Quando Dandara descobre o que tinha acontecido ela core até o pátio da vila, mas não encontra nada além de um pouco de sangue no chão. Temendo por Calebe ela corre até o galpão, mas os soldados não permitem que ela entre, angustiada ela volta até a mansão. Ela não tinha entendido o que tinha acontecido, havia ficado sabendo apenas que Calebe estava brigando com um soldado, e aquilo a tinha preocupado terrivelmente. Ele cuidava bem dela, e ela não desejava vê-lo ferido, mesmo se fosse por culpa dele mesmo.
_ Vai abrir um buraco nesse chão menina. - diz a babá olhando ela andar de um lado para o outro dentro da cozinha.
_ Não quero que ele se machuque babá. - diz ela apreensiva torcendo os dedos das mãos.
_ Por que se preocupa tanto? - pergunta ela. A velha senhora sabia do que tinha acontecido a Dandara assim como sabia que o casamento dela com Calebe tinha sido uma imposição de Aurélio, então não entendia o comportamento dela naquele momento.
_ Ele cuida de mim babá, não quero ver ele ferido. - diz ela com olhos preocupados.
A velha senhora se alegra com as palavras dela, e a esperança brilha no seu coração. Ela vai até Dandara e pega na sua mão a puxando para se sentar em uma das cadeiras na cozinha.
_ Você gosta dele menina? - pergunta ela segurando as pequenas mãos de Dandara.
_ Eu não o quero m*l babá. - responde.
_ Não foi o que eu disse. Perguntei se gosta dele como homem menina. - ela observa a surpresa estampar os olhos dela, mas logo em seguida um rubor cobre a suas bochechas.
_ Eu...
_ Não tem nada de errado em se apaixonar por alguém querida, ele é seu marido e deseja te ver feliz. Sei que você passou por muita coisa, mas ele também passou. - diz ela com pesar.
_ O que ouve com ele babá? - pergunta ela curiosa.
_ Ele também foi abusado quando mais novo querida, assim como você. - a senhora podia ver o horror estampado no rosto de Dandara.
Aquilo era tudo que Dandara não imaginava ouvir. Ela já tinha percebido que Calebe tinha sempre uma sombra nos seus olhos, mas não sabia o motivo. As palavras da babá a faziam relembrar as coisas que ela tinha passado na sua vida, e saber que o seu marido havia sofrido o mesmo a fazia pensar em como ela estava lidando com aquilo.
_ Eu não imaginava. - diz balançando a cabeça.
_ Você jamais o verá falando sobre isso, e não espere que ele te conte, Calebe tem muita vergonha dessa parte da sua vida. - A velha se lembrava bem da forma que o soldado tinha chegado até ali. Era apenas um garoto assustado, mas que em pouco tempo mostrou uma força que eles não imaginavam que ele possuía.
Dandara entendia o que ela queria dizer, seus anos no velho porão também não haviam sido fácil. As lembranças que ela tinha eram apenas de sentir dor, fome e medo, algo que ela já não sentia morando na vila de Aurélio. A todo o tempo o Don da máfia Donati demonstrava o quando se preocupava com ela, do jeito torto dele, é claro, mas demonstrava.
Durante um período da sua vida Dandara já tinha desistido de ser feliz, tudo se resumia ao pequeno porão em que morava. O seu pai nunca tinha sido realmente um pai para ela e o pouco de carinho que conhecia tinha sido ofertado pela mãe antes de morrer, mas agora as coisas tinham mudado e aquilo ainda a confundia terrivelmente.
Ela não esperava ser amada, e se sentia suja por estar no mesmo lugar que os outros, mas as várias sessões de terapia que ela fazia tinha lhe ajudado a perceber que o mundo era um lugar r**m, e que havia muitas pessoas que não se importavam em causar dor ao próximo. Ela tinha muita coisa para superar ainda, mas graças ao seu esforço o medo que sentia quando ficava perto de Calebe tinha sumido, ela já não temia mais a sua presença assustadora, pelo contrário, ela sentia-se protegida sempre que estava ao seu lado.
Ouvir que Calebe tinha passado pelo mesmo que ela não a deixava feliz, pois sabia bem as marcas que anos de abuso poderiam deixar numa pessoa e ela não queria aquilo para ele. Para Dandara, Calebe era o anjo que tinha aparecido na sua vida para livrá-la de um destino c***l, e a cada dia que se passava ela via-se mais atraída por seu jeito sombrio.
_ Pela sua cara devo dizer que você gosta dele. - diz a babá com um sorriso no rosto.
_ Eu gosto babá, ele é bom para mim. - responde ela.
A senhora olhava para Dandara entendendo o quanto a mulher a sua frente era ingénua, ela nem ao menos sabia que estava se aproximando cada dia mais de Calebe, mas sempre que falava dele a velha senhora via um novo brilho surgir nos seus olhos castanhos.
_ Eu quero que se de bem com ele menina, vocês dois merecem um novo recomeço nas suas vidas. - diz ele.
Dandara observava a rosto da mulher a sua frente com carinho, ela podia ver todo o amor que ela sentia por eles estampados na sua rosto enrugado, Dandara estende a mão e toca o rosto da senhora com carinho.
_ Você é tão boa para mim babá, é como uma mãe. - diz com a voz embargada.
_ Ora querida, posso te conhecer há pouco tempo, mas já tenho você como um dos meus para cuidar.
Para a senhora os seus meninos, como ela os chamava, nunca tinham crescido, e muitas vezes tanto Calebe quanto Aurélio vinham se deitar no seu colo enquanto abriam o seu coração para a velha senhora. Ela os tinha como a sua família e sempre lhes daria tudo de si, assim como faria com a pequena mulher a sua frente.