Fazer o certo machuca

1498 Words
De toda forma, tudo isso começou quando decidi tirar férias da minha vida aqui no Brasil, querendo deixar tudo para trás. Não pensei que a vida me pregaria uma peça desse tamanho e ouviria meu pedido com tanta exatidão. Bem que dizem para ter cuidado com o que se deseja. Se eu imaginasse tudo que aconteceria quando decidi arrumar minha mala e voltar ao Brasil. Será que eu teria tomado a mesma decisão? Na minha mente, lembro exatamente das vinte e quatro horas antes de ser sequestrada por engano por esses mafiosos da shopee e levada para essa ilha desconhecida. Eu estava na casa da minha família, nos Estados Unidos. Aproveitei que a casa estava completamente vazia e arrumei a minha mala o mais rápido que pude. Tinha certeza que os funcionários da casa já haviam avisado para Ulisses, Natália e Pedro minha movimentação suspeita. Era questão de tempo até um deles aparecer. Descendo as escadas, pude ver a porta de saída. Estava um pouco aliviada, iria conseguir sair sem a interferência de ninguém. Fiquei com o coração apertado por não me despedir da minha família, mas assim era mais fácil para todos nós. Quando eu estava alguns passos da porta, fui surpreendida por alguém surgindo por ela. — Ah! Não fode. — Sussurrei vendo a última pessoa que eu queria encontrar naquele momento. — Verônica? — Pedro estava entrando na casa, no momento que eu tentava sair. Seus olhos se voltaram para a mala que eu carregava. — Para onde você está indo? Você só pode estar brincando comigo! Tudo por nossa briga ontem a noite? Eu apenas tinha saído para esfriar a cabeça. Vamos conversar sobre isso. Você me diz o que eu preciso fazer e eu farei. Assim todos ficaremos felizes. Sabe que te amo. Farei o meu melhor para ficarmos juntos e bem. Talvez eu tenha cometido alguns deslizes, mas se você me disser o que tenho que fazer, eu não irei errar. — Não acha que é tarde demais para querer me ouvir? Quantas vezes tentei conversar e você dizia: "Lá vem você novamente". Sem contar que depois da briga você simplesmente desapareceu, passou a noite fora e só reapareceu agora. Sem tempo. Já fiz minha parte. Agora já deu. Boa sorte para quem fica. — Perguntei irritada com aquele discurso que eu fiz várias vezes para ele, mas Pedro estava ocupado demais para dar atenção ou realmente não se importava. Em todas as brigas, ele apenas se irritava e desapareceria, voltava no outro dia como se nada tivesse acontecido. Cansei de verdade de tentar manter esse relacionamento sozinha. — Eu sei que errei. Quero consertar. Vamos para o nosso quarto, você me diz o que preciso fazer para resolver isso e tudo tomará seu rumo. O importante é que a gente se ama. Podemos superar tudo isso. — Pedro respondeu estendendo a mão em direção da mala que eu puxava, desviei na mesma hora, impedindo que ele tocasse nela. Pedro perdeu a paciência naquele instante. Ele me conhecia o suficiente para saber quando eu tomava uma decisão, eu não voltava atrás. Sem saber o que fazer, passou a gritar — E como espera que eu saiba o que você precisa, se não me disser? — O pior erro ortográfico é não colocar um ponto final em todas as situações que abalam a sua paz. E eu não cometerei esse erro. Sou do tipo que tenta resolver os problemas, não que foge deles e volta no outro dia como se nada tivesse acontecido, mas também sou mulher suficiente para dar as costas quando vejo que é um problema sem solução. — Falei dando um passo em direção de Pedro, desviando dele, passei pela porta que ele bloqueava — Estou indo dominar o mundo. Espero que sofra muito tempo sentindo minha falta. Já que não soube me apoiar quando eu mais precisei ou lutar por nosso relacionamento, espero que sofra de verdade com o nosso fim. Se houver outras vidas, que eu te evite em cada uma delas. Fomos um erro. Adeus, meu amor. — Verônica! Espera. Vamos conversar. Isso está errado. Você está cometendo um erro. Sabe que eu estava de cabeça quente ontem. Nós dois não estamos bem, desde aquele maldito dia que o perdemos. Não tome atitudes precipitadas. Vamos apenas acabar mais machucados do que já estamos. Não é só você que está sofrendo. — Pedro gritou enquanto eu entrava no carro que me esperava em frente a casa, já havia pedido antes mesmo de começar a arrumar as malas. Ao notar que eu nem olhava para trás ou dava qualquer sinal que iria retroceder, Pedro parou na frente do carro. Na tentativa de impedir que o motorista saísse. A minha vontade era mandar passar por cima. Como alguém pode ser desse jeito? Depois de tudo que aconteceu, ainda assim, faz todo esse show quando decido ir embora. — Não posso perder você. Eu te amo. Você me ama. Desce daí. Eu já entendi o recado. Vou melhorar. Vamos conversar sobre isso. Lidar com o problema. — Pedro gritou a todos os pulmões, ainda de frente ao carro, seus braços estavam abertos, como se pudesse realmente impedir o carro de sair com aquela atitude.O motorista se virou me olhando enquanto eu sentava no banco de trás, como se estivesse buscando a confirmação para sair ou permanecer. Eu estava com raiva de toda essa situação. Também achei que nosso amor poderia resolver tudo isso, mas descobri da pior forma que nem sempre o amor é o suficiente. Antes que eu acabe odiando alguém que eu amei tanto, prefiro partir. E o que está acontecendo hoje é a prova que eu estou certa. Nem eu ou Pedro somos mais os mesmo, estamos quebrados e juntos apenas piorando ainda mais a situação. Decidido. Baixei o vidro do carro, coloquei o braço do lado de fora, estirando meu dedo com toda vontade do mundo. — Perdeu, playboy. Quem não valoriza o que tem nas mãos, acaba sem. Eu gosto é de prioridade, sabe? Opção nunca me faltou. Tu sempre soube. Não sou do tipo de mulher que o cara deixa em casa enquanto vai beber e farrear com outras. Sim, você estava machucado assim como eu, mas eu não fiz nada que pudesse te machucar ainda mais, diferente de você. Se me amava, se queria tanto a gente, deveria ter gasto o tempo que usou nas boates e bares, tentando consertar o que estava quebrado entre nós. Acabou. Eu não vou voltar. Te avisei várias vezes. Sempre achou que a otária sempre iria te compreender. Agora pode ganhar o mundo e fazer o que bem entender. Eu vou me refazer, bem longe de você. — Gritei antes de fechar a janela do carro e me jogar com força no banco de trás. Eu estava triste, irritada, decepcionada. Tantos sentimentos me dominavam. Sentia um peso enorme nas minhas costas saindo naquele momento. Um alívio tão doloroso como nunca senti na minha vida. Sei que não deveria ter terminado dessa forma, mas era impossível lidar com meus sentimentos. Pedro havia conseguido me machucar muito mais do que imaginei que poderia ser capaz. Não posso mais usar a desculpa daquele dia trágico para justificar suas atitudes. Já perdoei mais do que sou capaz. Eu tenho que deixar tudo isso para trás, antes que não sobre mais nada do que um dia foi Verônica. — Senhora? — Kleyton, o motorista, me chamou pelo retrovisor. Certeza que estava preparando um relatório mental minucioso para passar para Ulisses, meu irmão, depois de presenciar essa cena digna de novela. Acho que já viramos a fofoca dos funcionários. O que não vai faltar é quem saiba o que aconteceu hoje. — Toca o bonde, Kleytinho. Está na hora de eu tirar umas férias da minha vida. Que nome vou usar dessa vez? Patrícia? Virgínia? Márcia? Não. Já sei! Será Manuella, isso. Manuela Vieira, acaba de nascer. Qual será o tipo de vida que espera pela dona Manu? Espero que me surpreenda com algo totalmente novo. Quero me reinventar. Talvez até trabalhar. Parece bom, né? — Falei antes de colocar os óculos escuros. Desejando do fundo do meu coração, que essa viagem pudesse me fazer esquecer minha história e quem eu sou. — Senhora Verônica, tome cuidado com o que deseja. Às vezes, acabamos recebendo exatamente aquilo que pedimos. Eu compreendo que o fim seja difícil, mas as palavras têm muito mais poder do que se pode imaginar. Aliás, para onde devo ir mesmo? — Kleyton era primo de Pedro, tinha vindo do Brasil junto com a gente, depois de perder sua família inteira em um acidente terrível de carro, ganhou rapidamente a confiança do meu irmão, por seu ar maduro, mas eu apenas ignorei a reflexão que ele me deu, naquele momento, eu realmente queria uma grande mudança na minha vida. Talvez fosse a única forma que eu enxergava para conseguir tirar essa dor do meu peito — Verônica? A senhora está bem?
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