Seu olhar é intimidador.
Júlia segurava firme o chapéu em suas mãos, e ao mesmo tempo seu olhar acompanhava cada movimento de Santiago.
Ah..ele queria gritar em comemoração, gostaria de poder esfregar na cara de Almerinda e Heitor sua vitória...mas a cautela e o sigilo eram de extrema importância naquele momento.
_Estou surpreso, não vou mentir_ Ele sorriu, e Júlia se perguntou por um momento se essa havia sido a decisão certa, afinal...foi por impulso_ Parecia estar tão certa de sua decisão. O que a fez mudar de ideia?
Júlia olhou em volta rapidamente, e voltou a encara-lo.
_O que me motivou a aceitar o seu pedido não é importante. Você precisa de mim, eu de você...é o que importa!
Santiago se levantou da cadeira de couro, e contornou a mesa em passos lentos. Júlia deu um passo para trás de forma silenciosa. Santiago a olhou da cabeça aos pés, sem se importar se a jovem notaria tamanha indelicadeza.
_Tem razão, não vamos perder tempo com insignificância! Sente-se_ Sua voz saiu autoritária, e ao ver Júlia erguer uma de suas sobrancelhas, como se o desafiasse a obriga-la, ele pigarreou_ Por favor. Tenho alguns pontos importantes para tratar com você.
Júlia se sentou, e repousou o velho chapéu sobre os joelhos. Santiago ainda a observava, e sentou-se logo em seguida, ficando de frente para a florista.
_Como você já deve saber, não sou um homem saudável, e infelizmente para mim...e felizmente para você_ Ele batia o dedo indicador no braço da poltrona_ Não irei durar muito. Almerinda Albeniz conseguiu convencer a meu pai que, caso alguma coisa acontecesse comigo...toda a fortuna dos Monterrubio passariam para ela e Heitor_ Júlia ouvia atentamente_ E como também já deve ser de seu conhecimento, Almerinda é a mulher mais desprezível desse mundo...e prefiro morrer queimado nessa casa, do que vê-la como a dona desse lugar!
_Quanto tempo você tem.._ As palavras saíram em automático. Júlia percebeu o olhar de Santiago se tornarem vazios.
_Tempo o bastante para colocar uma aliança em seu dedo!
A forma como ele a encarou, fez Júlia se sentir tão exposta...como nunca sentira antes. Ela respirou fundo.
_Só estou aceitando sua proposta pela minha mãe. Ela está muito doente e o hospital só irá dar seguimento ao tratamento caso a dívida seja paga!
_Sua família terá tudo o que precisa, nada faltará a elas. Enquanto cumprir seu papel como minha esposa...elas irão receber do bom e do melhor.
_Não vou..._ Santiago cravou seus olhos em Júlia, e a jovem se remexeu desconfortável _ Não vou me deitar com você. Isso está fora de cogitação.
Os olhos de Santiago se tornaram escuros. Ele sabia, tinha total conhecimento que a garota não o desejaria como homem, não como desejou Heitor, mas ouvi-la falar tão abertamente àquilo...o fez se sentir um completo nada.
_Não vou força-la a ter relações comigo_ Sua voz soou amarga_Mas iremos partilhar o mesmo quarto...e a mesma cama todas as noites_ Júlia fez menção de discordar, mas Santiago a interrompeu_ E qualquer objeção de sua parte sobre isso...está fora de cogitação.
Júlia se calou.
_Não dirá nada sobre o casamento a ninguém. Não até chegar o dia. Viverá nessa casa, e será a senhora, terá autoridade sobre todos os empregados dessa fazenda, inclusive...sobre Almerinda_ Ouvir aquilo, fez Júlia sorrir por dentro.
_Quando será o casamento?
Santiago se levantou e caminhou até a janela. Sim, ele era um homem atraente, e Júlia não pode deixar de olha-lo com mais atenção.
_No próximo Sábado.
_O que?_ Sua voz saiu alterada_ Isso é daqui a quatro dias. Não tenho nem mesmo o vestido e...
_Não se preocupe com os pormenores, vou deixar um dos meus peões a seus serviços_ Santiago a olhou de canto_ Poderá trazer sua mãe e irmã para a cerimônia.
_Será aqui?_ Santiago a olhou como se dissesse: É óbvio_ Quem estará presente?
Por mais que seria uma questão de tempo, até que todos soubessem...Júlia faria de tudo para adiar tal informação.
_Não se preocupe, será algo íntimo.
Júlia se levantou.
_Tudo bem! Só quero deixar claro uma coisa_ Santiago virou em sua direção_ Vou continuar cuidando do Rosalinda_ Santiago sabia que ela se referia ao roseiral_ E não abro mão disso.
_Está bem...como quiser.
Júlia colocou o chapéu na cabeça, e estendeu a mão para Santiago.
_Até sábado.
Ele olhou para sua mão estendida por alguns segundos, até que aceitou o aperto de mão. Ao tocar sua pele, Júlia sentiu como se uma corrente elétrica percorresse por seus dedos subisse para o braço...se espalhando por seu corpo. Rapidamente ela soltou da mão dele. Se Santiago havia sentido o mesmo, ela não sabia dizer.
A florista deixou o escritório as pressas, e agradeceu por não topar com ninguém no caminho até seu caminhão. Assim que chegou no hospital, correu até o quarto da mãe, e encontrou o doutor e duas enfermeiras auxiliando Estefânia.
_Ah...senhorita Vallencia_ O médico se aproximou_ Preciso que assine alguns papéis.
Júlia percebeu o olhar interrogativo da mãe em sua direção.
_Quais papéis doutor?_ Ela perguntou confusa.
_Os do tratamento, daremos a continuação hoje mesmo. Está tudo pago. Ela será transferida para o segundo andar, terá um quarto somente para ela.
As lágrimas de felicidade rolaram sem aviso. Júlia queria gritar de felicidade. Ela correu para a mãe, segurando sua mão e beijando o alto de sua cabeça.
_Ouviu mamãe? A senhora vai ficar boa. Terá um novo quarto e todo o atendimento necessário. Vai melhorar!
Estefânia olhou no fundo dos olhos cheios dágua da filha.
_Você cedeu a ele não é_ Júlia foi contemplada com uma expressão de tristeza, e decepção_ Se vendeu a ele...
Seu olhar correu até a porta mas o doutor já havia se retirado, assim como as enfermeiras.
_Fiz pela senhora...pela sua saúde.
_Não me use como desculpa, Júlia! Preferiria morrer, a ter que ver você nas mãos daquele demônio.
_E levaria Lúcia com você?_ Estefânia arregalou os olhos_ Quer vê-la como uma pedinte? Saindo de porta em porta pelo povoado vendendo malditos DOCES?
Júlia gritou, e sentiu seu corpo estremecer.
_Já não basta a minha vida ter se tornado um completo fracasso?_ Ela sussurrou_ Não vou condenar minha irmãzinha a isso. Você irá fazer todas as etapas do seu tratamento, vai aceitar a maldita ajuda das enfermeiras, e no sábado, vai abrir um belo sorriso ao me ver com a p***a de um vestido de noiva!_ Estefânia não abriu a boca_ Ótimo, obrigada por entender, mamãe!
[...]
A mesa de jantar na fazenda Monterrubio, estava outra vez rodeada por todos da casa. A curiosidade pairava no ar, mas ninguém ousava perguntar.
_Que bom que todos puderam comparecer para o jantar hoje_ Santiago começou. Almerinda repousou o garfo sobre o prato_ Tenho um anúncio muito importante a fazer, na verdade é mais um comunicado.
Heitor não estava nem um pouco interessado, apenas brincava com a comida em seu prato.
_Neste sábado, teremos uma festa na fazenda...e gostaria que ninguém faltasse.
Maura olhou para Almerinda de forma interrogativa.
_Festa? Que festa?_ Mercedes pergunta curiosa.
Santiago sorri.
_Vou me casar neste Sábado!