Onde eu vim parar?

1314 Words
No meio do caminho, descobri que ela na verdade trabalhava de diarista, tinha uma casa na redondeza que sempre pedia por seus serviços, quando terminava, ela descia para praia, gostava de tomar um banho de mar depois do trabalho e voltar de carona com seu amigo. — Gui! Me passa a bolsa e a chave do banheiro. Encontrei uma gringa totalmente desnorteada. Ela deixou as coisas na areia. Foi tomar banho e os ratos da praia apareceram. Levaram tudo dela. Vou emprestar uma roupa e levar ela em direção da polícia — Cida gritou apoia no balcão do quiosque. Fiquei tão distante que não consegui ver quem estava do lado de dentro. Só vi um braço passando a bolsa para as mãos dela. — Toma! Melhor trocar essa roupa antes que acabe congelada. Ali o banheiro. — Obrigada. — Agradeci seguindo para onde Cida havia apontando. O banheiro tinha papel jogado por todo lado. Não sei quantos anos faziam que não limpavam aquele lugar. Troquei de roupa quase vomitando com o cheiro daquele banheiro fechado. Todo castigo para burro é pouco. Por sorte, era uma calça de moletom com uma blusa enorme. Quem trabalha limpando casa vestindo tudo isso? Pelo menos, as funcionárias lá de casa não vestiam algo assim, mas tenho que admitir que era bem confortável. — Ficou enorme em você. Tu é um palito, gringa. Então, vamos? Tchau, Gui. Precisa me esperar não. Vai dar certo. E a És, já foi na frente. Está esperando por nós Não sei quanto tempo vai demorar para resolver o rolo dela, mas acho que vai dar bom. — Cida gritou enquanto andava na direção que tínhamos vindo. Caminhamos um bocado antes de chegar ao posto policial que estava completamente fechado. Olhei ao redor desnorteada. O que diabos eu iria fazer agora? Ao menos, eu estava vestida, mas o que faria no Brasil sem cartões, dinheiro, documentos e celular? Se eu ao menos soubesse o nome do hotel ou para onde ele ficava. Por está escuro era ainda mais complicado identificar o caminho que eu fiz. — Tem outra delegacia, mas é longe pacas daqui. Sabe? Tu tá bem? Parece que está a ponto de chorar. Quer que eu te leve até onde você está ficando? — Cida perguntou parecendo preocupada. Parecia uma pessoa muito boa, mas eu definitivamente, não sou a melhor pessoa do mundo para escolher de prestam ou não. — Eu meio que acabei de me separar do meu marido. Para ser sincera, fugi dele apenas com uma mochila. Tudo que eu tinha acabou de ser levado. Não tenho para onde ir. Até mesmo o meu celular foi levado. Não tenho sequer como pedir ajuda. Eu não sei o número de ninguém. Estou hospedada em um hotel aqui perto, mas não sei o nome e muito menos como chegar lá. Estava tão focada no mar, que não olhei ao redor. — Aquele momento, foi uma das poucas vezes que senti medo real que algo acontecesse comigo ou não conseguisse sair a salvo dessa situação que me meti. — Ihhh! Que azar, mulher, mas tenho uma notícia boa. Ao menos, não vai passar fome ou frio. — Cida disse com um sorriso ao olhar para rua. Não entendi exatamente o que ela queria dizer com aquilo, mas segui o seu olhar, parecia acompanhar uma van. Me virei para perguntar o que estava acontecendo, mas Cida havia desaparecido. Meu coração acelerou daí, meu corpo queria que eu fugisse, mas algo em mim não conseguiu sequer se levantar. Quando a van preta parou perto de mim, senti minha vida sendo deitada automaticamente. A van freio com tudo perto do mim, na mesma hora, as pessoas correram na direção opostas, se afastando de mim. O meu medo foi tão grande, que as minhas pernas congelaram. Quando pensei que não podia piorar, vi vários homens de preto descendo do carro com armas enormes, vindo na minha direção. — Quem são vocês? — Perguntei ao ver que se aproximavam de mim. Claramente eu era o alvo de alguma coisa, mas não fazia ideia de razão. — Seu presente de Natal está adiantado. — O homem sorriu antes de me puxar para perto dele, fazendo os nossos corpos se chocarem Antes que eu pudesse tentar me afastar daquele homem ou pudesse gritar, senti uma pequena picada, antes de sentir um sono tomando conta de mim. Não sabia o que estava acontecendo, mesmo lutando contra o sono, acabei perdendo totalmente para ele. Quando despertei, eu estava nessa enrascada sem tamanho. — Quem desligou a luz? — Perguntei confusa ao abrir os olhos e me deparar com uma escuridão sem fim. Não obtive nenhuma resposta. — Onde mesmo que eu estou? Não havia chance de ser uma pegadinha. Tentei encontrar uma razão para tudo isso, mas não sabia quem poderia ter feito isso. Pensei que esse seria o maior problema, mas eu estava enganada. Não apenas precisava lidar com a escuridão que tomava conta do meu campo de visão e a confusão mental que eu estava sentindo naquele momento. Para piorar, ao me mexer tentando tatear algo que me ajudasse a descobrir o que estava acontecendo, notei que tantos minhas mãos como meus pés estavam presos. — Espera! Estou em movimento? O que diabos está acontecendo aqui? Não tem ninguém por perto para me explicar que brincadeira é essa? — Podia sentir que eu estava dentro de algo em movimento, em alta velocidade, eu sentia a trepidação e abaixo de mim e os sons característicos de um carro. No mesmo momento que me dei conta que eu estava em um veículo, senti o freio brusco dele. Com um pouco de dificuldade, ouvi uma conversa do lado de fora, parecia várias vozes masculinas discutindo sobre algo. O que me assustou de alguma forma. Não sabia onde estava, não conseguia enxergar e ainda tinham homens desconhecidos. — Vou levar a encomenda para o chefe, ele estava ansioso por isso. — Ouvi um homem falando antes de abrir a porta, o som era característico de uma van velha que nunca viu óleo na vida. — Tenha cuidado. Como se tivesse carregado algo de valor. Se isso acabar se arranhando, o chefe vai explodir teus miolos em um tiro só. Tome cuidado. — Um outro alertou. Parecia ter medo do chefe deles. — Tenho amor à vida. Pena mesmo eu tenho dessa mulher. O chefe faz tanto tempo que tenta pegar ela. Cheguei até a pensar que essa mulher existia apenas já cabeça dele. Bom, de qualquer forma, o importante é que deu certo. Vou entregar ela e voltar para casa. A mulher está me esperando. — O homem respondeu ao me puxar sem qualquer delicadeza de dentro do veículo e me jogando como um belíssimo saco de cimento em suas costas. — Pensei que ela não ia pesar nada, mas é pesada. Jurava que era puro osso. — Osso também pesa, cérebro de passarinho. Já parou para pensar que não sou eu pesada aqui. Você é fraco demais. Deveria exercitar mais o corpo em vez de ficar falando besteira. Malhe mais o corpo e menos a língua. — Respondi irritada. O plano era fingir que estava dormindo, mas não bastava ser tratada como um saco de batatas, como também me chamavam de gorda? Não tem como ficar calada. — Ih! Cara, ela está acordada. Tem mais droga ai? Pode dar problema se ela despertar na hora errada. Posso morrer não, cara. Minha mãe me mata. — O outro homem disse com um tom de desespero. — Deve ter mais uma seringa com a medicação na bolsa de emergência. Olha lá. — O homem que me carregava disse. Ouvi os passos se afastando de nós, enquanto eu era carregada para algum lugar. Senti novamente a picada em meu braço, antes de adormecer novamente. Dessa vez, quando despertei, já podia ouvir uma voz diferente das outras.
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