Simone sabia que tinha que conversar com Dandara, aquilo a estava deixando nervosa, mas não tinha outro jeito, e conhecendo o seu chefe era melhor que ela o fizesse, Aurélio não tinha jeito para aquele tipo de conversa, o homem era a grosseria em pessoa.
Ela olhava com pesar o sorriso que Dandara tinha no rosto enquanto retirava as roupas da sacola e colocava sobre a cama. Com um suspiro, Simone se aproxima de Dandara.
_ Gostou do que comprou querida? - pergunta ela.
_ Sim. - responde à menina sem nem ao menos olhar para a médica.
_ Preciso conversar com você Dandara, é um assunto serio. - aquilo faz ela parar o que estava fazendo, a médica podia ver as mãos da menina tremer enquanto se virava para ela.
_ Eu fiz algo errado? - pergunta ela já com os olhos cheios de lágrimas.
_ Não querida, - responde ela sentando-se ao seu lado na cama e pegando nas suas mãos. - Mas eu tenho algumas ordens do chefe para você.
_ O homem que foi na loja? - pergunta ela com a voz baixa.
_ Sim. O homem que prendia você no porão deu você como p*******o a ele querida. - Simone pode ver o exato momento em que os olhos de Dandara arregalam-se e o medo enche o seu pequeno corpo. Ela solta a mão da médica e corre para o canto do quarto aos prantos.
_ Não! Eu não quero que me toquem! - diz soluçando enquanto lágrimas desciam por seu rosto.
_ Calma Dandara, - diz Simone indo até ela e sentando-se no chão a sua frente. - O chefe jamais faria isso, ele odeia pessoas que abusam de crianças.
Aquilo pareceu deixar Dandara um pouco mais calma, mas o terror nos seus olhos ainda era real.
_ Então o que ele quer de mim? - pergunta num fio de voz.
_ Ele quer protegê-la querida, mas no nosso mundo só tem uma forma disso acontecer já que você não faz parte da família. - tenta explicar a médica.
_ Como assim? - pergunta ela.
_ O chefe arrumou um casamento para você. - quando as palavras saem da boca de Simone o choro irrompe pelo corpo da menina. Aquela cena corta o coração da médica que a puxa para seus braços a confortando. - Não é o que está pensando querida, ele jamais te entregaria a alguém que te fizesse m*l.
_ Eu não quero! - grita ela tendo os seus soluços abafados pela roupa de Simone.
_ Me desculpe Dandara, mas nesta situação você não tem voz, quando o chefe dá uma ordem ela deve ser cumprida. - diz Simone, lentamente Dandara vai se acalmando e se separa dela.
_ Com quem eu vou ter que me casar, doutora? - pergunta ela.
_ Com o Calebe, querida. - o nome do homem causava arrepios na pele de Dandara, ela nunca esqueceria a forma que ele sempre a olhava, algo que ela não conseguia decifrar.
Por um instante Dandara tinha pensado que a sua vida seria diferente de antes, mas ela estava errada, apenas estavam a vendendo para outras pessoas, o medo de voltar a ser abusada corroía as suas veias, ela se recusava a passar pelo que tinha passado novamente. Uma batida na porta a tira dos seus devaneios.
_ Deve ser ele. - responde Simone levantando-se.
_ Por favor! - pede ela segurando a mão da médica. - Eu não quero fixar sozinha com ele.
Por mais que doesse em Simone ver o medo nos olhos de Dandara ela confiava em Calebe, e sabia que o soldado não lhe faria m*l.
_ Converse com ele querida, vai descobrir que ele não é o que você pensa. - diz ela indo abrir a porta assim que ela encontra os olhos frios de Calebe ela lança-lhe um olhar de advertência antes de sair.
No momento em que Calebe entra no quarto e fecha a porta ele encontra Dandara sentada no chão encolhida num canto do quarto, um suspiro deixa os seus lábios ao ver que ela estava apavorada. Ele caminha até ela e se senta na sua frente.
_ Olhe para mim. - diz ele de forma firme, ele vê o corpo dela estremecer, mas ela obedece. Calebe trava o maxilar de raiva ao ver o pavor que estampava os olhos dela. _ A doutora já lhe disse que vai se casar comigo?
_ Sim. - diz ela com a voz tremula.
_ Apenas vim esclarecer algumas coisas para você Dandara, - diz ele prendendo a sua atenção. - A primeira, é que não toco em você a menos que queira.
Aquilo chama a atenção de Dandara, ela olha sem entender nada para ele, mas não encontrava nenhum traço de mentira nos seus olhos.
_ E se eu nunca quiser? - pergunta usando um pouco de corregem que ela nem sabia que tinha.
_ Então nunca tocarei em você. - responde ele. - A segunda, você não será uma prisioneira na minha casa, pode sair e até mesmo estudar se quiser, desde que eu esteja com você ou alguém da minha confiança.
_ Vou poder sair? - pergunta com um fio de esperança.
_ Sim, desde que esteja comigo ou alguém em quem eu confio.
_ Por que não posso sair sozinha? - pergunta sem entender.
_ Por que não quero outros homens perto do que me pertence. - as palavras dele foram ditas com tanta imposição que fazia o corpo de Dandara se arrepiar. - Eu te prometo que a partir do momento em que casarmos, nenhuma mulher se aproximara de mim, vou honrar o nosso casamento e espero que faça o mesmo.
Dandara tinha imaginado várias coisas que ele poderia lhe dizer, mas aquilo não era uma delas, e observando com atenção a expressão dele, ela sabia que ele dizia a verdade.
_ Tudo bem. - responde simplesmente.
_ Eu não gosto de mentiras, então sempre me diga a verdade mesmo que eu possa me chatear, te prometo que jamais vou descontar em você. - para Calebe o princípio para um casamento dar certo era a fidelidade e a sinceridade entre o casal, e mesmo que o seu casamento fosse um pouco diferente ele queria as mesmas coisas, só esperava não estar dando um tiro no próprio pé com aquilo.
_ Por que está se casando comigo se não vai ter nenhuma vantagem nisso? - pergunta ela, então se encolhe ao perceber o que tinha falado.
Calebe não entraria naquela conversa com ela, ele não estava pronto para reviver os seus pesadelos novamente, ele apenas se levanta e a olha com atenção.
_ Você não precisa saber disso. - responde ele antes de se virar e sair. O que Calebe queria realmente dizer, era que ninguém jamais conheceria as suas fraquezas.