- Não vai ser tão r**m assim – minha mãe disse assim que entrei no carro que alugamos no aeroporto.
- Vai ser incrível – revirei os olhos – tão bom quanto seria no ano passado, ah, não, ano passado você teve um breve momento de sanidade e desistiu – eu disse rindo.
- A cidade não é r**m – ela disse – e bem, pode ser que sua avó e sua tia...
- Não – eu disse rindo – elas não vão estar melhores – eu disse – penso que me atirar da janela ainda pode ser uma opção válida.
- Não! – ela gritou alto e riu – As janelas são baixas demais para pular e altas demais para escalar...
- Mãe! – eu a repreendi.
- Sim, se você pular, no máximo amassa as roseiras da sua avó... Mas se sair, não consegue voltar.
- Porque está me dizendo isso?
- Porque eu já tive a sua idade, e bem, era filha da sua avó – ela riu.
Mamãe não foi direto para a casa da minha avó, ela rodou pela cidade mostrando-me todos os lugares por onde ela havia crescido, as escolas onde havia estudado, todas as lanchonetes e cafés, biblioteca, lojinhas e sorveterias... Mostrou-me tudo e contou diversas histórias, chegamos na casa da vovó mais tarde do que havia planejado e fomos repreendidas por isso, já nos primeiros minutos.
Savannah era uma cidade bem pequena. As casas grandes de tijolos a vista, ruas largas e construções de no máximo dois pavimentos. Vovó morava com minha tia em um casarão colonial em uma fazenda. Nossa chegada, apesar da crítica pelo atraso, foi surpreendentemente boa, mas logo depois da primeira xícara de chá minha tia começou a tecer seus comentários maldosos e a fazer intrigas.
Enfiei-me dentro do antigo quarto de minha mãe e fiquei lá a maior parte do tempo, ao menos enquanto eu consegui ficar lá. Spencer ligava-me todas as noites, e algumas tardes também, a pequena reunião na casa da minha avó incluía minha tia, duas tias avós, umas quatro primas da minha mãe com suas famílias perfeitas e um monte de gente esquisita que eu descobri ser a high society local, fazendo com que Mamãe, que já estava bem irritada, ficar totalmente insuportável na presença da minha avó, e dia após dia, eu pensava que talvez, o suicídio não fosse totalmente descartável dos meus planos, apesar de já saber que eu precisaria de algo mais eficaz do que jogar-me da janela do antigo quarto da mamãe.
A véspera de Natal soava naquela casa, como um princípio do fim do mundo. Minha tia havia acordado perto das seis da manhã, e em seguida, tinha acordado todos os presentes e feito da vida de todos um verdadeiro inferno: gritava com louca, dava ordens sem parar e não escondia sua cara de desdém quando me olhava e eu sabia o porquê: era o fruto de um relacionamento r**m, de uma péssima escolha da minha mãe e certamente se ela não tivesse engravidado logo após o casamento, teria se divorciado do meu pai e casado com algum dos ótimos pretendentes aprovados pela vovó, teria ficado em Savannah e ela teria podido viver a sua vida ao invés de ficar cuidando da minha avó.
Eu ajudei a todos como pude: pelo menos se eu fosse para a copa preparar as louças e pratarias para a ceia, ninguém precisava andar em círculos ao meu lado. Mamãe e vovó discutiram sete vezes – e em escala gradual - por alguma coisa que eu não queria acreditar que fosse, mas que realmente era, o recheio do peru, e minha tia gritava constantemente “como esperar que ela saiba, se ela nunca teve uma casa de verdade”.
Tomei banho e, conforme minha mãe havia solicitado, me vesti bem: escolhi um vestido em tricot vinho, mangas longas, gola canoa e sapatos de salto alto. Gostei da minha imagem no espelho, não parecia uma garota insegura de dezessete anos, parecia uma mulher bem decidida.
Os assuntos da noite de Natal eram os mais variados possíveis e eu sentia um frio na espinha quando falaram em faculdades, porque os resultados ainda não haviam chegado e eu sinceramente não tinha muita coisa para falar sobre isso, mas minha tia disse por várias vezes, para que todos os convidados ouvissem, que na verdade, ninguém botava muita fé na minha aprovação e que talvez eu tivesse sido um tanto petulante e presunçosa ao me inscrever nas antecipadas, porque no fundo, todos sabiam que minhas chances, apesar dos esforços de todos, eram muito remotas.
Antes mesmo do final do jantar de Natal, os ânimos se alteraram: minha tia conversava com um homem bem charmoso na casa dos cinquenta anos, minha mãe comia em silêncio, minha avó parecia contente com a conversa de minha tia e então, o homem, que fiquei sabendo depois, se chamava George Menphis, virou-se para minha mãe e perguntou a ela sobre algum tema aleatório, visivelmente tentando livrar-se de minha tia:
- E então, Christine, ouvi dizer que caminhamos para um ramo mais consciente no mercado imobiliário? – ele comentava uma manchete de revistas, eu também havia lido.
- Sim – minha mãe deu um gole em seu vinho – consciente não só nos preços, que estavam um absurdo – ela sorriu – mas no tipo de construção, na utilização dos espaços e materiais...
- Negócios são proibidos na mesa – minha tia ria alto para chamar a atenção do homem – Chris, ninguém quer saber nada sobre isso, é Natal...
- Eu quero – George respondeu e seguiu com minha mãe – li alguma coisa sobre isso, e sobe a questão de cotas, acho que o progresso vem – ele sorriu – se não se importa, ainda tenho aquela propriedade de esquina, onde está funcionando o Taylor’s, e bem, o Ben Taylor, ele apresentava interesse em comprar, você conhece algum avaliador para me indicar por aqui?
- Claro – minha mãe respondeu – eu te daria o contato dele agora – ela suspirou – mas acabei deixando a minha agenda de trabalho em Los Angeles, você pode me telefonar em alguns dias e eu te passo o contato do Raymond, ele é excelente...
- Querida – minha tia interrompeu – se quer receber uma ligação do George não fique dando desculpas – ela ria e falava alto para que mamãe ficasse constrangida – e como sabe, você já teve sua chance com ele no passado...
- Claro – minha mãe respondeu e atirou o guardanapo sobre a mesa, me fazendo dar um salto na cadeira – quando o George – e ela encarou o homem por um segundo – sinto muito querido, sabe que tenho um carinho imenso por você, demonstrou interesse por mim, bem, ele tinha mais do que o dobro da minha idade – ela sorriu envergonhada para George – sinto muito...
- Ah não – ele sorriu – me envergonho disso também, por sorte ainda somos bons amigos – ele parecia estar levando na esportiva e por um segundo, achei que tudo ficaria bem.
- Ah sim – minha tia gargalhava – bons amigos, ah, convenhamos George, está na cara que a Chris está querendo muito mais do um bom amigo, não é mesmo? Principalmente depois que o Brandon a deixou...
- Chega – minha mãe levantou-se de súbito – acabei de me lembrar porque eu odeio voltar para casa – ela me encarou e eu entendi a mensagem na hora: iria dizer algo ainda pior e extremamente desagradável e iríamos embora – eu devia ter aproveitado e sumido para sempre desse lugar quando eu pude – ela suspirou – feliz natal à todos os que ainda tem estômago para aturar minha mãe quase senil e minha irmã i*****l – deu de mão em duas garrafas de vinho e olhou para mim dizendo – sinto muito por isso – ela indicou minha mãe e minha avó na mesa – agora vamos encontrar um hotel e pedir uma pizza, querida.
Não falei nem mesmo uma palavra apenas levantei-me sorrindo bem debochada e sai muito, muito satisfeita. Encontrei minha mãe no quarto de hóspedes fechando as malas e telefonando, logo descemos com nossa bagagem e minha avó, tentando em vão, consertar a situação constrangedora em frente seus supostos amigos gritou:
- Querida, mas e os presentes? – ela continuou – Vocês nem mesmo provaram a sobremesa...
- Ah, claro – minha mãe deu dois passos e apareceu na porta da sala de jantar – pode engolir seus presentes e nos riscar da sua lista patética do natal do ano que vem.
E saiu batendo a porta. O taxi já nos esperava, furioso e com medo de perder o brinde da meia noite. Entramos no hotel correndo e sim, com um pouco de esforço conseguimos brindar o Natal, a meia noite, bebendo vinho direto da garrafa e chorando de tanto rir de toda a situação. Minha mãe só conseguia dizer “agora todos vão dizer que eu fiquei louca de vez, totalmente descontrolada” e pulava pelo quarto dizendo “louca, descontrolada”. Pedimos pizza e mamãe perguntou:
- E então... Eu não comprei um presente – ela riu – não que eu não quisesse, juro que tentei – ela suspirou – mas eu precisava dos resultados das universidades, então, se não se importa...
- É claro que não me importo – sorri – e você não tem que se preocupar com isso...
- Claro que tenho – ela sorriu e tudo ficou bem, talvez como há muito tempo não estivesse.
Chamei Spencer em uma chamada de vídeo somente perto das duas da manhã, ele parecia sonolento, mas pedi desculpas e contei toda a história do meu natal, ele foi compreensivo e ria alto dizendo que até quando meu natal era uma bosta, ficava bom e divertido, e disse que simplesmente não conseguia imaginar, minha mãe, tão comedida e calma surtando – claro, ele não havia visto ela nas semanas anteriores – e principalmente, me fez abrir o presente, depois da carta:
“Mariah,
Eu vi uma vez em um filme daqueles de romance clichê que você me obrigou a ver, que no Natal, a gente sempre dizer a verdade, e então, desde que eu assisti esse filme novamente, depois que brigamos, e então, eu li o que você escreveu no meu anuário, porque quando finalmente a encomenda chegou, nós dois tínhamos brigado, e eu resolvi deixar ele de lado... Essa semana, quando tomei minha decisão sobre o Natal, eu resolvi ler e por fim, escrever essa carta, porque você adora essas coisas escritas a mão e também porque eu sei o quanto deve significar para você cada palavra que eu escrevi aqui. Bem, esse Natal tem instruções, por favor, ligue sua câmera e faça uma chamada de vídeo, aposto que vai ser divertido.
1. Vista esse suéter estranho, porque eu tenho um igual
2. Coloque aquela nossa playlist para tocar no Youtube, eu estarei aqui, só para ouvir com você.
3. Sente em um lugar confortável e relaxe.
4. Leia em voz alta as próximas frases, por favor
5. Não me deixe plantado como um i****a esperando por sua reação e resposta.
6. Não esqueça que independente da distância, é sempre com você que eu quero estar.
Tenho passado por dias difíceis, dias que me fizeram questionar muitas e muitas coisas, mas todo o dia, quando eu chego no meu apartamento, fico pensando no quanto eu gostaria que estivesse aqui, e pensando no quanto ele estaria cheio de vida com você aqui. Quando eu voltei para New York e encarei esse apartamento vazio, sabendo que estava triste e com raiva de mim, meu coração de despedaçou.
E eu sei que eu fui um péssimo namorado ultimamente, e também um péssimo amigo e um péssimo irmão, eu consegui fazer tudo o que havia de pior e sinceramente, compreendo que você nunca me perdoe e realmente decida terminar comigo, as coisas são complicadas demais... E então, eu acabei pegando o anuário e ele me fez lembrar que eu nunca conseguiria ser feliz longe de você.
Mas, como no natal dizemos apenas a verdade, devo dizer, de forma resumida e clara, sem deixar espaços para interpretações dúbias, ironias ou incertezas: eu te amo, Mariah Martinez, e sou um homem cada vez melhor quando tenho você por perto e muito, muito obrigada por estar na minha vida e não ter desistido de mim, por favor, não desiste de mim, eu amo você.
P.S. Sei que está curiosa, então pode abrir o seu presente, tenha um Feliz Natal.”
Sorri com os olhos marejados e o encarei na câmera “tem certeza?” sacudi a caixinha “uhum” ele respondeu, e parecia feliz também. Assim que abri meu coração pareceu sair pela boca: tinha uma aliança de compromisso dentro da caixinha, ele pigarreou e eu olhei para a câmera, ele tinha uma caixinha igual nas mãos com o par:
- E então? – ele já estava chorando – Aceita esse compromisso comigo? Ser a minha namorada novamente?
- Ah, seu bobo – eu chorava como um bebê – é claro que eu aceito.
- Eu amo você – ele disse – amo muito, e queria muito estar com você hoje, sempre e o tempo todo.
- Também amo você – e eu estava feliz, apesar de sentir um pouco de culpa.
Assim que chegamos em casa, muito mais calmas do que nas últimas semanas, mamãe e eu decidimos deixar as malas de lado, procurar um filme e pedir algo bem gorduroso e cheio de carboidratos por delivery, tomamos cervejas e eu nunca tinha visto minha mãe vestindo shorts e camisetas, nem mesmo por tanto tempo sem maquiagem, mas ela parecia ao mesmo tempo, totalmente esgotada e de algum jeito aliviada.
Os resultados das Universidades que normalmente chegavam antes mesmo do dia 15, por fim, são atualizados no sistema. Quando Noah enviou mensagem na manhã seguinte, ignorei totalmente o que ele havia dito, apenas corri para o meu quarto e liguei o notebook. Meu celular já tocava e eu sabia muito bem que era, era Spencer.
- E então? – ele perguntou – Não esqueci da promessa, quero ser o primeiro a saber.
- Ah – sorri sem jeito – eu estou abrindo aqui, deixa eu ver – encarava a tela do computador, Harvard, Universidade da Califórnia, Stanford, Columbia – sorri por um momento, o que logo se desfez quando abri o email, fazendo com que eu desse um profundo suspiro para conter minhas lágrimas – Spence... – funguei - as notícias não são tão animadoras quanto poderiam ser.
- O que foi? – ele já desconfiava – Em quais você passou?
- Eu não fui aprovada pela Columbia – disse chorando – acabou, nossos planos, não...
- Ei – ele disse calmamente – você precisa relaxar, me conta, em quais foi aceita?
- Eu estou... – clicava nos e-mails e os abria e fechava sem acreditar – Harvard – disse sem acreditar – fui aceita em Harvard, Spencer!
- Ah meu Deus – ele gritava de alegria – você é incrível, Mariah, Harvard... – ele fez uma pausa, ofegante – ah, meu Deus, Mariah, tudo vai ficar bem, são só quatro horas – ele disse de repente.
- Não, eu não sei – disse sem jeito – não sei se eu vou...
- Claro que sim – ele gritava – você foi aceita em Harvard, e isso não é algo que a gente possa pensar – ele disse – preciso desligar, estou correndo, tenho um curso de férias – ele disse – precisava saber, meu Deus, estou muito feliz por você! Te ligo no final do dia, certo?
- Certo sim – respondi com os olhos cheio de lágrimas e assim que desliguei o telefone sai correndo escada abaixo e gritando “Mãee” até simplesmente perder a voz: eu tinha sido aceita em Harvard, Stanford e na Universidade da Califórnia, recusada pela Duke e pela Columbia e no fundo, eu sabia porque: sem nenhuma recomendação.
Minha mãe não cabia em si de tanta alegria, repetiu tantas e tantas vezes que estava muito orgulhosa, que sabia que eu conseguiria, que obviamente eu iria, que eu era incrível e tudo mais, e eu quase me esqueci que havíamos brigado por semanas a fio. O resto do meu dia foi uma imensa sequência de ligações e mensagens de texto, eu me sentia incrível e todas as pessoas que eu amava faziam questão de me parabenizar, fazendo com que eu chegasse ao fim do dia totalmente exausta. Não era uma questão de ir ou não ir, apenas de quando ir ou para onde ir. Eu já tinha me decidido pelo Direito, então, agora precisava somente dar o melhor de mim em uma entrevista, mas eu tinha tempo para me preparar então podia curtir o feriado de ano novo em paz e comemorando.
Fizemos uma chamada de vídeo em grupo, com o grupinho da escola, todos felizes e contentes com as suas aprovações, estávamos extasiados, na verdade, e apesar de estarmos doidos de vontade de sair para comemorar, decidimos fazer isso no retorno do recesso ou no ano novo.
Spencer ligou-me a noite como havia prometido:
- Como vai a mais linda caloura de Harvard? - ele perguntou aparentemente contente.
- Estou bem - suspirei - não consigo ficar totalmente feliz porque né, eu queria ir para New York, para a Columbia...
- Mariah - ele riu - você foi aprovada para Harvard, eu nem passei perto de ter notas para isso, tem que estar mais do que feliz, meu amor.
- Mas e os nossos planos... - eu disse chorosa.
- Planos - ele suspirou - vamos fazer novos... Vamos nos organizar, são quatro horas de carro, não é longe, posso ir ficar com você, você pode ir ficar comigo...
- Tem certeza? - perguntei.
- Sim - ele disse - certeza absoluta, nós dois vamos ficar bem - ele parecia confiante.
Conversamos por mais alguns minutos, ele disse que a decisão de ficar em NYC para o Ano Novo não mudaria, que ele não queria ficar com a mãe, e que até mesmo ficar sozinho parecia melhor do que ir para casa se incomodar com ela, que não estava no clima.
Apesar de pensar que tudo estava bem, eu tinha uma coisa me incomodando: Mia dizendo que não sabia nada sobre um encontro de colegas de turma, aquilo parecia que me enlouqueceria a qualquer momento, mas tentei ao máximo deixar de lado, conversaria a respeito daquilo com Mark, na primeira sessão de janeiro e depois, conversaria diretamente com Spencer, quando nos encontrássemos, não era o momento para criar um conflito, nossa relação ainda era frágil demais para isso.
Eu me perguntei - por diversas vezes - se eu tinha tomado a decisão certa, e cada vez que Spencer demorava a responder, meu peito apertava de uma forma angustiante, eu não sabia explicar porque, apenas sentia-me sozinha...
Fui para o East Garden no dia vinte e sete, passei o dia todo lá. Busquei a vovó na Prince's House e nós duas juntas preparamos o almoço, cuidamos da minha irmã e saímos para passear à tarde. Aproveitei que estava lá e entreguei os presentes de Natal que eu tinha comprado antes de viajar e bem, aproveitei muito a companhia de todos, que estavam visivelmente felizes e orgulhosos da minha aprovação ainda nas antecipadas.
As únicas pessoas que não pareciam empolgadas com isso, eram minhas tias, mas vovó disse que eu não me preocupasse com isso, elas somente desdenhavam minha conquista porque meus primos provavelmente não conseguiriam nenhuma aprovação. À noite, depois de deixar a vovó de volta na Prince's House, foi a vez de comemorar com a minha madrinha a minha aprovação, e quando cheguei no Thed's, havia uma linda festinha me esperando, todos estavam orgulhosos e meu padrinho, Jonathan, repetiu muitas e muitas vezes que eles me dariam todo o apoio que eu precisasse, porque estavam felizes e orgulhosos e torcendo muito para o meu sucesso.
Quando voltei para casa, ainda um pouco cansada de ser o centro das atenções, encontrei mamãe no sofá da sala, e parecia não estar muito bem:
- Oi - eu disse assim que passei pela porta.
- Oi filha - ela respondeu, estava péssima - como foi lá no East Garden?
- Foi legal - respondi - e você? Como passou?
- Enxaqueca - ela respondeu - mas com sorte passou, não faz muito tempo.
- Nossa - sentei-me ao lado dela - quer um chá?
- Não - ela suspirou - queria um whisky duplo, ou o café que o seu amigo fez no outro dia...
- Ah - eu sorri desconcertada - o café do Noah?
- Isso - ela sorriu.
- Para a sua sorte, eu sei preparar o café do Noah - sorri - vou fazer para nós duas.
Encarei a pia da cozinha e demorei até lembrar-me... Achei melhor telefonar para ele e confirmar:
- Oi Noah - eu disse assim que ele atendeu - tudo bem?
- Ótimo - ele disse - ainda estou comemorando - ele riu - e você? Já caiu a ficha que acabou a pressão?
- Sim - eu disse empolgada - acho que eu nem sei trabalhar com margem de folga...
- Vai aprender a frouxar as rédeas um pouco, ver se fica menos tensa... - ele riu e eu sabia o porque.
- Preciso da sua ajuda - eu disse sem muitos rodeios.
- O que você precisar, sabe que é só me pedir.
- Não lembro como preparar o café, e minha mãe não está num bom momento, ai ela lembrou...
- Mistura a noz moscada e a canela no ** de café, Mariah, vai coar normalmente, adoçar com açúcar mascavo e depois...
- ... meia dose de whisky.
- Isso ai, garota - ele riu - do alcool você lembra.
Rimos um pouco e ele se ofereceu para ir até lá fazer o café, eu agradeci e disse que quebraria o galho naquela noite, mas caso a situação não melhorasse, avisei que ele seria requisitado. Nos despedimos e era um pouco esquisito falar com ele, porque eu não sentia culpa falando com ele, sentia culpa quando falava com Spencer e pensava nele. Preparei o café e levei para mamãe na sala.
- Perfeito - ela deu outro gole e suspirou - incrivelmente perfeito. Obrigada.
- Você merece - eu sorri - o Noah queria vir pessoalmente fazer para você, mas achei que não era necessário.
- Ah, não - ela sorriu - ficou perfeito, você aprendeu direitinho - ela disse.
- Certo - eu sorri - mas café especial tem um custo...
- Ah, meu Deus - ela ri - o que é que você quer?
- O que eu preciso, na verdade - abracei ela - conte-me o que está acontecendo.
- Ah não - ela negou - melhor eu resolver sozinha meus problemas, você já tem...
- ... nada. Não tenho nada. Acabei de ser aprovada em uma excelente Universidade, tenho um bom estágio...
- Certo - ela suspirou - lembra do Natal?
- Tem coisa que eu preferia esquecer, mas ainda não consegui...
- Lembra quando a sua tia falou que Brandon havia me deixado?
- Lembro - respondi.
- Então, eu nunca contei à elas que quem terminou, fui eu, e também não contei que estávamos nos falando, e caminhando para uma possível reconciliação - ela disse.
- Sim - eu a encarei - e isso te deixou tão m*l assim?
- Na verdade não - ela sorriu - isso me fez pensar que eu mesma era responsável pela m***a que tinha feito com a minha vida.
- Tudo bem - eu a abracei - e não está na hora de consertar?
- Sabe - ela suspirou - eu acho que está.
- Muito bem - eu sorri - e o que você pretende fazer?
- Telefonar para o Brandon amanhã cedo, para começar.
- Acho que é um excelente começo, Mãe.
Conversamos por mais algumas horas durante a noite e bem, não sei se era o efeito do café especial do Noah ou apenas de colocar a cabeça em ordem, mas minha mãe parecia mais calma na manhã seguinte, saiu para trabalhar e gritou da porta "eu não me esqueci, Mariah, consertar a m***a que eu fiz", e sim, fiquei bem orgulhosa da atitude da minha mãe.