Hugo fecha a porta, deixando Júlia e Santiago sozinhos. _Como sabe dessas coisas_ Ele pergunta curioso, enquanto Júlia abria todas as janelas e cortinas, deixando o quarto todo claro pela primeira vez. _Minha mãe também tem essas crises, e isso ajudava passar e deixava ela calma. Você tem câncer não é.. Santiago ficou em silêncio. _Se não quiser falar sobre isso, eu entendo, mas precisa entender que o tratamento é importante e um ambiente tranquilo também. Santiago a olhou nos olhos. _Eu já aceitei minha morte, Júlia, nada me prende nessa vida...então não a motivos para lutar por ela. _Esta errado_ Júlia sustentou seu olhar _ Sempre haverá motivos para se lutar pela vida, você só precisa encontrar o seu. A porta foi aberta, fazendo ambos quebrar o contato visual. Júlia pegou a bandeja e colocou sobre a mesinha mais próxima. _Não estou com fome_ Santiago diz sem ânimo. _Precisa se alimentar, e vai se alimentar. _Não acha que está dando ordens de mais? Júlia se virou para ele e sorriu. _Acho, mas não me importo. Agora, abra a boca e coma tudo. Santiago estreitou o olhar e Júlia abriu ainda mais seu sorriso, ao vê-lo emburrado. [...] O carro foi para de aos poucos e logo a porta foi aberta. Eusebio entrou na parte de trás. _Aqui está uma parte do seu pagamento _ Almerinda lhe entrega o envelope. _Metade? Faz ideia do que estou passando? E ganho só metade? _Você devia ter matado aquela garota estúpida, mas falhou_ Almerinda apontou o dedo para ele_ E agora ela é a senhora e dona de tudo. Se quiser receber o restante... faça direito dessa vez.
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