Alex
Me peguei andando de um lado para o outro no apartamento pensando naquela mulher, como pode alguém atrair tantas desgraças para si? Ela não tem um pingo de cuidado com a própria vida!
Escutei os murmúrios dela e o tal médico, aquele homem me irritou, não me passou confiança e ainda disse que aquele acidente tinha sido por culpa dele.
Fiquei esperando para escutar quando ele sairia de lá, não demorou muito e isso me deixou aliviado. – Isso não é problema seu! – Resmunguei comigo mesmo, não posso ficar me preocupando com quem ela sai, melhor para mim se ela estiver saindo com alguém, assim eu não fico pensando nenhuma besteira. – Só de imaginar eu senti meu corpo ficar tenso. – Eu preciso sair antes que eu faça alguma besteira.
Então pensei em como ela faria comida, ou qualquer outra coisa com o braço daquele jeito... ela parece tão delicada, pode estar sentindo bastante dor.
Me lembro das minhas cicatrizes e como doeu cada uma delas, não tive nenhum tratamento na maioria, mas ainda assim vejo meu tamanho perto dela e parece que ela não aguenta nem uma brisa, quem dirá esse tipo de dor.
Saio do meu apartamento decidido a ir ajudá-la, mas fico andando de um lado para o outro na frente de sua porta.
Não sei o que está acontecendo comigo, com a quantidade de coisa que tenho para descobrir, fico me preocupando com a vizinha.
A porta de repente foi aberta e eu a encarei. – Você está bem? To vendo você andando de um lado para o outro por baixo da porta! – Isso sim é bastante constrangedor.
Ela ficou de lado me dando espaço para entrar. – Eu estava pensando sobre como você iria cozinhar, ou fazer alguma outra coisa, tem alguém que possa vir te ajudar? – Perguntei entrando no apartamento. – Essas caixas ainda estão aí? – Me olhou já irritada. Eu e minha boca grande.
Ela fechou a porta e eu consegui ver direito como estava o braço, ela já tinha tirado os curativos, provavelmente iria começar a fazer outro. – Estou acostumada a estar sozinha, não se preocupe, eu consigo me virar, isso nem chaga perto de ser o pior... – Se calou. – Sou enfermeira, dou conta. – Abriu um sorriso leve de canto, meus olhos se prenderam de imediato em sua boca.
Olhei de volta para o braço, desesperado para que minha atenção fosse para outro lugar. Estou mesmo precisando de uma noitada, não estou saindo graças ao tal homem que Markus e eu estamos procurando. – Isso está bem f**o, como aconteceu. – O corte era de um tamanho bem razoável e por ter precisado de pontos foi bem profundo.
– Eu tenho um problema sério com o azar e somando ao fato de ser muito desastrada, acabei caindo com instrumentos cirúrgicos, o bisturi estava com saudade de cortar alguma coisa. – Ela deu risada da própria piadinha sem graça e eu mais uma vez fiquei admirando.
– Precisa ser um pouco mais cautelosa, e seu amigo doutor, cadê? Não ficou nem para te ajudar com o curativo? – Médico b****a. – Bem, eu te ajudo, onde está o seu kit de primeiros-socorros?
O rosto dela ficou vermelho. – Eu consigo fazer, não precisa se incomodar com isso...
Localizei o kit em cima da mesa de centro. – Vem, você pode até fazer, mas não será tão boa quanto eu. – Me olhou com desdém.
– Eu sou enfermeira se lembra disso? – Se sentou perto de mim, e o cheiro que vinha dela quase entorpeceu meus sentidos. – O que foi?
Ela percebeu. – Nada, é só o perfume, é bom. – Comecei a cuidar do braço dela, pensei que ela não iria parar de faltar nenhum minuto, mas ela ficou quieta, me observava sem dizer nenhuma palavra. Talvez tenha sido a forma que falei com ela sobre não conseguir ficar calada.
Eu finalizei o curativo e perguntei o que ela ia comer. – Eu coloquei um macarrão instantâneo no micro-ondas, deve estar pronto já, por eu estava fazendo quando vi você passando de um lado para o outro pela porta.
Olhei f**o para ela, desde quando isso é comida? – O que tem aqui para fazer? – Me levantei e fui mexer nos armários diante de seu olhar perplexo. – Você só tem isso? Do que você sobrevive?
– Normalmente eu como no hospital, não costumo comer em casa porque fico tão cansada que acabo sempre dormindo mais do que fico acordada, eu dobro plantão sempre que posso... é muito tempo sem dormir. – Minha careta deve ter aumentado, porque ela ficou vermelha e olhou para as mãos.
– Vamos, eu faço o jantar. – Ela me olhou como se eu estivesse falando uma língua morta. – Vamos...
Quando estava servindo todos tínhamos que aprender a nos virar, cozinhar fazia parte. – Você tem preferência por alguma coisa? – Perguntei a ela quando entramos. Ela negou.
– Pode fazer qualquer coisa, eu raramente não gosto de algo, meu paladar não é muito exigente. Acho que nem um pouco na verdade. – Ela se sentou um pouco envergonhada.
Comecei a preparar uma comida mais simples e rápida, se ela estava fazendo um miojo é provável que esteja com fome.
Preparei uma macarronada com almondegas, salada, alguns legumes no vapor, eu já tinha as almondegas congeladas então seria rápido.
– Por que está olhando assim para mim? – Ela estava me encarando.
– Ah, me desculpe é só que eu acho um pouco estranho homem saber cozinhar, de onde eu vim era... diferente. – Dei risada, pensamento um pouco ultrapassado para uma mulher tão jovem.
Me virei para ela. – Isso é arcaico! Eu sei cozinhar bem e tenho conhecidos que também são muito bons na cozinha. – Ela sorriu um pouco.
– É só diferente pra mim, sei que é natural que aconteça, mas ainda tem lugares que o costume ainda é bem antigo. – Os olhos dela se perderam, como se estivesse se lembrando de algo.
Quis mudar de assunto, ela não parecia muito confortável. – Vi flores no seu apartamento, é do seu namorado? – Não sei porque, mas fiquei na expectativa pela resposta, imaginei que poderiam ser daquele doutor e isso já me irritou.
– Não, não, acho que pode ter sido um paciente, deixaram no hospital de manhã, mas meus plantão começava agora a noite. – Senti uma sensação boa. – E você? Tem namorada?
Dei uma gargalhada um pouco exagerada. – Não, eu não tenho namorada, e não pretendo ter, não gosto de me envolver com ninguém, me sinto muito bem sozinho. – Ela assentiu levemente.
– Nesse ponto temos algo em comum, também estou muito melhor sozinha, melhor do que m*l acompanhada, como dizem por aí.
– Finalmente encontramos algo que concordamos. – Não a imaginava como uma pessoa solitária, isso me surpreendeu.
Ela me pareceu uma pessoa bastante comunicativa, com a quantidade de pergunta que ela me fez, achei que detestasse ficar só, parece que errei.
Terminei de fazer o jantar e nos sentamos para comer. – Nossa, está uma delícia! – Ela fez um som de quem estava gostando, mas meu cérebro ligou isso a um gemido e eu precisei apertar um pouco as pernas.
– Isso é bem simples, nada demais. – Tentei pensar em outra coisa para distrair a minha mente pervertida. – Fiz o que era mais rápido porque imaginei que você estava com fome.
– É muito atencioso da sua parte fazer isso por alguém que você nem gosta... – Não gosto? – Quer dizer, eu já te arrumei alguns problemas e tudo... – A voz foi ficando mais baixa e ela ficou vermelha.
– Eu nunca disse que não gosto de você, nós já discutimos um pouco, é verdade, mas precisa de muito mais para eu dizer que não gosto de alguém. – Afirmei sem nenhuma dúvida
Eu realmente me sinto um pouco irritado na presença dela as vezes, mas não é algo tão extremo assim.
Terminamos o jantar em um silencio um pouco constrangedor, ela passou a encarar o prato e não puxou mais assunto, eu também fiquei quieto.
– Já é bem tarde, eu vou indo... agradeço muito por isso, ela parecia estar sentindo um pouco de dor. – Está na hora de tomar meu remédio. – Ela se levantou, pegou seu prato e levou para a pia. – Eu lavaria, mas estou sentindo um pouco de dor no braço.
– Não esquente com isso, eu estou acostumado a lavar e limpar tudo aqui. Melhor você ir tomar seu remédio, está um pouco pálida. - Levei ela até a porta do seu apartamento.
– Muito obrigada... mesmo, estava muito maravilhoso. – Me deu um sorriso fraco. – Vou descansar um pouco, boa noite. – Acenei com a cabeça e ela me deu um beijinho no rosto, aquilo me pegou desprevenido, dei boa noite e voltei para meu apartamento já pensando naquele beijinho simples que ela me deu e também no que faria para o almoço.