Aos poucos, Alexa foi se adaptando a sua nova rotina e aquele novo lugar, ela comprou os utensílios que faltavam em sua cozinha, apesar de não cozinhar, passou a frequentar a faculdade e algo que a agradou muito, foram os horários, um deles batia com o de Mark, ele chegava do trabalho no mesmo horário que Alexa chegava da faculdade, o que rendeu vários encontros, conversas bobas, cantadas da parte dela e broncas da parte dele, mas a apesar da mudança, havia coisas dentro dela, que não mudavam, não importava onde fosse. Passava da meia noite quando Alexa foi para seu quarto, tinha ficado acordada até tal hora estudando, mas já não se aguentava em pé de sono, então se atirou em sua cama e não tardou em dormir, mas pela madrugada um pesadelo perturbou seu subconsciente, o que a fez acordar em total desespero, ela era forte para matar ou bater de frente com quem fosse, ainda sim, alguns acontecimentos da sua infância lhe perturbavam o juízo. Ela seguiu para seu banheiro, na pia, jogou um pouco de água pelo rosto e se olho no espelho, onde não viu nada mais que uma criança amedrontada, que temia todas as muitas obrigações que lhe foram atribuídas e tudo que queria era ser como qualquer outra criança, brincar e ser protegida por alguém.
Tendo passado toda a madrugada em claro, ela precisava espairecer, estava se sentindo sufocada dentro daquele apartamento, então ela levantou daquela cama, seguiu para o banheiro, onde tomou um banho muito demorado, até parecia que ela estava tentando lavar de seu corpo todas as sensações ruins que seu torturante subconsciente havia lhe submetido pela noite, mas aquilo não resultou em nada. Ao fim do banho, ela se secou, colou uma camiseta e um short saia, ia sair para correr, dentro do condomínio mesmo, assim como muitas pessoas costumavam fazer ali. Alexa corria rápido pelo bosque de paralelepípedos, de longe, Mark a viu, a reconheceu pelos longos e chamativo cabelos ruivos, pelas manhãs, também corria naquele local, então decidiu se aproximar, mas ela corria cada vez mais e mais rápido, mas logo a viu parar, ela olhou para um lado, depois para o outro, baixou a cabeça e deslizou a mão pelo cabelo de forma exasperada, ele achou aquela atitude estranha, então se aproximou.
— bom dia Alexa. — ela se virou rapidamente como se estivesse assustada, mas suspirou ao ver que era ele.
— bom dia. — ela disse um tanto ofegante.
— nem pra correr você abandona seu estilo patricinha. — ele brincou enquanto olhava o short saia cor de rosa dela.
— é ...eu vou...vou voltar. — disse ela sem mais nem menos, então saiu novamente correndo, desta vez ainda mais rápido que antes, ele que já estava estranhando a atitude dela, passou a estranhar ainda mais após aquela breve conversa.
— nenhuma gracinha nem cantada, não me chamou de docinho, gatinho, lindinho, aconteceu algo. — Mark era um homem muito humano e se importava com os outros, então seguiu na mesma direção que ela.
Quando Mark saiu do elevador, notou a porta do apartamento dela entreaberta, ele se aproximou, ao abri-la, viu Alexa sentada no chão em frente o sofá abraçando os próprios joelhos, aquela situação estava ficando cada vez mais preocupante.
— Alexa...está tudo bem? — ele perguntou enquanto se aproximava dela, mas não obteve nenhuma resposta, então tudo que fez foi sentar ao lado dela e lhe abraçar, ela desatou a chorar, e se agarrou a ele, a única pessoa a quem já havia demonstrado fragilidade era Luy, na máfia demonstrar fragilidade é o mesmo que demonstrar fraqueza e esse sempre foi um ponto muito ressaltado por seu pai, mas ali, não era Guehardi, era apenas uma garota sendo atormentada por seus traumas.
— ruivinha, o que aconteceu? — ele perguntou de forma compreensiva, mas ela não o respondeu, apenas seguiu chorando, desabafando seus medos e traumas por meio de lagrimas, Mark vendo que não teria uma resposta naquele momento, seguiu a abraçando e acarinhando, no intuito de acalma-la.
O tempo foi passando, Alexa se acalmando, apesar de não conhece-lo a muito tempo, ela estava se sentindo confiante, como não se sentia no alento de mais ninguém além de Luy, ela que sempre estava atenta a tudo, na defensiva, acabou baixando a guarda e adormecendo ali, com o rosto escondido contra o peito dele. Quando Mark se deu conta de que ela dormia, a pegou no colo e levou para o quarto dela, não foi difícil encontrar, aquele apartamento era exatamente igual ao dele, apenas mudava os moveis e decoração, ele a colocou deitada na cama, a cobriu com o cobertor e por uns instantes ficou a olhando, ainda não havia conseguido entender o que tinha acontecido, era estranho para ele, estava acostumado a vê-la daquele jeito tão alegre, tão dado.
— o que será que ouve com você? — ele perguntou a si mesmo em um tom ameno para não acorda-la, em seguida saiu do quarto e retornou a sala, sua ideia era ficar ali para ampara-la caso precisasse novamente, mas a campainha tocou, ele foi ate a porta, ao abrir a mesma, viu Luy.
— e a Alexa? — ele perguntou um pouco desconfiado.
— está no quarto dormindo. — Luy conhecia Alexa, o único homem a qual ela dormia na presença era ele, ela não baixava a guarda. — outro dia ela me disse que você era irmão dela, preciso lhe contar.
— o que houve com Alexa?
— eu também não sei, o que sei é que mais cedo a encontrei desnorteada e muito estranha, então decidi passar aqui para ver como ela estava e não estava nada bem, chorava copiosamente, sequer conseguiu me dizer o que havia acontecido, aos poucos ela se acalmou e acabou dormindo, a levei para quarto agora pouco, converse com ela, talvez com você ela queira se abrir.
— claro, vou sim conversar com ela, obrigado por ter cuidado dela.
— bom, eu vou indo, preciso trabalhar. — Apos Mark ter saído, Luy foi até o quarto de Alexa, a viu dormindo quietinha, a pele branquinha do rosto, mostrava que havia chorado, mas naquele instante, seu semblante era calmo, então ele optou por não acorda-la, até por que já imaginava o que havia acontecido.