Hoje se inicia uma nova vida para mim, eu sei que tenho que esperar o tempo passar, pois, eu não posso sair desse morro. Caso eu faça isso, eu tenho certeza que o Camilo vai me encontrar e eu preciso esperar a poeira abaixar.
Sandy me falou que aqui nesse morro tem lugares que posso trabalhar e estou vendo como faço. Despertei animada para conhecer as coisas. Tomei um banho relaxante e vesti uma camiseta curta branca e um shortinho jeans. Solto meus cabelos e olho-me no espelho.
Caminho para a sala e encontro a Sandy, ela estava sentada no sofá tomando café. Ao me ver ela diz.
— Nossa! Minha amiga é muito linda. — Diz sorrindo.
— É assim que as mulheres daqui se vestem? — Pergunto sorrindo.
— Sim, na grande maioria. — Abro um sorriso.
— Amiga, eu posso caminhar um pouco? Eu preciso respirar, vou aproveitar para comprar pão. — Abro um sorrindo.
— Vá pela sombra e cuidado. O morro tem Dono, eu volto a te avisar. — Diz e eu balanço a cabeça confirmando. Saiu da sua casa e sigo.
Enquanto caminho pelas ruas sinuosas e íngremes do morro, sinto o calor do sol tropical no meu rosto. As casas coloridas e vibrantes ao redor formam um cenário pitoresco que sempre me faz sentir em casa.
Hoje, estou a caminho da padaria local, uma pequena loja que se tornou um ponto de encontro importante para a comunidade. Ao chegar lá, sinto o cheiro delicioso do pão fresco que acabou de sair do forno. A simpática senhora por trás do balcão me cumprimenta com um sorriso caloroso enquanto escolho um pão bem quentinho.
— Bom dia minha linda jovem. — Afirma sorrindo.
— Bom dia senhorita, pode escolher. Sua amiga Sandy ama pão de leite.
— Pode colocar 5 reais. — Afirmo.
Com o pão embrulhado cuidadosamente em um saco de papel, começo a minha jornada de volta para a casa da minha amiga Sandy. Enquanto desço as escadas de pedra do morro, posso ver o oceano reluzindo ao longe. É um belo lugar, eu confesso.
Chegando à casa de Sandy, abro a porta e a encontro sentada no sofá do mesmo jeito que a deixei.
— Amiga! — Sandy se aproxima de mim.
— Oi, minha amiga.
— Não precisava se preocupar com o pão. — Ela abre um sorriso.
— É o mínimo que posso fazer, pois você me acolheu aqui. — Digo sorrindo.
— Você é como uma irmã para mim. — Fala e me abraça.
— Eu acho esse morro um lugar tão lindo, as casas coloridas, a vista. É um belo lugar. — Falo e ela confirma.
— Eu acho o mesmo, o problema desse lugar tem 1,80, os braços cobertos de tatuagem, corpo escultural e olhar penetrante.
— Ele é o chefe? — Pergunto.
— Sim, todos chamam ele de Fera. Ele é poderoso, faz parte do Trio do Terror. — Ela diz me assustando.
— Trio do Terror? — Indago.
— Sim, Fera, Capitão e Playboy. São os irmãos que comandam o CV. Fera está a frente do Vidigal, Capitão comanda a Rosinha e o Playboy comanda o Alemão. Esses três são gostosos e sarados, mas são pessoas ruins, eles não são capazes de amar a nada, nem a ninguém. — Fala me olhando.
— Eu quero distância deles três. Eu imagino o quanto devem ser m*l. — Abro um sorriso amarelo.
— Os outros dois você não vai ver muito, mas pode se bater com o Fera, por isso eu estou dizendo para andar nas sombras e ter cuidado. — Adverte.
— Não se preocupa, vou correr dele. Do jeito que você está falando, eu fico morrendo de medo. — Abro um sorriso.
— Não é exagero, aquele homem é o d***o em forma de pessoa. As mulheres do morro se rastejam os pés dele e se envolver com ele é loucura. A Denise se tornou uma drogada, repassada por muitos homens. Acho que ele tem prazer em orgia. — Diz e eu estremeço.
— Eu o quero bem longe de mim. Eu sou a garota mais inocente do mundo, não tenho nenhuma experiência e ele é o próprio demônio. — Digo sorrindo e nesse momento a campainha da casa toca. Sandy se levanta para atender e um homem de 1,75, pele escura e rosto m*l-encarado passa por ela e diz.
— Bom dia, Sandy! A Ariel está aí? — Pergunta e ao entrar olha nos meus olhos. — Ou Ariel, o chefe está chamando.
Suas palavras fizeram eu errar as batidas do meu coração. “O homem m*l quer falar comigo. Eu não vou, tenho medo, só o que faltava na minha vida.” Penso enquanto a Sandy diz.
— O que o Fera quer com a minha amiga? — Sandy questiona.
— O chefe lhe deve satisfação, Sandy? — Pergunta e ela se cala. — Levanta, Ariel. — Rosna me puxando pelo braço.
— Espera, você está me machucando. — Digo nervosa.
—Amiga, fica calma, eu vou ligar para o Sombra e ele vais e arrepender. — Sandy afirma.
— O chefe é o Fera, eu cumpro ordens e ele fico interessado na ruivinha. — Ele diz me pegando de surpresa.
— Amiga, o que eu vou fazer? Eu não vou. — Afirmo.
— Ariel, acho bom não desafiar o Fera, ele tem coragem de vir atrás de você. — Diz o homem.
— Amiga, o que ele quer comigo? — Digo nervosa.
— Não sei, vou ligar para o Sombra. — Ela afirma.
— Não precisa ligar para mim, eu estou aqui. — O homem de 1,80 aparece, ele tinha o corpo coberto de tatuagem e o cabelo platinado.
— Amor, o que ele quer com ela? — Pergunta.
— O Chefe gostou da Ariel. — Diz e eu olho para Sandy.
— Meu nome não é Ariel. — Digo abaixando a cabeça.
— O chefe te chamou assim, ele quer te ver e eu tentei impedir, mas não conseguir.
— Eu não vou. — Afirmo cruzando os braços.
— Ou ruivinha, pare com essa marra, não coloque ela com o chefe, pois ele mata por muito pouco. — Diz o homem que veio para me levar.
— Cabelinho, eu a levo. — Diz o Sombra.
— Não, eu vou levar e chega de papo. Vamos, Ariel. — Diz me puxando pelo braço.
— Me solta, eu não vou. — Digo nervosa e ele me dar uma tapa no rosto.
— Cala a p***a da boca que eu estou perdendo a paciência. — Rosna e eu toco meu rosto.
— Você me bateu. — Digo chorando.
— O sistema na favela é bruto, eu não tenho paciência e o Patrão mata. Não tente desafiar ele. — Afirma e segue me arrastando pelo morro a fora.