Eu não conseguia tirar da minha cabeça minhas inseguranças quanto ao meu relacionamento. Em alguns momentos, aquilo parecia que me sufocaria, parecia melhorar um pouco quando conversava com ele ao telefone, mas em pouco tempo eu estava novamente com a estranha sensação de vazio e principalmente, de que alguma coisa não estava certa.
Tinha sessão com Mark no sábado pela manhã, às nove horas. Acordei à seis e saí parar correr. Tomei um banho demorado na volta, conversei alguns minutos com a minha mãe e fui para o consultório:
- Bom dia - Mark sorriu - pensei que ia me abandonar.
- Ah sim- eu sorri sem jeito - nos últimos tempos eu tive um pouco de correrias aos sábado, mas acho que estou com tudo sob controle agora - eu disse.
- Certo - ele sorriu - e como tem se sentido?
- Péssima - respondo - totalmente insegura, com relação à minha nova vida e ao meu relacionamento com o Spencer, e com meus pais, parece que eu não me encaixo mais na vida de ninguém.
- Já falamos sobre isso - ele disse calmamente.
- Sim - eu afundo-me na poltrona - quando estou com o Spencer, tipo, junto mesmo, tudo parece bem, e aí nos separamos e ele fica distante, indiferente, e eu não sei como agir.
- Vocês já conversaram sobre isso? - ele perguntou
- Eu acho que não - respondo.
- E porque não? - Mark me encarava sério - Mariah, se você está tendo problemas com a forma com que seu namorado está agindo com você...
- Não quero incomoda-lo com isso - respondo.
- Não creio que falar de como se sente deva ser encarado como um incomodo... Ele disse que se incomodava? - ele anotava algumas coisas.
- Nunca - eu respondo - eu apenas acredito que incomode.
- Falha na comunicação - ele sorri - ou você pode estar...
- Com medo de dizer que as coisas não estão legais ou como me sinto e ele resolver terminar comigo como fez da outra vez... - eu disse sem nem pensar.
- Você que está dizendo - ele sorriu novamente - provavelmente seja o que você realmente está sentindo.
- Eu não quero sentir isso - eu disse chorosa.
- Sim - ele responde - e eu não queria ter sentido dor no meu joelho direito na manhã de ontem, mas nada me impediu de sentir. Hoje, eu não senti dor porque eu fiz meus exercícios...
- Está dizendo que tem uma solução? - pergunto esperançosa.
- Estou dizendo que, se você se dedicar em entender a origem das suas inseguranças e medos pode aprender a lidar com eles ou, no mínimo, a driblar os gatilhos que te fazem chegar nesses pontos.
- E quando eu estiver em Boston? - pergunto.
- Lembra que eu disse que te indicaria um profissional? - ele me encara.
- Sim - eu respondo.
- Dra. Michelle Grahaam - ele me entrega um cartão de visitas - ela é excelente, e eu já conversei com ela ao telefone... Provavelmente seguiremos em contato caso você a procure.
- Obrigada - eu respondo.
Saí da minha sessão ainda com o coração apertado. Não era simples como Mark fazia parecer, mesmo que eu quisesse acreditar. Minha mãe apareceu em casa perto da uma da tarde: eu não tinha almoçado, na verdade, eu não tinha feito nada de útil: apenas estava existindo desde a hora que chegara da terapia.
- Tudo bem ai ? - ela perguntou aproximando-se do sofá onde eu estava deitada.
- Uhum - respondo sem emoção.
- O que está fazendo? - ela pergunta.
- Nada - respondo espreguiçando-me - absolutamente nada.
- Como foi com o Mark? - ela pergunta sentando-se na minha frente.
- Normal - respondo - acho que eu estou fazendo tudo errado.
- Tudo o que? - minha mãe me encara.
- Tudo - suspiro - o Spencer, o papai... Acho que eu não consigo desapegar das coisas como elas eram, fico tentando fazer tudo voltar ao normal, a um normal que nem mesmo existe mais.
- Sei como é - minha mãe sorri com bondade - sabe que isso é apenas uma fase, não?
- Sim - eu respondo - eu sei, mas às vezes parece que eu vou ficar minha vida toda nesse looping enlouquecedor entre "tudo bem e tudo m*l" com raros momentos de meio termo.
- Eu imagino como se sente - minha mãe sorriu - em outro momento vamos conversar melhor sobre isso, mas agora, eu acho que você precisa comer e que precisamos encontrar um vestido perfeito para o seu último Baile de Formatura.
- Oh - eu pensava em negar - mas eu pensei...
- Não - ela pegou-me pelas mãos forçando-me a levantar - tem duas semana até seu baile e eu não aceito menos do que o vestido perfeito nesse ano, mocinha.
- Mas mãe... - eu tentaria argumentar - eu não estou no clima.
- Com certeza não está - ela riu - mas vamos ficar no clima logo, logo.
Minutos depois, derrotada e sem chance de argumentar, eu estava no carro da minha mãe que falava sem parar enquanto dirigia em direção a um restaurante no pier:
- Vamos comer alguma coisa e depois vamos resolver o seu vestido - ela disse - acho que preciso agendar uma hora no salão para você dessa vez, a colação vai ser na escola né? Durante a tarde... Porque não fazem em dias separados? Poderíamos fazer uma pequena recepção...
Tento ignorar a empolgação da minha mãe, era estranho não estar empolgada para a sua própria formatura? Eu sentia como se aquilo fosse o marco divisor da minha vida, era como se depois da cerimônia um grande pé chutasse meu traseiro enquanto alguém grita "está por sua conta agora" e mesmo com minha mãe ao meu lado, me apoiando em todas as questões referentes à minha mudança para Boston, eu ainda conseguia sentir isso.
Comemos tacos em um dos nossos restaurantes favoritos, minha mãe ainda falava muito sobre os planejamentos:
- E a recepção? - ela pergunta.
- Ah eu não quero nada - respondo com sinceridade - sem trabalho, mãe.
- Mas querida... Todos vão querer...
- Mãe? - eu a encaro - Acha mesmo que vão? Tipo, meu pai vai dizer que precisa trabalhar, a Lorena não vai aguentar muito tempo com a Guadalupe, ainda mais grávida. A Donna nunca consegue sair, se o papai vai, o Henry não pode ir, minhas tias estão me evitando, meus amigos estarão em suas próprias recepções... A minha sogra me odeia, basicamente, minha avó é única que vai ter tempo além de você e do Spencer.
- Você está sendo pessimista - minha mãe diz, parecendo um tanto irritada.
- Realista - eu a corrigi - onde vamos? - perguntei assim que dei o último gole em meu suco de melancia.
- Na loja de uma amiga, ela tem vestidos lindos... - minha mãe suspirou - pensou em alguma coisa?
- Ah, eu não pensei - encarei minha mãe - bordô? Um vermelho fechado, tipo carmim?
- Nossa - ela sorriu - boa escolha, vai arrasar.
- Pensei em usar algo marcante - e era sério, eu queria parecer segura.
- Concordo, acho que é uma excelente escolha - minha mãe sinalizou para o garçom trazer a conta - marcarei um horário na Mary, para a manhã, e ai pegamos o almoço, e terminamos de nos arrumar em casa, depois de comer... - ela disse séria e logo parou de falar para procurar a carteira na bolsa.
- Tudo bem - eu disse.
- ... e vou pensar na recepção, em alguma coisa, não pode passar em branco.
Ela parou de falar, entregou o p*******o ao garçom e logo saíamos em um gostoso silêncio em direção ao carro. Mamãe dirigiu rapidamente até estacionar em frente ao Greendale Gallerie, ela resmungou algumas coisas e logo caminhávamos em direção à uma loja no fim de um dos corredores:
- Olá querida - uma mulher de uns quarenta anos cumprimentou mamãe - quanto tempo - e logo me encarou - essa deve ser a Mariah, oh meu Deus, como você cresceu, está linda - ela me abraçou.
- Obrigada - eu sorri sem jeito.
- Você não lembra - minha mãe disse - Lorraine Hopper.
- Infelizmente não - eu disse sem jeito.
- Fazem muitos anos - Lorraine riu alto - mas então, em que eu posso ajudar vocês?
- Um vestido - mamãe disse orgulhosa - essa moça esta se formando na escola, logo estará em Harvard.
- Ah, então não precisam de "um vestido" ela disse rindo, precisam de "o vestido" - ela pegou-me pelo braço - alguma ideia?
- Pensei em um vermelho fechado, um bordô - disse.
- Muito bom - ela sorriu - ficará perfeito - ela disse empolgada - curto? Comprido? Tamanho?
- Longo - minha mãe respondeu por mim - vamos - ela me encarou - seu baile...
- Tudo bem - sorri concordando - tamanho G por favor.
Logo Lorraine caminhava por entre as araras de roupas e empilhava modelos, um mias lindo do que o outro sobre uma mesa de vidro no centro da loja. Minha mãe começou a encarar os vestidos, eu, automaticamente descartei dois modelos por achar o vermelho "berrante" demais, o que gerou algum protesto. Separei quatro modelos para experimentar, mas já estava apaixonada por um bordô, tomara que caia, super ajustado, com uma f***a lateral. Sem bordados, sem detalhes, apenas um vestido de tecido bom, bem costurado.
Foi o primeiro - e o único que experimentei. Estávamos todas apaixonadas e eu me sentia simplesmente incrível dentro daquele vestido, sexy e incrível, para ser mais exata.
- Perfeito - minha mãe disse - vai precisar de uma gargantilha...
- ... ou brincos longos - disse Lorraine - uma cascata de strass com bastante volume.
Eu deixei que as duas sonhassem com o restante de meus acessórios, porque eu estava feliz demais para encontrar problemas, elas podiam decidir sobre aquilo, contanto que eu usasse aquele vestido, já estaria satisfeita.
Saímos da loja direto para a joalheria, optamos por brincos e uma pulseira delicada combinando. Eu tinha escolhido uma sandália dourada, então, tudo ficou dentro desse padrão. Eu poderia jurar que nunca na minha vida teria me sentido tão linda. Terminamos o sábado com um clima mais leve e agradável e no domingo, eu dediquei tempo à minha avó, almoçamos juntas e passeamos à tarde.
No fim do domingo, quando falei com Spencer, tentei não parecer empolgada demais com o vestido, porque ele estava irritado com as provas finais do semestre e repetiu diversas vezes que estaria com tudo resolvido para vir para a minha formatura, sem precisar voltar.
Durante as aulas, na segunda-feira, precisei conter minha ansiedade pelas férias, os professores ainda tinham longos discursos sobre futuros e carreiras promissoras, e senti um certo arrependimento por não ter abandonado a escola quando Sanderson disse que eu poderia fazer isso.
Na quarta feira, dia dez de abril, eu oficialmente, tive a minha última tarde de trabalho no escritório de Mackenzie. Foi uma despedida um tanto quanto dolorosa, porque eu havia me apegado demais a ele e a Viola, porém eu sabia que voltaríamos a nos ver, e isso foi o que tornou a coisa toda um pouco mais fácil.
- Não se esqueça – Mackenzie disse enquanto me abraçava – endereço, telefone, email... Quando precisar de um estágio, ou quando quiser, eu tenho muitos conhecidos em Boston, viajo até lá com frequência.
- Sim senhor – eu disse sorrindo.
- E quero saber do seu desempenho – ele disse – e outra coisa: todo o material obrigatório, livros e cadernos de exercícios, da biblioteca, você simplesmente retira em meu nome, já entrei em contato com eles, e não pode dizer que não, porque está feito e sei do que precisa, se não chegar essa fatura na minha mesa, serei obrigado a mandar entregarem na sua casa, de agora até o final do curso.
- Ah meu Deus – eu sorri agradecida – não precisava se incomodar.
- Ah, sim – ele sorriu – não me agradeça, meu preço é relatórios cheios de boas notas.
- Obrigada mesmo assim.
Cheguei em casa e bem, devo dizer que estava contente e ainda mais despreocupada: se nem mesmo com os livros eu me preocuparia, minha vida universitária seria mais fácil do que eu tinha imaginado., Minha felicidade esvaiu-se aos pouco quando conversei com Spencer, ele reclamou por muito tempo: primeiro porque estava cansado, depois porque precisava estudar e não podia estar comigo, depois porque precisaria voltar para NYC depois da minha formatura e porque eu provavelmente iria novamente para Boston sem ele, e no fim da conversa eu estava quase tendo certeza de que acabaríamos brigando antes mesmo que eu conseguisse encerrar oficialmente a minha vida escolar.
Minha primeira tarde sem trabalho foi estranha: e eu caminhei sem rumo pela casa procurando o que fazer. Lindsey apareceu no fim da tarde e escolhemos nossos looks incríveis para o nosso "dia na praia", que seria no domingo depois da nossa formatura. Pela primeira vez em quase um ano, Lindsey e eu estávamos tranquilas e sem muitas atividades, ela também já tinha seu vestido de baile escolhido e nos sentíamos tão em paz que saímos para tomar sorvete no fim da tarde.
Os dias se arrastaram até a quarta feira da nossa formatura: eu tinha empacotado coisas, carregado coisas, vendido coisas. Minha mãe estava mias nervosa do que eu, meu pai parecia ansioso quando falávamos ao telefone, e eu sentia um nó no estômago. Spencer chegou as oito da manhã, correu para me ver antes que eu fosse para o salão, depois almoçou comigo e a mamãe e me levou para a cerimônia de colação de grau. Estávamos todos contentes e eu estava feliz de estar ao lado de Lindsey e Mia, porque a ordem alfabética era minha amiga nessa hora.
Após a cerimônia, a minha surpresa, era que iríamos todos para o Thed's, onde minha recepção fora montada, no pequeno salão de festas, onde eu tinha tido minhas festinhas de aniversário. Era incrível estar com as pessoas que eu amava, mas Spencer e eu m*l tínhamos alguns segundos juntos entre tantas fotos e agradecimentos.
Quando finalmente eu consegui escapar daquela comemoração para ir para o Baile, Spencer conseguiu dizer alguma coisa diretamente para mim:
- Você está muito linda, Mariah - ele sorria.
- Obrigada - eu sorri sem jeito, sabia que ele tinha razão.
- Me surpreendeu - ele disse - ainda não sei se eu gostei da surpresa ou não.
- Como assim? - pergunto confusa.
- Parece muito, muito mais segura de si e decidida nesse vestido de baile, e isso é assustador - ele beijou minha mão - espero que ainda me ame e que não tenha chegado à conclusão de que não precisa de mim na sua vida.
- É claro que eu preciso de você na minha vida - eu o beijei - eu amo você.
Ele apenas abraçou-me, parecia mais conformado. Seguimos em silêncio até o Los Angeles Country Club e eu tive a melhor noite da minha vida, sem exageros. Eu me diverti tanto, e aproveitei cada segundo, estava ao lado do meu namorado - que estava bem à vontade - e dos meus melhores amigos, não teve um único segundo de arrependimento, e no fim do meu último baile de formatura, eu caminhava pela areia da praia com minhas sandálias nas mãos, vendo o sol nascer ao lado de Spencer, realmente, nenhum defeito possível.