CAPÍTULO 2
GIULIANNA
SEIS MESES DEPOIS
—Giulianna! Finalmente! Eu pensei que você nunca iria chegar aqui.
—Desculpe, Liz—Corro para a cozinha e jogo a minha bolsa no chão enquanto pego o meu avental.
Trabalho no Gusto Italiano há seis meses e, até agora, tudo foi bem. Eu também consegui evitar com sucesso a suposta máfia e não houve nenhuma palavra sobre o meu passado.
Parece que as coisas estão finalmente indo bem.
— Giu, onde você estava? Eu já estava preocupada— Mila pergunta, me olhando.
—Agora não, Mila—digo a outra funcionária que também é minha amiga—Estou atrasada o suficiente.
—Ainda não há clientes, o que aconteceu? Você nunca se atrasa.
Eu me viro para ela e decido contar a minha frustração.
—Havia esses caras que pareciam problemas, então acabei entrando numas ruas e caminhando quatro quarteirões antes de chegar aqui.
—Espera. Que caras?
—O tipo de cara que usa ternos de mil dólares no meio do Brooklyn— ela ri.
—Você não será capaz de evitá-los para sempre Giu.
— Sei que não, mas eu posso tentar.
Ela não entende por que eu faço de tudo para evitar os homens da máfia. A verdade é que o meu tio me assustou muito quando me alertou sobre eles. Agora, mantenho os meus olhos retos e vou do ponto A ao B sem olhar para os lados. Não preciso de atenção ou drama extra, a minha vida já é uma loucura.
—Bem, eles vêm aqui de vez em quando. Você vai se deparar com eles uma hora ou outra.
—Sim, talvez, mas agora vamos trabalhar antes que o tio Guido nos mande embora.
— Vamos lá! Mas ele não iria demitir a sua Bella— Mila ri.
—Você diz isso por que não conhece o meu tio. Agora vá.
Eu a afasto enquanto eu falo com Liz.
—Você está bem?— ela pergunta.
—Sim— eu respondo.
— Espero uma explicação mais tarde. Eu apenas coloquei você nas mesas 10 e 16.
—Obrigado, Liz.
Essa é a beleza das minhas duas amigas. Liz não fala bobagem. ela vai me dizer o que pensa e me estrangular se achar que eu preciso, ela entende que há tempo e lugar para tudo, ela não me obriga a falar sobre o meu passado. Ela me vê por quem eu sou agora.
Mila é a alma gentil, ela vê o bem em todos. Ela faz perguntas sobre o meu passado, mas sabe quando parar de perguntar também. Ela é a tagarela das duas e tem mais chances de me abraçar do que me estrangular.
Elas são como o ying e o yang da minha vida. O equilíbrio que eu nunca tive e sempre precisei.
Paro e cuido das minhas mesas.
Finalmente conseguimos fazer uma pausa antes que a loucura do jantar comece, o restaurante estava sempre cheio e eu já conhecia a maioria das pessoas que vinham aqui.
— Edu. Posso fazer três pedidos extras de macarrão para mim e para as meninas quando você conseguir um tempinho?— Eu grito com o nosso cozinheiro.
—Claro, boneca—ele me dá uma piscada que me faz rir.
Edu é um grande paquerador, ele flerta com todas as garotas, mas nunca leva nada a sério. A verdade é que ele tem um coração romântico e está esperando pelo amor verdadeiro. Ao menos foi isso que ele me disse uma noite, quando estava bêbado após o trabalho.
—Finalmente, uma pausa. Isabel está me cobrindo, mas precisamos ser rápidas—eu bufo.
Isabel é a namorada de longa data do tio Guido. Ela é extremamente chata com todos, mas tem sido legal o suficiente comigo. Especialmente considerando que o meu tio me levou para casa dele sem perguntar a ela. Ela fez questão de me dizer que não me queria lá no primeiro dia inteiro, mas depois disso, eu me tornei insignificante e ela não disse mais uma palavra desde então.
—Então por que você estava atrasada?— Liz pergunta enquanto eu dou uma mordida no meu macarrão. Estou mastigando para responder, mas Mila responde antes que eu fale.
—Ela estava evitando os meninos novamente.
Liz balança a cabeça.
—Você está sendo boba. Contanto que você não os ofenda ou os atrapalhe de propósito, eles nem olharão para você.
—Bem, se eu puder evitá-los, não lhes dou razão para me olhar— digo.
— Você é tão estranha.
— Sei que eu sou, mas prefiro ser estranha e me manter viva. Agora coma. Nós não temos muito tempo. Mila me conte sobre o seu encontro.
Ela dá um suspiro amoroso enquanto nos conta tudo sobre o seu encontro maravilhoso. Toda semana ela tem um encontro. Ela encontra um homem e depois de alguns encontros, ele misteriosamente decide que não quer mais namorar. Ela mais uma vez está com o coração partido, mas segue em frente, e em alguns dias, lá está ela de novo em outro encontro.
Vai demorar a aparecer um cara especial para segurá-la.
—Bella.
Eu me assusto com a voz do meu tio atrás de mim. Eu me viro para encontrá-lo em pé na a******a da cozinha.
—Sim, tio?
—Eu preciso que você prepare o restaurante, teremos um jantar especial hoje à noite. Mila e Liz vão te ajudar. O resto do restaurante está fechado para a noite.
— Ah, sim, tudo bem— digo, mas tenho uma sensação de pavor, ele nunca fecha o restaurante— Não se preocupe, arrumaremos tudo.
Ele assente uma vez e depois sai.
—Parece que a sua sorte está acabando, Giu. A única vez que ele fecha o restaurante é quando os meninos entram para jantar—Mila diz.
—Eu me pergunto por que ele quer que você fique. Normalmente somos só eu e a Mila. Com você, agora seremos três. Será que é uma festa maior?— Liz questiona.
Sinto a minha pressão arterial começar a subir. Não sei por que, mas sinto que algo vai acontecer hoje à noite, não sei se será bom ou r.uim, mas de qualquer forma estou ansiosa por isso.
—Ele provavelmente quer ter a certeza de que a Giulianna pode lidar com isso. Esse será o seu primeiro jantar. As regras são um pouco diferentes. Você se lembra delas? — Mila se vira para mim.
—Não faça contato visual se não puder ajudá-lo. Seja extremamente cuidadosa. Não os questione. Se eles pedirem qualquer coisa que não conheça, dê ao Edu e ele descobrirá como fazer. Se você não conhece uma bebida, pergunte a uma de nós. Certo? — agora Liz quem diz.
—Bom. Será uma boa noite. Elas sempre são muito grandes— Mila afirma.
Estou feliz que um de nós pensa assim.
Depois que terminamos de comer, começamos a preparar a sala de reuniões, uma área lateral projetada para grandes jantares para manter o barulho abafado do restante do salão. Não demoramos muito tempo para reorganizar as tabelas no padrão preferido para quando esses convidados estiverem chegando.
Feito tudo, sentamos e esperamos. E esperamos. E esperamos mais um pouco. Duas horas depois, os estimados convidados começaram a chegar.
Sim, isso foi proposital.
Só sei disso porque o tio Guido verificou duas vezes se a porta da frente estava trancada antes de entrar na cozinha. A próxima coisa que vi foi vários homens entrando no restaurante. Nenhum olhou na minha direção. E quando todos entraram, eu fui para a cozinha e depois para o quarto dos fundos para colocar o meu celular de volta na minha bolsa.
Enquanto Mila e Liz estavam conversando com alguém, eu estava fazendo o que sempre faço. Lendo um livro do meu aplicativo. Estava voltando para o salão principal quando vejo um homem e uma mulher do lado de fora da porta dos fundos. Olho para eles e começo a me afastar.
—Eu sinto muito, querida. Eu pensei que este era um jantar em família. Aqui, pegue isso e vá às compras e eu irei buscá-la quando terminarmos— o homem diz.
—Você está louco, Vinicius? Todo esse dinheiro estava no seu bolso— a mulher pergunta.
— Eu tenho dois bolsos, bebê, quer colocar a mão aqui?
A quantidade de dinheiro e forma de falar me faz rir, antes que possa me conter. Eu tento sufocar qualquer barulho e espero que não tenha sido notada.
—Algo engraçado?— a mulher grita para mim.
Eu olho.
—Desculpe. Me lembrei de algo—tento inutilmente disfarçar.
—Você vai deixá-la rir de você, Vinicius?
P.uta do c.aralho, ela não podia simplesmente deixar para lá?
—Claro que não. Venha aqui sua p*****a. Você sabe com quem está falando?
Eu sei que deveria ter medo, mas por algum motivo não tenho.
—Eu não acredito que nos conhecemos, então não.
—Você vai se arrepender disso em breve—ele dá um passo na minha direção e sinto o meu coração bater um pouco mais rápido. O meu coração para completamente, assim como o tal Vinicius, quando uma voz grossa soa.
—Ela é o que, Vinicius?
Olho de volta para a mulher e vejo os seus olhos se arregalarem e o seu rosto cair. Um homem vestido com um terno preto escuro com sapatos pretos e uma gravata preta, parado na porta dos fundos que havia sido deixada aberta. Atrás dele, dois outros homens entram e fecham a porta.
—Ela me desrespeitou.
—Ahn? Você quer dizer rindo daquela frase ridiculamente brega que você falou?—ele diz enquanto ri.
Ele caminha na minha direção, mas para ao lado de Vinicius.
Agora que ele está mais perto e com melhor luz, posso ver o cabelo curto e escuro e os olhos castanhos escuros. Tão escuro, que eles quase parecem pretos. Esse homem é lindo demais. Ele tem a pele um pouco bronzeada, não o suficiente para parecer falso, mas apenas o suficiente para dar a ele aquele ar sedutor siciliano.
Não sei quem é esse homem, mas ele exala poder, eu sei que neste momento, este deve ser o chefe deles. Percebo pela maneira como Vinicius está questionando as suas ações e a sua brincadeira está prestes a se irritar.
—Sim. Ela não deveria rir de mim.
O homem se vira para mim.
—Qual é o seu nome, bambina?
—Giulianna. Por favor, não me chame assim. Eu não te conheço.
Eu ouço a mulher suspirar quando Vinicius me dá um olhar de vitória, ele acha que eu acabei de cavar um buraco. Inferno! Talvez eu tenha mesmo feito isso sem saber.
—Certo, então suponho que eu possa chamá-la pelo seu nome. Você sabe quem é esse homem, Giulianna?—ele dá um tapinha no ombro de Vinicius.
—Bem, eu ousaria dizer que o nome dele é Vinicius, mas, além disso, não sei nada sobre ele. ——Oh, claro que você não tem como saber. Você percebeu que ele usa cantadas bregas em mulheres baratas para manter uma postura medíocre.
O rosto de Vinicius cai quando ele percebe que o seu chefe não está do seu lado.
—Não sei de nada, senhor. Se você me der licença, eu realmente preciso entrar lá para ajudar a servir— eu me viro para sair, mas sua mão estende para me parar. Eu me viro e olho nos olhos dele.
—Lucca, porque você não acompanha Vinicius até a sala de reuniões, e leva essa mulher até a saída.
Ninguém fala e em momentos, somos deixados sozinhos e sinto o meu coração disparar. Antes que ele possa falar, eu tiro o braço dele. Ele deixa cair facilmente. O que você faz quando está diante da realeza da máfia? Beijar a mão deles? Arco? Dou um passo à frente e faço reverência. —Desculpe se ofendi o senhor ou o seu homem. Se me deixar voltar ao trabalho, prometo que nunca mais acontecerá—fico na reverência com a cabeça baixa esperando uma resposta e eu recebo uma resposta na forma de uma risada.