Ano Novo, de novo...

3037 Words
            Minha mãe chegou em casa parecendo mais empolgada do que nunca, entrou pela porta, logo depois das três da tarde dizendo ter se dado folga, que tinha falado com Brandon, que eles conversariam, que sairiam para jantar e muitas outras coisas que eu m*l consegui compreender, porque ela andava e falava e logo enfiou-se no banheiro e continuou falando e falando, e eu já não ouvia mais nada.             A verdade é que eu não tinha feito planos para o ano novo, no fundo eu tinha uma pontinha de esperança de que Spencer mudasse de ideia, mas na manhã do dia trinta essa esperança foi-se de vez quando ele me contou que iria para uma festa com alguns amigos. Gostar eu não gostei, mas tentei manter o foco em mim e por mais esquisito que possa parecer, estava bem com o fato de não ter feito nenhum plano. Lindsey me ligou no começo da tarde do dia 31 e disse que ela, Justin e Noah se reuniriam na virada, e até as cinco da tarde, eu não sabia bem o que fazer. Papai estava em Albuquerque novamente e minha mãe resolveu me contar as cinco horas que iria na festa de Reveillón do Country Club, um comunicado e não um convite, e disse-me que Brandon iria com ela. Não a culpei, eles tinham muito o que conversar, e assim, percebendo que eu não tinha nenhum compromisso familiar, falei que meus amigos passariam comigo em casa, e liguei para o pessoal que obviamente aprovou muito mais a ideia de réveillon sem adultos na minha casa do que no porão da casa do Justin.               Nós nos reunimos poucos minutos depois para comprar bebidas e coisas para comer, busquei Lindsey em casa e encontramos com Justin e Noah no supermercado: - O que vamos comer? - perguntava Lindsey andando aleatoriamente por entre as gôndolas, fazendo o funcionário ficar um pouco impaciente por estar perto da hora de fechar.             Decidimo-nos por mini pizzas, nuggets e outras coisas prontas e semi prontas, não queríamos trabalho. Estava frio, escolhemos vinhos aleatórios e espumantes para o brinde, de um jeito ou de outro, nós faríamos um dos melhores Réveillons da minha vida, em casa e de pijamas – sim, a gente fez uma festa da virada de pijamas. Jogamos vídeo game, cantamos no karaokê, dançamos até cansar e eu estava tendo um fim do ano incrível, me divertindo para valer.  Depois dos brindes da meia noite, fomos ver os fogos na praia e bem, eu sentia falta de Spencer, mas estava feliz.  - Bonito o seu anel – Noah disse debochado quando me encontrou sozinha na cozinha aquecendo mini pizzas. - Ah – fiquei com vergonha de imediato – eu só... Não falei com ninguém sobre isso ainda. - Esquece – ele riu e me abraçou apertado – eu sei, fica tranquila – ele beijou minha testa – só achei estranho. - O que é estranho? – franzia a testa encarando-o. - Eu estou com você desde as seis da tarde, em plena virada do ano, e você não atendeu nenhuma ligação, não recebeu nenhuma mensagem... – ele deu ombros – eu só espero que tenha feito a escolha certa, Mariah – ele voltou a beijar minha testa e apertar o abraço – de coração, você é legal demais pra sofrer por quem não se importa...                 Encerramos a nossa conversa. Apenas ficamos abraçados por mais um tempo e eu chorei em silencio enquanto Noah apenas me abraçava... Aquilo era uma das coisas mais estranhas do mundo: Noah havia percebido algo que eu nem mesmo tinha notado, estava tão distraída que não percebi que Spencer não tinha enviado nem mesmo uma mensagem.                Justin e Noah se prepararam e foram embora perto das quatro horas, Justin tinha que voltar porque viajaria com a família e Noah aproveitaria a carona. Minha barriga doía de tanto rir, Lindsey ficou comigo aquela noite e nós ainda dividimos a ultima champanhe sem os meninos enquanto chorávamos, pois sabíamos que aquilo era quase uma despedida da nossa irresponsável vida de adolescente. - E o Spencer? - ela perguntou de repente. - Não sei dele desde as cinco e meia - respondi de imediato - estou começando a ficar preocupada. - Eu estaria pirando - ela disse - o que o Noah disse?  - Sobre o que? - perguntei.  - Sobre o Spencer... Vi ele conversando com você na cozinha, acho que ele falou alguma coisa. - Sim - eu disse, minha amiga era impossível de enganar - falou do anel, e ele percebeu que Spencer não ligou e nem enviou mensagens...  - É que é meio estranho - ela disse dando ombros - não acha?  - É claro que eu acho estranho - afundei-me no sofá - só não sei se eu quero pensar sobre isso, pelo menos desse jeito...  - Certo - ela me encarou muito séria - não vamos falar nem pensar sobre isso hoje, e nem sobre nada - ela riu - acho que estou bêbada, e apaixonada pelo Justin.  - Sério? - eu ri  - Acho que eu sempre gostei dele, então, estar com ele é meio que surreal - ela suspirou - mas a verdade é que parece melhor do que eu imaginei, mas...  - ... sempre tem um mas - eu debochei.  - Temos um prazo de validade com tudo isso - ela deu ombros - quero aproveitar.  - Concordo com você - eu respondi sem pensar muito.          Minha mãe não apareceu em casa, então, de algum jeito, eu acabei acreditando que ela passaria a noite com Brandon - ou com outra pessoa, não queria pensar sobre isso - mas Lindsey e eu dormimos como pedras na sala, semi alcoolizadas.                  Spencer me telefonou apenas na manhã do dia primeiro, e já eram onze horas. Desejou-me feliz ano novo e pediu desculpas diversas vezes: por não ter ligado, por não ter atendido, por não ter respondido nenhuma das minhas mensagens. Ele havia dito que iria para uma festa com alguns colegas e disse que no fim, acabara esquecendo o telefone celular em casa. Precisei aceitar aquela desculpa, e fingi que tudo estava bem, mas na verdade, eu estava triste demais para pensar em fazer diferente.                  Os pais de Lindsey buscaram ela perto das onze horas, depois de arrumarmos a casa e melhoramos nossas caras de ressaca. Minha mãe não apareceu e eu pedi um almoço pelo delivery, encarei as paredes, a janela, o mar... Não consegui fazer muito por mim naquele dia primeiro de janeiro, apenas chorar, as vezes pouco, as vezes muito... Me sentia deixada de lado, me sentia sozinha, me sentia triste. Não parava de pensar em Spencer e nas coisas que haviam acontecido no feriado de Ação de Graças, nem na desculpa do celular esquecido no Ano Novo, no fundo, uma parte de mim não conseguia acreditar que tudo estava bem, enquanto a parte que alimentava a esperança de que tudo estava bem, se empenhava para sufocar a primeira..                 Minha mãe apareceu em casa perto das três da tarde, pedindo desculpas por ter me deixado sozinha, perguntando como eu havia passado a noite, mas dando pouca atenção as coisas que eu dizia, ela estava "flutuando", e eu estava certa, ela estivera com Brandon e estava feliz por isso, e sim, eu estava muito feliz por ela, mas não conversamos muito porque ela estava cansada demais e eu, bem, eu não queria estragar a felicidade dela e eu estava triste demais.                  A volta as aulas após os feriados, veio com uma sensação de constante nostalgia, me deixando mais sensível do que nunca e bem instável. Meus professores estavam literalmente babando em meus pés, eu era a única da turma aceita em Harvard e aquilo me enchia de orgulho, apesar de não ter a menor ideia o que tinham visto em mim para me aceitarem, mas sentia-me orgulhosa porque sabia que eu tinha feito a minha parte também, com todo o meu empenho nos estudos, então, eu simplesmente era a garota mais feliz do mundo cada vez que eu passava no corredor e encarava o mural com o cartaz imenso que tinha escrito os nossos nomes: “Justin Hammond – Engenharia de Software – Duke Lindsey Kane – Medicina – Universidade da Califórnia Mariah Martinez – Direito – Harvard Noah Abramsen – Engenharia Espacial – MIT”                 Eu ignorava os demais nomes do cartaz ou para onde iriam, apenas achava incrível o fato de que nós havíamos conseguido ser aprovados, e mesmo com todos os acontecimentos daquele ano maluco.                 Voltei ao trabalho no mesmo dia que voltei às aulas. Mackenzie e Viola estavam tão felizes que passamos metade do expediente comemorando e a outra metade correndo como loucos para conseguir  dar conta de todos os processos em andamento. Meu chefe chamou-me ao fim do expediente: - Estou muito orgulhoso de você – ele disse sorrindo, era visível que estava mesmo. - Muito obrigada - respondi sorrindo.  - Sei que se empenhou muito, sei que as suas notas estão impecáveis e isso me faz acreditar que fiz a coisa certa aceitando você aqui e escrevendo aquela carta - ele piscou - não me decepcione, mocinha. - Darei o meu melhor, sempre - respondi.  - E eu acredito – ele sorriu – quero que me telefone assim que estiver instalada, não se esqueça disso, quero endereço, email, e tudo mais. - Sim senhor – eu respondi. -Vou acompanhar seu desempenho, e quando voltar, com o canudo na mão, espero poder te ajudar novamente.             Sai do escritório ainda mais feliz do que antes, e logo nos primeiros dias do meu retorno, consegui lembrar-me do porque eu tinha gostado tanto dele e de Viola e porque eu tinha sentido tanta falta  daquele lugar e daquela rotina durante o meu afastamento e o recesso.             Aos poucos tarefas escolares se tornariam mais escassas, o tempo livre aumentaria e aos poucos, os formandos apareceriam se reunindo em pequenos grupos, algumas garotas iriam ter crises de choro histérico, e um grande número de alunos, que não tinha planos de ir para a Universidade, simplesmente ia aos poucos, deixar de aparecer... Eu havia acompanhado por duas vezes aquele processo estranho, e agora era a minha vez de ir aos poucos, dizendo adeus ao Highland Hall.             Quando o fim de semana chegou, eu tinha uma estranha ansiedade para o meu compromisso com o meu "eu": minha sessão de terapia daquele sábado. eu tinha tantas coisas para conversar com Mark, que no fundo seria uma grande tortura e eu sabia, não tinha falado sobre Noah até então, eu sabia porquê, eu queria esconder ele, era o que eu costumava fazer quando as coisas ficavam estranhas: eu guardava tudo para mim. Precisava da ajuda de Mark para entender o que eu estava sentindo em relação ao Noah e precisava também, dizer como é que eu me sentia com minha culpa e com o novo pedido de namoro.             Acabei pedindo que mamãe telefonasse e verificasse se ele tinha algum horário livre, o que por sorte, foi resolvido, então, eu teria tempo suficiente para despejar tudo o que eu estava sentindo, na esperança de que Mark ajudasse-me a "organizar" meus sentimentos e pensamentos todos.  - E então? Como foi a semana? - Mark perguntou enquanto anotava algo na folha. - A semana foi boa - respondi, estava preparada - o problema foram as semanas anteriores à essa semana- eu ri sem graça. - Compreendo - ele disse e me encarou - o que aconteceu? - Meu colega novo... O Noah, do intercâmbio. - Nunca falou dele - respondeu Mark. - Eu sei - suspirei e afundei-me um pouco mais na poltrona - não queria falar sobre ele. - E porque? - ele parecia curioso. - Porque não precisava... Era mais um colega de aula... - disse dando ombros. - E aí? - Mark me conhecia - O que houve? - E aí eu surtei com ele, e ele foi tão legal comigo, e bem, já estávamos passando muito tempo juntos... E o Noah, ele cuida de mim, me dá atenção - eu tinha os olhos marejados - como Murray costumava fazer sempre, como Spencer fazia no começo... - fiz uma pausa - acho que no fim, eu posso ter confundido as coisas. - O que aconteceu? - ele perguntou. - Nós nós beijamos... No acampamento, e na viagem - eu suspirei - só isso, poderia ter sido mais, mas eu não consigo, sabe? - Sim - ele sorriu - se sente culpada? - Sim - respondi - mas não por beijar o Noah, provavelmente eu o beijaria de novo, mas por não poder fazer isso, pelo Spencer. - Entendo - ele sorriu - isso tudo é perfeitamente normal, Mariah... A gente busca colo, aconchego... Acha que o Noah aproveitou-se de você? - Não - e era verdade - em nenhum momento. Ele sempre me deixou muito a vontade e respeitou as coisas - suspirei - mas o Spencer... - Tem medo de decepciona-lo? - Medo de perder ele - eu solucei - sei que as coisas não vão ser como sonhamos, mas a gente ainda quer fazer dar certo. - E está disposta a continuar a distância? Mesmo sabendo o que isso significa? As privações, as culpas? - Eu não sei - respondi. - E aceitou o pedido de Spencer mesmo assim? - ele questionou - Eu - suspirei tentando conter minhas lágrimas - eu amo o Spencer, e eu quero tanto fazer dar certo... - Sim - ele suspirou - eu não estou aqui para dizer se você deve ou não deve fazer isso ou aquilo, mas se é o que o seu coração deseja, precisamos conversar sobre a sua culpa... - Me sinto culpada por esconder de Spencer... - Certo - ele sorriu - e porque não conversa com ele sobre isso? - Mark parecia um tanto óbvio. - Ah, eu não poderia... - a ideia era assustadora por si só.  - E porque não? - ele insistiu. - Mark, como posso chegar para o meu namorado e dizer... - ... que beijou outro cara enquanto estavam separados? Que beijou um garoto que estava com você quando ele não estava? Depois de ter mentido para você e ter gritado com você e ter dito que era melhor darem um tempo? - ele parecia um pouco alterado no final da frase - Pensa bem.  - Oh - eu suspirei - estávamos... - Separados - Mark sorriu - faça o que quiser com essa informação: pode deixar de se culpar, por não estar com ele e não sentir mais a necessidade de falar sobre isso ou então, reconhecer que quer contar para ele e fazer isso em paz... - Obrigada - suspirei, tinha entendido - acho que eu não tinha pensado com clareza... - Acho que preocupa-se tanto em não perder o seu namorado, que talvez não consiga pensar com clareza, precisamos trabalhar nisso. - No que? - perguntei confusa. - Na sua estranha dependência de Spencer... - ele suspirou - acho que por hoje, nós encerramos, Mariah.             Cheguei em casa e tomei uma decisão, precisava conversar com Spencer, esperei pelo horário que eu sabia que ele já estaria e volta no apartamento, depois do treino: - Oi - eu disse assim que ele atendeu. - Oi coisa linda - ele disse - como está? - Ah, estou bem e você? - disse. - Estou bem - ele disse - aconteceu alguma coisa? - Não - eu respondi, mentindo. - Tem certeza?- ele insistiu.  - Sim, eu só... - não tinha coragem de pressiona-lo sobre os acontecimento do feriado - senti a sua falta. - Ah, meu amor - ele disse - eu também sinto a sua falta.              Conversei amenidades, falamos sobre o primeiro jogo dele pela Columbia e sobre minha semana, sobre o retorno ás minhas atividades, e sinceramente, tudo parecia bem normal com ele... Decidi ficar em casa naquele fim de semana, e sinceramente, me senti um pouco culpada por não ir ver o papai ou Mia, apenas queria tempo e paz. Minha mãe pareceu ter feito o mesmo plano que eu: - E então?- ela chamou-me a atenção no fim da tarde de sábado enquanto eu lia - Como foi a sua sessão com o Mark? - Ah, foi bem - respondi - estou um pouco confusa... - Sobre? - minha mãe não conseguia controlar-se. - Spencer - respondi num suspiro.  - E porque aceitou...? - minha mãe referia-se ao segundo pedido de namoro.  - Eu amo o Spencer - respondi encarando minha mãe - amo, amo mesmo, e ele me fazia muito feliz - suspirei - queria que as coisas voltassem a ser como eram, e sim, aceitei porque eu estou disposta a fazer um esforço por isso, porque eu quero que dê certo, acho que nós dois merecemos a chance de sermos felizes... - E eu te entendo - minha mãe segurou minhas mãos - e admiro a sua coragem e a sua persistência - ela sorriu - as vezes eu queria ser mais como você, eu já disse - ela riu - só quero que você seja feliz, minha filha, de verdade - ela suspirou.  - Obrigada - eu a abracei.             O fim daquela semana foi positivo: mamãe e eu conversamos sobre tudo, e eu me sentia a vontade para falar com ela, a vontade demais. Contei sobre Noah, contei sobre a falta que eu sentia de Murray as vezes, contei que me sentia confusa e que atribuía tudo isso, à carência, à distância e a falta que eu sentia às vezes de ter um relacionamento normal, com um garoto normal, que estivesse ao meu lado.               Mamãe contou-me sobre Brandon, sobre as conversas que haviam tido, e sobre os planos para o futuro, onde eles tentariam novamente: ela estava organizando-se para passar mais tempo em Washington, venderia a casa de praia, compraria um flat no centro e bem, acabaria passando ainda mias tempo fora de Los Angeles depois da minha mudança. Conversamos sobre Bud, e eu telefonei para o papai dizendo à ele que o cachorro precisaria voltar para casa quando eu fosse para Boston e bem, ele pareceu compreensivo, e Lorena estava mais calma com todas as coisas, então, provavelmente, tudo daria certo. 
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