A risada de Maura invadiu a sala de jantar.
Santiago assim como os outros olharam em sua direção, exceto Almerinda. Maura tinha os olhos carregados de raiva.
_Está mentindo_ Ela se levantou e pegou a taça de vinho_ Como sempre, é mais uma de suas brincadeiras macabras para atormentar sua família.
Mercedes tenta segurar sua mão, mas Maura a puxa agressivamente.
_Por que acha que eu mentiria? Pensaram mesmo que eu nunca me casaria?
_Isso é uma afronta a nós, Santiago!_ Almerinda diz entre dentes. Ela não olhava para ele, apenas encarava o prato_ Sua próprio família...seu irmão...
_ELE NÃO É MEU IRMÃO!_ Santiago bate na mesa, fazendo a louça pular. Ele se levanta e inclina o corpo na direção de Almerinda, fazendo seus cabelos ocultarem seu rosto_ E nenhum de vocês são da minha família! Vivem aqui as minhas custas, torcendo pela minha morte!
_Já chega Santiago.
Heitor diz irritado.
_CALA BOCA! _ Ele aponta o dedo na direção de Heitor o fazendo se levantar também, assim como Mercedes que se colocou a frente do marido, o impedindo de enfrentar Santiago._ Na tarde de Sábado, minha esposa passará a ocupar o seu lugar de senhora dessa casa, e dona de tudo o que me pertence...
_Eu me recuso a ficar de baixo do mesmo teto que uma QUALQUER! _ Almerinda gruta, e se levanta também. Hugo assim como Erick e Carlota entraram na sala de jantar_ Por que para se casar com você, só pode ser uma mulherzinha de quinta categoria.
_Você com toda certeza, deve reconhecer uma mulher de quinta categoria de longe, não é mesmo?_ Ele sorriu. Almerinda tremia de ódio da cabeça aos pés_ Vocês se reconhecem..
Almerinda levantou a mão para acertar o rosto de Santiago, mas seu braço foi segurado por Carlota.
_No meu menino, a senhora não vai tocar!
Hugo puxou Carlota e se colocou entre as duas.
_ISSO NÃO VAI FICAR ASSIM!_ Almerinda gritava descontrolada e foi segurado por Heitor_ Não fico mais nem um minuto nesse lugar. Vou para a casa em Céu azul.... não vou viver no mesmo ambiente que uma mulher desclassificada.
Santiago gargalhou, chamando a atenção de Almerinda, que se aproximava da saída.
_Sinto em lhe informar, madrasta_ Ele volta a rir e começa a tossir_ Mas a casa em Céu Azul não está disponível. Dei ordens para não deixarem ninguém passar dos portões.
_Não pode fazer isso...
_Ahh...eu fiz_ Santiago diz debochado, se sentando a cadeira novamente_ Quer ir embora? Pode ir, mas irá viver em uma das pensões do povoado. Trabalhar para poder comer. É isso, ou continuar vivendo aqui...no mesmo inferno que eu. Todo mundo juntinho._ Santiago bebe um gole do vinho e ergue a taça na direção de todos, que ainda estavam de pé_ Saúde!
[...]
Júlia abre a caixa, e seus olhos percorrem o vestido que usaria para se casar com Heitor. Ela toca o tecido, e seus olhos se enchem de lágrimas.
_Não era para ter sido assim_ Ela sussurra para o nada_ Era para ser o nosso casamento, a nossa festa...a nossa felicidade.
_Não deveria usar ele_ Júlia se assusta ao ouvir a voz de Lúcia. A menina estava parada na porta e caminhou lentamente até a cama_ Eu sei o que está acontecendo, sou uma criança mas não sou burra. Ouço você e a mamãe sussurrando pela casa.
Júlia afaga o cabelo da irmã mais nova. Ao contrário dos de Júlia, Lúcia tinha os cabelos loiros iguais os do pai, assim como a cor dos olhos.
_Você não deveria saber dessas coisas, e nem se preocupar.
Lúcia se senta de frente para a irmã mais velha.
_É difícil ignorar o que acontece nessa casa, quando te ouço chorar todas as noites_ Júlia se vê sem palavras_ Posso não saber o que exatamente aconteceu a duas semanas atrás...mas sei que foi algo muito r**m. Ninguém te derruba, Júlia, e eu vi você derrotada...pela primeira vez.
Júlia tentou o máximo possível, para não derramar nenhuma lágrima na frente da irmã.
_Tenha certeza que o meu aconteceu comigo, jamais acontecerá com você meu amor.
Lúcia abraça a irmã. Júlia não conseguia se segurar, então ela desmorona. Tudo o que ela precisava naquele momento era de um abraço, um afago, um porto seguro...um ombro pra chorar. Iria de casar muito em breve e com um homem que nem conhecia, um completo estranho que ela trocará poucas palavras.
Elas ficaram assim por algum tempo. Júlia havia deitado a cabeça no colo de Lúcia, e a menina afagava seus cabelos longos.
_Posso ser sua daminha?_ Júlia abriu os olhos e encarou o rostinho ansioso da irmã_ Toda noiva precisa de uma daminha...sei que vai se casar sem ama-lo mas, não significa que seu casamento tem que ser feio.
Ela se levanta, olha para a caixa do vestido e sorri.
_Então temos um vestido para fazer_ Lúcia abre um sorriso que seria capaz de iluminar a noite mais escura.
As irmãs passaram os dias seguintes produzindo o vestido. Estefânia teve alta do hospital, e Júlia a buscou e a trouxe para casa. A convivência entre as duas foi tranquila, e Estefânia pediu perdão para a filha pelas coisas horríveis que disse.
Dessa vez, Estefânia e Lúcia quem ficaram encarregadas dos arranjos de flores, e sempre tentavam animar Júlia...porque por mais que ela tentasse, não conseguia se sentir feliz. Santiago e Júlia não voltaram a se encontrar desde a tarde em que estiveram juntos, mas ele cumpriu sua palavra. Na tarde de sexta feira, dois carros da fazenda Monterrubio chegaram no roseiral repletos de comida e tudo que elas precisavam para a casa.
Um dos motoristas, que se apresentou como Erick, as levou para Céu Azul para terem uma tarde de beleza para o casamento no sábado. E as três nunca haviam se sentindo tão felizes. Lúcia corria pelas lojas segurando o sorvete em uma das mãos, escolhendo o que gostaria de usar. Mas foi quando lhe disseram que ela poderia escolher uma mochila escolar nova e todo o seu material....a menina chorou.
Erick não pode deixar de ficar emocionado ao ver a garotinha se desfazer da mochila velha cheia de remendos.
O dia havia sido divertido, mas o Sábado enfim havia chegado.
_Como está se sentindo_ Estefânia se aproxima da filha, que ainda estava parada em frente ao espelho. Seu vestido era lindo. Seus ombros delicados ficavam a mostra, e a saia abria até os pés, fazendo o tecido leve arrastar no chão. Era uma verdadeira princesa.
_Nervosa, assustada, enjoada_ Júlia da um meio sorriso_ Mas estou mais confiante, não haverá convidados, apenas alguns empregados da fazenda.
A buzina do lado de fora foi o aviso que o havia chegado a hora.
_Vai dar tudo certo.
Estefânia beija a testa da filha e da sua benção.
Júlia entra no carro e é cumprimentada por Erick.
_Está muito bonita senhorita_ Ele sorriu sem jeito e Júlia agradece em voz baixa_ A senhora sua mãe e sua irmã estarão no carro logo atrás do nosso.
O carro começou a se mover. Júlia fechou os olhos, e respirou fundo.
"Não foi a vida que eu pedi, muito menos é o casamento dos meus sonhos, mas saber que as suas pessoas que mais amo nessa vida estão bem...vai valer a pena cada sacrifício"
Ela disse a si mesma. O carro foi se aproximando da entrada da fazenda, e ao olhar pela janela, Júlia entrou em desespero.
Era como se todo o povoado de São Miguel estivesse ali presente.