Farinha
Encaro Emily e Vitória que estão na minha frente, não tenho nem como descrever o quanto essas duas são importantes para mim. Se tirar elas da minha vida, não sobra nada, papo reto! Não me vejo vivendo sem elas do meu lado.
Nunca me imaginei pensando isso, como também nunca pensei que eu fosse casar, amar uma mulher, desejar ter somente uma do meu lado e ter filhos, não estava nos meus planos, mas agora tudo mudou.
A cada dia que se passa, eu gosto mais ainda da ideia de ter filho e de continuar com a minha mulher. Pô, Emily foi uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida, a mandada chegou e mudou tudo, me faz feliz pra caralh0, mesmo me tonteando as vezes. Minha vida mudou por causa delas, eu não era feliz, agora eu sou.
Mas voltando a realidade e saindo dos meus pensamentos, é de partir o coração ver essas duas chorando. De um lado chora a Vitória, depois chora a Emily, eu fico dividido pra caralh0, sem saber o que fazer, mas tento tomar alguma atitude rápida.
Chamo Emily para a piscina e arranco um sorriso dela, sei também que para ela não está nada fácil, já é o segundo filho, último mês de gestação, já era até para o Felipe ter nascido, pelo o que o médico falou.
Não vejo a hora desse moleque nascer, deixei tudo em ordem na boca para não precisar ficar indo lá, quero dar atenção só para eles. É um pouco difícil dar conta de tudo, negócios, mulher, filha, filho, ainda tem a Milena no meio disso tudo.
Falta ela aqui, mas se está achando bom morar com o Terror, beleza, não posso fazer nada, só engolir. Porque aceitar eu não aceitei completamente, só engoli a pulso essa história dos dois, para manter a “paz”, porque está sendo bem melhor ter eles por perto. O infiltrado me passa tudo que a Milena faz, o dia inteiro, e eu só tenho pena da fatura do cartão de crédito do Terror, 90% do dia, ela está fazendo compras. Não me meto no relacionamento dos dois, só quero ver até onde isso vai.
Desço com Vitória nos braços e Emily vem atrás. Sinto ela me dando vários beijos na bochecha e passo a mão pelo cabelo dela, parece uma mini cópia da Emily.
Ela é muito carinhosa comigo, mas manhosa demais também. Eu faço de tudo para ver ela feliz, quero dar para ela o que eu nunca tive. A Emily acha que eu estou fazendo errado, mas para mim, eu estou fazendo certo. Não quero cometer o mesmo erro que eu cometi com a Milena, não vou criar a minha filha na base de grito e porrad4.
Lara: A mamãe não “gota” de mim - Fala baixo no meu ouvido e apoia a cabeça no meu ombro.
Vitória as vezes cisma um pouco com a mãe dela, essas paradas são chatas pra c4cete, a Emily fica put4 da vida e desconta em mim, falo que eu faço todas as vontades da garota. Só faço aquilo que nunca fizeram por mim, não quero ver minha filha sofrendo ou passando vontade de alguma coisa, se eu posso dar, então vou dar para ela o que ela quiser.
Observo Emily indo na frente e só assim eu suspiro fundo para começar a falar, não quero nem imaginar se ela estivesse escutado isso. Iria dar um show, já está com os nervos a flor da pele com a gravidez do Felipe, reconheço que ela está tentando ser uma mãe melhor a cada dia que se passa, já imagino o drama que ela ia fazer se escutasse Vitória falando isso, cê é louco.
Farinha: Claro que ela gosta de tu, tua mãe é louca por você, não fala isso de novo pra ela não ficar tr1ste, morô? - Pergunto e ela assente - Ela só tá estressada por causa da gravidez, teu irmão já era pra tá no mundo.
Lara: Quando ele nasce?
Farinha: Ele pode nascer a qualquer momento.
Lara: “Quelo” muito ver ele.
Farinha: O pai também não ver a hora dele nascer.
Vou com ela até a piscina e vejo que Emily está sentada na borda, tomando sol com a barriga a mostra. Deixo Vitória no chão e coloco uma boia nela.
Dou um pulo na piscina e ela se joga, vindo para perto de mim, espirro água na Emily, fazendo ela tirar o óculos de sol e entrar na água também. Os olhos cansados dela mostram o quanto ela está esgotada, mas mesmo assim, segue de cabeça erguida. É uma das coisas que eu mais admiro nela, os bagulhos do passado fizeram ela amadurecer.
Lara: A tia Milena falou que vai colocar o Arthur na escola.
Emily: Que legal!
Lara: E eu? Quando que eu vou poder “entlar” também?
Emily: A mamãe vai ver a melhor forma possível de colocar você na escola, tá bom?
Lara: Tá! Quando?
Emily: Ainda não sei, mas prometo que vou ver isso o mais rápido possível, deixa só o seu irmãozinho nascer, as coisas se tranquilizarem mais, aí eu organizo tudo para você começar a estudar.
Lara: Mas eu “quelo” logo!
Emily: Mas nem tudo é do jeito que a gente quer, a mamãe tá falando que vai ver uma escola pra você, só não sabe o momento.
Lara: Papai, eu “quelo” ir “pla” escola, a mamãe não quer me deixar ir.
Emily bufa e eu puxo Vitória para perto de mim, as vezes é difícil ter paciência com ela, mas não vou gritar, nem reclamar, não é assim que as coisas se resolvem com criança.
Farinha: Claro que quer, tua mãe vai ver isso pra tu e logo mais nós te coloca pra estudar. Confia em mim?
Lara: Confio. Vai ser com o meu “plimo” Arthur?
Farinha: Não, esquece o Arthur, deixa teu primo pra lá. Não se preocupa que eu e tua mãe “vamo” resolver isso daí.
Lara: Tá - Fala dando um sorrisinho sapeca.
Ela só é tr1ste e chorona até conseguir o que quer, depois que consegue, a tr1steza vai embora e a felicidade reina, já conheci alguém assim, a Milena. Era exatamente desse jeito, a única diferença é que a Milena tinha 16 anos e a Vitória tem 3.
Farinha: Vem cá, tira essa boia, vou te ensinar a nadar.
Lara: “Sélio”?
Farinha: É - Digo e ela levanta os braços para eu tirar a boia dela.
Emily se afasta indo para o canto da piscina e fica olhando nós dois, Vitória está animada com a ideia de que agora vai aprender a nada, passo o que eu sei para ela e ela vai pegando aos poucos.
Emily: Tá na hora do almoço, vamos comer, acho que a Maria já aprontou tudo.
Farinha: Bora - Digo pegando Vitória no colo.
Lara: “Quelinha” tanto um picolézinho - Fala abraçando o meu pescoço.
Emily: Eu escutei, hein? Cê não vai chupar picolé, vai almoçar.
Lara: Tá calor, “quelo” picolé.
Emily: Você não vai chupar picolé, filha.
Lara: Mas eu “quelo”! - Berra estressada enquanto b4te descontroladamente as mãos na água.
Emily: Fábio, controla essa garota! - Diz subindo as escadinhas da piscina.
Seguro os braços dela a impedindo de continuar b4tendo na água e puxo ela para o meu colo. O choro fino da Vitória invade meus ouvidos, saio da piscina com ela.
Farinha: Depois do almoço o pai te dá um picolé, mas tu tem que almoçar primeiro.
Lara: Mas eu não tô com fome de comida, papai.
Farinha: Mas vai ter que comer, o pai tá falando pro teu bem - Digo enxugando as lágrimas dela, ela assente e me abraça novamente.
Vamos direto para a cozinha, a deixo em uma cadeira e Emily faz o prato da Vitória, eu faço o meu prato e me sento para atacar.
Lara: “Quelo” na boca.
Emily: Vem pro meu colo, a mamãe vai te dar a comida.
Lara: Não “quelo” a mamãe, “quelo” o papai - Fala apontando para mim.
Eu a pego no colo e dou um sorrisinho de lado, enquanto Emily me olha de cara fei4. É normal isso, as vezes é sempre assim, ela sente ciúme da nossa filha demonstrar mais afeto por mim. Vitória abre a boca e eu começo a dar o almoço dela.
Lara: “Quelo” comer de “galfo”.
Emily: Não é galfo, é garfo. - Vitória dá de ombros.
Farinha: Deixa a menina falar do jeito que ela sabe, Vitória ainda é uma criança.
Emily: Mas é do pequeno que se faz o grande, ela tem que ir aprendendo desde cedo.
Lara: Papai, pega um “galfinho” “pla” mim.
Essa menina tinha que nascer debochada assim? Balanção a cabeça neg4tivamente e troco a colher por um garfo e continuo dando o almoço na boca dela.
Farinha: Eaí, tá gostoso?
Lara: Muito!
Termino de dar a comida a ela e sinto ela passando um aventalzinho na minha blusa que tinha caído um pouco de comida, pego o avental para passar na boca dela e a coloco na cadeira ao lado. Começo a comer também e me levanto quando termino, para deixar o prato na pia.
Lara: Pode me dar o picolé agora, papai? - Pergunta sorrindo.
Encaro os dentinhos brancos dela e deixo um sorriso escapar dos meus lábios. Me levanto e vou até o freezer, pego um picolé de chocolate e entrego para ela, que bate palmas e sobe na cadeira para beijar a minha bochecha.
Gosto do carinho dela, demais. É algo novo para mim, e eu estou gostando dessa nova fase da minha vida. Viver em baile enchendo a cara não enche mais os meus olhos como antes. Quando estou fora de casa, a única coisa que eu desejo é terminar logo o que eu tenho que fazer para voltar.
Vitória leva o picolé até a minha boca e eu dou uma mordida, depois ela mesmo que devora ele, se sujando toda. Lavo a boca dela na pia e observo Emily fazendo umas caretas enquanto come.
Farinha: Qual foi?
Emily: Nada, só tô sentindo uma dor fraquinha no pé da barriga.
Farinha: Quer que eu te leve pro quarto?
Emily: Não, amor. Não precisa, leva a Lara lá pra cima por favor, dá um banho e coloca uma roupinha nela pra mim.
Farinha: Beleza.
Subo com a Vitória e faço o que a Emily pediu. Deixo ela arrumada em cima da cama e ligo a TV do quarto, coloco Bob Esponja para ela assistir.
Lara: Deita aqui - Fala tocando na cama.
Farinha: Vou tomar um banho e já venho deitar contigo - Ela assente e eu entro no banheiro.
Tomo um banho e me troco, depois me deito na cama e faço cócegas nela, ela ri alto e depois me puxa para um abraço.
Farinha: Te amo.
Lara: Eu também te amo. Muito, muito, muito! Do tamanho do céu - Responde me enchendo de beijo - Só “plomete” que vai me colocar na escola.
Farinha: Prometo - Digo dando um beijo na cabeça dela - Vou ver isso daí o mais rápido possível, rapidinho tu vai tá numa sala de aula, só dá um tempo pro pai poder organizar as coisas, beleza?
Lara: Tá bom, papai.
Desfaço o abraço quando escuto alguns grito da Emily, provavelmente ela ainda está lá em baixo.
Emily: AMOR, AJUDA AQUI!
Levanto rápido da cama e passo pelo corredor. Quando chego na escada, vejo o chão todo molhado e a Emily desesperada.
Caralh0, a bolsa estourou! A emoção é tanta que eu fico paralisado por alguns segundos e só depois de mais gritos, eu desço para socorrer ela.
Meu filho está vindo ao mundo, mais um para fazer parte da família. Porr4, esperei tanto por esse momento, até que finalmente ele chegou.