Brasil, aqui vou eu

1578 Words
— Aeroporto! Desculpa, estava pensando no que estava dizendo. Obrigada pelo conselho, mas algumas mudanças são necessárias, embora possam ser assustadoras. Vou recomeçar minha vida do zero, depois eu volto. Verônica está de volta com tudo. Completamente solteira... Para fazer o que der na telha. No fundo, acho que eu estava mesmo com saudade dessa versão de mim — Falei olhando pela janela, assistindo com o peito apertado Pedro de joelhos com as mãos no rosto, ficando cada vez menor, ao nos distanciarmos dele. Meu coração parecia que iria se quebrar inteiro vendo aquela cena, mas eu tinha que ser forte. Não podia voltar atrás. Por mim e também por Pedro. Um de nós tinha que tomar essa atitude antes que fossemos destruídos. Ao colocar o óculos escuros, não queria apenas fugir da luz do sol que machucava meus olhos, mas também esconder as minhas lágrimas. Eu amava Pedro com todas as minhas forças, nunca pensei que terminariamos dessa forma, porém não importa, agora já aconteceu. A vida não é como a gente deseja, e sim, como ela deve ser. Pior do que a dor de partir é a de continuar em um lugar que nos sufoca e nos retalha pouco a pouco. Era uma dor necessária que eu precisava passar para superar essa fase da minha vida. Decidi que está seriam as últimas lágrimas que iria derramar por Pedro. No visor do meu celular, haviam várias chamadas não atendidas, além de milhares de mensagens. Todos já estavam sabendo da minha partida. Só temos funcionários fofoqueiros, eu sabia. Dava até saudade do tempo que os trigêmeos colocavam todos funcionários para correr na primeira semana. Talvez aos olhos dos outros minha atitude poderia ser vista como exagerada e impulsiva, mas depois do que passei nos últimos meses, eu preciso de um tempo para mim. Da minha realidade. Ninguém sabe o que estou sentindo. Não adianta pensar não outros agora. Não era apenas meu relacionamento que tinha acabado, mas eu tinha perdido algo muito importante para mim, que nunca mais retornaria, havia sido o fim de um sonho e eu não estava bem com aquilo. Ficar naquela casa, era um lembrete constante do que eu havia perdido alguns meses atrás. Eu não podia continuar assim ou acabaria completamente destruída. Entretanto, não quero matar ninguém do coração com aquela partida aparentemente repentina, achei melhor explicar para o meu irmão por mensagem. Mais tarde, quando chegasse no Brasil, ligaria para Natália. Não estava fazendo aquilo para causar problemas, mas para resolver o caos que existia dentro de mim. Não era uma atitude de cabeça quente. Era algo pensado há algum tempo. Verônica: "Preciso de espaço. Algumas dores não curam com o tempo. Preciso aprender a conviver com ela. Quando eu me sentir melhor, retornarei. Estarei no Brasil por alguns meses. Farei contato constantemente. Te amo, irmão. Cuida dos meus sobrinhos e cunhada. Ficarei bem. Apenas quero voltar a ser quem eu sou, não quero continuar sendo essa mulher despedaçada pelo c***l destino. Completamente oca." Ulisses: "Eu te amo. Entendo sua dor. Não sei como reagiria se tivesse acontecido essa tragédia comigo. Espero que fique bem. E se precisar de algo, me ligue. Pego o primeiro jato para o Brasil. Saiba que mesmo distante, você não está sozinha. Tem uma família enorme esperando por você. Todos nós torcemos por sua felicidade. Você é importante para mim, sua cunhada e seus sobrinhos. Sentiremos sua falta todos os dias. Lembre disso. " Verônica: "Não se preocupe. A Verônica apocalíptica está de volta. O mundo que estará em perigo comigo a solta novamente." Ulisses: "Isso é o que mais me preocupa." Algumas horas depois, eu estava aterrizando no Brasil, carregando uma pequena mala e sem qualquer ideia do que faria ali. Pela janela, podia ver que a noite já havia tomado o céu. Pensei que nunca mais voltaria para o Brasil, mas queimei a língua, na primeira oportunidade, eu voltei para cá. O Brasil sempre me deu a sensação de recomeço. Talvez porque foi um recomeço para meu irmão, acreditei que também poderia ser para mim — Que tal uma balada? Faz tempo que eu não bebo ou me divirto. Vai ser bom. — Pensei alto pesquisando no celular um hotel próximo do aeroporto. Tinha vindo para o Brasil sem planejar absolutamente nada, muito menos, onde ficaria — Tenho a sensação que essa noite vai ser fantástica e caótica. Do jeitinho que eu gosto.Achei um bom hotel próximo às melhores boates, embora fosse longe do aeroporto, ainda assim era perfeito. Não podia usar o meu hotel preferido, eu logo seria encontrada. A meta era desaparecer do radar de Ulisses, Natália, principalmente, de Pedro por um tempo. Tinha a sensação que ele viria atrás de mim ou desejava isso de alguma forma. Talvez no fundo eu seja uma romântica incorrigível. Espero mudar isso depois de alguns dias aqui. Gosto mais da minha versão irresponsável e sem coração. Alguns minutos depois que saí do aeroporto, cheguei ao hotel. Era próximo não só das melhores boates, mas também da praia, para minha alegria, se tudo der errado por aqui, ao menos, com um bom bronze vou voltar para casa. Sentia falta do calor do Brasil, era perfeito para tomar um banho de mar com uma cerveja bem gelada. — Quanto tempo que eu não tomo um banho de praia? — Pensei alto enquanto descia do Uber e entrava no hotel puxando apenas uma pequena mala. Assim que cheguei, fiz o check-in e subi para as minhas acomodações. O quarto, assim como todo o hotel, não era nada de outro mundo, mas tinha seu lado confortável. Não que eu tivesse planos de dormir ali várias noites. Queria encontrar um lugar para morar nessa temporada que ficarei no Brasil. Me joguei na cama, parecia muito mais confortável do que eu imaginava. Antes que me desse conta, eu caí totalmente no sono. Não havia notado o quanto estava cansada. Talvez tenha sido o estresse ou o jet-lag por conta da viagem. Quando despertei, já era de manhã. Ao menos, me sentia completamente recuperada. Toquei de roupa, coloquei um biquíni, prontinha para me jogar na praia, mas antes disso, desci para o saguão, precisava comer alguma coisa. Nem lembro da última vez que comi. Tomei um café da manhã reforçado. Já estava quase na hora do almoço. Nem acreditava quanto que dormi. Olhei para piscina, parecia convidativa. Achei melhor deixar a praia para mais tarde. Pedi um drink e passei o resto da manhã tomando uma boa bebida enquanto olhava a vista. Tinha um homem bonito por metro quadrado. Consegui os números de telefone de alguns gatinhos que assim como eu estavam passando férias no Brasil. Conversamos um bocado. Não perdi mesmo o jeito com a paquera, mesmo depois do tempo fora do mercado. Acho que paquerar é como andar de bicicleta, a gente nunca esquece, né? Na hora do almoço, fui para o restaurante do próprio hotel, eu comi como se não houvesse amanhã, a comida daqui não se comparava com as dos Estados Unidos. Redonda como uma bola, voltei para o quarto. Tomei um belo de um banho antes de apagar novamente naquela cama. Quando acordei, já eram por volta das quatro horas. — Ainda está muito cedo para me arrumar para balada. Vou trocar de roupa, colocar um biquíni e curtir essa praia. A vida que todo mundo pediu a Deus — Decidi enquanto abria a mala. Estava caótica. Eu havia apenas jogado um pouco de tudo dentro dela, sem pensar muito no que precisava ou organizar. — Tenho certeza que vou ter que comprar roupa amanhã mesmo. Eu ao menos trouxe alguma calcinha? A parte boa é que trouxe muitos biquínis. Achei a parte de cima de um biquíni rosa de tirinhas, procurei um pouco mais, achei a parte debaixo azul. Não era conjunto, mas quem liga? Eu não quero perder aquele sol perfeito. Se eu demorasse muito, perderia a minha oportunidade. Pedi informações para um dos funcionários do hotel, que me explicou como chegar na praia. Andei mais do que imaginei. Cheguei a me perder. Tive que pedir informações algumas pessoas que estavam passando. Quando finalmente coloquei os pés na praia, me surpreendi, havia mais gente do que eu imaginei que teria, por se tratar de uma segunda-feira. Será que eu estava em um bairro turístico da cidade? Não vou mentir que não sabia muito sobre o Brasil. Conhecia apenas alguns poucos lugares. — Nada melhor que desmoralizar uma segunda-feira — Pensei alto olhando aquelas pessoas. Estava ansiosa para me jogar naquele mar. Tirei o short que eu estava usando e a blusa, coloquei dobrada na areia da praia junto com minha bolsa. Corri em direção ao mar e me joguei com vontade. A água estava morna, o sol estava quente. Parecia uma combinação perfeita. Dei alguns mergulhos, admirei a vista que era completamente perfeita. Pude assistir o sol se pondo ali, dentro do mar. Cena digna de filme. Tinha a sensação que estava naquele momento lavando a minha alma, não o suficiente para esquecer de tudo que estava machucando meu peito, mas o suficiente para dar esperanças de dias melhores. Assim que senti o vento frio batendo em mim, me dei conta que já estava escuro. Sequer tinha notado que a noite já havia chegado. Perdi completamente a noção do tempo, mas não foi apenas isso que acabei perdendo. Eu tinha esquecido de algo muito importante no Brasil, que era diferente dos EUA, porém logo iria relembrar.
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