Ele se levanta e olha para todos ali presente. Os olhos deles estavam fixos no seu rosto, esperando por uma explicação que não viria.
_ Somos amigos há muitos anos, - começa ele olhando fixamente para eles. - Vocês sabem que jamais pedi algo a vocês.
_ Você é teimoso demais para pedir ajuda Aurélio, mas sempre estaremos aqui por você, mesmo que não peça. - diz Max que até aquele momento não havia dito nada.
_ Aí é que está Max, - diz ele fazendo uma pausa. - Não quero a sua ajuda.
O silêncio que já reinava na sala apenas aumenta com as palavras dele. Síria caminha até ele e lhe dá um soco no estômago, ele cai para trás no sofá, ela segura os seus cabelos o forçando a olhar para ela. Os seus olhos estavam mortais sobre ele a fúria brilhava o fazendo perceber que tinha mexido com fogo.
_ Seu i****a! Não estamos de dando escolha, não vou assistir o meu irmão se matar por algo que poderia ter ajuda. - diz ela com os olhos marejados. Ela já tinha perdido muito na sua vida e se recusava a permitir que lhe tirassem mais pessoas que ela amava.
_ Não faz isso Sí. - diz ele olhando para ela com lágrimas no rosto. A ligação que ele tinha com Síria ia além do que uma simples amizade, eles eram irmãos de alma, e se entendia a um nível que os outros jamais entenderiam.
_ Faço, não vou te perder, Aurélio! Jamais vou permitir que me tire alguém da minha família, e isso inclui você! - grita ela em seu rosto.
_ Você não entende! - grita ele soltando-se das suas mãos lágrimas descendo por seu rosto.
Aurélio tinha se cansado, a dor que ele carregava no seu peito tinha atingido um nível que ele não suportava mais, e olhando os olhos de Síria ele se via rompendo a barreira que o tinha segurado até aquele momento. Ele curva-se com as mãos no rosto os soluços que irrompiam do seu peito deixa todos em choque. Era como se ele quisesse arrancar os próprios cabelos pela forma que a suas mãos passavam por eles.
Aurélio não chorava, ele nem ao menos se lembrava de quando tinha sido a última vez que se permitiu sentir alguma coisa além da tristeza que sempre o dominava, mas aquele assunto era um tabu para ele, e não importava o que os seus amigos diriam ele não cederia, mesmo que chorasse lágrimas de sangue não os envolveria nas suas sujeiras.
_ Aurélio. - diz Síria tirando as mãos dele do rosto, o que ela viu fez o seu coração se partir. Ela se abaixa a sua frente o puxando para si, ela desejava curar a sua alma, queria poder ajudá-lo de alguma forma, mas ele não permitia.
Para todos ali Aurélio era a rocha que nunca se quebrava, ele suportava tudo o que lhe acontecia com o seu sorriso debochado e as suas piadas, o ver daquele jeito os fazia perceber que o seu amigo nunca esteve bem, que todo aquele tempo em que ele sorria ele clamava por ajuda em silêncio.
Uns olhavam para os outros com vergonha por nunca perceber o que de fato estava acontecendo. Aurélio estava quebrado, e se acabando ao tentar resolver os seus problemas sem envolver os seus amigos. Ao se lembrarem das várias vezes em que ele tinha os ajudado eles entristeciam-se, conversas antigas rondavam a suas mentes os lembrando que os sinais sempre esteve lá, mas eles não tinham enxergado através da sua máscara de felicidade.
A medida que o choro dele se intensificava a culpa dos seus amigos também cresciam. Eles sempre se consideraram família, e ver um dos seus daquela forma os quebrava por dentro, era muita dor para alguém carregar sozinho e ele tinha suportado tudo aquilo sem reclamar nenhuma vez, apenas em silêncio. Agora eles sabiam que todo aquele silencio que ele carregava quando se afastava tinha um motivo bem mais sombrio por trás.
Alguns minutos depois ele acalma-se, lentamente os outros deixam a sala para que ele pudesse se recuperar, não queriam que ele se sentisse envergonhado pelo que eles tinham visto.
Aurélio se separa de Síria e encontra os seus olhos preocupados, as mãos dela acariciavam o seu rosto limpando as lágrimas que ainda desciam por sua face. Ele afasta-se e se levanta, quando se vira para sair as mãos dela segura as suas.
_ Não vou te deixar sozinho. - diz passando o braço por sua cintura e subindo as escadas com ele.
Para Síria era uma questão de honra ajudar o seu irmão, ela assim como os outros também se sentia culpada por não ter notado o estado emocional em que ele estava, mas iria consertar aquilo, ele querendo ou não.
_ Não precisa fazer isso. - diz ele num fio de voz enquanto entrava no seu quarto.
_ Preciso, é meu irmão e não vou permitir que passe por seja lá o que for sozinho. - diz ela enquanto o empurrava para o banheiro. - Leve o seu tempo.
Aurélio não discute, ele sabia que jamais ganharia uma briga com Síria, então com um sorriso sem graça ele entra no banheiro.
Síria abre o armário de Aurélio e retira algumas roupas e arruma sobre a cama. Alguns minutos depois ele sai do banheiro com os cabelos malhados vestindo um roupão.
_ Vou te esperar lá em baixo, não demore. - diz dando um beijo na sua bochecha e saindo do quarto.
Aurélio sente o seu coração se apertar ao ver as roupas sobre a cama, ele sabia que Síria estava preocupada com ele e não o deixaria em paz até ter certeza que ele ficaria bem. Ele sorri ao perceber o cuidado dela em cada pequeno detalhe, pegando as roupas sobre a cama ele se veste rapidamente, termina de se arrumar e puxando uma grande quantidade de ar ele se prepara para encarar os seus amigos lá em baixo.