- Juro por Deus, Mariah, que se você conseguir aparecer com mais uma cor de post-it ou marca texto eu vou dar um soco em você – Lindsey jogou uma das almofadas do sofá em mim – eu não sei como consegue se concentrar na matéria com esse arco-íris, parece que um unicórnio vomitou aqui.
- Memória visual – sorri e encarei minha amiga – e planner de estudos – estiquei-me e peguei uma pilha de papéis impressos com Raposinhas – fiz um para você.
- Aí você é tão incrível, e onde encontra tempo? – ela abraçou-me e começou a anotar imediatamente coisas em seu novo planner – não sei como vou me organizar com tudo isso – ela revirou os olhos – não que eu tenha um terço das coisas que você tem para fazer, mas você é inteligente e eu sou muito burra, nunca vou conseguir entrar em uma universidade.
- Deixa de ser boba – sorri – não é burra, só concentra a sua atenção nas coisas erradas...
- Olha – ela sorriu – não é porque o vizinho novo ainda não me deu moral que eu vou desistir.
- Tenho dó dele se não te der atenção – eu ri alto – o que ele faz mesmo?
- Corre de moto – ela riu – acho que é tudo o que eu sei sobre ele, e que meu pai o odeia, porque a moto é super barulhenta – ela riu novamente – acho que é o bastante... Sem contar que depois do Covey, acho que ninguém será bom o suficiente.
- Uhm, eles ainda estão...?
- Esperando que eu telefone, que o convide para jantar, que diga que eu sinto muito... – ela encarou-me com seriedade – meus pais gostam mais dele do que de mim, eu acho.
- Não exagera – eu ri alto.
- Agora meu foco está no vizinho da moto – ela parecia séria.
- Mas não sabe quase nada sobre ele... – eu disse franzindo a testa.
- Sim – ela riu – e o que tem demais nisso?
- Achei que gostasse de conexão – eu revirei os olhos.
- Ah sim, mas quanto mais eu conheço dos garotos, mais quero ficar solteira, e mais, só tem um cara que eu conheço como a palma de minha mão que eu namoraria...
- Olha – sorri empolgada – e quem é?
- O Justin – ela sorriu confiante – não que ele queira namorar comigo, mas o conheço desde sempre, acredito que ele seja incapaz de magoar alguém – ela fez uma pausa e riu – e incapaz de qualquer outra coisa com aquela calma irritante dele – ela completou.
- Ele é bem gatinho – sim, era verdade, mas não para mim.
- Sim, quando eu tiver netos ele convida alguma garota para sair – ela riu alto.
Aquele era o nosso momento: havíamos programado um fim de semana de skin care, planejamento de estudos e adiantamento da lição de casa, o plano era não acumular nada, manter-se linda e hidratada, colocar as fofocas em dia, fugir do crush de Lindsey e da minha solidão, e devo dizer que aquilo funcionou perfeitamente.
A verdade era que Lindsey e Covey tinham rompido definitivamente logo depois da páscoa. Tudo parecia okay entre eles, mas o motivo pelo qual Covey detestava reuniões de família, era a própria família, e ir à reunião da família de Lindsey havia obrigado ela a ir á uma na casa de Covey na páscoa, logo depois do Baile de Formatura, e as coisas foram meio que ladeira abaixo com a mãe dele e as irmãs, e assim, sem nem deixar muito tempo passar, ela achou melhor terminar de vez, o que aparentemente não tinha sido um grande problema, porque de acordo com as redes sociais ele estava saindo com uma das calouras de Yale.
- Eu estou bem com o Covey – ela disse de repente – eu me senti tão i****a de ter insistido que ele fosse naquele almoço i****a, porque quando ele me pediu, quase chorando para ir à casa dele, eu entendi qual seria o problema.
- Elas são tão horríveis assim? – perguntei sem querer saber a resposta.
- A mãe dele é uma boneca, as irmãs, também... Então me senti gorda, f**a, esquisita... – ela revirou os olhos – o tipo de coisas que elas disseram, e que dizem a ele, aquilo não é saudável...
- Nossa – estava espantada – mas ainda se falam?
- Sim – ela sorriu – todos os dias e é bom saber que ele está lá.
Aquilo fez meu estômago revirar subitamente “bom saber que ele está lá” era o meu sentimento com Michael, e agora, éramos simplesmente dois estranhos. Eu não sabia nada sobre ele, nunca tinha coragem de pegar o telefone e ligar para saber se estava tudo bem, ele nunca ligaria, por causa de Spencer, e eu nem mesmo sabia se ele estava gostando da Faculdade, porque mesmo encontrando com Meredith quase que diariamente, nunca falávamos dele, era quase como um acordo tácito, ninguém disse para não tocar no assunto, mas não tocávamos.
- Mariah? – Lindsey me chamou de volta para a realidade- Tá pensando o que aí?
- Michael Murray – respondi – acho que o jeito como você falou “bom saber que ele está lá” me fez lembrar...
- Uhm – ela ficou pensativa – e o Spencer?
- O Spencer ultimamente não estava aqui, nem mesmo quando estava – suspirei.
- Claro – ela sorriu gentilmente – e por isso sente falta do Michael...
- Não, não – respondi – simplesmente no início, o Spencer era o cara mais presente do mundo. Quando estávamos em Hidden Hills, quase como irmãos, eu nunca me preocupava com nada, ele sempre estava lá, mas com o tempo, ele foi me deixando de lado e bem, todas as coisas mudaram tanto.
- Entendo – ela suspirou – acho que eu quero um café!
Corremos para a cozinha para preparar um café, e logo voltamos para nosso amontoado de papeis e canetas na mesa de centro da sala. O dia um pouco chuvoso era um convite para ficar em casa, e quando Spencer me chamou no fim da tarde, estava feliz de nos ver juntas, afinal, ele sabia que a mamãe não estava e o quanto eu detestava ficar sozinha. Lindsey dormiu comigo no chalé naquele dia, e no domingo, passamos com os pais dela no Country Club, fizemos churrasco e jogamos cartas com o irmão dela.
Busquei minha mãe no aeroporto no fim do dia, ela parecia exausta, mas feliz em me ver:
- Fechei mais um bom contrato – ela sorriu – tenho um novo amigo – ela sorriu – trabalha em Hollywood, e o pessoal prefere se alocar aqui em Los Angeles, então, estou com grandes possibilidades de contratos de aluguel bianuais, alguns pagos a vista, diretamente por grandes companhias.
- Que legal – respondi empolgada – você gosta do que faz né?
- Eu amo – ela disse rindo – mas essa coisa de precisar ir atrás de clientes peculiares, me cansa um pouco, mas enfim, valerá a pena.
- Com certeza – eu sorri.
A semana seguinte foi pontuada com um dos eventos mais esperados da turma de formandos, a escolha da comissão de formatura, e ela aconteceria naquele fim de semana. Eu sabia que os critérios eram interessantes: além de notas, o engajamento em projetos de extensão e a possibilidade de ser aceito em uma universidade de renome, eram, com certeza, indicativos positivos para a candidatura, e isso mexeria em um assunto delicado do passado: normalmente, os presidentes da comissão de formatura eram um casal, e isso me fez questionar um pouco as minhas escolhas e renuncias.
Na quarta feira a escola inteira já estava no clima da escolha da comissão, e eu, apesar de estar empolgada por saber que poderia contar pontos para ser aceita na Columbia e ficar perto de Spencer, acreditei que não teria a menor chance, porque não estava tão envolvida quanto gostaria. A turma toda reunia-se nos intervalos e no horário de almoço para discutir projetos e Lindsey insistiu que eu aceitasse minha candidatura quando a professora McCarty a propôs em sala de aula, dizendo que acreditava no meu potencial, e ainda sorrindo, apresentou meu “par” na chapa para concorrer à presidência da comissão: Noah Abramsen.
Todos na sala de aula se encararam atônitos, não era uma coisa lá muito normal termos intercambistas, e colocá-los como presidentes da comissão de formatura era, realmente algo novo:
- E então? – a professora encarou o rapaz - Você aceita Noah?
- Claro – ele respondeu sorrindo sem jeito – será uma grande honra.
- Então, está perfeito – ela apertou a mão do novo aluno e sorrindo indicou uma das carteiras vazias próxima a janela – seus colegas vão ajudar você com as informações que precis.
- Obrigada.
Lindsey não parava de sorrir, repetiu diversas vezes que ele era lindo e obviamente concordou comigo quando fiz a comparação com Caspian que eu havia feito mentalmente logo no primeiro dia dele, achamos graça disso, mas logo fomos interrompidas pelo próprio estranho que aproximava-se sorrindo:
- Mariah, a professora pediu que eu procurasse você para conversarmos, tem tempo livre?
- Ah, acho que sim – olhei meu horário – trinta minutos até a próxima aula.
- Certo – ele sorriu.
- Vamos para a biblioteca – indiquei o caminho e sorri para Lindsey – boa sorte com a Hudson.
- Inferno – ela revirou os olhos – eu com aquela bruxa velha e você...
- ... o que tem? – Justin aparecia no corredor – Vim te encontrar para irmos para Física – ele sorria enquanto balançava-se e encarava Lindsey.
- Eu vou pra aula, ué – ela pegou Justin pelo braço e logo andava ao lado dele, rindo e gesticulando, enquanto ele não tirava os olhos dela. Aquilo me fez me perder um pouco, afinal, o único rapaz que olhara para mim do jeito que Justin olhava para ela, havia sido Murray, há muito tempo atrás, e agora, éramos como dois estranhos, aquilo me fez estremecer por dentro.
- Tudo bem? – Noah perguntou me encarando.
- Ah, tudo sim – sorri tentando afastar meus pensamentos esquisitos.
Na biblioteca estabelecemos alguns planos de campanha, não que isso fosse necessário, aparentemente, boa parte das garotas estava disposta a votar na nossa chapa apenas pelos olhos azuis profundos de Noah.
- Sabe – ele disse de repente – no meu escola, não faziam tantas festas – ele sorriu – apenas acampávamos na floresta com toda a turma no inverno e na primavera. Depois havia o baile, e acabado. Aqui tem viagens, tem tantos coisas, nem sei o que poderiam fazer para melhorar...
- Acampamentos parecem legais – eu sorri.
- E se a gente propor um acampamento? – ele sorriu – Como fazem no Norruega?
- Pode ser – duvidava que o pessoal fosse aceitar a ideia, mas deixaria ele feliz.
- E um festa... – ele me encarou – diferrente.
- Como assim? – encarei ele curiosa.
- De dia, na escola – ele me encarou – fizemos lá, como um... Quermesse? Pode ser?
- Sim – sorri, essa era uma ideia interessante, as pessoas podiam achar legal.
Nosso tempo acabou, o sinal tocou e eu corri para a aula, encontraria Lindsey lá, mas não aconteceu, encontrei apenas Justin que parecia nervoso:
- A Lindsey foi pra casa – ele disse confuso – não sei, d***a, acho que...
- Aconteceu alguma coisa? – questionei.
- Algo com a mãe dela, ou o pai, separação – ele pareceu preocupado – ela saiu correndo, e eu queria saber se estava tudo bem...
- Certo – suspirei – eu mando mensagem para ela e assim que ela me responder eu te aviso – fiz uma pausa e encarei Justin – Justin...
- O que foi?
- Porque nunca disse para ela? – meu olhar acusador o deixou ruborizado instantaneamente.
- Não sei – ele respondeu – não sei mesmo...
- Acho que deveria dizer.
- Ela não me da a menor moral...
- Quem sabe ela colocou você na friendzone há muito tempo...
- Conheço a Lindsey desde sempre – ele suspirou – e ela é tão segura de si que me dá medo. Sabe, desde o Covey, no ano retrasado, eu fico pensando...
- Para já de pensar – dei um t**a no peito dele – pensando, pensando e a vida passando, Justin!
O sinal tocou novamente e apenas rimos antes de correr para a sala de aula e de repente minha conversa com Lindsey no fim de semana das meninas martelava em minha cabeça “ela não conhece Justin tão bem assim”, mas agora, tudo o que eu precisava era saber como estava a minha amiga.
Enviei diversas mensagens pedindo que ela entrasse em contato, o que só aconteceu bem no fim das aulas:
- Meus pais estão se separando – ela disse assim que eu atendi o telefone – eu não sei desde quando estão com essa ideia – ela suspirou.
- Eu sinto muito – e sentia mesmo, eles pareciam bem no churrasco do Country Club.
- Não tem muito o que fazer, acho que o papai estava traindo a mamãe, ele já arrumou as coisas dele e está saindo de casa, meu irmão está bem...
- Nossa, Lindsey, que chato isso, precisa de alguma coisa?
- Não – ela respondeu – nada vai mudar, a decisão está tomada, acho que eu preciso me acostumar com isso, não pode ser tão r**m assim.
- Quem sabe, né – suspirei – as vezes as coisas até melhoram, ficam mais sossegadas.
- Mais sossegadas? Mas eles nem discutiam...
- Quem sabe fiquem mais felizes separados? – eu tentava encontrar algo bom para dizer para ela.
- Vai saber – ela disse – vou ficar com a minha mãe hoje, e talvez amanhã.
- Claro – respondi – o Justin ficou preocupado.
- Sério? – ela pareceu mais animada.
- Sim, pediu que eu desse notícias, achou invasivo te ligar.
- Certo – ela fez uma pausa – pode dizer para ele que tudo bem se ele quiser ligar.
- Okay – eu sorri – se precisar de alguma coisa, pode me ligar.
- Sim, eu sei, muito obrigada, amiga!
- Estou aqui para isso.
Enviei mensagens para Justin dizendo que Lindsey estava bem, mas que achava que ele deveria ligar para ela, ela poderia querer conversar e eu estava meio ocupada demais – e estava mesmo, precisaria cobrir Lindsey no St. Marry’s e isso me fez sair literalmente correndo pelo estacionamento da escola.
Cheguei ao hospital e vesti o jaleco colorido de Lindsey e a peruca lilás, Tom, o voluntário do segundo ano que fazia dupla com ela na contação de histórias, pareceu surpreso, mas eu não dei muitas explicações, apenas peguei um dos livros e caminhei para a ala de oncologia pediátrica, onde sentei-me ao lado dos pequenos e contei a história da Pequena Sereia, e escolhi essa, porque me lembrou minha amiga, e de verdade, eu queria estar com ela naquele momento... Tom contou a história dele, e depois fizemos pinturas no rosto e distribuímos balões coloridos, ao fim de uma hora, eu me sentia feliz por ter melhorado o dias daqueles pequenos e muito grata pela saúde de todos os meus bebês.
Meredith me encontrou na saída, enquanto tomava um café:
- Mariah – ela encarou meu jaleco – mudou de função?
- Não – eu ri – apenas vim cobrir a Lindsey, ela teve uns probleminhas hoje, e bem, provisoriamente estarei por aqui mais tempo do que o normal.
- Maravilha – ela sorriu – e como vão seus estudos?
- Bem – respondi, e era verdade – as vezes eu enlouqueço e acho que não vou dar conta, mas estou fazendo terapia, pelo menos pra me ajudar com meu probleminha de auto confiança.
- Isso é muito bom – ela sorriu – eu conversei com Michael esses dias – ela disse – ele pediu que eu oferecesse à você, caso tenha interesse, os resumos e materiais que ele usou para estudar para os exames – ela revirou os olhos – ele era bom nisso, bem mais organizado do que eu.
- Ah – eu fiquei desconcertada por um minuto, pensando em Michael lembrando de mim – claro, eu aceito sim, vai ser ótimo – eu lembrava dos materiais de estudo dele, bem completos e detalhados.
- Perfeito – ela sorriu – combinamos e você passa lá em casa para buscar uma hora dessas, certo?
- Claro – sorri – obrigada Meredith, e agradeça ao Michael também...
Sai andando com meu coração parecendo saltar da boca. Porque eu não pegava o telefone e ligava para ele, agradecendo eu mesma? Porque eu não tinha pegado o telefone e perguntado se ele estava bem? Às vezes eu parecia muito, muito i****a.
Entrei na sala de reuniões para conversar com o Dr. Collins, ele havia pedido para me encontrar lá, o que provavelmente seria bom:
- E então, mocinha – ele sorriu ao me ver de jaleco – cobrindo um turno?
- Ah sim – sorri e afundei-me na poltrona ao lado dele – achei que o Tom não daria conta sozinho.
- Em duplas é mais fácil – ele sorriu – e então? Como vão seus estudos?
- Bem – respondi, parecia que todos estavam querendo saber do meu futuro – pelo menos tenho tudo em dia e tempo para ir revisando para os exames.
- Maravilhoso – ele sorriu – as vezes eu penso como vocês arrumam tempo – ele encarou o vazio por uns instantes – mas te chamei aqui para falar apenas de seu futuro.
- Meu futuro? – perguntei confusa.
- Sim – ele respondeu – que você tem uma inegável competência, eu já percebi, e isso, somado à sua boa vontade de vir voluntariar nessa loucura, me fizeram escrever aquela carta – ele sorriu – porém, eu acho que você está desperdiçando seu potencial aqui.
- É sério? – eu estava confusa.
- Muito sério – ele respondeu – e ainda temos o quê? Uns cinco meses até a sua formatura, então, tomei a liberdade de conversar com um amigo meu, ele é Juiz Federal, a assistente pessoal dele está um pouco sobrecarregada, e ele pensou em arrumar uma ajuda para ela, pensei que talvez, você pudesse se interessar, ao menos teria mais vivência na área jurídica.
- Ah, parece ótimo, Dr. Collins...
- Sim – ele sorriu – e para isso, você vai precisar deixar o hospital, o que será uma grande perda, mas tenho certeza de que encontrará alguém para assumir seu posto – ele sorriu – e conversar com o meu amigo, Martin Harold Mackenzie, e depois, caso se acertem, conseguir uma dispensa das optativas para poder estar no escritório umas três horas diárias.
- Ah, meu Deus – eu sorria sem parar – parece incrível, muito obrigada Doutor...
- Você tem muito potencial, e apesar de saber que sentir sua falta – ele deu uma piscadinha – acho que é importante encaminhar você para o lado certo e te dizer, que qualquer coisa que você precise – ele entregou-me seu cartão pessoal – pode entrar em contato comigo – e logo entregou-me o cartão de Mackenzie – e agende um horário para conversar com ele, quanto antes, melhor.
Agradeci umas mil vezes à ele e dirigi de volta para casa me sentindo a pessoa mais incrível do mundo, afinal, não era todo o dia que eu conseguia uma grande oportunidade. Sabia que Sanderson resolveria a questão das aulas – provavelmente me dando uma grande carga de trabalhos – mas se eu tinha uma oportunidade para agarrar, com certeza era aquela.
Cheguei em casa tão feliz que esqueci que mamãe não estava novamente, então, me concentrei nos telefonemas que precisava dar, e aos poucos, desisti de contar a novidade para qualquer pessoa, porque eu não tinha nada concreto ainda. Na manhã seguinte, durante o primeiro intervalo entre as aulas, eu corri para o banheiro e telefonei para o escritório de Mackenzie, Viola, a secretária, pareceu feliz ao perceber que eu era “a estudante que o Dr. Collins indicou” e pediu que eu fosse ao escritório na primeira hora da tarde.
Corri para a sala de Sanderson, que me recebeu prontamente:
- Preciso de uma dispensa para as aulas da tarde – disse ofegante – eu tenho uma boa oportunidade.
- Uhm – ele me encarou muito sério por trás dos óculos redondos – e qual seria?
- Dr. Collins indicou-me para meio período com um amigo dele, Juiz Federal...
- Ah meu Deus – ele sorriu – claro, claro – pegou um formulário sobre a mesa e começou a escrever – sem problemas, vai pedir dispensa total?
- Ainda não – eu disse confusa – preciso saber se ele vai me aceitar primeiro.
- É claro – o direto sorriu – fazia o que a tarde? – ele encarou o computador – Sem problemas – anotou coisas no formulário – se precisar da dispensa total, fale comigo, acho que posso ajustar tudo.
- Obrigada, diretor.
Sai confiante da sala do diretor, mas resolvi não contar para meus colegas do conselho estudantil que eu os deixaria, porque na verdade, tínhamos até o fim daquela semana para encerrar as atividades e transferir para a chapa vencedora da eleição do fim da semana, eu sabia que não tentaríamos uma reeleição, mas sabia que o projeto no St. Marry’s continuaria, e como Lindsey era quem queria a Medicina, eu deixaria com ela.
Assim que terminei de almoçar, corri para entregar o formulário de dispensa aos meus professores e dirigi para o centro, onde estacionei perto de um grande edifício comercial, ficava perto do prédio onde Meredith morava, e isso me fez sorrir. Entrei mais confiante ainda, vestia o uniforme da escola – não sabia se deveria ser diferente ou não, e fui muito bem recebida por Viola, uma mulher na casa dos quarenta anos, morena, olhos castanhos brilhantes e riso fácil:
- É um prazer conhecer você, Mariah – ela disse sorrindo – venha, o Dr. Mackenzie está esperando por você.
Não sei o que eu imaginava, mas entrei em um escritório normal, onde um homem normal, na casa dos cinquenta anos usando uma camisa social um pouco amassada me recebeu sorrindo:
- Seja bem vinda, Mariah – ele disse com simpatia – sente-se, por favor.
- Obrigada – eu sorri sem jeito.
- Collins me falou muito bem de você – ele começou, pelo menos eu não precisaria falar, poderia responder – e ele disse que tem interesse, ou melhor, muito interesse em seguir carreira no Direito – o homem sentou-se e me encarou sorrindo – qual carreira pretende, Senhorita Martinez?
- Promotoria, meritíssimo – eu me empolguei um pouco – pesquisei bastante e acredito que seja uma das áreas onde eu conseguiria me sentir fazendo a diferença.
- Muito bem – ele sorriu – eu iniciei na promotoria, e foi muito bom para a minha carreira, formei em Harvard, fiz duas especializações enquanto estagiei em um escritório e consegui uma indicação para a promotoria – ele sorriu – comecei tarde, ao contrário de você.
- Entendo – eu sorri.
- Mas está no caminho certo, caso tenha certeza de sua escolha.
- Eu tenho, sim senhor.
- Ótimo – ele sorriu – o que eu posso te oferecer... A Viola está sobrecarregada. Ela é formada em direito e esta estudando para os exames, e meu fluxo de trabalho está consumindo todo o tempo dela – ele sorriu para a mulher sentada ao meu lado – então, pensei em alguém para nos auxiliar, aqui no escritório, duas ou três horas durante a tarde, caso seu horário escolar permita, onde você poderia ajudar a redigir minhas sentenças, eu costumo ir falando enquanto Viola digita, pode me auxiliar na busca de materiais nos arquivos, se tem habilitação, pode resolver alguns assuntos externos, como buscar arquivos de processos enfim, um apoio bem geral, mas que pode trazer para você um pouco de experiência na vida jurídica.
- Eu acho excelente, senhor – eu respondi de imediato.
- Em contrapartida, posso pagar um auxilio de duzentos e cinquenta dólares semanais, isso deve cobrir custos de transporte e alimentação – ele sorriu – infelizmente, não posso oferecer mais do que isso, e a experiência, e quem sabe, mais uma cartinha para Harvard.
- Ah está excelente – eu disse animada.
- Bem, então preciso que volta à sala de Viola, vamos preencher um formulário, preciso que seus pais assinem, ela vai emitir um documento que você leva ao seu diretor na escola e podemos no ver na segunda feira que vem?
- Claro – eu respondi empolgada – muito obrigada pela oportunidade.
Assim que resolvi todos os trâmites com Viola, corri para o carro, precisava ligar para Lindsey, e para minha mãe e meu pai... Mas fui interrompida por alguém chamando o meu nome, há poucos metros de distância, era Meredith:
- Oi – eu disse animada.
- Oi – ela sorriu – o que faz por aqui?
- Ah – eu sorri, m*l podia conter minha euforia – eu fui indicada pelo Dr. Collins para auxiliar a assistente de um Juiz Federal, aqui em frente...
- Ah meu Deus – ela me abraçou apertado – que bom, Mariah, isso é excelente para o seu futuro – ela sorriu – estou muito feliz por você, sabe que merece, né? Falei que você voaria alto...
- Obrigada – agradeci.
- Porque não sobe comigo? Podemos tomar um café e você pega os materiais do Michael, ele ficou feliz de poder ajudar.
- Ah, claro – eu concordei – é uma ótima ideia.
Caminhamos juntas até o prédio, e conversamos o tempo todo sobre meu futuro, Meredith contou como havia entrado na Universidade, de todas as indicações que precisou por não ter notas tão boas...
- Fique à vontade – ela disse sorrindo – vou até meu quarto trocar de roupa, você está em casa, os materiais estão na escrivaninha do Michael, ele deixou tudo separado no fim das férias e pediu que eu perguntasse se você tinha interesse.
- Obrigada – eu disse.
Era estranho andar por aquele lugar sem ele, não que tivéssemos passado muito tempo no apartamento, mas tudo me lembrava dele, até a bancada da cozinha, onde nós dois tivemos nossa primeira conversa mais íntima, entrei no quarto, ainda tinha uma foto dele comigo no mural, na festa a fantasia, e uma pilha de materiais sobre a escrivaninha, cuidadosamente organizados. Peguei e voltei para a sala.
Meredith apareceu logo depois, suspirando satisfeita por estar mais confortável, tomamos um café e ela falou bastante do dia a dia do hospital e de como o nosso trabalho voluntário tinha feito a diferença, principalmente com os velhinhos.
- Acredito que os voluntários novos vão continuar – eu disse – e a Lindsey vai acabar coordenando as coisas, ainda não conversamos, mas provavelmente vai ser assim.
- Isso é ótimo – ela respondeu – e como estão as coisas agora?
- Bem – eu respondi – achei que seria mais difícil, mas estou dando conta, e fazendo terapia.
- Isso é muito bom – ela disse – acho que eu fui negligente com o meu irmão – ela estava pensativa – ele sempre precisou lidar com as coisas e eu nunca pensei se eu estava sobrecarregando-o, ou pensei em como ele se sentia sobre isso...
- Acho que ele se saiu bem – eu disse tentando anima-la.
- Sim – ela sorriu – com certeza sim, mas eu tive minha duvidas – ela riu – se ele conseguiria realmente ir, no fim, acho que aquela história louca da ex namorada dele, ajudou ele a tomar a decisão certa, ele ficou muito divido...
- Sim – eu me lembrava daquilo – mas depois me pareceu conformado, ou convencido – eu ri.
Falamos por horas sobre Michael, o que era engraçado, porque quando nós dois namoramos, eu m*l conversava com Meredith, ela era uma mulher incrível e bem, conhecendo a mãe dele, era de se entender como ela era exatamente do jeito que era.