Assim que retornamos do nosso fim de semana romântico - ou nem tanto - eu procurei um momento para conversar um pouco com Mia a respeito de Spencer, mas no fim das contas, a iminente chegada de nosso grande acumulado de aniversários acabou tornando as coisas um pouco mais difíceis do que eu imaginava. Mesmo sem me envolver nos preparativos, eu ainda precisava buscar presentes perfeitos e ao mesmo tempo, precisava terminar minha mudança, e mesmo com a ajuda de Spencer estava complicado:
- Acho que deveria deixar algumas coisas no flat da sua mãe... - ele diz distraído.
- Não - respondo - o que é meu, vai comigo ou é eliminado - digo de forma categórica - depois ela resolver mudar e tem minhas caixas, vai ficar reclamando.
- Isso é verdade - ele responde - não posso julgar, eu acabei levando tudo o que era meu também.
- Eu sei disso - ri alto - ajudei a guardar boa parte das suas coisas...
Encaixotei mais algumas coisas que definitivamente, iriam para Boston e decidi que despachar por uma transportadora sairia mais barato, então, era o que definitivamente eu faria com minhas coisas no fim das férias, assim que terminassem todas as nossas festas.
Como sempre, o meu aniversário era o primeiro a ser comemorado na temporada: eu havia insistido que não fizessem nada, afinal, eu já tinha tido uma excelente recepção depois da formatura e tudo mais, mas acredito que como um "pedido de desculpas" por terem sido tão cruéis, ou ainda como uma forma de provocar minha madrasta, minhas tias resolveram fazer uma festinha para mim "como antigamente" e claro, minha mãe era convidada e apesar de ter tudo para dar errado, deu tudo certo.
Minhas tias fizeram tudo parecer perfeito e do jeitinho que era quando eu era um gaortinha: o bolo, os doces e toda a comida normal de festas... Elas ainda fizeram questão de convidar meus amigos, então Mia, Peter, Lindsey e Justin estavam lá. Soube que tentaram convidar Noah e Éllinor, mas que eles estavam em uma viagem pela América do Sul e não poderiam comparecer. eu estava feliz, sentia-me bem, amada e acolhida pela minha gente, no lugar onde por anos fora a minha casa e sem dúvidas, no fim da minha festa, eu encarei tudo como uma despedida da minha antiga vida no East Garden, e aquele era mais um dos vazios que eu carregaria.
Assim que voltei para casa naquela noite - sem Spencer que dessa vez foi dormir em casa antes que a mãe dele surtasse de vez - li diversas mensagens de parabéns, mas infelizmente, eu não fiquei feliz com elas, porque alguma coisa em mim esperava receber mensagem de Noah e de Michael, o que não aconteceu. Pela primeira vez em dias eu fui dormir sentindo-me triste: era fácil demais ser deixada de lado, ser esquecida. O fato de Michael não enviar mensagens era compreensível, ele nem mesmo deveria lembrar, mas Noah? Ele fora convidado para a festa...
Spencer estava sendo muito presente naqueles dias e com isso, acho que eu me sentia mais tranquila e feliz. Na sessão de terapia com Mark, eu obviamente fui cobrada pela conversa que eu deveria ter tido com alguém que o conhecesse, mas com Mia ocupada, eu não queria conversar sobre isso com minha mãe, seria estranho... Quando sai da sessão, uma parte de minha cabeça repetia sem parar o que Noah havia dito numa festa na casa de Tom quando ainda estávamos em aulas "de repente você não ama tanto assim o seu namorado" e aquilo fazia eu sentir mais culpa do que os beijos que eu havia trocado com Noah durante o ano.
Minha mensagem super esperada chegou na manhã seguinte "Bom dia, espero que me perdoe, acabei ficando sem bateria ontem, não consegui enviar a mensagem que eu queria, enfim... Parabéns, Mariah, espero que tenha tido um dia incrível e que a sua vida seja cheia de realizações. Com carinho, Noah". Encarei a tela do celular e reli a mensagem algumas vezes, okay, não era o que eu esperava, mas era alguma coisa.
Passamos uma semana boa: terminamos por fim de assistir Smallville, encarando aqueles DVD's como um verdadeiro desafio diário e no fim da semana, tivemos a adorável festinha do Thomas, meu afilhado. Henry e Brenda estavam radiantes de felicidade, e o pequeno - que cada dia estava mais parecido com o pais - tinha uma energia e alegria contagiantes, fazendo com que fosse muito amado e querido por todos. Spencer tinha um compromisso com a mãe nesse dia, e eu compreendo que festas de crianças são chatas mesmo, mas ele conseguiu se liberar e aparecer ainda antes do parabéns, o que foi supreendentemente bom, já que Thomas realmente adorava a companhia do padrinho emprestado dele.
Nossas andanças pelo East Garden pareciam não ter fim: quando não eram festinhas era mudança ou reforma. Papai estava inegavelmente empenhado em reformar o porão e Lorena constantemente reclamava da poeira, e no meio de tudo isso, Spencer e e ajudamos com a pintura e com a montagem dos móveis. Não deixei de pensar que quando Lorena esperava Guadalupe, meu ajudante era outro...
A programação era uma festa no jardim para a minha irmã, mas a previdao de chuva nos fez desistir e fazer uma festa na garagem - o que gerou, além de transtorno, um monte de trabalho, e eu e o Spencer precisamos correr para ajudar. Parecia que eu ainda não acreditava que a minha irmã estava fazendo dois anos, quer dizer, até tão pouco tempo, não existia nem mesmo a ideia de ter uma irmã, e agora ela gritava "mamama" atrás de mim pela casa, numa tentativa frustrada de dizer meu nome. Em muito pouco tempo, Guadalupe havia se tornado uma das pessoas que eu mais amava no mundo e eu não conseguia imaginar minha vida sem minha irmãzinha.
Para a festinha dela, apenas família, mas isso já significava a casa cheia. Todos estavam felizes e comemorando a vida da nossa pequena, as irmãs de Lorena a ajudavam bastante com os preparativos e eu pude me dar ao luxo de ficar em paz. Spencer parecia totalmente adaptado à loucura da minha família, ria ao lado dos meus primos e tios, brincava com minha irmã, conversava com o papai e passava longos minutos conversando com a vovó....
- Você se divertiu - ele disse assim que chegamos em casa, e para varia, mamãe não estava.
- Sim - respondo num suspiro - sabe que eu gosto de estar com minha gente - eu ri.
- Mas está diferente - ele observou.
- Sim, acho que eu não me sinto mais tão em casa como costumava me sentir no East Garden - dou ombros - acho que isso está acontecendo com todos os lugares, para ser mais exata.
- Acho que é normal - ele abraçou-me - em breve vai estar no seu apartamento, vai criar sua própria rotina - ele afasta os cabelos do meu rosto - vai ver que tudo o oque ficar para trás, vai ter apenas um bom espaço nas lembranças, mas que em pouco tempo deixa de fazer falta.
- Não sente falta da vida que tinha? - eu o questionei intrigada.
- Não - ele responde decidido - acho que a vida que eu levo hoje é melhor - ele sorriu - sinto falta das pessoas, de estar mais tempo com você, da Mia e todo mundo, acho até que da mamãe - ele riu - mas não consigo nem mesmo me imaginar tentando viver por aqui de novo.
Achei aquilo estranho, Spencer costumava amar a vida que levava em Los Angeles, será que já tinha se acostumado? Um ano parecia pouco tempo para uma vida toda, principalmente para deixar de fazer falta, ao menos na minha cabeça, mas logo lembrei que eu era apegada demais ao passado, que eu ainda tentava consertar coisas para que elas fossem "como antes" e tudo mais e desencanei, acho que além de não precisar de um drama nas minhas férias, não era bem uma preocupação minha se Spencer sentia falta da vida ou não, Mark ficaria orgulhoso, porque era o tipo de coisa que não cabia a mim concordar ou não.
Encerraríamos a temporada de festas normalmente com o aniversário de Amélie, que foi uma grande e linda festa no jardim dos Ivanov, onde a minha pequena sobrinha estava radiante de alegria com diversos amiguinhos da escola e toda a família que a amava. Mamãe acompanhou Brandon, e ela estava visivelmente feliz ao ver a evolução da pequena e também de Mia e Peter como pais, por diversas vezes havíamos conversado sobre os dois e mamãe sempre dizia preocupar-se com a maneira com que os dois encarariam os desafios da vida juntos e da criação de um filho - acho que ela lembrava-se bem de como eram essas dificuldades e tudo o que poderia dar errado, ainda mais com eles sendo tão jovens.
Porém, com gravidez da minha madrasta, Lorena, a última confraternização da temporada foi o chá de fraldas de Benjamin, que nasceria logo no começo de setembro, e marcaria minha vida como sendo mais uma coisa importante da vida do meu pai que eu não participaria porque estava longe e cuidando da minha própria vida. Escolhemos o tema de ursinho marinheiro, e eu que não ia ajudar em nada, acabei auxiliando na papelaria e lembrancinhas. Não posso dizer que foi muito trabalho porque Spencer que não estava fazendo absolutamente nada de útil nas férias ajudou-me com tudo e o trabalho não me tomou mais do que uma manhã inteira.
- Você leva jeito para essas coisas - disse Spencer rindo enquanto me ajudava.
- Maravilha - eu debocho - se nada der certo na minha futura carreira, sei que posso viver da minha arte, ou ao menos das minhas habilidades com a tesoura - brinquei.
- Acho que você vai ter uma carreira incrível - ele disse sério - de verdade, estive prestando muita atenção em você ultimamente - ele me encara sorrindo - e pode ser que eu tenha sido um pouco ausente e não tenha percebido antes, mas acredito que é a melhor opção para você e será brilhante.
- Obrigada - soltei a tesoura para abraça-lo e beija-lo, era incrivelmente reconfortante ouvir aquilo dele, porque a reação inicial havia sido uma decepção para mim - obrigada por me fazer acreditar nisso.
- Você acredita nisso - ele apertou o abraço - está cada dia mais segura de si e decidida, não vejo mais uma garotinha assustada no corredor do Highland Hall, vejo uma mulher incrível - ele beijou minha testa - isso é um pouco assustador para mim, sabia?
- Assustador? - eu ri alto.
- Sim - ele responde - porque se você cresceu, eu cresci também, não posso mais ser o filhinho de papai irresponsável - ele sorriu - e a faculdade está sendo c***l às vezes, eu nunca fui muito de estudar, só entrei pelo football.
- Não seja bobo - eu disse - você está fazendo um ótimo trabalho.
- Pode ser, mas você certamente vai ser brilhante.
Aquele era o tipo de coisas que fazia o meu ego inflar: eu vou ser brilhante! No fundo, era mais ou menos o que todos á minha volta esperavam de mim, a começar pela mamãe, "sem expectativas demais pessoal, vamos com calma" - esse agora era o meu mais novo mantra.
O chá de fraldas de Benjamin foi na sede da associação dos agentes de policia, tinha um salão interessante e assim Lorena pode chamar seus colegas e a família e não ficaria apertado. Foi um evento legal e ela certamente estava contente por ter todas as pessoas por perto. Não pude deixar de imaginar como seria a sensação de estar esperado um filho e toda a expectativa, apesar de ter todas essas coisas voando há muitos anos de distância nos meus planos de vida.
Na manhã seguinte ao chá de Benjamin, Spencer viajaria com a mãe para visitar algum parente que eu nem mesmo sabia quem era. Ele avisou-me assim que chegou até a sede da associação, enquanto ajudávamos na decoração, não era uma pergunta nem um convite, e sim um comunicado. Ele disse que estaria de volta em dois dias e eu aproveitei a ausência dele para visitar a vovó no Prince's House porque queria momentos a sós com ela.
- Como esta se sentindo? - ela pergunta.
- Estranha - respondo - não vejo a hora de encarar a minha nova vida, mas estou com um pouco de medo também.
- É normal sentir medo - ela sorriu - só não pode deixar que ele te domine, tenho certeza de que terá um futuro incrível - incrível, era diferente de brilhante.
- O que seria um futuro incrível? - pergunto curiosa.
- Um futuro feliz e em paz com as escolhas que quiser fazer - ela sorria novamente - se achar que não vai ser feliz ou que não está em paz, nunca pense que é tarde demais para mudar o rumo da sua vida.
Conselho valioso. Guardei aquilo com carinho, era como uma "aprovação prévia" para mudar o rumo da minha vida a qualquer momento, uma carta bônus no jogo da vida, porque a aprovação da vovó sempre fora importante demais para mim. Aproveitamos juntas uma tarde maravilhosa: passeamos pelos jardins, passeamos no shopping, tomamos sorvete e caminhamos no pier. A vovó adorava a casa de repouso, mas gostava mais ainda de aproveitar o tempo dela comigo.
Decidimos que ela precisava de um smartphone, ela não poderia pensar em se comunicar comigo apenas pro telefone e bilhetes ou cartas, escolhi um modelo simples e com a tela grande, assim ela aprenderia fácil o que realmente precisava e eu poderia m***r uma parte das saudades sempre que quisesse, mas de toda forma, eu precisava lembrar o papai que ele precisaria ir vê-la com mais frequência na minha longa ausência e pensar sobre isso fez o meu peito apertar...