GIULIANNA
—Bella. É tão maravilhoso tê-la aqui. Como foi sua viagem de ônibus? Conseguiu aproveitar alguma coisa?
O forte sotaque italiano cai sobre mim e me acalma como bálsamo para uma ferida, ninguém me chama de Bella há muito tempo. Para minha família, é um termo carinhoso para uma jovem garota, a última vez que ouvi foi no dia mais triste da minha vida, o funeral dos meus pais.
— Foi boa. Obrigada por me ajudar, tio Guido. Eu agradeço muito essa chance que você está me dando.
— Claro. Você é meu sangue. Eu sempre cuidarei de você.
Ele me dá um abraço e eu o aperto de volta, faz muito tempo desde que eu estive em família. Depois que os meus pais morreram em um acidente de carro há alguns anos, fiquei distante da família e dos meus amigos. Eu acho que é por isso que fui i****a o suficiente para entrar em um relacionamento com aquele escroto.
Afasto meus pensamentos e aperto mais um pouco o abraço no eu tio, antes de me afastar.
— Vamos para casa. Você pode me contar tudo sobre a sua viagem a caminho.
Dou-lhe um pequeno sorriso e aceno concordando quando ele passa o braço em volta de mim e me leva para o carro. A verdade é que não há muito a dizer a ele. Depois que meu namorado, desculpe-me ex-namorado, me bateu sem sentido e ameaçou me matar, liguei para o tio Guido e implorei que me ajudasse a sair de lá. A resposta dele? Vá para a rodoviária.
Ele me disse para pegar apenas poucas roupas e colocar em uma mochila nas minhas costas. Que haveria um envelope esperando com o bilheteiro junto com uma passagem para o meu próximo destino. Nos últimos quatro dias, viajei por inúmeras cidades e troquei de ônibus seis vezes e peguei táxi cinco vezes. Finalmente, acabei aqui, em Nova York. Mais especificamente em Manhattan.
Depois de alguns momentos de silêncio, o tio Guido fala.
—Então, a sua viagem foi boa? Tudo correu bem?
— Sim. Eu fiz tudo o que você disse. Eu olhava por cima do ombro a cada curva e escolhia as cidades aleatoriamente, às vezes até mandando o taxista parar no meio de uma cidade desconhecida e depois ligando para o outro táxi no telefone da loja mais próxima.
— Boa menina. Isso irá cobrir os seus rastros. Você estará segura aqui, sempre, mas eu queria ter certeza que fez tudo como te falei pra fazer.
— Tio, eu realmente agradeço tudo o que está fazendo por mim, isso significa muito.
Ele apenas sorri para mim enquanto se concentra no trânsito.
— Escute, Bella, precisamos rever algumas coisas.
Um arrepio correu pelo meu corpo, claro, este não foi um passeio gratuito. Eu não esperava, mas o que não sabia era o que ele exigiria de mim. Eu não tinha nada no meu nome.
—Eu vou conseguir um emprego. Pagarei todo o dinheiro que você me deu. Vou trabalhar para conseguir o meu próprio lugar o mais rápido possível também.
Ele solta uma risada alta e barulhenta.
—Oh, minha Bella, eu não ligo para o dinheiro, criança, isso não foi o que eu quis dizer. Eu sugiro que encontre um emprego, mas, por enquanto, você pode trabalhar no restaurante. Se você optar por ficar, sempre terá um emprego lá. O que eu quis dizer é que existem algumas regras de bairro que você deveria saber. Especialmente porque você vai morar comigo.
— Oh. Está bem. Certo. Quais são? —sinto um alívio com as suas palavras—Algumas regras de vizinhança? —eu poderia lidar com isso.
— O Brooklyn é um lugar seguro. a comunidade se cuida, você estará segura conosco. Nos primeiros dois meses, você precisará permanecer no Brooklyn. É a única maneira de garantir a sua segurança. Até sabermos mais sobre esse Tom.
Eu aceno com a cabeça silenciosamente. Sinto paredes se fechando ao meu redor lentamente. Claro, eu precisaria ter mais cuidado. Eu sabia. Não era o fato de estar presa que me fez tremer. Mas sim, o som do nome dele causou esse sentimento em mim. Lembranças de todos os espancamentos que eu sofri.
— Sinto muito, Bella. É apenas temporário, só até eu saber mais sobre a ameaça.
Dou-lhe um pequeno sorriso quando ele olha para mim.
—Você precisa ter cuidado na vizinhança. Há homens que dirigem o bairro, eles fornecem proteção, mas também são homens perigosos, quero que você seja cuidadosa com eles e fique fora do caminho deles. Você saberá quem eles são quando os vir. Todo mundo sabe quem eles são.
— Como uma gangue? Existe uma gangue no seu bairro? — o meu coração dispara de medo ao pensar em uma gangue mortal morando ao lado.
— Claro que não, ouça, vou lhe contar por que você morará comigo por um tempo, mas preciso que você prometa manter essas informações para si mesmo, isso é muito importante.
— Sim. Eu prometo— eu respondo imediatamente.
— Não, Bella—a intensidade nas suas palavras me assusta.
Eu me viro e o encontro olhando para mim com raiva nos olhos.
—Isso é importante, estou falando de vida e morte, se eu lhe disser isso, você não pode dar uma palavra disso a ninguém.
Engulo um nó na garganta, acabei de sair de uma situação de vida ou morte, parece que eu troquei uma por outra.
— Eu prometo, tio Guido. Você está me assustando.
— Isso é bom, você precisa ter medo. É saudável ter medo. Vai mantê-la viva.
Eu concordo com as palavras dele.
— A família Caccini administra o Brooklyn e a maior parte de Nova York.
— Está bem. E quem são eles?
Ele suspira e respira fundo.
— Minha doce, inocente, Bella. A família Caccini é a máfia italiana.
Eu suspiro.
—Máfia? Eu pensei que eles haviam sido erradicados de Nova York? A máfia ainda existe?
— Eles existem. Eles são apenas um pouco mais discretos. Não há necessidade de obter justificativa pública. Recentemente, houve uma mudança na família, de modo que as coisas ficarão tensas pelas próximas duas semanas, mas as coisas vão se acalmar. Eu só quero ter certeza de que você está segura. Cuidado.
— Claro, tio. Eu vou tomar cuidado, eu prometo.
— Boa menina, só mais uma coisa por hoje à noite. Se a polícia vier, você não fala com eles, não importa o que eles perguntem você não responde nada. Se eles a levarem para interrogatório, você lhes diz que não sabe nada e quer um advogado. A polícia não pode protegê-la. A família Caccini pode. Sempre confie e defenda a família e eles sempre a protegerão. Você entendeu Bella?
— Sim, tio.
Eu não podia me preocupar com a máfia, eu ficaria fora do caminho deles.
Tenho os meus próprios problemas para me preocupar. Deus sabe, a polícia é a última pessoa com quem eu procuraria ajuda, só quero seguir a minha vida em paz.