POV SARADA
... 16h ...
“Droga! Atrasada!”, percebo ao abrir os olhos e olhar para o despertador na mesa de cabeceira, “agora vou ter que ouvi-lo reclamar”, suspiro me levantando pacientemente e colocando uma roupa básica preta, um elástico baixo no cabelo, sandálias e saio de casa, não vejo meus pais, o que é bom, assim não preciso dar explicações.
Ando rápido até seu apartamento, ele saiu da casa dos pais faz um ano e meio, sob a conclusão de que precisava de privacidade, eu entendi, bem... nada contra a excitação que existe no perigo de ser pego transando na casa dos seus pais, mas quando realmente quase acontece, você não quer sentir de novo.
FLASHBACK ON – 1 ano e 7 meses antes
Temari chegou em casa cedo e nós estávamos ainda ofegantes após o último orgasmo, relaxados na cama, eu estava quase cochilando.
- Sara, minha mãe! - o encarei sem entender, ele tinha os olhos arregalados e então ouvi um grito distante.
- SHIKADAI, CHEGUEI! - ela gritou e parecia estar a caminho do corredor. “Kami-sama, me ajude!”, pensei, dando um pulo da cama e ele permaneceu sem reação.
Eu corri de um lado para o outro do quarto tentando encontrar minhas peças de roupa, enquanto ouvia seus passos ecoarem na direção do quarto, e sim, eu paguei o mico de sair pela janela, pelo menos escapei do flagrante, mas foi por muito, muito pouco, ainda pude ouvir a porta abrindo, mas achei melhor sair de lá rápido.
Mais tarde, no mesmo dia, Shikadai me parou no meio da rua com seu jutsu da sombra, me pegando desprevenida como sempre, mas ao contrário do seu riso nasalado e sua aparição ao meu lado, ele me fez andar até ele nas sombras do beco, ao parar à sua frente, sob a iluminação fraca, vi seu rosto sério.
- O que aconteceu com a sua mãe? - ele soltou um suspiro pesado.
- Ela achou isso - ele tirou do bolso meu sutiã de renda vermelho, não tinha como ser mais chamativo, na hora quis enfiar meu rosto no chão - e viu as camisinhas jogadas no canto da cama – eu arregalei um pouco os olhos – achei por um minuto que ela poderia ter um infarto, nunca a vi tão vermelha e acelerada, começou a falar um monte com um tom histérico - falou revirando os olhos, com desdém da situação, como se estivesse cansado - por fim, ela perguntou quem era.
- Você…? - minha boca estava aberta.
- Claro que não… eu sempre protegerei você, principalmente dela - ele falava sério, mas não se engane, não acredito que havia qualquer romantismo, tínhamos um pacto - só me levantei e lhe dei as costas me trancando no banheiro, a deixei falando sozinha – ri um pouco, aliviada - mas eu decidi alugar um apartamento, sair de casa, assim teremos mais privacidade e liberdade - o olhei incrédula.
- Tem certeza? - ele assentiu e encostou na parede, com as mãos nos bolsos e olhou para o céu - Desculpa por isso - pedi, afinal a confusão toda começou pelo meu sutiã. Ele esticou as mãos, pegou meus pulsos, olhou na direção da rua e me puxou para perto, tirou minha máscara e segurou forte meu quadril, me apertando contra o seu corpo.
- Você não teve culpa, eu que paralisei quando ouvi a voz dela - falou sem graça – prometo te recompensar por ter que sair pela janela – sussurrou próximo à minha bochecha de olhos fechados, roçando o nariz no meu e depois encostando sua testa com a minha e abrindo os olhos para me encarar com aqueles olhos de ressaca*. Esses jogos de toques e olhares que ele fazia me deixavam louca de excitação. Respirei fundo sentindo seu hálito fresco e seu cheiro amadeirado, me deixando embriagar, coloquei os braços ao redor do seu pescoço e ele me beijou, depois me jogou nos ombros e me levou pelos telhados até minha casa, eu o olhei incrédula, com uma carranca de frustração – está entregue e segura – me pôs no chão e me entregou minha máscara – tenho algo a fazer agora – falou misterioso e sério - mas eu ainda vou te compensar - me deu um selinho rápido e se afastou para em seguida sumir, “estranho”, pensei encarando a noite escura na direção em que se foi.
*seus olhos verdes estavam turvos como o mar em ressaca, são olhos desejosos, que incitam sensações perigosas. (Referência à minha amada Capitu)
FLASHBACK OFF
Três dias depois ele alugou esse apartamento, eu, Chouchou e Inojin fomos ajudá-lo a arrumar tudo. O lugar não é muito grande, mas é confortável, sala e cozinha integradas, uma pequena varanda, quarto e banheiro, a decoração é simples e bem... muito organizado, Shikadai é irritantemente organizado. Lembro-me de ter voltado ao apartamento na noite daquele mesmo dia e nós fizemos uma inauguração em grande estilo, com toda a privacidade da qual podíamos gozar naquele momento.
Hoje o apartamento é dele, ele comprou depois de um ano lá, já não estávamos mais... bem... juntos, eu nunca soube definir isso. No dia em que ele assinou a escritura, eu, Chouchou, Inojin e Mirai-san viemos comemorar com ele, mas antes que pensem besteira, não, não rolou recaída, quando decidimos parar combinamos que seria definitivo, hoje somos mesmo só amigos.
... 16h30min ...
Chego à porta do apartamento e bato duas vezes, como de costume e ele abre.
- Atrasada - falou com sua cara comum de tédio, “sempre reclamando”, pensei e o ignorei, passando pela porta, tirei as sandálias e me joguei confortavelmente no sofá – como sempre - ele revirou os olhos pro meu jeito "dona da casa", eu não fazia mesmo nenhuma cerimônia naquele lugar - Boruto me procurou - disse indo até a poltrona do lado do sofá - mas acho que você já imaginava que ele faria isso, certo? - sorrio, "meu geniozinho", penso e ao mesmo tempo reprimo o pensamento, “ele não é seu”.
- Boruto sempre teve um raciocínio engenhoso, imaginei que ele recorreria a isso – ele me olha em desagrado e bufa – não me dê esse olhar – aponto para ele - relatórios de missão são ótimos meios para conhecer alguém - ele me encara sério.
- E de ver você como o monstro que você acredita ser, não é? – engulo em seco.
- A verdade sempre aparece – falo desdenhosa.
- Você sabe que não é bem assim, a verdade não está naqueles relatórios – fala com seu olhar entediado.
- Ai ai Shikadai… e o que você espera que eu faça? - disse jogando a cabeça pra trás e encarando o teto - eu não conseguiria olhar nos olhos dele e tirar todos os esqueletos do meu armário, você sabe como ele é…
- Mendokuse… - murmura e não preciso voltar a encará-lo para saber que sua face não mudara - você é mesmo problemática... por que precisa que ele saiba disso? Você poderia simplesmente se reaproximar dele, se deixar conhecer de verdade - o encaro com uma sobrancelha arqueada - mostre quem você é, você é incrível Sarada, não acho que Boruto se importaria mais do que eu com quantos ou como você matou – fala soltando um suspiro pesado – aqueles relatórios não são a solução dos seus problemas e sabe disso – fala se inclinando na minha direção, apoiando os cotovelos sobre os joelhos e tocando minha coxa firme - são só um bando de papéis com coisas que outras pessoas escreveram sobre Rinkusu – me encara expressivo, quase irritado - não tem nada além de descrições sórdidas na maioria deles, eu li alguns e não é agradável.
- Está bem… - falo erguendo as mãos em rendição, ele volta a se encostar na poltrona - eu vou tentar só ser eu mesma – declaro ainda um pouco apreensiva.
- Que bom - ele respira fundo, puxa um cigarro do bolso da calça e o acende, "oi?", penso, encarando-o incrédula.
- Desde quando você fuma? - ele me olha como se não tivesse percebido o que estava fazendo – achei que detestasse quando seu pai fumava...
- Ah! É só quando eu estou sob estresse - fala despreocupado, tragando aquela porcaria - me ajuda a colocar a cabeça no lugar - levanto do sofá e tiro da boca dele - ei! - ele bufa.
- Você é um shinobi, Shikadai! Nós estamos sempre sob estresse! – falo um pouco irritada, ele revira os olhos - desde quando? – questiono alto.
- Sei lá! Faz uns meses... o que importa? - fala alterando um pouco a voz.
- Mas que droga! Você sabe que essa merda faz m*l pra saúde – falo mais alterada do que devia – é isso que importa! – quase grito, lhe encarando, ele arregala um pouco os olhos para a minha reação.
- É a minha saúde, não a sua - responde grave e alto - por que está irritada?
- Porque eu me importo com você, baka! - retruco alto, sentindo meu rosto quente e meus olhos marejados, ele me encara atônito e engole em seco.
- Está bem, ok? Não precisa ficar brava - fala erguendo as mãos na altura do rosto.
- Se eu pegar você fumando de novo, eu antecipo o trabalho e te mato usando o mesmo cigarro - o encaro ameaçadora, ele bufa e me entrega a carteira de cigarros que carregava no bolso, vou até o balcão da cozinha e jogo no triturador de lixo, depois volto para o sofá.
- E quando ele perguntar quem foi? – pergunta sério.
- O que? – questiono confusa.
- Você sabe... – ele faz uma cara sugestiva e o encaro incrédula, “vamos mesmo falar sobre isso tão rápido?”, me pergunto - não me olhe assim, nós sabemos que vai acontecer - revira os olhos, eu me recomponho - enfim, quando ele descobrir que você não é... inexperiente... ele vai perguntar quem foi - ele tinha muita certeza do que dizia.
- Por que vocês homens têm essa obsessão? - ele dá de ombros.
- Eu não sei, para mim tanto faz, mas já ouvi os caras falando coisas sobre isso - fala entediado - e no seu caso... essa informação envolve diretamente a mim, então… o que você pretende responder?
- Que foi um amigo - falo simplesmente - poderia ser qualquer um, isso não é grande coisa - debocho, ele ergue uma sobrancelha para mim com um sorriso convencido de canto.
- Qualquer um, huh? – questiona provocativo, tento manter meu tom, pois sei que ele está testando a minha capacidade de esconder isso.
- É, Inojin, Lee-san... Iwabe-san, Denki-san... Shinki-san - faço uma careta pensando se eu realmente seria capaz de ter perdido a virgindade com qualquer um desses. Ele ri alto e não me impeço de rir junto.
- Claro, claro, eu acredito em você – fala enxugando uma lágrima imaginária e se levanta para beber um copo d'água.
- É convencido, você sabe que não - é verdade, não poderia ter sido com mais ninguém, eu fui pra cama com ele não só por t***o, não que Shikadai não seja bonito e gostoso, afinal depois de 9 meses juntos eu conhecia bem demais aquele corpo pra negar qualquer uma dessas afirmações, mas era mais que isso, sempre foi uma questão de confiança, eu confio mais nele que em mim mesma - mas ninguém mais sabe e isso inclui o Boruto… eu posso manter isso - ele assente, voltando à sua postura normal – e também não sou obrigada a dizer com quem dormi ou deixei de dormir.
- Claro que não.
- E não entregaria você, temos um pacto – lembro-o, ele suspira.
- Eu sei - fala divagando - ninguém que sabe seria capaz de contar, não é?
- Não... – falo pensando em todos os envolvidos – com certeza não - falo convicta – Chouchou é um túmulo sobre isso, minha mãe sabe que é assunto proibido, Shizune é fiel a ela e o que ela sabe... bem... envolve sigilo médico, então também não contaria, seus pais são os únicos a meu ver que poderiam... – falo caminhando até os armários da cozinha a procura de algo para comer.
- Não se preocupe, eles não vão falar nada – me interrompe – o que quer aí? – pergunta me encarando interrogativo por sobre o ombro.
- Nani? Não tem nada além de arroz no seu armário? – reclamo decepcionada, ele ri.
- Eu estava na casa dos meus pais essa semana, estava pintando o apartamento e trocando os armários, mas encomendei seu combinado favorito naquele restaurante de sushi da principal antes de você chegar - minha boca enche d’água – já deve estar a caminho.
- Hmmm... você é o melhor! - falo me jogando no sofá, esse era o nosso programa favorito, depois de sexo, lógico, comer sushi na mesa de centro e conversar sobre coisas banais. Ele revira os olhos - sabe… Chouchou para um bar novo que vai abrir essa semana - comento, nós três costumamos sair juntos, só nós três, isso começou logo depois que entrei na Anbu, foi numa dessas, logo após o ocorrido, que Chouchou descobriu sobre nós, graças ao Inojin e seus olhos de fofoqueiro.
FLASHBACK ON - 1 ano e 9 meses antes
… Na churrascaria …
Não era a primeira vez que nos víamos depois de dormirmos juntos, já que ele foi até minha casa quando voltou de missão para buscar sua chave, mas era a primeira vez que teríamos que socializar em público e tendo que agir como se nunca tivéssemos visto a i********e um do outro. Foi estranhamente fácil, Chouchou não pareceu notar nada, ele estava na sua postura despreocupada de sempre, o que facilitava, me deixando mais à vontade. O restaurante estava cheio, Chouchou comia com vontade, era seu restaurante preferido. Já estávamos comendo e conversando há quase uma hora, jogando todas as novidades da semana na mesa, quase todas, quando ela solta um risinho safado, como se lembrasse de algo.
- Shikadai, quando você pretende nos contar com quem está saindo? - eu tinha acabado de dar um gole no sakê e quase molhei a mesa toda de surpresa, Shikadai se engasgou com a comida.
- Nani? - perguntou se recompondo, trocamos um olhar tenso.
- É, não se faça de desentendido, Inojin me contou, enquanto esperávamos você para a missão três dias atrás, que havia uma Anbu na sua casa, quando ele esteve lá - arregalamos os olhos.
- Como? - ele quase gritou.
- Ora, ele disse que você estava com os cabelos assanhados, marcas no corpo e cara de quem estava beijando quando abriu a porta - ela apontou com uma cara maliciosa, ele tinha a cara vermelha como um tomate, eu não estava diferente.
- Eu n-não sei d-do que... – ele gaguejou, tentando inutilmente se defender.
- Ai Shikadai… o Inojin viu uma máscara e uma espada na entrada da sua casa – eu engoli em seco – vamos, nos conte logo – pressionou e depois se virou na minha direção - ah, Sara! – exclamou - você já deve tê-la visto no esquadrão - eu me forcei a voltar ao normal, mas tinha certeza que meu rosto ainda estava vermelho - ele disse que a máscara era de um felino, com orelhas grandes e pontudas, com grandes aberturas pros olhos e bem expressivas, com marcações vermelhas - enquanto ela descrevia a minha própria máscara, com a mesma riqueza de detalhes que Inojin devia ter-lhe descrito, meus olhos correram para os de Shikadai que estavam sobre mim de um jeito tenso, eu tinha o ar preso no pulmão, como se respirar pudesse nos denunciar de alguma forma, sendo que a minha própria postura já havia me entregado - você … - ela ia repetir a pergunta, mas percebeu o nosso olhar, seus olhos correram entre nós e voltaram para mim - naaaão - falou arrastado como quem percebe algo e não acredita.
- E-eu… - eu olhei para ela com um sorriso sem graça, tentando inventar algo mas parecia que tinha ficado burra, Shikadai levou a mão ao rosto.
- Você e você - apontou de mim para ele - vocês..? - fez um sinal esfregando dois dedos, com os olhos arregalados e a boca aberta - a Anbu do Shikadai é você! - apontou acusadora num tom mais alto do que devia, fiz um sinal com as mãos para que ela se acalmasse, mas ela estava fora de controle - VOCÊS TRANS.. - Shikadai tapou a boca dela, antes que ela gritasse aquilo para todo mundo ouvir.
- Shhh - fiz sinal de silêncio pra ela - por Kami, não queremos que todo mundo saiba, Chou! - falei baixo, ela assentiu e Shikadai soltou sua boca.
- Mendokuse – reclamou, voltando a se sentar.
- Vocês estão...? Desde quando? Por que não me contaram? - disparou, depois fez cara de decepção.
- Nós não estamos juntos, Chouchou - Shikadai falou constrangido.
- Mas…
- Só aconteceu, Chou - falei sem graça. Ela nos fitava processando a informação e depois sorriu, o mesmo risinho sacana que tinha dado antes.
- Ei Sara, me conta, como foi? O Shikadai tem pegada? - ela sussurrou pra mim, mas eu sabia que ele tinha ouvido porque fez cara de quem não acreditava que ela estava perguntando aquilo e cobriu o rosto com uma mão.
- Por Kami Chouchou… seja mais discreta - a reprimi. Mas ela me olhou com olhos pidões, numa expressão de "por favorzinho?", suspirei – depois eu conto, aqui não – falei, ela sorriu satisfeita e Shikadai me encarou indignado.
FLASHBACK OFF
- Não sei não - batem na porta, ele vai atender e volta com a comida.
- Por que não? Vai ser legal, dançar, encontrar gente - enfatizo.
- É exatamente por isso – fala tirando a comida da embalagem e colocando sobre a mesa de centro - eu não estou a fim de “encontrar gente” – fala revirando os olhos, se sentando de frente para mim.
- Fala sério, Dai... - falo levando uma porção de comida à boca.
- Eu estou bem, ok? Não quero saber de relacionamento de novo.
- E aquela garota alta dos cabelos castanhos?
- Não faz meu tipo, garota irritante, saímos duas vezes e ela se achou no direito de me pedir satisfação, me infernizou tanto que saímos mais uma vez.
- E nada?
- Queria ela... um dia bateu na minha porta sem avisar, por sorte Chouchou estava aqui, então não tive que lidar com ela.
- Mendokuse... – solto em um suspiro alto e ele começa a rir, eu rio junto percebendo a ironia da nossa troca de falas.
Comemos conversando amenidades, ficamos sentados por um tempo, bebendo um saquê e conversando, rindo assistindo a um programa de comédia na TV, quando procuro com os olhos o relógio e percebo que já passa das 21h.
- É melhor eu ir, meu pai está em casa – faço careta, ele assente, se levanta do chão, me estendendo a mão e me puxa pra um abraço apertado, me pegando de surpresa.
- Eu não vou dizer que sinto sua falta - fala baixo com o queixo apoiado na minha cabeça, puxando bem fundo o ar pelas narinas, como que para rememorar o meu cheiro, sorrio satisfeita.
- Nem eu - falo encostando a cabeça no seu peito, aproveitando esse abraço, ouvindo seu coração, as batidas sempre calmas, de quem estava sob o controle de tudo, esse abraço podia facilmente ser eleito o meu lugar favorito no mundo, nenhum calmante é tão eficaz quanto isso. Quando finalmente me solto, ele me leva até a porta e a abre, para só então se despedir.
POV BORUTO
Ainda bem que meus pais aceitaram minha proposta de morar sozinho, viver esse tempo com Sasuke me deu uma necessidade de independência e, principalmente, privacidade, mesmo com o pouco tempo que passei em casa, foi algo que senti falta, ele sempre respeitou meu espaço e me fez me virar sozinho todo o tempo, é estranho agora ter sempre minha mãe e Hima por perto, abrindo portas, me chamando e ficando em cima de mim. Meu pai me deu a chave de bom grado e decidi ir dar uma olhada no apartamento para ver o que vou precisar para me mudar.
Estou no corredor prestes a abrir a porta quando ouço uma porta abrir atrás de mim e uma voz masculina familiar se despedir de alguém.
- Então, tome cuidado no caminho e avise quando chegar – ouço a porta atrás de mim se abrir, “Shikadai?”, identifico.
- Hai… – uma voz feminina que não reconheci de imediato concordou baixo, num tom melodioso e entediado.
- Tchau, Sara!
- Sara? - me viro na direção deles e para minha surpresa estão os dois estranhamente juntos, a porta entreaberta, ele com uma mão relaxada na sua cintura, como se conhecesse bem aquele lugar e outra na maçaneta abrindo a porta, seu ar sempre despreocupado se faz presente e eles trocam um olhar… “íntimo?”, ergo uma sobrancelha para os dois. Eles me encaram simultaneamente, tensos e o vejo tirar a mão da cintura dela quase por reflexo, então percebo que não foi um pensamento, eu realmente questionei em voz alta. Eles rapidamente superam o susto e parecem relaxar - o que vocês dois fazem aqui juntos? - meu tom de voz sai quase ameaçador, avalio a cena à minha frente sentindo um nó se formar no meu peito e um calor me subir à cabeça, “afinal, o que aconteceu enquanto eu estive fora? O que esses dois faziam sozinhos em um apartamento?”, os pensamentos martelam minha cabeça.
- Eu moro aqui - ele fala no seu tom despreocupado de sempre e continua - Sarada estava me ajudando com umas coisas – explica, forçando uma formalidade que eu já havia percebido que não existia, ela assente, sorrindo, um sorriso que não me parece real, a encaro tentando entender o que acontece - mas e você? O que faz aqui? - pergunta diretamente para mim, com um ar mais descontraído, Sarada se afasta um pouco dele, vindo para o corredor, ficando entre nós, mas não na nossa frente.
- Vou me mudar para cá – falo apontando com o polegar para a porta atrás de mim – esse apartamento pertencia ao meu pai, ele me passou.
- Legal! - ele fala parecendo realmente animado.
- Olha só, então agora vocês serão vizinhos, isso parece muito legal - Sarada pula estranhamente entusiasmada – me desculpem mas está tarde, eu devo ir – fala sorrindo, se vira para Shikadai e toca seu ombro, ficando na ponta dos pés e beijando seu rosto, como se fosse a coisa mais natural do mundo, sinto o ar faltar, "por que ela tá tão próxima dele?", vejo um sorriso leve quase escapar dos lábios dele, mas ele se impede, sentindo o meu olhar mortal sobre eles. Seu corpo tenciona, enquanto seus olhos me encaram sem expressão. No entanto, em outro pulo Sarada estava repetindo o mesmo movimento, agora na minha frente, beijando a minha bochecha, de um jeito simples e quase inocente, não fosse pelo leve cheiro de álcool que emanava dela, “eles estavam bebendo?”, me pergunto, mas me sinto vacilar, seu gesto tão espontâneo e simples me faz derreter, Shikadai sorri de canto, como se tivesse total noção do que estava acontecendo, como se entendesse o efeito que ela tinha, diferente de mim.
- Tchau - ela acena com a mão direita indo em direção às escadas no fim do corredor. Eu só a sigo com os olhos, sem ser capaz de responder. A imagem dos dois na porta volta nitidamente na minha cabeça.
- Seja sincero comigo, Shikadai, nós somos melhores amigos... - começo como se lembrá-lo disso fosse fazê-lo ser sincero comigo, me virando para encará-lo.
- Eu e Sarada somos bons amigos, Boruto - fala antes mesmo que eu perguntasse e pareceu sincero – só isso – fala mais baixo, fechando os olhos como por cansaço, “talvez eles só tenham ficado muito próximos no tempo que passei fora”, penso - eu vou dormir, se precisar de alguma ajuda na mudança ou algo assim, é só avisar – assinto – boa noite - fala fechando a porta e me deixando no corredor.