A nossa última fantasia

2064 Words
                Quando sai do apartamento de Meredith já era noite, cheguei de volta à minha casa vazia e encarei as paredes por um tempo até ter coragem de fazer alguma coisa, queria telefonar, mas acabei me sentando no chão do quarto com os matérias de estudo de Michael e fiquei apenas olhando para eles, um papel cuidadosamente dobrado caiu do meio daqueles cadernos: “Mariah,                 Se você está lendo isso, é porque aceitou minha oferta, e eu fico muito feliz de saber que vou poder, de alguma forma, te ajudar com os teus estudos. Desde que eu vim para casa nas férias, pensei em como você estaria se saindo neste ano, e lembrei do meu último ano... Muitos desses materiais, escrevi quando estávamos juntos, muitas coisas, eu fiz pensando que você poderia usar também, então nada mais justo do que oferecer a você.                 Espero que esteja tendo um ano incrível, de verdade, e que no fim, consiga chegar aonde você planejou, onde quer que seja esse lugar. Lembro sempre com muito carinho de você, e de nós. Obrigada por ter feito tanto por mim no meu último ano, tenha uma vida incrível. Com carinho, M.M.”                 Encarei aquele bilhete por muito tempo, m*l consegui respirar depois de ler... Era como se fosse realmente um ponto final, uma despedida. Eu pensei em telefonar, mas o “tenha uma vida incrível” me pareceu, realmente, um jeito de concluir todas as coisas, e eu chorei. Chorei porque eu nunca terminei com ele, ele terminou comigo, chorei porque eu imaginei que ele seria diferente, porque dele, agora eu somente tinha notícias pelos outros, porque todos os pontos finais incomodavam, eu preferia as reticências.                 Spencer me chamou logo depois que eu voltei ao eixo normal, precisei explicar meus olhos vermelhos, e disse que estava triste de me despedir do projeto, contei sobre o café com Meredith, ignorei a parte de que fora no apartamento dela, falei sobre meu estágio de meio período, sobre o quanto isso era importante para mim, e ouvi dele que estava muito orgulhoso e que eu merecia aquilo tudo.                 Telefonei para a minha mãe depois disso, eu sabia que ela estava em Washington, e que por causa de Brandon, poderia ser difícil, pelo menos se eles se encontrassem, então telefonei e a deixei falar antes de contar as minhas novidades: - Encontrei com Brandon – ela disse antes que eu perguntasse, parecia arrasada – e ele está ótimo. - Bem fico feliz que ele esteja, mas vocês combinaram...? – eu perguntei. - Não – ela respondeu rindo – apenas ele leu que eu estaria em um jantar, e fez questão de ir para saber como eu estava... E ele me pareceu ótimo. - Você também parece ótima – eu disse para deixá-la mais animada. - Hoje eu estava mesmo – ela riu – estava me sentindo incrível, mas meu estômago revirou quando o vi. - Vocês conversaram? - Não muito – ela suspirou . - Nossa – eu revirei os olhos sozinha. - Ele me disse que esteve com Spencer há poucos dias e que ele estava se virando bem... – ela parecia ter a voz embargada – perguntou se eu sabia da Mia, perguntou de você... “As nossas garotinhas” ele disse... - Mãe – eu me senti tão triste quanto ela – vai ficar tudo bem... - Ah, eu não sei – ela disse – odeio essa coisa de culpa e arrependimentos, mas e você? Disse na mensagem que tinha novidades...                 Acabei vomitando a minha novidade sobre o estágio para mamãe, apenas a coisa toda do meu estágio, e de deixar o hospital, achei que ela precisava da parte boa, apenas, e resolvi deixar minha choradeira sobre Murray para a volta, até porque, eu nem mesmo sabia porque eu estava sentindo aquilo tudo sobre ele.             Apesar de não sabe muito bem como que eu iria fazer aquilo eu precisava contar para os meus amigos, então, na manhã seguinte, na escola, aproveitei o intervalo do almoço para me reunir com meus amigos, Lindsey e Justin, já que o fim do período escolar havia levado o restante do meu grupo embora... - Então – eu disse encarando a mesa e parando, surpresa ao encontrar com Noah – esquisito? Tudo bem – eu ri – eu vou acabar deixando o conselho estudantil – eu disse – e o projeto de voluntariado. - Ah – disse Justin – achei que o projeto continuaria. - E pode continuar, se alguém assumir a coordenação dele – encarei Lindsey – é a sua vez, garota. - Ah, meu Deus, será que eu consigo? – ela esfregou o rosto com as mãos – Mas porquê? - Porque eu consegui um estágio... Vou auxiliar a assessora de um juiz federal nas tardes, a partir de segunda feira que vem...                 O barulho foi imenso! Meus amigos gritavam e batiam palmas e assoviavam, causando um imenso alvoroço no refeitório. - ... calma! – eu disse – É uma oportunidade que eu não posso perder, entendem? - Com certeza – Lindsey me abraçava – estou tão feliz por você que parece que eu vou explodir – ela disse.                 Logo eles se acalmaram e eu pude continuar a contar sobre tudo o que tinha acontecido. Noah me parabenizou também e depois da aula, fomos para a minha casa todos juntos, para pedir pizza e comemorar minha conquista. Spencer ficou feliz quando ligou e viu que eu estava me divertindo, ele disse que aquilo era realmente bom e que eu deveria aproveitar.                 A semana pareceu correr como um carro de fórmula um, tudo foi rápido demais e na sexta-feira, Tom, nosso colega no voluntariado, teve a sua chapa eleita para o conselho estudantil, e ele e Lindsey concordaram na continuidade do projeto, e todos ficaram felizes com isso. Durante a minha sessão de terapia do sábado pela manhã, eu chorei a maior parte do tempo falando para Mark sobre Michael e sobre como eu me sentia com tudo, e bem, o t**a que eu levei foi ele me dizendo que eu ainda tinha sentimentos por ele, e que pegar o telefone e fazer uma ligação poderia me fazer entender melhor as coisas, voltei para casa com um pouco de raiva e não telefonei para ninguém.             Com toda a correria da semana e a terapia, somente no sábado pela tarde que eu contei para o meu pai sobre minha nova conquista, ele ficou muito feliz de saber, de verdade, e disse estar muito orgulhoso do meu empenho na jornada que eu havia escolhido. Aproveitei para ficar no East Garden aquela noite, dormir no meu quarto e aproveitar a minha irmã por mais tempo, estava com saudades dela, e encarar meu quarto no East Garden foi o empurrão que me faltava para ligar para Michael: eu encontrei as rosas secas do buquê que ele havia me dado na tarde do Baile à Fantasia, dois anos antes. Disquei, o telefone chamou duas vezes e ele atendeu: - Alô? – a voz grave fez meu corpo todo arrepiar-se. - Ah, Michael, é a Mariah... Você tá ocupado? - perguntei sem jeito. - Não – ouvi um barulho no fundo – não estou não... Bom ouvir a sua voz. - É bom ouvir a sua também... Tudo bem? – eu não sabia direito o que dizer. - Tudo bem sim, e com você? - Ah, tudo ótimo, então – eu fiz uma pausa – liguei para agradecer os materiais que você deixou para mim, muito obrigada, vão me ajudar bastante. - Ah, que é isso – ele estava sorrindo, eu sabia, porque o tom da voz dele mudava – acho que era o mínimo que eu podia fazer, fico feliz que tenha aceitado. - Certo – eu suspirei – então era isso, obrigada. - Merece, foi bom falar com você.                 Nos despedimos e eu fiquei por mais de meia hora pensando na ligação. Não deveria ter ligado, e se ele estivesse com alguém? E se eu estivesse atrapalhando? Como eu era i****a, como Mark era i****a, como aquela ligação b***a me faria sentir melhor? Ou esclarecer alguma coisa... Dormi pensando nisso, com o coração disparando e os sonhos mais esquisitos do mundo...                 O domingo foi bom, pelo menos eu me mantive ocupada demais para pensar sobre as coisas, fiquei em casa no almoço, depois de buscar a vovó para nos acompanhar, Guadalupe e ela se davam muito bem. Durante a tarde, busquei Thomas e o levei para brincar lá em casa com minha irmã e isso deu uma folga para Brenda e Henry, e para meu pai e Lorena também, que aproveitaram para sair para caminhar. No final do dia, ainda visitei a minha madrinha, e conversamos muito sobre todas as coisas, ou quase todas, porque não falei sobre Michael e a ligação, era como se eu acreditasse que precisava esconder isso os outros, como se fosse alguma coisa errada.             As semanas seguiam parecendo voar: era como se todos os meus compromissos estivessem conspirando em me manter ocupada demais para começar a pensar besteiras, ao menos era o que eu dizia para mim mesma, e quando eu menos esperava, percebi que o Halloween se aproximava e com o caos das semanas anteriores, tudo o que eu conseguia pensar era em vestir qualquer coisa, mas Lindsey estava decidida a arrasar naquele ano. Como formandas, não precisaríamos de um par, o que caiu como uma luva nas minhas expectativas de não criar expectativas e apenas ir em uma festa para curtir e dançar como se não houvesse amanhã. - E se fôssemos de colegiais? – Mia ria. - Tão óbvia – Lindsey fazia movimentos negativos com a cabeça. - Pelo menos não daria muito trabalho – eu sorri concordando. - Acho que a gente precisa ser mais criativa, é o nosso último ano, a nossa última fantasia, eu me sinto praticamente uma super h*****a – Lindsey abria os braços e ria pelo corredor da escola – ah, sim, mas nós queimamos essa opção há uns anos atrás, não é mesmo? - Parece que faz tanto tempo – suspirei – mas entendo a sensação, precisamos de algo não tão óbvio...                 Mia para de repente e começa a rir compulsivamente, Lindsey e eu perguntamos ao mesmo tempo o que estava acontecendo e ela apenas disse “estamos vestindo exatamente o que deveríamos vestir, Florzinha e Docinho” e logo nos demos conta de que ela vestia azul turquesa, Lindsey rosa e eu verde, então, no fim, não teríamos tanto trabalho assim.                 Spencer riu alto quando contei da nossa fantasia por vídeo chamada durante o intervalo e disse que não acreditava que perderia aquilo, mas que esperava que eu aproveitasse a festa, eu ficava triste de ir em festas sem ele, porque eu não queria pensar nele indo em festas sem minha companhia, mas aquilo era um preço ainda baixo a se pagar para ter ele comigo, mesmo que à distância.                 Depois de falar com ele, eu engoli minha comida e me despedi de todos, precisava correr para trocar de roupa – na verdade, vestir calças e tirar aquela gravata xadrez – e ir para o meu estágio, eu estava ansiosa demais, mas como no primeiro contato, todos foram muito receptivos.                 Viola me passou todas as informações da agenda de Mackenzie, me explicou como as coisas funcionavam e como eu deveria redigir as sentenças e pareceres, ainda me disse como proceder nos atendimentos do telefone, como responder aos e-mails e deixou ao meu encargo várias coisas, inclusive a compra de materiais de escritório, que era feita por telefone, com uma empresa, há mais de dez anos.                 A tarde passou tão rápido que eu quase não acreditei que eram seis horas quando olhei no relógio. Viola e eu nos despedimos e eu telefonei para Lindsey e Mia, para irmos ao centro comercial e resolvermos as nossas fantasias. No fim, conseguimos vestidos idênticos de bandana e nas cores certas, precisaríamos apenas de cintos grossos, bons penteados e sapatos combinando. Encontramos um modelo boneca bem em conta, usaríamos com meias brancas e Mia estava empolgadíssima: com Amelie, ela e Peter saiam pouco para se divertir, mas naquela noite, Daniel e a namorada cuidariam da pequena por algumas horas. E na última lojinha, encontramos os cintos perfeitos, então, tínhamos tudo resolvido com uma semana de antecedência, e aquilo era o ápice da nossa eficiência, nos sentimos realmente as meninas superpoderosas. 
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