capitulo 4

3905 Words
Samantha estava entrando em casa quando a Sra. Tarai veio da cozinha, enxugando as mãos no avental. Seu sorriso era de expectativa. — Então, minha querida? Como foi o jantar? — A curiosidade dela já era de se esperar e, um pouco embaraçada pela própria ansiedade, acrescentou: — Acabei de fazer chocolate quente. Aceita uma xícara? A princípio, Samantha quis recusar, mas pensou melhor e mudou de idéia. Sabia que não conseguiria dormir no estado emocional que estava. Uma xícara de chocolate e uma conversa com aquela senhora simpática poderiam acalmar seu coração agitado e ajudar seu corpo tenso a relaxar. Sentaram na cozinha e a conversa girou em torno do jantar na Casa Grande. Samantha contou o que achou mais conveniente, e logo a Sra. Tarai começou a fazer comentários e perguntas que a surpreenderam. A viúva parecia saber mais sobre a casa e seus ocupantes, tanto sobre o passado como do presente, do que se poderia esperar de um simples habitante da ilha. Quando Samantha revelou que tinha ouvido história da ilha, a Sra. Tarai se entusiasmou e começou a contar fatos sobre Daniel Girard, o pai de Chris. — Daniel casou cedo, e enviuvou logo depois. Adorava a esposa e foi um choque quando ela morreu no parto. — A Sra. Tarai ouviu o murmúrio de piedade de Samantha e observou: — É o menino que merece nossa simpatia e não o pai. Daniel perdeu a esposa, mas o garoto ficou órfão de mãe e pai ao mesmo tempo. — Como assim, Sra. Tarai? A viúva fez uma breve pausa, antes de continuar com a voz embargada por lembranças dolorosas: — Chris não passou fome, nem se pode dizer que foi maltratado, mas sofreu muito. Apesar de ter sempre tudo o que o dinheiro pudesse comprar, não tinha amor, pelo menos não do pai. Foi praticamente criado por empregados e mandado para fora da ilha na primeira oportunidade que o pai teve. — Para onde? — Daniel deixou o filho em Halekai por dois anos, sob os cuidados de um tutor e o menino só voltava para casa nos fins de semana. Quando Chris tinha sete anos, foi mandado para um internato nos Estados Unidos. Pode imaginar uma barbaridade dessas! Não era a mesma coisa que ir para uma das ilhas vizinhas. A América ficava a milhares de quilômetros de casa, mas o menino foi e só voltava nas férias de verão. Samantha tremeu só de pensar num menino apavorado fazendo sozinho a mesma viagem que achara tão deprimente. Seu interesse estimulava a Sra. Tarai a continuar: — Bem, quando Chris terminou a faculdade, Daniel não tinha mais desculpas para manter o filho longe de casa. Então, Chris voltou depois de dez anos, aparentemente com a intenção de trabalhar nas plantações. E foi aí que os problemas realmente começaram. — Problemas? — Sim. Chris e o pai não se davam bem e não era só por causa dos anos de separação. O grande problema era a diferença de opinião. Daniel Girard nunca deu muita importância para a ilha e seus habitantes, embora ninguém pudesse dizer que não cumpria suas obrigações. — Provavelmente, como achava que tinha feito com o filho. — Exatamente, Samantha. Tudo piorou depois que a Sra. Girard morreu e, quando Chris voltou, viu os resultados da negligência do pai. Ele tentou fazer alguma coisa, e como tentou! Mas quanto mais interferia, mais irritava o pai. A Sra. Tarai mexia o chocolate distraidamente, como se estivesse pensando na melhor maneira de dizer o que tinha em mente. Finalmente, continuou com a voz baixa e distante, como se estivesse viajando no tempo: — Brigavam muito e, um dia, Daniel passou toda a responsabilidade dos negócios, desde a administração das plantações até as melhorias na aldeia, para um homem chamado Pete Thompson. — E Chris? — Pelo pouco que o conhecia, Samantha sabia que não era do tipo que desistia facilmente. — Oh, era um rapaz muito inteligente. Sabia que se fosse contra as decisões do pai não chegaria a nada. Provavelmente só conseguiria piorar a situação para os moradores da ilha. Então, fingiu ceder e voltou para os Estados Unidos, dizendo que lavava as mãos. Tudo da boca para fora! Um sorriso de admiração se esboçou nos lábios da viúva, provocando mais rugas no rosto cansado. Ordenou as idéias e continuou: — Como era de esperar, Daniel ficou muito satisfeito em mandar o filho para longe outra vez, tendo apenas que pagar uma mesada generosa. Parte desse dinheiro, Chris gastava consigo mesmo. Voltou a estudar e fez cursos de agricultura, administração, publicidade, eletrônica... enfim, tudo que pudesse ser útil quando chegasse o dia de assumir o lugar do pai. E viajou muito, trabalhando em algumas plantações para aprender as técnicas mais modernas e eficazes. — E a outra parte do dinheiro?— Samantha queria apenas confirmar suas suspeitas e foi o que aconteceu. — A maior parte da mesada voltava para a ilha. Ele tinha deixado informantes aqui, que usavam o dinheiro para fazer melhorias na ilha. Consertavam telhados com goteiras, compravam sapatos para os que precisavam, arrumavam “doações” para a escola e “bolsas de estudos” para que alguns jovens pudessem fazer o colegial em Halekai. — O reverendo Ilima era um dos informantes? — Pode ter sido. Ninguém sabe ao certo por que não se toca nesse assunto. Samantha entendia por que Chris relutava em ser tratado como um herói e admirava sua modéstia, mas percebeu a expressão sombria da Sra. Tarai, revelando preocupação. — Agora Chris está no controle e todos esses problemas acabaram. A Sra. Tarai desviou o olhar de Samantha e sua resposta foi evasiva: — Chris assumiu a administração da ilha quando o pai morreu, há mais ou menos um ano. — E o homem que foi contratado? Como era mesmo o nome... Pete...? A Sra. Tarai levantou da mesa e levou a xícara até a pia. Estava de costas quando respondeu, com a voz aparentemente indiferente: — Pete Thompson está trabalhando em Halekai agora. Embora tivesse muitas outras perguntas, Samantha sentiu que não conseguiria tirar mais nenhuma informação da viúva naquela noite. Lavou a própria xícara e foi para o quarto. Apesar de estar cansada, custou a pegar no sono pela excitação daquela dia.     Mesmo com a ajuda dos empregados de Chris e a surpreendente colaboração de Felicity, levaram a manhã toda e parte da tarde para desempacotar os remédios e equipamentos médicos e arrumar o consultório. Chris apareceu uma vez para verificar o andamento dos trabalhos. Viu o grupo trabalhando em ritmo acelerado por entre caixas espalhadas por todo canto e colocou as mãos na cabeça, fingindo desespero. — Desisto! Isso está fora do meu alcance. Samantha riu e agradeceu a garrafa de vinho que Chris trouxe de presente, imaginando que muito pouco estava realmente fora do alcance daquele homem. Eram quase quatro horas quando os frascos de remédios estavam todos nas prateleiras, os equipamentos médicos em ordem e os arquivos prontos para receber as fichas dos pacientes. Parte do andar de baixo e todo o andar de cima reservados para sua moradia também estavam praticamente prontos. Chris tinha pensado em tudo, desde o suprimento de louças e panelas até de comida. Samantha aproveitou a presença dos empregados para modificar a disposição de alguns móveis e Felicity ajudou a desfazer as malas. Enfim, estava instalada em seu novo lar, e a clínica poderia começar a funcionar no dia seguinte. — Agora, mereço um descanso. Afinal, esta é praticamente a última tarde livre que terei daqui para frente. É isso mesmo, vou nadar. Antes de se trocar, deu outra olhada no quarto. Como o resto da casa, foi decorado com extremo bom gosto e reconhecia o toque de Chris na escolha de alguns objetos, como uma tapeçaria oriental e uma escrivaninha esculpida em carvalho. O que o consultório tinha de praticidade, o quarto tinha de aconchego. Christopher Girard era certamente um homem de muita percepção e parecia ter adivinhado que ela desejaria escapar para um ambiente bem feminino quando tirasse o uniforme branco que a identificava como a Dra. Hall para ser simplesmente Samantha. As cortinas, de um tecido florido e delicado, combinavam com a colcha. A cama de casal, a cômoda e o guarda-roupa eram brancos, enquanto as paredes e o carpete eram verdes. O efeito final, muito relaxante, contrastava com a vivacidade da decoração da sala, no andar de baixo. A sala ficava perto da cozinha, e os tons alegres usados nos estofados e cortinas transmitiam vivacidade. O espaço era preenchido por um sofá, poltronas e uma pequena mesa de jantar num canto. A harmonia entre as cores vivas e os desenhos tropicais criavam um ambiente singular e muito charmoso. Novamente, Samantha sentiu o bom gosto de Chris assim como o poder de seu dinheiro em tudo que via. Seu toque parecia presente em todos os aspectos de sua vida. Era uma idéia assustadora, porém excitante. Antes de sair, Samantha lembrou de deixar um bilhete pregado na porta da clínica, dizendo onde se encontrava. Apesar de não ter começado a trabalhar ainda, ficaria mais tranqüila sabendo que a achariam em caso de emergência. Em poucos minutos, achava-se na enseada, no fim da estrada. Deixou a saída de praia e a toalha na areia para dar um mergulho. Cansada de tanto brincar na água, relaxou o corpo e ficou flutuando de costas. De onde estava, podia ver o topo da montanha do Sol, o vulcão da ilha. Era considerado extinto por peritos no assunto, mas a visão da lava endurecida pelo tempo descendo pelas bordas era assustadora. Enquanto boiava ao sabor das ondas, pensava na conversa com a Sra. Tarai na noite passada. Não era difícil entender como foi a vida para Chris. Assim como Samantha, tinha perdido a mãe muito cedo e era como se fosse órfão de pai. Os dois tinham mergulhado nos estudos para suportar o sofrimento, mas as semelhanças terminavam aí. Chris tinha decidido estudar em represália ao pai, enquanto que Samantha se dedicara à medicina para agradar o seu e tomar o lugar do filho que ele tanto queria. O que dissera a Chris sobre ter poucos amigos era verdade. Entrara na escola mais cedo que a maioria das crianças, e sempre fora muito retraída. Quando terminou o colegial tinha apenas dezesseis anos, mas se deu muito bem com os colegas mais velhos da faculdade e fez novas amizades. Estava no último ano quando seu pai morreu, frustrando seus planos. Tudo que mais queria na vida, o objetivo de tanta dedicação aos estudos, era poder trabalhar com o pai, ajudar e aprender para um dia tomar o seu lugar. Sabia que tinha merecido o respeito dele, mas sentia falta de seu amor. Com a morte do pai, Samantha se viu sem perspectiva e não foi fácil começar a procurar um novo ideal, que desse significado para sua vida. Em momento algum pensou em abandonar a medicina; o que procurava era a melhor maneira de aplicar seus conhecimentos. Finalmente, a busca terminou quando ouviu a palestra de um missionário sobre a necessidade de médicos nas ilhas do Pacífico. A idéia despertou seu espírito de aventura e parecia ser a solução para a inquietação de encontrar sentido para sua vida. Fez cursos de especialização para esse fim, e pós-graduação em doenças tropicais. Depois da fase de preparação, escreveu seu currículo e reuniu referências para se candidatar aos empregos. Recebeu várias propostas e algumas recusas por ter apenas vinte e seis anos. Achavam que era jovem demais para assumir a responsabilidade de clinicar em ilhas isoladas, sob condições precárias. Dentre as propostas, uma era de Boa Providência e, depois de muitas consultas e noites em claro pensando nos prós e contras, assinou um contrato de um ano de experiência nessa distante ilha micronésia. Cortou seu pensamentos e saiu da água. Estendeu a toalha na sombra e deitou. Mesmo agora que estava ali, tudo ainda parecia irreal Na verdade, estava com um pouco de medo da responsabilidade que tinha assumido. Era um trabalho muito importante e sabia que seria mais útil naquela ilha do que trabalhando num hospital ou mesmo numa cidade do interior dos Estados Unidos. Os habitantes de Boa Providência precisavam dela mais do que ninguém. A vida naquela ilha era intrigante. Fechou os olhos e visualizou as montanhas e vales cobertos de canaviais e pastos. Algumas casas pontilhavam as colinas e, dentre todas, uma se destacava por sua grandiosidade: a mansão da família Girard. Tentou imaginar aquele casarão todo branco refletindo a luz ofuscante do sol e os jardins espalhados pela propriedade. O perfume das flores que impregnava o ar da noite era tão forte que ainda estava em suas narinas. Uma coisa a intrigava mais do que a casa: o proprietário. Deitou de bruços, colocando a cabeça sobre os braços cruzados, enquanto as lembranças da noite passada voltavam à sua mente. O calor provocado pelo sol não era nada, comparado ao que sentira nos braços daquele homem. Não sabia explicar o que acontecera nem queria ter a ilusão de que Chris sentia a mesma atração e interesse despertados nela. Tudo estava acontecendo muito rápido. Tinha namorado alguns rapazes nos tempos da faculdade, mas nunca ficara tão perturbada e envolvida por nenhum deles. Deitada sozinha naquela praia, e mesmo depois de tanto tempo ainda podia sentir a fragrância máscula da loção de Chris... De repente, teve a estranha sensação de que não estava mais sozinha. Assustada, abriu os olhos e o coração começou a palpitar. — Chris... — Olá! Desculpe se estou atrapalhando seu descanso. — Ora, imagine! Samantha sentou-se, terrivelmente embaraçada por estar de biquíni. Chris também estava só de calção, deixando as coxas e o peito bronzeado à mostra. Samantha não conseguia tirar os olhos daquela figura viril. Logo se arrependeu daquela falta de autocontrole, pois Chris certamente tinha percebido sua reação. Felizmente não fez nenhum comentário e, em vez disso, percorreu o olhar pelo corpo dela, sem nem ao menos tentar disfarçar a admiração. Samantha dominou o desejo de se envolver na toalha e suportou a observação daqueles olhos negros em silêncio, embora sentisse a pele queimar, como se estivesse sendo acariciada por aquelas mãos fortes. — Vamos dar um mergulho? — A voz de Chris era indiferente. Samantha sacudiu a cabeça, incapaz de falar. Chris largou a toalha na areia e foi para a água, andando com a segurança de alguém que não tem vergonha de exibir o próprio corpo. Na beira da água, Chris virou-se inesperadamente e deu um sorriso cheio de malícia quando viu que estava sendo observado. Irritada por ter sido novamente apanhada em flagrante e mais ainda pela satisfação que ele demonstrava por isso, Samantha deitou de bruços, determinada a ignorar aquele homem. Mas foi inútil, cada nervo de seu corpo estava alerta. Chris voltou logo e deitou na toalha, e estava tão perto dela que suas pernas se tocaram. Esse contato casual provocou um arrepio de excitação em Samantha. — Suas costas vão queimar, se não passar nada. Onde está o bronzeador? Sem esperar resposta, Chris inclinou-se sobre Samantha e pegou a sacola dela sem a menor cerimônia. Ela m*l conseguia respirar só de pensar no que estava para acontecer e fez um esforço para esconder seu nervosismo. Enquanto Chris abria o frasco do bronzeador, Samantha tentou falar para disfarçar a tensão: — Como você me encontrou aqui? — Seu senso de obrigação a delatou. — Você leu o bilhete que deixei afixado na porta do consultório? — Exatamente. Você disse que estaria aqui “em caso de emergência”, mas não resisti e vim perturbar seu sossego. Samantha estava tão perturbada que não conseguia pensar em nada para dizer. Já sentia as mãos de Chris em seus ombros, aplicando a loção em movimentos circulares e suaves. Aos poucos, as mãos foram descendo e desamarraram a tira do biquíni. Quando Samantha ameaçou levantar para protestar, ele a tranqüilizou: — Só desamarrei porque estava atrapalhando. Depois, amarro de novo para você. Apesar de não ter gostado da ousadia, Samantha, aceitou a explicação e logo a massagem relaxante daquelas mãos em seu corpo submisso começou a fazer efeito. Sua respiração ficou mais lenta e a tensão dos músculos dos ombros e dos braços foi desaparecendo. Com a ponta dos dedos, Chris massageava a espinha desde a altura da nuca até a cintura, pressionando com delicadeza. Mas nem bem Samantha começou a se sentir segura e completamente relaxada, as mãos dele começaram a descer. — Suas pernas também estão no sol — ele explicou, enquanto a mão deslizava pela coxa até a região sensível da dobra do joelho, chegando ao calcanhar. A pressão suave daquela mão despertou uma onda de prazer no corpo de Samantha e, quando ele terminou, estava inacreditavelmente relaxada e meio sonolenta. Levantou a cabeça e virou-a um pouco para agradecer, mas ficou alarmada com a expressão no rosto de Chris. Seu olhar era profundo e os lábios estavam comprimidos. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Chris aproximou o rosto, fazendo-a sentir sua respiração quente e irregular. Samantha ficou hipnotizada, incapaz de se mexer ou pensar com clareza. Só estava consciente da mão em suas costas, aproximando seu corpo ao dele. Foi só então que lembrou do biquíni solto, mas era tarde demais. Seus s***s estavam descobertos e tentou em vão cobrir a nudez com um dos braços enquanto empurrava Chris com o outro. — O que está fazendo? Chris não respondeu e silenciou seus protestos com um beijo ardente e possessivo. Samantha ainda tentou lutar e resistir à provocação daqueles lábios insistentes. 46 Enquanto tentava lutar, uma nova sensação começou a nascer do contato com aquele peito nu. Os pêlos que cobriam os músculos roçavam nos b***s dos s***s, excitando-a mesmo contra a vontade. Seu corpo enviava mensagens traiçoeiras, muito diferentes daquelas transmitidas pela voz da razão. A avidez dos lábios de Chris despertaram um desejo que Samantha nunca tinha conhecido e deixou-se envolver naquele abraço. A mão que o empurrava há um minuto, agora acariciava as costas dele. Chris murmurou de prazer quando sentiu que Samantha correspondia e deslizou os lábios pelo pescoço delicado, dizendo palavras ininteligíveis. Sua barba por fazer machucava a pele sensível de Samantha quando recapturou os lábios dela. O beijo transbordava de sensualidade e Samantha correspondeu com toda paixão. Surpresa com a própria reação, deixou-se abandonar naquele abraço cada vez mais apertado, mergulhando num mar de doces emoções. As mãos de Chris continuavam sua exploração e partiram das costas até encontrar o seio de Samantha, fazendo-a suspirar de prazer com aquelas carícias extasiantes. — Quero você, Samantha... — Chris sussurrou ao ouvido dela. Embora sua voz fosse sensual e rouca, aquela súbita intromissão de palavras quebrou o encanto do desejo que os envolvia e Samantha se afastou bruscamente. — Não... Isso não é certo! Chris levantou, com os olhos arregalados e o corpo trêmulo pelo prazer que agora lhe era negado. — O que quer dizer com isso? Samantha não encontrou palavras para responder e afastou-se ainda mais dele. Vestiu a saída de praia, sem se preocupar em amarrar o biquíni. Controlando as emoções, reuniu coragem para falar: — Não estou pronta para isso. — É o que você diz agora, mas sua boca... seus braços... o calor do seu corpo diziam outra coisa, bem diferente, apenas um minuto atrás — Chris falou com delicadeza, e estendeu o braço para acariciar-lhe o rosto. — Não adianta negar, Samantha. Você queria isto tanto quanto eu. Chris estava certo. Não adiantava negar a inesperada onda de sensualidade que a inundara há poucos instantes. — Eu... me deixei levar, mas... — Mas pensou melhor e decidiu que não era certo. — O tom de voz de Chris tornou-se ríspido. — Você é médica e deve saber que o desejo é um sentimento absolutamente normal. Existe alguma coisa entre nós, Samantha. Deve estar sentindo também. Por que, então, negar esse prazer? Samantha desviou o olhar, sem saber o que responder. Não podia falar de seus sonhos ocultos. Era verdade que sentia desejo, mas queria também amor e romance. Não aceitaria apenas uma satisfação física momentânea, algumas horas de prazer numa tarde ensolarada. Embora risse de seus próprios sonhos, ainda tinha a esperança de ser carregada para dentro de casa por um homem, que a abraçaria com força, enquanto sussurrasse palavras de amor ao seu ouvido. Depois de um longo silêncio, Samantha conseguiu falar. Tentou aparentar calma, embora as palavras tivessem que ser arrancadas do peito: — Você tem razão; é normal sentir desejo, mas isso não quer dizer que... estou pronta para... — Para ir para cama comigo? — É... qualquer coisa assim... — Meu Deus, Samantha. Não somos mais crianças e você não pode brincar assim comigo. — Desculpe, não pretendia fazer isso. — Talvez sim... talvez não. O cinismo que marcava a voz de Chris era insuportável e Samantha ficou de pé, enfrentando-o com determinação. — É a verdade, Chris. Eu... isso nunca aconteceu comigo. Não sabia o que estava fazendo. Chris deu uma risada descrente. — Espera realmente que acredite nisso? Samantha ficou indignada e encarou aquele olhar inflexível até não poder mais e virou para o outro lado. — Acredite se quiser. Sem dizer mais nada ou ao menos olhar de novo para Chris, pegou a toalha e a sacola. Não podia negar que desejava aquele homem e sabia que o desejo era recíproco, mas era óbvio que, sendo um homem experiente, ele achasse natural ter ligações temporárias. Uma tarde de amor numa praia deserta, um fim de semana em algum hotel e estaria tudo acabado. Para Samantha tinha que ser diferente. Independentemente do que Chris pensasse, nunca tinha se entregado a um homem. Não lhe faltaram oportunidades e ficara tentada algumas vezes, mas nunca havia sido tão forte quanto desta vez. Sabia que por pouco teria cedido aos impulsos. Se Chris não tivesse falado, naquele momento, teria se perdido numa atmosfera sensual de desejo e prazer. Quando caísse em si, provavelmente seria tarde demais para arrependimentos. Felizmente, as palavras de Chris a acordaram do devaneio, pois não eram de amor ou de ternura; eram palavras que exprimiam apenas o desejo de uma união física. Isso poderia ser suficiente para ele, mas não para ela. A voz ríspida de Christopher interrompeu o rumo de seus pensamentos. — Tome, não esqueça isto. — Ele se referia ao bronzeador. — Pode ser útil da próxima vez que for tomar sol. A ironia dessas palavras era evidente. Na certa, Chris continuava a achar que Samantha estava se fazendo de ingênua, o que o deixava furioso. Até certo ponto, sua frustração era compreensível, mas tinha que aceitar a verdade. Samantha nem procurou convencê-lo de nada agora. Chris se controlava a muito custo e aquela não era a melhor hora para discutirem o assunto. Suspirando, colocou o bronzeador na sacola e foi para o carro. Chris ficou parado na praia, com os punhos cerrados, seguindo-a com um olhar fulminante. Samantha não tinha certeza sobre seus sentimentos em relação a Christopher Girard. Sentia-se confusa. Achava que era um homem intrigante e muito atraente, sem dúvida nenhuma. Mas tinha a estranha impressão de que guardava um rancor reprimido. Não sabia explicar o que era, apenas intuía algo de estranho no ar. Embora não soubesse exatamente que tipo de relacionamento poderiam manter, tinha a absoluta certeza de que não suportaria viver naquela ilha como inimiga de Christopher Girard.      
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