Williams Ferri
As semanas passam tranquilas demais e minha vida continua seguindo como sempre. Minha rotina não muda e enquanto o amor da minha vida não aparece vou me conformando com casos de uma noite, como sempre costumei fazer.
As coisas no escritório estão calmas, tudo na mais perfeita ordem. É como falam pelos corredores do Grupo Smith, se Ivan está bem, todos ficamos bem.
Ainda mais agora que os diretores descobriram que Stela consegue acalmar o CEO em seus momentos de fúria. Por isso, sempre correm para ela com o rabinho entre as pernas quando algo dá errado.
É como o senhor James Smith fala, um dia as mulheres da família Smith irão dominar o grupo e tirar o poder das mãos dos homens. Tudo o que Carlos e Ivan fazem é sorrir do velho. Porém, não é um sorriso comum, é um sorriso de nervoso, pois, sabem que Stela e Olivia, que muito provavelmente será a próxima senhora Smith, tem muita capacidade para conduzir os negócios da família.
Sigo trabalhando normalmente, mas em um certo momento do dia estranho uma coisa, Carlos hoje não passou em meu escritório para me atazanar minha paciência como costuma fazer todos os dias. Isso é estranho e me deixa com a pulga atrás da orelha.
Eu conheço bem meu amigo e para ele não ter dado notícia até essa hora do dia algo deve ter acontecido.
— Senhor Ferri, tem uma ligação para o senhor na linha privada, parece ser urgente — minha secretária avisa, colocando apenas a cabeça na fresta da porta.
Mais uma vez acho isso estranho, afinal não são muitas pessoas que tem acesso à linha privada do escritório.
Por um momento, chego a pensar que pode ser Carlos, mas se ele quisesse falar comigo e fosse urgente, me ligaria direto no celular.
— Obrigado, vou atender.
A mulher fecha a porta e pego o telefone já começando a ficar preocupado.
— Alô, Williams, falando. — Tento ser o mais profissional possível, mas tudo o que escuto é uma respiração pesada e profunda.
É como se a pessoa do outro lado da linha estivesse procurando coragem para falar.
Quando estou prestes a desligar, a pessoa se manifesta.
— Will, preciso de ajuda. Você precisa me ajudar a salvar o nosso filho.
Ao escutar essa voz meu corpo enrijece, meu coração acelera e se não estivesse sentado com toda certeza teria caído.
O mundo nesse momento está caindo sobre a minha cabeça.
Essa mulher, é a última pessoa do mundo que quero ver novamente na minha vida.
Depois do que aconteceu entre nós dois no banheiro daquela maldita boate não tivemos mais nenhum tipo de contato e já estava até esquecendo da sua existência.
— Você só pode estar ficando louca. Que tipo de brincadeira é essa? E como foi que conseguiu ligar nesse número?
— Isso não importa. Ele vai me matar e estou desesperada. É seu filho, Williams, você precisa me ajudar.
Essa mulher só pode estar querendo fazer uma brincadeira de muito mau gosto comigo.
Essa é a única explicação.
Ela quer tirar minha paz como faz com todos os homens que têm o desprazer de cruzar seu caminho e se envolver com ela.
— Eu não vou cair no seu joguinho, não dessa vez. Fui muito burro em me deixar seduzir por você, não vai me enganar...
— Você não usou preservativo naquele dia, usou?
É nessa hora que ela me dá um xeque-mate.
No ápice do prazer e t***o não usei a p***a do preservativo, coisa que nunca tinha acontecido antes, mas achei que ela fosse espertar o suficiente para tomar outras medidas de proteção.
— Sua desgraçada maldita...
— Não adianta me amaldiçoar agora, Will, o que está feito não pode ser desfeito. Me encontre no endereço que vou te passar, não tenho muito tempo. Ele vai vir atrás de mim.
Com a cabeça confusa, anoto o endereço que ela me passa e desligo o telefone na cara da maldita, sem dar chance alguma de falar mais nada.
Arrumo minhas coisas rapidamente e quando estou prestes a sair da sala, Carlos a invade transtornado de raiva.
Esse homem com raiva não é uma coisa muito boa.
— Williams, ela me deixou, minha mulher me deixou.
Nessa hora, volto a me sentar.
Será que hoje é o dia das más notícias?
— Como assim, Olivia te deixou? Que p***a foi que você fez? Eu te avisei, Carlos, para não fazer m*l a ela. Olivia não é como as outras.
— Eu não fiz p***a nenhuma, Williams. Eu amo aquela mulher mais que tudo nesse mundo e você sabe muito bem disso — diz muito sério e vejo apenas verdades em suas palavras.
— E, por que diabos ela foi embora, te deixando, se estavam tão bem?
— Rayla, aquela desgraçada vai morrer lentamente quando colocar minhas mãos nela — diz entredentes, transtornado de raiva.
Agora sim, entendo o motivo da ligação e percebo o quanto estou fodido nessa história toda.
— Rayla! — digo mais para mim do que para ele.
— Essa desgraçada, maldita, teve coragem de querer dar o golpe da barriga em mim, mas não caí no joguinho dela. Eu a levei quase que arrastada em uma clínica para fazer o exame de DNA. Ela insistia em esperar o bebê nascer, mas não tinha esse tempo todo.
Fico chocado com tudo o que ele fala, essa mulher é muito pior do que imaginava.
— Olivia!
Coitada da Olivia, não consigo nem imaginar o que ela está passando.
— Olivia está grávida de gêmeos e estou desesperado atrás dela. Minha mulher acha que a traí e com a ajuda do cretino do Ivan e do Dylan simplesmente evaporou. Ela sumiu da face da Terra. Eu já coloquei essa cidade de cabeça para baixo e nada dela.
A cada revelação eu fico mais chocado ainda.
— O que você pretende fazer agora?
Ele me olha com os olhos vermelhos de raiva, querendo arrancar a alma de Rayla do seu corpo com as mãos. A mulher que muito provavelmente carrega meu filho no ventre.
— Você sabe muito bem o que vai acontecer. Vou dar a ela um destino muito pior do que Ivan deu para Caroline.
Chego a engolir em seco, porque o destino de Caroline foi c***l demais.
— Você disse que ela está grávida e mesmo que o bebê não seja seu, é uma vida inocente, Carlos.
— Ela que tivesse pensado nisso antes de se meter comigo e com a minha mulher... A MINHA MULHER, p***a, ESTÁ LONGE DE MIM, E ISSO ESTÁ ME ENLOUQUECENDO. EU VOU MATAR A RAYLA DA MANEIRA MAIS c***l QUE EXISTE — Carlos grita fora de si e em todos nossos anos de amizade nunca o tinha visto assim.
Rayla está com a cova aberta, só esperando sua hora chegar, pois, dessa vez ela foi longe demais.
— Carlos, acalme-se. Ficar desse jeito não vai resolver nada.
— Calma!? Como posso ter calma se por causa daquela desgraçada, Olivia me deixou? A médica me informou que uma gravidez de gêmeos é delicada, que Olivia precisa de cuidados especiais. Como eu vou cuidar dela agora? Como vou cuidar da minha mulher se nem mesmo sei onde ela está?
Agora as lágrimas tomam conta de sua face, e sei que esse é o último estágio do desespero.
Vou até ele e o abraço passando uma força que eu mesmo não tenho. Estou completamente perdido nessa situação, a qual estou envolvido até o pescoço.
— Você disse que Ivan e Dylan a ajudaram na fuga. Pensa que ela vai ficar bem, eles vão cuidar da sua mulher. Você sabe muito bem o que eles querem fazer, uma hora falam onde ela está escondida.
— Ela não vai me perdoar, acha que a traí com aquela desgraçada.
— Você vai ter o exame de DNA para provar sua inocência a ela. Agora tudo o que tem que fazer é ir para casa e procurar se acalmar. Precisa colocar a cabeça no lugar e parar de pensar em fazer uma besteira.
Ele desfaz o nosso abraço e se afasta de mim.
— Eu só vou ter calma e a cabeça fria quando tiver o corpo de Rayla jogado aos meus pés. Aí, sim, eu vou ter calma. Aquela mulher mexeu com o homem e a família errada.
— Carlos... — Ainda tento argumentar, mas ele me interrompe.
— Eu vou para a mansão Smith e reunirei nossos melhores homens para uma caça. Você vem comigo?
— Agora não posso. Quando você chegou, estava de saída para um compromisso muito importante. — Meu coração dói por ter que mentir para meu amigo, meu irmão.
Ele me olha desconfiado, como nunca me olhou antes.
— O que é mais importante do que encontrar Olivia no momento? Achei que você gostasse dela.
Carlos é esperto e tenho que ter sangue frio para falar com ele e não levantar suspeitas.
Agora é a vida de um provável filho meu que está em jogo.
— Não ouse duvidar da minha amizade por Olivia, caso não se lembre, vou refrescar a sua memória. — Eu me aproximo dele sem desviar o olhar. — Fui eu que coloquei aquela menina na sua vida, no dia em que tive a infeliz ideia de colocá-la como sua secretária. Eu pedi, Carlos, implorei para que não se metesse com ela, mas você não me ouviu e olha só onde estamos agora.
"Olivia sempre foi diferente das outras, uma mulher que não merecia passar pelo que passou para ficar ao seu lado.
"Então pense muito bem no que vai falar a respeito da minha amizade e consideração por ela".
Ele dá um passo para trás, percebendo que realmente passou dos limites ao insinuar algo.
— Will...
— Vá para a mansão Smith e faça o que tem que fazer para encontrá-la o mais rápido possível. Diferente de você que é o dono disso tudo aqui, não posso me dar ao luxo de simplesmente cancelar uma agenda inteira. Você precisa de alguém aqui, colocando as coisas em ordem enquanto estará procurando por ela.
"Como eu disse tenho um compromisso importante agora e quando estiver livre, me junto a você".
Ele balança a cabeça concordando, então totalmente perdido, desolado, sai da minha sala.
Eu me sinto um traidor de merda, tendo que escolher um lado e muito provavelmente vou escolher o lado errado. Mas se Rayla estiver falando a verdade, preciso salvar a vida do meu filho, a única e verdadeira família que vou ter nessa vida.