Quando a turma de formandos de qualquer colégio decide que vai acampar no Lago, é de se esperar que algumas coisas saiam um pouco do controle, mas o que eu não conseguia imaginar quando topei essa ideia maluca de acampamento, era que sairiam do controle tão rapidamente assim, tipo, praticamente no momento em que chegamos, não na reserva, mas sim na escola, para pegar o ônibus que nos levaria até o nosso destino.
Lindsey apareceu correndo, e depois de me abraçar e cumprimentar a minha mãe, ela disse que nossos lugares estavam guardados, Noah ajudou-me a tirar as coisas do carro e colocar no ônibus, minha mãe e ele conversaram um pouco e eu sabia que ela estava, muito provavelmente, agradecendo a ele por ter cuidado de mim na tarde de sexta feira, e isso me fez pensar que ela poderia estar dizendo para ele cuidar de mim novamente durante nosso acampamento, e isso era um pouco constrangedor.
Quando entrei no ônibus, a demarcação óbvia dos lugares, era de que Lindsey viajaria com Justin e eu com Noah, mas ela correu para dizer que iria comigo, e os meninos iriam no outro banco. Os outros alunos, talvez menos preocupados ou problemáticos, ou apenas adolescentes normais, o que muitas vezes eu julgava não ser, já saíram da escola cantando, bebendo e se pegando, fazendo com que eu Lindsey achássemos graça daquilo e assim que o ônibus chegou na reserva, e o próprio Noah foi com Justin e mais dois garotos escolher o melhor lugar para acamparmos enquanto descarregávamos as coisas, as meninas começaram a ficar histéricas e sensíveis a tudo para chamar a atenção.
- Marriah – ouvia Noah gritar pela oitava vez e ainda nem havíamos terminado de descarregar todos os suprimentos.
- Esquisito – encarei ele sorrindo – estou começando a acreditar que essa ideia não foi boa – me encolhi ajeitando o casaco – o que houve?
- Nada – ele sorriu sem jeito, talvez um pouco desapontado – precisa de ajuda com a sua barraca?
- Não sei – dei ombros – é a primeira na vida que eu vou precisar resolver isso... Mas não terminei nem de descarregar minhas coisas.
- Eu ajudo você com isso, então – ele puxou a caixa com o meu nome e a carregou sobre o ombro, sorrindo – E a barraca, você quer que eu resolva pra você? – ele parecia realmente interessado em ajudar.
- Se não se importa... – sorri piscando os olhos – prometo que te alimento hoje, para compensar.
- Nem um pouco – e então ele começa a juntar minha bagagem e carregar para o outro lado da fogueira, ao lado do que eu percebi ser a barraca dele – mas vou esperar comida quentinha quando eu terminar.
Comemos lanches no almoço, sanduiches e coisas frias, vindas prontas das casas de todos ou compradas na lanchonete da reserva ou em padarias de Los Angeles, o monitor do camping reiterou que devíamos recolher todo o nosso lixo e deixou grandes latas coloridas para que o descarte fosse feito de forma adequada.
Eu estava realmente preparada para me divertir naquele dia, Justin tinha gelo, eu tinha sal e Lindsey álcool etílico e juntos, pegamos uma das lixeiras extras que havíamos pedido e a enchemos com cervejas e a mistura, tampamos e deixamos o nitrogênio agir para gelar nossas bebidas, nos sentimos grandes cientistas, mas na verdade, apenas aproveitamos uma reação química simples afim de gelar nossas cervejas, o que já era bom o suficiente.
Lindsey e eu havíamos combinados algumas refeições, naquela noite, lembrando a história de comida quentinha, preparei uma sopa – e me senti muito sobrevivencialista cozinhando em uma fogueira com poucos recursos, mas o resultado foi muito positivo e delicioso – ao menos todos que comeram elogiaram.
Assim que terminamos de nos instalar e conseguimos comer, violões e cervejas apareceram, e até o nosso professor Rogers, que normalmente se mantinha sério, estava alegre e descontraído. Eu percebi Justin e Lindsey conversando e rindo baixinho próximos da fogueira e me senti bem com aquilo: amizade era aquilo também, ficar feliz com a felicidade do outro, e desde a ultima e definitiva partida de Covey da vida dela, não via minha amiga parecendo tão feliz.
- O que você está pensando ai? – Noah aproximou-se com duas cervejas nas mãos.
- Muitas coisas, esquisito – peguei a cerveja que ele me alcançou – obrigada.
- Merece – ele sentou-se ao meu lado, bem perto – não costuma acampar então?
- Não – suspirei e apertei o cobertor que tinha enrolado – e não sei se vou querer repetir – sorri.
- Está tão r**m assim? – ele parecia sem jeito.
- Não – sorri e apertei as bochechas levemente rosadas dele – só não estou acostumada com isso... – indiquei o cobertor.
- Ah sim – ele esticou seu braço por trás das minhas costas e puxou-me para perto dele – não está acostumada com o frio da noite ao ar livre ou com estar sozinha? – ele beijou minha testa.
- As duas coisas, esquisito – e apenas ajeitei-me em seu abraço e continuamos em silêncio enquanto eu observava o fogo distraída.
Bem, isso aconteceu algum tempo antes das coisas saírem do controle, o que foi estranho, porque estava tudo na mais perfeita paz e ordem social, mas então, alguém apareceu com um som – um som alto e potente – e começou a tocar músicas de festa – o professor imediatamente desesperou-se e correu na administração, mas voltou mais sorridente do que estava, gritando alto com uma garrafa na mão “fiquemos á vontade, meus queridos, porque nós estamos sozinhos” – pelo amor de Deus, quem foi que deu uma cerveja para aquele homem?
Era engraçado, porque nem eu, nem Noah estávamos participando daquele momento de histeria coletiva, e quando eu digo que era engraçado, era mesmo, pois estávamos rindo alto – percebi que Justin e Lindsey não estavam mais ali, e tinha certeza de que estavam juntos – e muito provavelmente, longe do grupo feliz e barulhento.
Por horas aquilo durou. Professor Rogers não aguentou por muito tempo e foi dormir em sua rede cabana suspensa e cheia de recursos, Noah e eu sentamos mais perto do fogo e seguimos bebendo por um tempo, Lindsey e Justin apareceram de mãos dadas, nos fazendo sorrir, e logo contamos sobre a histeria coletiva e os detalhes que eles haviam perdido.
Por fim, os poucos seres acordados, éramos nós, então, fomos para nossas barracas – e eu sabendo que uma delas estaria vazia, porque Lindsey e Justin foram juntos para a dele – e eu encarei por um longo tempo o vazio frio e sufocante daquele abrigo, ouvia o vento forte e me encolhia no meu monte de cobertas, não consegui dormir, peguei meu celular, havia uma mensagem de Noah:
- Não consegue dormir? – ele perguntou.
- Não – respondi – revirei por todo esse tempo...
- Quer um chá quentinho? – ele enviou um emoji de xícara.
- Você vai fazer? – perguntei.
- Sim, vou fazer para mim, e se quiser, posso levar para você.
- Então eu vou querer – respondi.
- Certo.
Ele simplesmente abriu minha barraca pelo lado de fora e sorriu com os cabelos amassados:
- Preciso do seu copo térmico.
- Ah – eu me mexi para pegar.
- Não – ele respondeu – só me diz aonde está...
- Ali na bolsa vermelha – indiquei me encolhendo novamente.
- Certo – ele fechou a barraca e eu podia ver a sombra dele perto da fogueira.
Alguns minutos depois ele voltou, abriu a barraca, entrou e me entregou o copo, abaixando-se ao meu lado:
- Está tudo bem? – ele perguntou.
- Sim – eu sorri – obrigada esquisito.
- Não me agradeça – ele beijou a minha testa e levantou-se.
Ele hesitou por um segundo, e eu quase pedi que ele ficasse:
- Ei, Noah...
- O que foi? – acho que ele esperava por aquilo.
- Obrigada – eu disse sem jeito – boa noite.
- Boa noite, Mariah.
Observei ele sair e fechar a barraca novamente e depois, a sombra dele se movendo do lado de fora, perto do fogo por um tempo, auto controle, parabéns por não fazer m***a! Não sei o que tinha no chá que o esquisito me deu, mas logo eu estava quentinha e cai num sono pesado, dormindo como um bebê, sem nenhum tipo de sonho.
Acordei com uma buzina estranha, aquilo foi assustador. Tinha um cobertor estranho junto com os meus, ai meu Deus, dormi como uma pedra e entraram na minha barraca, meu copo estava de volta na bolsa vermelha, então, minha barraca fora invadida por Noah. Me levantei e sai para encarar o sol... Não tinha sol. O tempo estava nublado e com vento. O monitor tocava a buzina para convocar um grupo para um trekking na montanha, eram seis e meia, eu não tinha me inscrito para nenhum trekking, logo o pequeno grupo de malucos seguiu o homem – que era estranhamente empolgado e falava o tempo todo e alto demais.
- Bom dia - Noah esticou uma caneca, opa, minha caneca, de café quente, e eu reconheci o aroma do café que ele havia feito lá em casa – conseguiu descansar?
- Bom dia – eu simplesmente o abracei – sim, Noah, obrigada. Seu invasor de barracas – eu ri.
- Achei que vocês estava com muito frio – ele deu ombros – peguei uma das cobertas da Lindsey para você, ela não estava usando mesmo – ele riu.
- Certo – sorri – obrigada pelo chá ontem, por levar a coberta e pelo café... O que você faz com esse café?
- Segredo – ele disse rindo e apertando minha bochecha – será que o jovem casal não acordou com a buzina do homenzinho empolgado? – ele riu.
- Acho que sim – indiquei Lindsey saindo enrolada em um cobertor da barraca.
- Bom dia – ela me abraçou e pegou minha caneca de café, dando um gole e me devolvendo – nossa, isso é muito bom – oi, esquisito – ela abraçou Noah também... Quem fez o café? Quero um... Dois iguais, por favor – ela bocejou longamente e logo nos encarou sorrindo – vou fazer torradas.
- E aí – Justin estava mais lento do que o normal – dormiram bem? Que m***a esse cara com essa buzina i****a – ele se espreguiçava – Tem que aumentar esse fogo aqui – ele sinalizou para Lindsey – vou pegar lenha...
Eu e Noah apenas nos encaramos e rimos, era engraçado ver os dois juntos, principalmente tão juntos, depois de ver eles juntos por todo o ano, sem que estivessem realmente juntos...
Noah voltou á barraca dele, pegou algumas coisas e foi fazer o café especial, que eu descobri, que era coado com canela em ** e noz moscada e adoçado com açúcar mascavo, perfeito, claro, que o toque final era meia dose de whisky escocês que ele carregava em uma garrafa de bolso, achamos aquilo incrível e eu incomodei ele até ele me ensinar a fazer, e dizer que aquilo, ele havia aprendido com um intercambista escocês no programa de línguas, antes de vir para os Estados Unidos, então, brindamos com nossos cafés em honra à Jeremy Jammeson, onde quer que “aquele maluco” conforme Noah, estivesse.
Nós fizemos o nosso próprio trekking e procuramos um bom lugar silencioso para pescar, o que não deu muito certo, então voltamos ao acampamento e fizemos um chilli e guacamole, bem, nossos nachos estavam meio quebrados devido á viagem, então comemos com colheres dentro de cumbucas. Professor Rogers juntou-se a nós no almoço e durante a tarde, sumiu por um tempo, para aparecer de novo renovando nosso estoque de cervejas, louvado seja!
O nosso acampamento estava sendo, de longe, uma das coisas mais divertidas do meu highschool, diferente de Bailes e viagens á Resorts, que tinham o seu charme, e era óbvio, o acampamento era mais um descontrole, nem mesmo as cheerleaders estavam preocupadas em se arrumar no segundo dia, todos andávamos vestido como loucos, rindo e falando alto, jogando bola, correndo como crianças... Era o tipo de diversão que eu não estava acostumada a ter, mas que eu estava adorando de todas as formas.
À noite, Rogers cozinhou para o nosso grupo, preparou o melhor mac and cheese da fogueirinha número cinco – sim, nós numeramos as fogueiras. Conversamos muito, ganhamos uma aula de história extra e umas dicas para as provas do bimestre, ele novamente dormiu cedo, e nós jogamos cartas até tarde, Lindsey me encarou de repente, muito séria:
- Preciso tomar banho – ela disse.
- Ah – resmunguei – eu também...
- Vamos? – ela perguntou.
- Sim – eu respondi – só vou pegar as minhas coisas.
- Certo – ela também foi pegar as coisas dela.
- Aonde vocês vão? – Noah estava parado ao lado da minha barraca aberta com uma mochila.
- Para o banho, ué – respondi.
- Certo, todos para o banho.
Caminhamos em direção aos vestiários, o masculino eu não sei como era, mas o feminino era grande e bem iluminado, e gelado. Tomamos banho e nos vestimos, mas tínhamos os cabelos molhados. Assim que aparecemos na porta, quase apanhamos por causa dos cabelos molhados. Noah tirou a jaqueta na mesma hora e me fez colocar, puxando o capuz e todos os fios que o regulavam, Justin apenas enrolou Lindsey em um cobertor e eles riram dizendo que tinham certeza que faríamos aquela besteira.
Noah parecia um pouco bravo, mas não falou muito até voltarmos ao acampamento, e assim que cheguei na barraca e entreguei a jaqueta de volta ele pediu meu copo, e disse que faria chá, não me deixou dizer se queria ou não, apenas olhou para o vazio e esperou que eu entregasse, fechou a barraca e saiu em direção a fogueira. Havia alguém com ele lá, devia ser Justin, porque ele saiu com coisas nas mãos e logo Noah entrou, fechou a barraca, sentou ao meu lado no colchão e me encarou muito sério:
- Pode pegar um resfriado, uma pneumonia – ele entregou-me o copo – não é bom isso.
- Certo – eu entendi a preocupação – tudo bem, sinto muito.
- Disse parra sua mãe que eu cuidaria de você – ele disse ainda muito sério – ela está preocupada.
- Eu sei – suspirei e dei um gole no meu chá, era diferente do da noite anterior – as vezes eu acho que eu estou cansada de ser responsável – dei ombros.
- Sim – ele sorriu, parecia conformado com a besteira que eu havia feito – mas serr um pouco irresponsável e curtir as coisas como uma adolescente normal, é diferrente que ser negligente, certo?
- Sim senhor, comandante – eu disse fazendo ele rir.
- Você vai ficar bem – ele falou sorrindo e arrumando minhas cobertas.
- Acho que eu vou sim – sorri – obrigada.
Então ele fez menção de levantar-se e eu simplesmente estiquei o meu braço e o segurei, não sei porque eu fiz aquilo, mas ele pegou minha mão com delicadeza e disse:
- Se quiser, eu posso te fazer companhia – e sorriu.
Eu apenas fiz sinal de afirmação com a cabeça, e ele disse “tudo bem, eu já volto” levantou-se e saiu, e por um momento eu pensei que ele não voltaria, mas logo ele retornou com o notebook, o celular, mais cobertores e mais chá:
- Acho que podemos ver um filme então – ele disse sorrindo.
Logo que ele arrumou o notebook e as cobertas todas, escolhemos um filme engraçado e assistimos, bem, ele deve ter assistido, eu devo ter dormido antes da metade. Acordei com a buzina insuportável novamente, eu estava sobre o braço de Noah, aquilo era constrangedor. Me mexi um pouco, saindo de cima dele, e acordando-o sem querer.
- Desculpa – eu disse – não queria te acordar.
- Tudo bem – ele riu – não sinto meu braço.
- Para – empurrei-o em protesto.
- Você tem pesadelos, Martinez – ele abraçou-me novamente – achei que me chutaria para fora daqui ontem.
- Sinto muito – foi tudo o que eu consegui dizer.
- Para de se desculpar – ele me fez cócegas – acho que você ainda não relaxou completamente – ele disse.
- Porque diz isso? – eu o encarei.
- Por que você ainda está tensa – ele apertou delicadamente meus ombros.
- Uhm, isso é legal, esquisito – sentei-me de súbito.
- Viu – ele disse rindo e sentando-se também – tensa, não aproveita e n**a mesmo o que admite ser bom – ele riu e levantou-se – vou fazer um café – ele me encarou – pelo menos o meu café não vai negar.
E saiu sem dizer mais nada. Eu sabia do que ele estava falando, eu não estava preparada para aquilo, ou pensava que não estava, apenas não entendia porque eu tinha pedido para ele ficar...
Passamos um dia muito agradável: andamos de barco pelo lago, comemos sanduíches de atum e marshmellows assados, Justin preparou chocolate quente e à noite, depois de tomarmos banho cedo e sem molhar os cabelos, fizemos pizzas na fogueira e bem, tínhamos o desafio de acabar com todas as cervejas que tínhamos – e mais umas que haviam misteriosamente aparecido em nosso bunker secreto de bebidas.
Mais uma vez, sobramos nós acordados, e eu tentei fugir, indo para a minha barraca antes de Lindsey e Justin irem dormir, mas encarei a c***l realidade de que as coisas de Noah estavam na minha barraca, ele demorou para aparecer, e então disse:
- Pensei que era melhor esperar os outros irem dormir – ele deu ombros.
- Obrigada por isso – respondi, pelo menos alguém se preocupava com minha reputação já que eu, semi alcoolizada, não fazia isso – e esquisito – encarei ele com os olhos apertados para focalizar melhor a imagem – você disse que eu n**o as coisas – dei ombros – não lembro de ter negado muitas coisas, não...
- Ah – ele riu, uma risada diferente, meio de lado, e ficou ainda mais bonito do que era – acho que eu não me expressei direito.
- Uhm – encarei ele – tá bem então – dei ombros.
- Certeza? – ele chegou mais perto – Acho que você está bêbada.
- Não – e não estava, eu estava bem consciente, apenas mais alegre do que o normal – estou bem ainda.
- Ainda? – ele perguntou.
- Sim – eu disse decidida e sentei-me na cama – acabei de ter uma boa ideia e aí eu vou ficar bem m*l.
- Que ideia? – ele perguntou-me um pouco assustado.
- Vou seguir bebendo – ri alto – ainda tem cerveja... Mas fica tranquilo, esquisito, você não precisa cuidar de mim...
- Ah não – ele sentou-se ao meu lado – vamos voltar ao assunto anterior...
- Ué, você que tem que se explicar – dei ombros.
- Eu acho que não deixei claro o que eu queria fazer, para que você pudesse aceitar ou não...
Quando eu me dei conta, estávamos nos beijando, quer dizer, não como pessoas normais, mas como dois selvagens, parecia que era mais forte do que nós, e ele beijava tão bem, e o gosto de cerveja, o cheiro do perfume dele, misturado com cerveja, café e fumaça... Eu estava extasiada, eu não sei por quanto tempo nos beijamos, mas em algum momento, um breve instante de sanidade, recuperei minha razão e parei subitamente me afastando um pouco dele.
- Nossa – foi tudo o que eu disse antes de suspirar – eu não neguei nada– falei rindo.
- Sim – ele riu também, o mesmo riso de lado, acho que era o sorrisinho s****o dele – não negou, mas para o nosso bem, você parou...
- Para o nosso bem? – perguntei confusa.
- Sim – ele suspirou e beijou-me novamente, suavemente – vou preparar um café, aí nos acalmamos e conversamos sobre isso.
Ele saiu e me deixou. Meu corpo todo tremia, eu não sei como eu tinha feito aquilo, quando pensei em me desesperar, e começar a chorar por ter beijado ele, Noah voltou com o café:
- Também tenho uma pessoa – ele beijou minha testa – e tem coisas, que a gente faz, por impulso, e são maravilhosas e não machucam ninguém, e tem outras coisas que precisamos pensar antes de fazer – ele beijou minhas mãos – que bom que você pensou.
- Ah – eu sorri – primeira vez que me agradecem por ser a estraga prazeres – eu ri – literalmente.
- Verdade – ele riu – mas você sentiria culpa, e eu também, então...
- Sem arrependimentos – eu disse, conhecia bem aquela história.
- Isso aí, mesmo.
Conversamos por horas, até o dia amanhecer, e ele sair para preparar mais café e eu começar a guardar as coisas, eu não sentia culpa por ter beijado ele, e isso era estranho, apenas sentia que não tínhamos tanta i********e como eu sentia com Michael, enfim, ele voltou e guardamos as coisas, e depois fomos guardar as coisas dele, e ajudamos Lindsey e Justin e tudo parecia simplesmente bem e em ordem quando o ônibus partiu para voltarmos para casa no começo da tarde. Noah e eu viajamos juntos, e quando digo juntos, falo de pessoas grudadas uma na outra, comigo dormindo aninhada no abraço dele, até chegarmos no estacionamento da escola.
Se pude dizer que o acampamento da turma foi memorável, minha chegada em casa não foi a coisa mais animadora do mundo, minha mãe estava com uma cara péssima e aproveitou o percurso para despejar em mim uma boa parte das frustrações que pareciam acumuladas em sua cabeça. Tentei ao máximo ignorar, já havíamos tido algumas discussões e elas dificilmente acabavam bem, e então, ela estava lá emendando um assunto no outro até que de repente ela cuspiu o verdadeiro motivo de toda a sua irritação:
- Sim, e eu arrependida por passar longe o feriado de Ação de Graças, mas o seu pai não fez nem questão... Agora que ele tem mulher nova, família nova, filhos novos...
- Mãe – eu respondi com calma – também não é assim – eles quase nunca viajam para ver a família da Lorena, não tem nada demais, você e o Brandon viajaram muito também.
- A trabalho – ela gritou.
- Sim, mãe, mas tá tudo bem, certo? – eu achei que estava deixando-a mais animada.
- Claro que sim – ela gritou – seu pai, o todo perfeito, o melhor do mundo, o que não comete erros – ela continuava possessa – a vida toda eu senti culpa, muita culpa – ela fungou – mas já não sinto mais, não depois disso...
Ela estacionou em frente ao chalé e entrou rapidamente carregando uma das minhas malas, voltando logo em seguida para trancar o carro e continuar o seu discurso, e quando ela conseguiu sentar no sofá e tirar os sapatos eu parei em frente a ela e perguntei:
- Será que você pode me explicar o que está acontecendo? – encarei ela confusa
- Vai dizer que não sabe ainda? – ela de repente mudou a expressão e começou a rir, histérica.
- Não mãe – eu tentava manter a calma – não sei de nada.
- Você vai ter outro irmão ou irmã – ela disse, e aquilo parecia um soco vindo dela – a viagem no feriado deve ter sido para isso, que pena – ela me encarou – pena que você, a filha, não mereça saber.
- Mãe... – eu a encarava, totalmente atônita: estivera com o meu pai dias antes – eu não sei se isso...
- Ah claro – ela pegou o celular e abriu o perfil do f*******: do meu pai, e bem, a publicação era a dele, e Lorena e toda a família dela marcados na foto, no feriado de Ação de Graças em Albuquerque... E nem mesmo uma ligação para me contar a novidade de uma forma mais pessoal, me senti muito m*l – a louca, inventando coisas.
- Não – eu sacudi a cabeça – não foi o que eu disse, eu só não...
-Não acreditou que o papai perfeito pudesse ter feito isso? – ela voltou a rir – Nem eu, imagine minha surpresa. A megera, péssima mãe era eu, a pior pessoa, irresponsável...
- Não mãe – tentei aproximar-me dela e logo fui afastada.
- Eu traí o seu pai – ela disse de repente aos berros – eu o traí, Mariah, e por isso nós terminamos – ela esfregou o rosto com as mãos – eu estava num momento péssimo, e sei que isso não é justificativa – ela respirou fundo – não estava conseguindo conciliar as coisas, e ele, o relacionamento em si e a família dele, me exigiam muito, e eu estava sempre esgotada, e nunca havia tempo para que eu pudesse respirar, sempre era a loja, os seus tios, os carros – ela revirou os olhos – e as comemorações, nunca fui muito apaixonada por elas...
- Mãe? – eu chorava encarando ela que havia feito uma pausa para respirar.
- Ah, sim, monstra – ela riu – fui h******l? Talvez – ela suspirou – seu pai e eu brigamos, e ele passou três noites dormindo fora de casa, sem falar comigo, porque eu me neguei a ir para San Diego para a festa de aniversário de algum parente, ele achou que funcionaria... – ela suspirou novamente – e então, aceitei um convite para jantar de um velho conhecido: Logan Morris.
- Mãe eu não acredito – eu estava perplexa.
- Seu pai apareceu e eu deixei você com ele, saímos para jantar e eu fui a sobremesa. Por quase dois meses – ela sorriu – e sinceramente, poderia ter sido por mais tempo, mas então, eu descobri que ele também era casado, que o filho dele tinha pouco mais de três anos... – ela tinha os olhos marejados – no parque e, pensei que não queria terminar com aquilo, então, decidi terminar com Morris e bem, ele não aceitou e foi atrás de mim em East Garden, foi meio que um escândalo, o seu pai, ele ficou abalado, mas bem, ele também não havia sido exatamente um santo nas noites que passara fora e isso todo mundo sabia, mas quando ele fez m***a, tudo bem...
- Porque nunca me contou isso? – encarei ela com seriedade.
- Não achei que fizesse alguma diferença – ela me encarou – convenhamos, Mariah, ninguém se orgulha disso.
- Claro que ninguém se orgulha – revirei os olhos – mas você não faz ideia... Acabou com dois casamentos...
- Eu faço ideia – ela gritou – todos os dias quando abro as redes sociais e encaro a família perfeita do seu pai, eu faço ideia sim. E a família linda da ex esposa do Morris também. Escolhas ruins – ela disse com lágrimas nos olhos – e por isso que eu digo com propriedade todas as coisas que eu digo sobre escolhas ruins: eu sou a rainha delas. Pelo amor de Deus, acha mesmo que eu consigo ser feliz, um único dia na minha vida, olhando para trás e vendo o que eu fiz?
- Eu acredito que não – a encarei – e bem isso explica muita coisa...
- Que coisas? – ela me confrontava – O que isso tudo explica?
- Porque você me deixou com ele... – eu apenas estava triste e queria compreender as coisas.
- Você certamente estaria melhor com o seu pai, eu sabia disso – ela respondeu.
- Sim, mas passei a vida toda pensando que você não me amava... Me sentindo rejeitada – as lágrimas pesadas rolavam pelo meu rosto, queimando.
- Faça-me o favor, Mariah, nem tudo se resume a amor na vida – ela disse com rispidez – você não tem mais cinco anos, é quase uma mulher adulta.
- Bem, ao que parece, para você, amor nunca foi nada mesmo – quando percebi, havia dito.
O t**a que eu levei foi tão forte que dei um passo para trás.
- Eu nunca deveria ter vindo morar com você – gritei antes de subir para o meu quarto.
- Que pena – ela gritou – parece que agora nós duas não temos escolha, o seu pai já encontrou brinquedos novos.
Apenas lembro de cair da cama e apagar, sono pesado e sem sonhos enquanto uma chuva pesada caia lá fora, fazendo novamente tudo parecer ainda mais difícil do que realmente era.
A situação não melhorou em nada na manhã seguinte, nem nos dias seguintes, como eu havia esperado. Estava tão furiosa com o meu pai, que simplesmente havia ignorado ligações e mensagens e não havia atendido nem mesmo Henry. Sei que mamãe falou com eles, toda equilibrada, dizendo que eu estava concentrada para provas finais da escola e isso me fez trabalhar na força do ódio que estava de minha mãe fazendo com que eu aumentasse o meu empenho e melhorasse algumas notas, então, o lado bom de toda a crise, era que meu comportamento isolado e passivo agressivo estava gerando resultados muito positivos nas minhas notas.