O fato de que Spencer e eu evitávamos conversar, e mais ainda desde o acampamento, fez com que eu tivesse ainda mais tempo livre, e com isso acumulei um grande número de rascunhos de redações, afinal, sempre era possível desenvolver uma ideia de forma coerente após muita prática – ou pelo menos era o que eu dizia para mim mesma para tentar fazer aquela loucura toda ter algum tipo de sentido. Ignorei convites diversos, desliguei diversos telefonemas e simplesmente ignorava minha mãe dentro de casa. Ela murmurava pelos cantos, e eu simplesmente fingia não ouvir: cumpria minhas tarefas, fazia minha parte e estudava, sabia que a receita para pular fora dali o quanto antes era estudar e levei isso muito à sério.
Dia treze de dezembro, sexta feira, minha última prova. Senti um alívio imenso quando entreguei aquela prova, meus dedos doíam demais e eu acreditava ter ido bem. Conversei um pouco com meus amigos, e bem, atendi uma ligação do meu pai, ele apenas disse que sentia muito por ter me deixado triste, mas que havia ficado tão empolgado que não quis esperar e não conseguiu ligar durante meu fim de semana no acampamento, mas enfim, de toda forma, ele tivera tido a oportunidade antes, então eu apenas não estava cem por cento com ele.
Visitei vovó no Prince’s House depois de passar pelo East Garden, e bem, quando passei por lá, tive certeza de que eu precisava sair o quanto antes, afinal, onde eles enfiariam mais um bebê, se não fosse no meu quarto? O chão parecia desmoronando vagarosamente sob meus pés, e nem mesmo a noite de Pizza e vinho com minha madrinha Donna fez com que parecesse mais fácil, pois lembro de ter chorado a maior parte do tempo, sem um motivo concreto, apenas por que queria chorar.
E mais um grandioso evento: a última viagem para esquiar com a turma, último ano em Northstar rodeada de adolescentes, pelo menos, conforme o professor Beans, até os alunos crescerem, casarem e voltarem lá com uma penca de filhos adolescentes e suas namoradinhas, o que fez toda a turma rir, porque ele falava sobre aquilo com propriedade, afinal, tinha cinco filhos com pouca diferença de idade entre eles, a adolescência deveria ter sido infernal para qualquer pai.
Lindsay insistiu muito para que eu não perdesse... No fim, estaríamos as duas deslocadas, possivelmente sem nenhum par para o Baile de Inverno, e nenhuma vontade de esquiar. A verdade é que depois do acampamento e de perder o controle, eu tinha tido crises de culpa. Jamais contaria para Spencer o que havia acontecido, e provavelmente ele deve ter feito coisas piores na faculdade, e eu sabia, mas sentia-me um pouco envergonhada de pensar naquilo, principalmente quando pensava em Noah e eu agarrando-nos como selvagens, o que tinha acontecido com certa frequência nos últimos dias, eu estava bem confusa.
No dia em que eu finalmente pensei que precisava de um vestido, levei Lindsey até a loja de Carol, no centro, onde Brenda estava trabalhando. Era complicado para mim escolher vestidos, mas quando eu tinha duas consultoras de moda à minha disposição, sabia que conseguiria cumprir aquela missão com mais facilidade. Experimentei apenas três e fiquei com o segundo: um modelo longo, com pouco volume, sem muitos detalhes, rosé gold, em um tecido estruturado, simples e elegante. Complementei com luvas e uma estola off white, me sentia uma princesa. Lindsey optou por um roxo escuro, praticamente berinjela, coberto de rendas, com uma f***a lateral e um corte lindo nas costas, complementou com um bolero preto e luvas pretas. Fazia um lindo contraste com seus cabelos, estávamos satisfeitas por ter resolvido, em uma única tarde aquela questão... Parecia que já éramos especialistas no assunto vestidos de baile, e sorrimos ao perceber que seriam nove no total, e que não perdemos nenhum dos bailes do highschool do Highland Hall "do nosso tempo".
Quando eu guardava os últimos livros, cadernos, blocos de notas e materiais de estudo de Murray no meu armário, precisei de espaço extra, e assim que encarei Lindsey na esperança de que o armário dela ainda tivesse alguns centímetros disponíveis, me surpreendi com ela empurrando a porta reclamando:
- Se eu não der um jeito de levar isso embora, meu armário vai explodir qualquer hora... – ela parecia irritada, todos parecíamos irritados – escuta, cadê os resultados das universidades, meu Deus?
- Eu não recebi nada – Noah acabava de surgir na multidão e pegou os materiais na minha mão – guardo isso para você até voltarmos – e saiu sem dizer mais nada, deixando Lindsey e eu confusas.
- Não sei – esfreguei o rosto com as mãos – nunca demoram tanto! Ouvi rumores sobre...
- ...invasão ao banco de dados – Noah estava de volta sorrindo – aparentemente, tudo sob controle nas grandes, mas estão deixando um tempo, sabe, para que as pequenas se organizem, acho que na volta da viagem as cartas e e-mails comecem a aparecer.
- Deus te ouça, esquisito – Lindsey estava na ponta dos pés apertando o rosto de Noah com as mãos e beijando-lhe as bochechas, fazendo ele corar e rir.
Caminhamos juntos até os portões da escola, onde Noah simplesmente me abraçou e foi embora. Ele não era de muito contato físico, e depois de todas as coisas que tinham acontecido, e de eu ter voluntariamente me afastado tanto naquela semana, achei estranho. De acordo com o novo protocolo infernal da minha mãe, assim que eu chegasse da Northstar, embarcava com ela para a Geórgia para passar o Natal com a minha avó, coisa que eu não fazia desde os meus sete anos e que havia sido cancelada, com a graça de Deus, no ano anterior, então deixei uma mala semi pronta, mas ainda tinha esperança de que minha mãe mudaria de ideia.
Na manhã da nossa partida, com toda aquela preparação, eu cuidei de uma parte dos lanches, Lindsey da outra, Noah do café e Justin do chocolate quente, viajaríamos totalmente preparados, ninguém passaria fome ou frio e eu tinha um baralho de Uno no bolso da minha calça.
Viajei metade do percurso com Lindsey, ela não sabia direito como agir com Justin, porque desde o acampamento nós tínhamos estado tão ocupados com as nossas provas que m*l haviam se falado, eu sentia a mesma coisa sobre Noah, e na verdade, eu nem mesmo tinha conversado com Lindsey a respeito disso, nem com qualquer outra pessoa, então aproveitamos esse tempo junto para colocar as conversas em dia.
Durante a parada em Fresno, Noah trocou algumas coisas de lugar com Lindsey e piscou para mim, Lindsey enviou uma mensagem dizendo “bem aparentemente, para o Justin, era explícito que éramos um casal” eu sorri, era engraçado como os dois simplesmente deixavam as coisas acontecerem sem muita pressão. E agora, meu novo companheiro de viagem tinha um colo confortável para dormir, e eu sabia, então aproveitei isso por um tempo, enquanto ele acariciava meus cabelos e aquilo era bom demais.
Lindsey e Justin não eram o tipo de casal que ficava o tempo todo grudado um no outro, o que era legal, porque eu não me sentia sozinha, exceto à noite, normalmente eu me sentia bem sozinha e triste... Mas com o tempo, provavelmente eu me acostumaria com aquilo, e com toda a coisa de ser rompido com o namorado do colégio, a gente acaba atrelando muitas lembranças à pessoa, e esquece como esse tempo é realmente incrível nas nossas vidas.
Esquiamos – eu e Lindsey sempre nas pistas mais fáceis e Justin e Noah nas mais radicais possíveis – e aproveitamos as vistas panorâmicas, tiramos fotos, tomamos cafés e jogamos diversos jogos, era divertido estar com eles, e as vezes, eu juro que eu me esquecia de Spencer e de todas as histórias da Northstar. Senti falta de Mia e Peter, mas quando nos falamos por telefone, ela disse que ela iria para Northstar com Peter, comigo, Spencer e todos os outros assim que Amélie pudesse esquiar nas pistas fáceis, e isso nos fez rir demais.
Noah apenas deixou-me um bilhete embaixo da porta do quarto, em uma tarde de sol, dizendo “espero que me diga ao menos a cor do seu vestido, porque você é a única garota que eu quero levar ao Baile de Inverno” e eu sorri boba por um tempo segurando aquele bilhete. Apenas respondi por mensagem: Rosé Gold.
E no dia do Baile, como sempre, eu e Lindsey não esquiamos, nem mesmo saímos para fora: era dia de skincare, depilação, hidratação e rotinas de beleza em geral, o que era incrível e nostálgico, provavelmente nunca mais faríamos aquilo juntas e isso nos fez chorar um pouco – só um pouco poque não queríamos olhos inchados. Dividimos um champanhe, as cinco da tarde, apenas porque queríamos celebrar aquele nosso momento. Quando por fim ficamos prontas, pontualmente às oito horas, encontramos Noah e Justin nos esperando á porta:
- Você está linda – disse Noah sorrindo – parece uma princesa.
- Obrigada – sorri – mas não seja bobo.
Se eu era uma princesa, ele certamente estava um príncipe: não sei o que costumam vestir em Bailes de Gala na Noruega, mas ele vestia um smoking diferente, semiaberto e alongado, e um colete preto brilhante transpassado e preso com abotoaduras douradas. Bem, ele estava todo de preto, exceto por umas meias estranhas, essas eram brancas, mas se tinha alguém ali que parecia ter saído de um conto de fadas, esse alguém era Noah.
A noite foi boa. Eu realmente me sentia uma princesa. Aquele vestido rose gold complementado com a estola de pele off White dava um contraste bonito. Havia feito uma tiara de tranças no cabelo, e Lindsey havia colocado pequenas presilhas em formato de borboletinhas brilhantes. Era estranho estar em um Baile de Inverno com alguém que não era Spencer, mais estranho ainda era estar na Northstar sem ele. O frio era realmente esmagador quando eu pensava nisso.
Noah era um bom par para um baile, principalmente quando se está evitando arrependimentos e eu não vou me cansar de dizer isso: ele estava tão ocupado tirando fotos e dançando com as garotas que quase faziam uma fila em volta dele que não passamos muito tempo juntos. Já era muito tarde e o salão estava praticamente vazio quando eu comecei a caminhar lentamente em direção à saída, até ser interrompida por um “hey, Marriah” que eu sabia de quem era, fazendo-me virar instantaneamente:
- Não posso acreditar que você iria fugirr – ele disse pegando minha mão e a beijando – como pode, nem mesmo me daria a honrra de outra dança?
- É claro – sorri satisfeita, eu queria dançar com ele, passar muito tempo com ele, inclusive, só não sabia lidar com aquilo tudo muito bem.
Ele conduziu-me delicadamente ao centro do salão quase vazio, e as músicas no fim dos bailes, normalmente são lentas e românticas, e eu juro que perdemos a conta de quantas delas nós dois dançamos, apenas abraçados e tão próximos que eu podia ouvir o coração dele batendo, e de alguma forma, aquilo era mágico. As luzes acenderam-se de repente e nós percebemos que estávamos totalmente sozinhos, o que nos fez rir sem parar.
- Acho que precisamos ir – eu disse rindo.
- Sim, concorrdo – ele riu também – mas infelizmente, eu não posso...
- Não pode o que? – perguntei curiosa.
- Que tal darrmos um passeio? – ele esticou o braço como um verdadeiro cavalheiro.
- Nesse frio? – encarei-o confusa.
- Ah, sim – ele sorriu e pegou o seu pesado casaco de peles e colocou sobre meus ombros – só vamos atravessar – ele indicou o jardim de inverno no outro lado do pátio – você vai verrr – ele continuou – é incrível...
Atravessamos o pátio em direção ao jardim de inverno, onde um único banco ficava bem centralizado com o encontro de duas montanhas cobertas de pinheiros e neve.
- Bem ali – ele pegou minha mão e indicou o ponto exato entre as montanhas – o recepcionista me contou que o sol nasce – ele sorriu – duvidei, e noite passada vim verr com meus próprios olhos, e ele tinha razão... Acho que vai gostar.
Ficamos apenas em silêncio, contemplando uma claridade tímida que aos poucos surgia no horizonte: e em pouco mais de trinta minutos, um dos mais lindos espetáculos que vi na vida iniciou-se: o sol nascia perfeitamente alinhado entre as suas montanhas, bem na nossa frente, um pouco abaixo, e eu já tinha visto aquilo uma vez, mas era sempre lindo...
- Lindo – eu murmurei por diversas vezes e encarei Noah – muito obrigada por isso.
- Sabia que ia gostarr – ele era todo ligado na natureza – achei que combinava com você – ele sorriu.
- Bem – o Sol agora estava um pouco mais alto – acho que agora sim, preciso ir.
- Não posso te deixarr irr sem... – e ele aproximou-se, tão perto novamente que eu sabia o que aconteceria – sem isso – e então me beijou. Não como na noite do acampamento, beijou-me profundamente, lento e quente, segurava meu pescoço com delicadeza e minha cintura com força, eu não queria que aquilo acabasse nunca. Foi diferente do beijo do acampamento, menos selvagem, mas muito mais intenso, e se na outra vez eu havia conseguido parar, nesta, eu simplesmente estava totalmente entregue à ele, que foi quem teve o breve momento de sanidade:
- Sinto muito – ele disse quando parou, segurando meu rosto com as mãos – eu sei que não deverria...
- Não sinta – eu disse de repente com os olhos marejados – apenas não pare.
Continuamos ali por um tempo, ele era bom naquilo de beijar, fazia com que meu corpo inteiro implorasse por mais, o que era muito perigoso. Percebemos uma movimentação iniciando e resolvemos subir para os dormitórios, afinal, precisávamos descansar, ou ao menos, trocar de roupas. Cheguei em meu quarto e me despedi dele rapidamente, mas m*l pude pensar no que estava acontecendo: Lindsey não estava na cama e...
- Marriah – alguém baita na porta e falava baixinho.
- Oi – abri a porta e encarei Noah.
- Acho que – ele sorriu constrangido – sua amiga deve terr ido dorrmirr....
- Tudo bem – abri a porta, deixando-o entrar.
- Está com frrio? – ele perguntou e logo encaminhou-se para a lareira.
- Sim – respondi – estou gelada, vou para o banho.
- Cerrto – ele disse iniciando o fogo – fique à vontade.
Fui para o banheiro e deixei a água o mais quente que pude aguentar. Meus pés estavam gelados e demorei para me aquecer. Saí do banheiro correndo de pijama e enfiei-me debaixo das cobertas, fazendo Noah rir, ele estava com os pés sobre o puff, sentado ao lado da lareira.
- Acho que deveria fazer um chá – ele disse de repente, ao perceber que eu ainda tremia.
- Não – respondi – bobeira, já vou me aquecer.
- Querr que eu fique com você? – ele perguntou de repente, e eu fiquei muito confusa, e ele percebeu – Ao seu lado.
- Ah, sim – respondi quase chorando, a delicadeza da pergunta, sem a menor pretensão, era o que me deixava desarmada ao lado dele, então apenas ajeitamo-nos na cama, e eu sentia o calor do corpo dele, o que era de todas as formas reconfortante, e pela primeira vez naquela viagem maldita, eu consegui dormir profundamente, sem sentir um imenso vazio, apenas com Noah abraçado em mim.
Quando eu finalmente acordei, sem nem saber que horas eram, Noah não estava mais no quarto. Suspirei e rolei na cama, procurando instintivamente seu cheiro nos travesseiros, ouvi passos e logo a voz da minha colega de quarto:
- E aí Bela Adormecida, sabe que horas são? – Lindsey caminhava de roupão com os cabelos molhados.
- Não faço a menor ideia – respondi com sinceridade – perdi o café da manhã?
- Com certeza, e sabe – ela deu ombros – também perdi.
- Como foi a noite? – sentei-me na cama esperando detalhes, mas senti-me tão tonta que quase deitei novamente.
- Maravilhosa – ela respondeu saltitando enquanto secava os cabelos – você não tem ideia do quanto o Justin... – ela parou de repente e me encarou – você tá péssima... – e antes que ela pudesse concluir, alguém batia à porta do quarto.
- Oi – Lindsey disse assim que abriu a porta e Justin e Noah entraram no quarto.
- Privacidade zero – eu disse e me afundei na cama novamente.
- Vim verr como estava – Noah aproximou-se e puxou as cobertas, que instintivamente puxei de volta – orra, vamos, se eu fosse ter forrçar a algo teria feito quando estávamos sozinhos...
- Verdade – eu ri e sentei na cama – me sinto péssima.
- Foi minha culpa – ele disse e tocou minha testa – está com febrre, não deverria terr saído no frrio...
- Não – disse para que ele não se sentisse culpado – passei o dia com as meias molhadas ontem.
- Piorr ainda – ele esfregou o rosto com as mãos.
Justin e Lindsey diziam coisas baixinho um para o outro, até Justin ter uma ideia razoável:
- Vou com o Noah buscar comida e remédio para a febre, vocês ficam aqui, e tudo vai ficar bem. À noite ainda poderemos descer e jogar poker.
- Ótimo – Noah disse e logo abaixou-se beijando minha testa – me perrdoa? Eu volto logo.
- Okay – respondi.
Lindsey despediu de Noah e voltou correndo para a minha cama:
- Porque ele faz isso com você? – ela perguntou me encarando.
- Isso o que? – eu realmente não estava processando direito.
- Ele te trata como se você fosse quebrar as vezes – ela riu – e outras, ele parece que nem se importa com você.
Não respondi, dentro de mim, ele lembrava um pouco de Murray, mas a verdade, era que eu tinha deixado bem claro que não queria me envolver, e ele poderia me ignorar ou fingir não se importar por um tempo, mas quando as coisas ficavam ruins, ele não conseguia esconder, e parecia estar levando a sério a parte de cuidar de mim.
- Estou nervosa – Lindsey disse de repente – não sei como vai ser quando voltarmos.
- Não entendi – respondi confusa.
- Justin e eu – ela suspirou – as coisas vão ser diferentes, acho que eu cometi um erro...
- Ou não – encarei ela – de repente apenas se deu uma chance de ser feliz. Vocês parecem perfeitos...
- Sim, e isso me dá medo – ela disse de repente – perfeitos demais, demais, não tenho nada para dizer a não ser isso.
Os garotos voltaram com um lote de comida e remédios. Noah ficou o tempo todo ao meu lado, e perto das seis da tarde eu me sentia realmente melhor. Descobri, assim que descemos para a sala de jogos, que eu não tinha sido a única a não aparecer durante o dia, e com isso, me senti um pouco menos estranha.
Passamos uma noite boa, e na hora de dormir, Noah educadamente pediu para ficar no meu quarto para dar privacidade a Justin e Lindsey, e dessa vez, dormiu na cama de Lindsey, o que me deixou confusa e um pouco triste, acho que eu gostava da ideia de ter alguém ao meu lado, especialmente quando não estava me sentindo bem.
Acordamos cedo – como o planejado pelo professor – e assim que saltei da cama, Noah recolhia alguns pertences meus pelo quarto:
- Bom dia – disse assim que encontrei ele no quarto.
- Bom dia – ele sorriu – achei que talvez pudesse te ajudar – ele largou algumas outras coisas na mala e começou a dobrar o vestido do Baile e sorriu – ficou lindo em você, você estava linda demais, Marriah.
- Obrigada – suspirei sentando-me na cama – vem cá.
- Sim – ele sentou-se em minha frente e pegou minhas mãos – como está se sentindo?
- Bem – sorri – de verdade, acho que cuidaram bem de mim ontem – sorri novamente – muito obrigada, de verdade, Noah, por tudo – suspirei – e principalmente por não criar expectativas e tal...
- Você é muito especial, Marriah – ele disse – mas... Como eu já disse, eu tenho uma pessoa no Norruega – ele sorriu – e preciso ser sincerro, eu tinha dúvidas se daria certo, mas apesar disso – ele beijou minhas mãos – eu sei que voltarei parra casa, com o tempo, entende? Não posso criar expectativas, a não serr de que vamos sempre serr bons amigos e que você vai me visitarr no Norruega um dia.
- Com certeza eu vou – sorri com os olhos marejados.
- Mas, som um homem – ele riu – não poderia deixarr de beijarr a garota mais linda do baile, nem morto, jamais me perdoaria – ele riu – e lamento se isso te deixou m*l ou confusa.
- Não – eu disse muito segura de mim – jamais, só foi bom, bom demais, obrigada.
Lindsey entrou no quarto correndo e gritando que Beans estava em uma inspeção de última hora. Noah saiu correndo e nós duas ficamos rindo. A viagem de volta, tive mais tempo de conversar com Noah, porque voltamos juntos para deixar Justin e Lindsey juntos. Foi bom, e como eu já havia constatado, ele era uma excelente companhia e no fundo eu não conseguia me arrepender de ter beijado ele.
Minha mãe estava em frente a escola quando eu cheguei. Saba que as coisas não seriam fáceis, mas pensei em entrar no carro em silêncio em uma tentativa de trégua, porém, quando me aproximei do carro ela simplesmente saltou para fora e me abraçou chorando “eu estava morrendo de saudades, minha filha”. Então, descobri que o tempo era um grande aliado nos processos de cura.
Spencer havia deixado diversos recados, mamãe disse que ele havia ligado algumas vezes também e isso fez com que eu me sentisse culpada. Quando cheguei em meu quarto, havia uma carta e uma pequena caixa, e eu sorri quando vi que Spencer era o remetente, então liguei para ele imediatamente:
- Oi – disse assim que ele atendeu.
- Ah, muito bom ouvir sua voz – ele disse empolgado – estava com saudades, muitas saudades...
- Eu também estava, eu só... – não sabia o que dizer?
- Tudo bem – ele suspirou – olha só, chegou o que eu mandei?
- Ah, sim – eu respondi, não queria falar sobre aquilo.
- Certo – ele disse rindo – então, pega tudo e leva para a Geórgia... Vou ter um Natal bem bosta – ele riu – e acho que o seu não vai ser melhor, não – ele riu novamente – me liga assim que puder, depois da meia noite, e vamos comemorar.
- Spencer, isso é loucura – eu disse confusa.
- A única pessoa com quem eu gostaria de passar o Natal, era você – ele suspirou – então, eu decidi ficar aqui no Greenwich e passar sozinho, pelo menos estarei em paz – ele sorriu e eu fiquei me sentindo culpada e morrendo de vontade de ir passar o Natal com ele.
Conversamos por mais um monte de tempo. Eu desfiz toda a minha mala em chamada de vídeo. Desliguei quando separei as roupas sujas e encontrei minha mãe na cozinha com um vinho, duas taças e o jantar pronto: definitivamente aquilo deveria ser algo como uma oferta de paz.
Embarcaríamos na manhã seguinte. Não tinha muita coisa para discutirmos ou falar, apenas sabíamos o que nos esperava e fomos sem armas nas mãos. A viagem pareceu rápida, porque eu dormi como pedra a maior parte dela, ainda estava tendo alguns calafrios e febre baixa devido ao meu resfriado em Northstar, e Noah enviava mensagens a cada quatro horas lembrando-me de tomar o antitérmico, o que sempre me fazia sorrir.
E com todos os acontecimentos, só podemos concluir que a viagem para a estação de esqui gerou um arrependimento sem precedentes, e agora, além de um Natal infernal, precisava aguentar o meu irritante e insistente complexo de culpa, porque apesar de eu tentar ignorar e fingir que não, o meu coração pertencia a Spencer.