Eu corri tanto naquela semana entre as aulas, meu estágio e a organização do Baile, junto ao novo conselho estudantil, que se não fosse por Noah, eu não sei o que teria sido de mim. Como presidentes da Comissão de Formatura, tínhamos algumas obrigações e bem, ele pareceu estar dando conta de quase todas elas naqueles dias, porque eu estava em uma correria frenética diariamente. Na segunda-feira, véspera do Baile à Fantasia, nós dois nos encontramos depois do meu estágio para tomarmos um café e ajustarmos os últimos detalhes, como a playlist e uma seleção de fotos dos anos anteriores para um vídeo:
- Obrigada por tudo Noah – eu disse de repente – você tem sido realmente incrível.
- Que é isso – ele pareceu envergonhado – sei que os coisas estão pesada para você, Marriah...
- E estão – eu concordei – mas você tem sido ótimo, tem me ajudado em tudo, muito obrigada.
- Eu é que tenho que agrraceder – ele disse – são o melhorr turma que eu tive!
Aquele foi um momento peculiar, onde Noah contou que não costumava ser muito popular na escola dele, na Noruega, que tinha poucos amigos, que não era convidado a participar de muitas coisas, que era o esquisito...
- Mas o esquisito você ainda é – eu ri alto– no bom sentido.
- Okaay – ele disse, e era engraçado quando ele dizia – posso serr o esquisito para você, não me importo.
Aquilo fez meu estômago revirar de um jeito que eu conhecia, mas não esperava que acontecesse, mas nunca com o Noah, ou com qualquer outro garoto, mas enfim, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele pegou minha mão sobre a mesa:
- Sei que não precisa de companhia – ele riu – mas todos esperam que eu convide alguém para o Baile, então eu ficaria feliz que aceitasse ir comigo, como amigos, é clarro, porque eu sei que você tem namorado.
- Ah, nossa - eu sorri - eu não esperava por isso – respondi sem pensar muito – mas sim, eu aceito acompanhar você como amigos, andamos juntos o dia todo né, esquisito...
- Verrdade – ele sorriu.
Conversamos mais um tempo no Santa Barbara’s e era bom ter alguém com quem conversar, quando cheguei em casa, comentei com Spencer que ele havia me convidado para o Baile, e ele achou legal, quer dizer, ele achou legal que alguém sem intenções comigo me chamasse para o Baile, porque ele disse que era muito triste pensar que eu iria acabar indo sozinha - como se toda a minha gangue pudesse me deixar sozinha.
Como de costume, nos reunimos para nos arrumarmos para o Baile, e por razões óbvias, nesse ano, fizemos isso no apartamento de Mia e Peter, que resolveu entrar no clima e fantasiou-se de Professor, Noah e Justin não perderam o embalo das fantasias combinantes: Sr. Mímico e Ele, respectivamente. Foi bem complicado pintar o Justin de vermelho e segurar os cachinhos do seu cabelo, mas Noah compensou, era quase tão branco quanto o palhaço. Quase não acreditamos quando vimos o resultado do nosso esforço e tiramos tantas fotos que Peter e os garotos estavam quase dormindo no sofá.
A noite foi sem sombra de dúvidas, maravilhosa, o tipo de festa que ninguém consegue encontrar defeito e o fato de estarmos juntos era totalmente memorável. Noah se mostrou um bom parceiro de Baile, primeiro porque ele dançava bem e segundo, porque era muito solicitado por todas as garotas, nos divertimos demais, quase nos esquecemos dessa coisa toda de coroação, mas uma menina do segundo ano foi coroada rainha do Baile, junto com Monroe, o novo quarterback, também do segundo ano. Todos nós dançamos e curtimos a noite enquanto pudemos, e quando a festa acabou, ainda saímos dançando e cantando pela rua.
Mesmo não tendo aula no dia seguinte, eu precisava descansar por que trabalharia durante a tarde. Spencer telefonou e rimos muito enquanto eu contei sobre o Baile e enviei as fotos. Ele também mandou as fotos da festa à Fantasia que tinha ido com alguns colegas, e parecia ter se divertido bastante, mesmo que eu tenha ficado com uma pontinha de ciúmes...
Meu trabalho no escritório era interessante, Mackenzie era ótimo e muito engraçado, na tarde de terça, enquanto eu digitava um parecer, ele caminhava de um lado para o outro e gesticulava, por vezes ele dizia “não digite isso” e fazia alguma observação cômica a respeito do que ele estava dizendo em seu parecer. No fim do expediente, conversamos sobre como eu estava me sentindo com relação ao trabalho e ele me disse coisas interessantes, daquelas que a gente tem vontade de gravar para ouvir de novo:
- Eu sempre pensei na carreira jurídica como chata e entediante – ele disse – fizeram da minha vida um inferno em todos os lugares onde trabalhei, e quando eu cheguei à promotoria, ou agora, no juizado, eu sempre penso em deixar as coisas mais fáceis de encarar, mais fáceis de lidar...
- Eu compreendo – disse sorrindo.
- E isso é ótimo – ele sorriu também – como juiz de família – ele revirou os olhos – eu encaro situações pesadas as vezes, claro, esse caso de hoje parece meio b***a, quem se preocupa de verdade com a guarda de um casal de cabritos idosos se não ricos excêntricos? Isso me incomoda na justiça, perder meu tempo com isso e ter que correr para tirar um menor de idade da família por estar em situação de vulnerabilidade, às vezes parece que zombam do nosso trabalho – ele suspirou – mas você precisa ter consciência de tudo isso.
Conversamos mais sobre o mundo jurídico e a cada minuto que eu ouvia, mais certeza eu tinha de que era aquilo que eu gostaria de fazer pelo resto da minha vida.
Minha mãe finalmente voltou para casa, não era como das outras vezes, ela parecia exausta e incomodada, conversamos muito, contei a ela sobre Michael e sobre ter ligado, imaginei que ela me julgaria, mas ela apenas disse:
- Se você se sentiu melhor, eu acho que fez o que era certo... Eu queria tanto ter a sua coragem – ela suspirou.
- O que aconteceu? - perguntei .
- Rompi com o Anthony - ela sorriu - nem teve tempo de conhecer ele, eu sei - ela revirou os olhos - mas não daríamos certo, porque ele não era o que eu queria para a minha vida.
- Entendo - suspirei - e o que é que você queria para a sua vida? - perguntei.
- Paz e tranquilidade - ela sorriu - e não uma extensa lista de eventos e reuniões informais, sem muitos fins de semana incríveis - ela revirou os olhos - acho que por isso Anthony não daríamos mais certo, ele é jovem - ela riu - um pouco mais jovem, e não tem muitas responsabilidades.
- Claro - eu a abracei - precisa relaxar, se você acha que não dava mais certo...
- Fiz o que era certo - ela respondeu - isso eu sei.
Tivemos uma noite estranha depois disso: comemos em silêncio, choramos como duas loucas em frente à televisão enquanto assistimos um filme e fomos dormir mais tarde do que o normal, o que somado à toda a choradeira, acabou me fazendo acordar como um urso panda pela manhã seguinte.
Noah e eu tínhamos conversado sobre a ideia de quermesse e acampamento, e com a ajuda do departamento de tecnologia, lançamos uma votação online para que os formandos decidissem qual das atividades eles preferiam incluir no calendário, a divulgação era de responsabilidade minha e dele e apesar de eu me sentir um total fracasso naquele dia, nós dois conseguimos cumprir essa tarefa com um certo sucesso.
Mamãe e eu evitamos falar sobre os nossos problemas novamente... Era como se tivéssemos jogados tudo fora naquele dia e que agora, estávamos mais leves e preparadas para encarar todas as coisas que tinham para acontecer em nossas vidas. Percebi que ela estava um pouco mais calma e rezei para que ela se sentisse melhor, era estranho ver ela vulnerável ou triste, parecia que mudava a ordem natural de todas as coisas.
A semana foi difícil, em sua totalidade. Spencer estava bem ocupado e muito preocupado com os seus primeiros testes, e eu com o meu trabalho e as frequentes reuniões com o Diretor Sanderson, que agora insistia que eu me inscrevesse nas antecipadas, o que me deixou mais ansiosa do que o normal, e assim, quando eu cheguei à terapia no sábado, Mark deve ter pensado que retrocedi três meses de tratamento em uma semana, tamanho nervoso que eu estava.
Spencer ligou durante a tarde, conversamos por horas e ele insistiu que as antecipadas eram uma ótima chance e que eu deveria me inscrever, então, enviei os formulários e paguei as taxas ainda durante a tarde, para não me arrepender depois. Sabia que eu teria outra chance, caso não conseguisse passar de nenhum jeito, então isso me fez sentir ao menos um pouquinho melhor, mas a ideia de entrar na Columbia ficava cada vez mais distante, com tantas recomendações para Harvard.
Pensando nisso, eu me empenhei ainda mais em meus estudos e em meu trabalho nas semanas seguintes: m*l tinha tempo de respirar. Meu tempo livre na escola, eu passava estudando e revisando conteúdos com Lindsey, Justin e Noah, que agora vivia conosco para cima e para baixo, para desespero das outras garotas e para a nossa alegria: ele era extremamente divertido e sempre muito disposto a ajudar a todos.
Lindsey estava bem, mesmo com toda a questão da separação dos seus pais, ela reclamou de não ter tempo livre, de não poder sair conosco aos fins de semana para cuidar do irmão, mas no fundo, nenhum de nós estava realmente muito disposto a sair muito. No segundo fim de semana de novembro, inclusive, aproveitamos que a mãe de Lindsey viajaria à trabalho, e nos reunimos lá para jantarmos e vermos filmes, assim ela cuidava do irmão e nós aproveitávamos um tempo juntos longe dos cadernos e eu me senti bem com isso e os rapazes realmente entreteriam o pequeno monstrinho.
Durante a manhã, antes da minha sessão de terapia rotineira de sábados, fui com mamãe ao salão de beleza e foi algo bom, era como se tivéssemos saído de lá renovadas, era uma coisa que gostávamos de fazer juntas e na tarde de sábado, reuni todos os meus bebês no East Garden, simplesmente para dar uma folga aos pais deles para que eles socializassem e eu pudesse os aproveitar. Estavam grandinhos, e eu dei conta deles todos – apesar de que trocar as fraldas enquanto ouvia gritos era um pouco desesperador, mas ao menos eu estaria preparada para trigêmeos, caso fosse necessário no futuro, e acho que essa minha folga de pensamentos foi positiva: bebês não perguntam, não questionam, não julgam, o que não nos obriga a pensar sobre nada, a não ser nas necessidades deles durante aquele intervalo de tempo.
Jantei com os Ivanov naquela noite. Era engraçado estar com eles sem Spencer, mas Daniel e a namorada Martina eram tão legais comigo que quase eu quase me esquecia que estava ali totalmente segurando vela, sem contar que eu adorava estar com Amélie, ela era a bebê mais boazinha do mundo, vivia sorrindo e brincando, e me chamava de Má toda a vez que me enxergava, e isso era adorável.
Durante a semana seguinte eu resolvo dedicar ainda mais tempo aos meus estudos, para poder me dar ao luxo de ter um fim de semana mais livre, afinal, era o feriado de Ação de Graças e eu poderia aproveitar mais tempo com Spencer se eu estivesse com todas as minhas coisas em dia, na noite de segunda, estudei com Mia e na noite de terça, estudei com Lindsey e Noah, porque Justin tinha um compromisso de família. Na quarta, eu planejei ficar em casa de pijama estudando e arrumando o meu quarto, porque ele estava virado do avesso e Mark dizia que o nosso quarto era um reflexo da nossa mente, então, eu definitivamente, precisava colocá-lo em ordem.
E esse plano foi por água abaixo por dois motivos: o resultado da votação havia saído e o acampamento havia ganhado, então eu tinha muito o que pensar, e quando Sanderson me chamou na sua sala, ainda manhã de quarta-feira, e ele parecia tão ansioso e empolgado quando abriu outra carta em minha frente e a leu na integra, para no fim, tirar seus óculos redondos, secar as suas lágrimas e dizer:
- Eu tinha certeza de que teria um brilhante futuro, senhorita Martinez – ele fungava em um lencinho – não imagina meu orgulho como professor e diretor, quando recebo uma carta de recomendação tão afetuosa para um de meus pupilos – ele sorriu – o Juiz Mackenzie me entregou ela em mãos ontem a noite, está muito satisfeito com os seus préstimos.
- Ah meu Deus – eu não cabia em mim de alegria – eu estou tão feliz...
- Sim – ele sorriu – então, eu analisei suas cartas de apresentação – ele pegou uma pilha de folhas de papel na gaveta – e gostaria que redigisse esta, com essas alterações que assinalei, porém, acredito que o trecho final mais adequado, seria o desta... – ele tinha tudo cuidadosamente organizado – e temos uma certa pressa – ele sorriu – vamos enviar esses documentos amanhã mesmo.
- Oh – suspirei e pensei no meu quarto virado do avesso – tudo bem, eu estarei com tudo pronto amanhã.
- Preciso destes outros documentos – ele entregou-me uma lista – e envelopes, e as fichas de inscrição, e os comprovantes de p*******o das Universidades que você escolheu incluir nas suas tentativas.
- Certo – respondi satisfeita.
- Precisa de uma dispensa? – ele questionou.
- Não, professor – eu respondi muito segura de mim – eu dou conta, amanhã estarei com tudo pronto.
Assim que encontrei meu grupinho, fiquei sabendo que éramos, definitivamente, os “bem cotados” do ano. Justin tinha boas recomendações dos professores do seu curso técnico, Lindsey tinha quase tudo pronto com o projeto do hospital e Noah, bem, ele tinha vindo com as indicações prontas, precisava apenas dos resultados dos primeiros testes, todos tentaríamos o programa antecipado, junto com mais três alunos: dois atletas e uma garota que escrevia livros desde os onze anos.
m*l me concentrei nas aulas – o que era h******l quando eu pensava que estaria fazendo os meus exames em três semanas, mas minha cabeça estava, inegavelmente em Harvard, e isso fez com que eu sentisse um pouquinho de culpa, porque eu deveria ir para a Columbia, para New York, para junto do Spencer.
Quando cheguei no trabalho à tarde, Mackenzie e Viola me aguardavam com tortinha de limão e café recém coado, eles acharam que eu merecia uma comemoração por estar enviando minha candidatura e diziam confiar em meu potencial, agradeci imensamente, principalmente pela carta, mas também pela adorável recepção. No fim do expediente, porém, recebi uma notícia não muito animadora quando Mackenzie me chamou em sua sala:
- Então – ele disse sorridente – seus exames estão se aproximando, e logo depois, temos o recesso de fim de ano, tanto da escola quanto do jurídico – ele disse calmamente – eu conversei com Viola e com o seu diretor, e eu acho melhor afastá-la de sua função até o retorno das suas aulas, em janeiro, assim você poderá se concentrar totalmente em seus exames.
- Oh – aquilo tinha sido um golpe, eu não esperava – eu não ... Tudo bem.
- Isso não é uma dispensa – ele sorriu – apenas acredito que o melhor para você, agora, é focar em seus estudos, Viola está bem mais tranquila, com você aqui, nós demos um jeito no trabalho acumulado e conseguimos deixar tudo em dia e principalmente em ordem – ele sorriu – quero você aqui neste escritório de volta, mocinha, no dia seis de janeiro, com sua carta de admissão em mãos – ele sorriu – ou apenas com a certeza de que a terá no período normal de admissão.
- Tudo bem – eu respondi um pouco mais confiante.
- Vou manter cinquenta por cento do seu p*******o como um incentivo – ele disse sorrindo – depositado em sua conta toda a sexta feira, mas quero um relatório semanal dos seus estudos, certo?
- Sim, meritíssimo – eu disse fazendo-o rir, pois ele dizia que não estávamos em um tribunal.
Me despedi dos dois com um abraço e um “até logo” porque com certeza eu voltaria, e era incrível pensar nisso. Anotei em uma listinha que eu precisava comprar algumas garrafas de vinho e preparar cartões de agradecimento à todos os que tinham me ajudado... Isso me lembrou que eu precisaria disso apenas depois da admissão, rasguei a listinha e evitei me preocupar com as coisas antes do tempo.
E assim que eu consegui chegar em casa, enviei mensagens à todos para contar que eu teria as tardes livres, o grupo dos amigos da escola foi o mais barulhento depois da novidade, conforme eles, poderíamos estudar juntos para os exames e as provas do bimestre e isso me deixou bem animada, porém, eu tinha um grande trabalho pela frente: encarar a missão de redigir minha última e decisiva versão da carta de apresentação para as Universidades e arrumar a casa para o feriado.