Eduardo não entendeu aquela saída repentina e tão abrupta do carro, mas não perdeu muito tempo tentando compreender. Queria resolver aquela questão logo para poder liberar o garoto e seguir a vida normalmente.
Os dois foram para a BW na segunda-feira, cumprimentaram-se, ouviram piadinhas sobre o namoro e Eduardo disse que quando pudesse explicaria. Rafael, para fazer graça, disse que era um pretexto para tirar uma casquinha de Kauan, mesmo sabendo que aquele não era de fato o motivo.
A repercussão na rede social tinha sido ótima, mas não o suficiente para receber uma mensagem da fonte. Eduardo começava a achar que precisaria aparecer de forma mais clara, chamando atenção mesmo. Então começou a aceitar tudo o que era convite. Para festa, roda de conversa, entrevista em rádio. Quase tudo o que dava para encaixar em uma semana. Queria desfilar com Kauan pela cidade para ver se acalmava o ânimo do namorado i****a da sua fonte. Sem saber que o coitado do Rodrigo não tinha sido o responsável pela decisão de Andrei.
— Kauan, pra tentar te liberar rápido de mim, aceitei um monte de convite pra essa semana. Queria que você fosse a todos comigo, se puder.
— Terça e quinta não posso à noite, por causa da faculdade. Nos outros dias estou livre. — ele disse, sério.
— Tá ótimo... tá tudo bem?
— Tá, sim. — falou e voltou os olhos ao computador. Eduardo foi para a sua mesa tentar desmarcar a entrevista da quinta. E cada um ficou na sua mesa trabalhando, sem trocar uma palavra, um olhar ou um sorriso.
Na terça-feira daquela semana, Eduardo chegou à sede da BW no fim da tarde. Tinha ido resolver umas coisas pessoais de manhã e depois terminou um artigo para o jornal. Só restavam o Lucas e o Kauan na redação e logo o estagiário avisou que iria embora, porque tinha aula.
— Eu te levo. — ofereceu Eduardo.
— Não precisa.
— Eu faço questão. — Eduardo falou sorrindo e Kauan amoleceu.
— Tá bom.
Eduardo tentou puxar assunto no caminho, mas Kauan não estava muito receptivo. Ainda sofria por causa das revelações de sábado e sentia até um pouco de raiva do editor.
— Amanhã tem uma entrevista numa rádio. Você pode ir? — Eduardo perguntou.
— Posso. Que horas vai ser? — ele questionou.
— Vai ser às sete da noite.
— Tá bom.
— Eu te pego na sede da BW, pode ser? Porque não irei à redação amanhã.
— Tudo bem.
— Então lá pelas dezessete eu te pego, se você quiser eu te levo à minha casa que é perto da rádio pra você tomar um banho e se trocar. Caso prefira.
— Pode ser. — falou, animando-se um pouco, porque conheceria a casa dele.
Combinaram às quatro e meia da tarde na BW e pontualmente Eduardo chegou, para levar o estagiário à sua casa para que tomasse banho e de lá iriam à emissora de rádio. Chegando à casa do jornalista, um apartamento num prédio antigo da região central, com dois amplos quartos, um feito de escritório e o outro, uma suíte, era quarto onde Eduardo dormia. Era bonito, clean, sem muitos apetrechos. Tinha muitos livros na sala e no escritório, uma grande TV e dois sofás, com uma mesma no centro, sem nada em cima. Num canto havia um enorme arranhador de gato e no outro canto vazio uma cama, também de gato.
Eduardo o levou até o quarto dele, onde o banheiro era mais bem equipado. O banheiro social era mais apertado. Já tinha deixado toalha para ele lá e saiu para que ele se sentisse confortável. Kauan observava tudo com admiração, como se adentrasse num templo sagrado. Tomou banho e se trocou no banheiro. Saíram assim que o jovem terminou de se trocar e foram à emissora.
— Kauan, se por acaso eu precisar te dar um beijo no rosto, ou um selinho, você se incomodaria, eu sei que já pedia coisa demais e você...
— Não. Eu não me incomodaria. — falou com firmeza.
— Tá bom... porque eu fico sem graça de... sei lá.... de tocar em você, porque acho que você já tá fazendo demais por mim. — ele explicava, sem jeito.
— Eu aceitei ser seu namorado, imaginei que isso pudesse acontecer e eu não me importo nem um pouco em te beijar... nem um pouco mesmo. — Kauan falou, fazendo com que Eduardo se sentisse estranhamente melhor.
Já no estacionamento da emissora, ainda dentro do carro, Kauan sugeriu que eles treinassem o que fariam.
— Quer treinar antes? — perguntou, ousado, ao jornalista.
— Treinar o quê?
— O beijo. No rosto... ou um selinho. — disse em pudor.
— Você acha que precisa? —perguntou, temeroso.
— Você disse que fica inseguro, então se quiser tentar aqui primeiro... pra não parecer estranho lá em cima, já que a gente não tem i********e. —Kauan dizia, e fazia todo o sentido.
— Tudo bem. — concordou Eduardo, ainda sem jeito. E como a gente faz? — ele riu de nervoso.
— Me dá um beijo no rosto, oras... — Kauan sorriu, virando o rosto. E Eduardo se aproximou e o beijou, fazendo com que o jovem achasse aquilo deliciosamente sexy. Tentou afastar isso da cabeça para que não ficasse visivelmente e******o.
Em seguida, Eduardo segurou com delicadeza o rosto de Kauan, surpreendendo o jovem que já arfava, e beijou sua boca de leve. Eles se olharam em silêncio, sorriram, e Eduardo fez novamente, deu mais um beijo curto na boca de Kauan, que fechou os olhos dessa vez, sentindo os lábios quentes do jornalista. Depois foi Kauan que se inclinou um pouquinho para a frente a fim de alcançar os lábios já distantes de Eduardo, fazendo-o sorrir daquela imagem graciosa que se descortinava aos seus olhos. Ambos sorriram, sentindo-se um pouco mais à vontade para se tocar.
— Deve estar bom... você não acha? — perguntou Eduardo.
— Acho que sim. — concordou Kauan, quase sem ar e deliciado por aqueles beijos bobos.
Entraram de mãos dadas no elevador e foram direto ao estúdio da rádio. Lá, foram feitas as devidas apresentações e, mais uma vez, Kauan observou de longe. Tinha sido uma entrevista mais curta e realmente rádio era mais gostoso de fazer, Kauan compreendeu o que o seu falso namorado quis dizer.
Os quatro apresentadores do jornal foram se apresentar e conhecer o namorado do jornalista e seu nome foi falado pela primeira vez em rede nacional.
— Então, aquela fofura que veio com você é o seu namorado? Soube que vocês são inseparáveis. — quis saber a única mulher do grupo.
— Somos quase inseparáveis... e ele é meu namorado, sim.
— E como ele se chama? — perguntou ela.
— Ele se chama Kauan. — ele falou, olhando para o garoto de longe, que enrubesceu de alegria.
— Você e o Kauan formam um lindo casal, Eduardo. E já têm até fã clube no Twitter. — brincou.
— Obrigado... e não temos fã clube, não. — ele falou, simpático. — O pessoal que gostou de uma foto com o Kauan que postei só. Mas eu entendo, porque ele é muito lindo mesmo, além de ser um ótimo jornalista.
— Oun, que fofo, gente! Vocês precisam ver a carinha de apaixonado do Kauan. — ela dizia, ao vivo. E depois voltaram a falar sobre política até que a entrevista acabou.
Apenas Eduardo saiu do estúdio, já que o programa continuaria após a entrevista. Despediu-se de todos, agradeceu e foi buscar Kauan que o assistia atrás de um vidro. Foi surpreendido por um selinho inesperado de Eduardo, quando chegou.
— Vamos, namorado? — ele perguntou, segurando-o pela cintura, após seus lábios terem se tocado.
— Aham. — Kauan não conseguia falar direito, ao sentir a mão de Eduardo naquela região do seu corpo pela primeira vez. Aquilo parecia tão verdadeiramente íntimo. Ele sabia que era de mentira, mas sentia como se fosse mesmo namorado daquele homem. E agarrado à sua mão eles desceram ao subsolo para pegar o carro. Kauan queria beijá-lo de novo, queria desesperadamente sentir seus lábios mais uma vez aquela noite, mas não tinha mais pretexto algum para isso.
— Você foi muito bem de novo. — falou enquanto iam embora.
— Obrigado.
— Tá vendo? Isso tem me servido como estágio também, porque tô aprendendo um monte de coisas sobre os bastidores. É bem legal. — Kauan dizia.
— Que bom! Se você quiser eu posso documentar esse tempo que você tem ido pra lá e pra cá comigo como horas de estágio também, pra você apresentar na faculdade.
— Que boa ideia... eu quero, sim.
— Então, quando nosso namoro terminar, a gente conta esse tempo direitinho, que passamos em emissoras de rádio e TV, você redige o documento e eu assino.
— Combinado. — disse, menos entusiasmado, pois tinha sido lembrado que logo aquilo teria fim.
Eduardo deixou Kauan na porta de casa e, surpreendentemente, deu-lhe um selinho antes que saísse do carro, fazendo com o garoto entrasse em casa deliciosamente a flutuar. A intenção de Eduardo era mais a de querer se acostumar fisicamente com ele do que dar mesmo o beijo. No entanto, não poderia afirmar que sentir os lábios dele era desagradável, porque não era.
Ele só foram se ver novamente na quinta-feira, quando Adriana entregou convites de uma festa a Eduardo, dizendo que talvez fosse um bom lugar para ir com Kauan, já que precisava mostrar a relação. Tratava-se um evento filantrópico, promovido por empresários ricos e pretensamente engajados para arrecadar verba para instituições que promovem a liberdade de imprensa em países onde a imprensa é perseguida pelo Estado. Era um evento controverso, que Eduardo não sabia bem a real intenção. Em uma situação normal, ele não iria, mas como estariam presentes muitos profissionais de jornalismo e algumas pessoas famosas que diziam se importar com a liberdade de informação, ele foi mostrar seu relacionamento ao mundo, embora já estivesse cansando daquele jogo.
Era um evento inédito no país e a BW tinha recebido três convites. Como ninguém queria ir, Adriana sugeriu que o amigo fosse com o estagiário. Eduardo concordou que seria uma boa oportunidade, mas o evento era no dia seguinte e Kauan, claro, não tinha roupa adequada, uma vez que se tratava de um evento que exigia traje formal.
— Eu não tenho roupa pra ir nisso, gente... Acho melhor não. — falou.
— A gente compra, oras. Você vai com ele, Dri? — Eduardo pediu.
— Claro. Se você der o dinheiro... — ela riu.
— Claro, né? Leva meu cartão.
— Gente, acho melhor... — Kauan tentou dizer.
— Você não quer ir? É isso? — Eduardo perguntou com jeito.
— Não é isso... é que eu não quero que você tenha que me comprar uma roupa pra mim.
— Que bobagem, Kauan. Você está me fazendo um favor que precisa de um traje específico... nada mais lógico que eu compre. Não se preocupe com isso... Não vai te atrapalhar, né, Dri? — perguntou, dirigindo-se a ela.
— Não. Rapidinho a gente compra... Vamo lá, Kauan? Vai ficar um gato de terno. — ela piscou para Eduardo, que sorria e já tinha anotado a senha num papel e a entregado juntamente com o cartão.
— Compra o que ele quiser. — Eduardo falou baixinho.
Os dois saíram no carro dela e o Editor ficou na redação, terminando um artigo. Não quis levá-lo para que ele não se sentisse constrangido, por isso pediu para a amiga. Depois de duas horas e meia eles retornaram com uma roupa de grife já ajustada e um par de sapatos sociais, porque Kauan também não tinha um adequado. Eduardo o levou para a faculdade e foi buscá-lo, para que ele não precisasse levar a roupa no ônibus. Era preciso toda uma logística complexa para que Eduardo conseguisse a fonte de volta. Era trabalhoso, mas ele estava se empenhando. Estava cansado,
Mas ainda tentava.
— Eu vou ficar m*l acostumado assim. — disse Kauan, ao entrar no carro, depois da aula. Eduardo sorriu e não disse nada. — Pobre tá acostumado a levar coisas no ônibus, sabia? Não precisava ter se preocupado.
— Precisava, sim...
— Você poderia ter chamado um uber pra mim, então. Assim não teria que sair da sua casa, vir até aqui, depois me levar em casa, depois voltar pra sua, coitado...
— Você não queria que eu viesse? — Eduardo perguntou, sério, deixando por um curto período de tempo de olhar para a frente e olhando, então para Kauan. Viu-o mexer nos cabelos claros, levemente bagunçados, levando uma pequena mexa para trás da orelha.
— Não... não é isso...
— Você preferia o uber, né? — Eduardo brincou, sorrindo de leve. — Enjoou da minha cara.
— Não. Eu preferia você. — Kauan foi assertivo.
— Que bom... então eu fiz certo. E que tipo de namorado eu seria se não pudesse te buscar na faculdade de vez em quando? — continuou a brincar.
— Seria péssimo mesmo. — disse o jovem, entrando no jogo.
— Então amanhã eu passo aqui às sete, tá bom? Não vou pra redação, então a gente só vai se ver à noite... qualquer coisa você me avisa, se houver algum imprevisto que te impeça de ir, ou caso você mude de ideia...
— Não vou mudar de ideia. — eles se olharam, sorriram e Kauan desceu do carro com as sacolas e sem selinho.
Antes de dormir, Eduardo olhou a rede social, pesquisou seu nome no google junto com a palavra "namorado", para ver se já saía alguma coisa. Encontrou pouquíssimas referências. Já estava quase perdendo as esperanças e foi dormir desalentado pela situação surreal na qual se encontrava.
Chegou pontualmente naquela sexta-feira e Kauan saiu de pronto. Não sem antes ser fotografado pela mãe, que estava emocionada de ver o filho tão bem arrumado. Porque se tem coisas que mães adoram é ver filhos de terno e se empaturrando da comida delas. Ficam satisfeitíssimas. Ela saiu até o limiar da porta e acenou para o filho, arrancando um sorriso de Eduardo, que apreciava a cena singela.
— Oi. — falou Kauan ao entrar no carro.
— Oi...— Eduardo deu um sorriso longos fazendo brilhar seus olhos escuros. — Você está lindo.
— Obrigado. — agradeceu tímido, sentindo-se esquentar. — Você também fica ótimo assim.
— Obrigado. — falou, simpático, e saiu com o carro. — Mas eu não gosto muito, não...
Conversaram pouco e levaram bastante tempo para chegar ao local, devido ao trânsito horrível do horário de pico de sexta-feira. E quando Kauan viu o bairro e a faxada do lugar, sentiu um frio na barriga no mesmo instante. Não daqueles gostosinhos que sentia com Eduardo, mas um realmente incômodo. Era o medo mostrando as garras. Teve vontade de pedir para não entrarem, mas pensou que teria que enfrentar a insegurança.
Deixaram o carro com um manobrista e assim que saiu, Kauan grudou em Eduardo, segurando forte sua mão.
— Eu tô nervoso. — falou baixinho para ele.
— Não precisa ficar. — Eduardo ficou de frente com ele. — Eu vou ficar o tempo todo com você, tá bom? — disse calmo.
— Tá bom... Você promete? — falava como um garotinho assustado.
Eduardo sorriu, encantado.
— Claro. Vai ser tranquilo e se você se sentir m*l a gente vai embora. — assegurou o mais velho. — Eu prometo.
— Tá bom... — ele falou e eles entraram.
Tinha um grande palco, vária mesas elegantes e eles foram acomodados em uma com mais um casal. Era uma mesa de canto, o que deixou Kauan mais tranquilo. Cumprimentaram as duas pessoas e Eduardo puxou um pouco a cadeira para ficar mais perto de Kauan e poder segurar sua mão, pois não queria submetê-lo a situações desagradáveis só para que ele recuperasse uma fonte. Ou só para que ele pudesse ter uma chance com alguém.
— Fica tranquilo... — falou em seu ouvido, deixando-o ainda mais nervoso, com sua voz macia e quente.
— Você não é o Eduardo Ivankov, que escreveu sobre aquele escândalo? — perguntou a mulher, simpaticamente.
— Sou, sim. - respondeu ele, meio tímido.
— Nossa. Que artigo aquele! Parabéns! — ela disse.
— Obrigado.
— Eu sou articulista do mesmo site que você, mas nunca tínhamos nos visto pessoalmente. — afirmou a mulher.
— Sério? E você é a... — ele olhava para ela tentando lembrar. Pessoalmente todo mundo é diferente.
— Aurora Sales.
— Isso! Você escreve sobre gastronomia, não é? — perguntou, feliz por ter lembrado pelo menos disso.
— Isso mesmo!
— Sempre leio seus textos... Adorei aquele que você recomendou bons restaurantes de bairros afastados do centro. E aquele que falava sobre a moda dos hambúgueres gourmets. — comentou.
— Que bom... fico feliz... gosto muito de escrever sobre lugares diferentes. Fora do circuito da alta gastronomia. — ela sorria.
— Por isso que eu gosto. Você não fica falando daqueles restaurantes caríssimos e inacessíveis para a grande maioria das pessoas... isso é bem legal... escreveu até sobre coxinha, não foi? — eles conversavam animados.
— Escrevi! Eu adoro coxinha. — ela confidenciou.
— E que brasileiro não gosta? —
ele riram. — Eu fui até a um lugar comer uma que você indicou, aquela do bar no centro.
— Poxa. Que legal... então somos leitores um do outro.
— Precisamos prestigiar os colegas. Em especial, os bons. — Eduardo brincou.
— E ele, quem é? — ela perguntou, olhando para Kauan, que sorriu tímido.
— É o Kauan, meu namorado... e jornalista também.
— Prazer, Kauan. — ela estendeu a mão para cumprimentá-lo, ao que ele retribuiu.
— O prazer é meu. Também gosto muito dos seus textos, principalmente por indicar lugar com bom preços, incluindo as periferias.
— Outro leitor! Que alegria! — exclamou, simpática. — Eu como em tudo que é lugar. Nossa cidade tem muitos lugares bons pra gente ficar só nos mesmos e caros restaurantes. — disse ela.
— Esse é meu marido, Ênio. — apresentou-o, quando o marido retornava do banheiro.
— Esses são Kauan e Eduardo. — ela disse, e ele cumprimentou os dois com a mão, educadamente, sentando-se em seguida.
— Ele é o autor daquele artigo sobre o escândalo da emissora. — ela falou.
— Nossa. Muito bom o artigo... e é verdade que tem mais informações pra sair? — o homem quis saber.
— Tem, sim.
— Legal, cara. Tomara que dê em alguma coisa, porque nesse país, você sabe, né?
A conversa foi interrompida pelo homem que começou a falar ao microfone. Kauan ainda se mantinha assustado e grudado em Eduardo, que quando as luzes baixaram para que o palco ficasse em evidência, desentrelaçou os dedos e passou seu braço por trás dele, trazendo-o para bem perto de si.
— Esse cara vai ficar um tempão falando, depois vai chamar outros caras pra falar... não tem muita coisa além disso. — ele falava bem perto do ouvido de Kauan, que ia aos poucos ficando mais calmo. Eduardo alisava seu braço com a mão que o abraçava.
— Será que só tem a gente de casal gay aqui? — questionou Kauan em seu ouvido.
— Acho que não. — respondeu Eduardo, que soltou o garoto do abraço para pegar uma bebida oferecida pelo garçom. Kauan virou o copo de uma vez daquilo que ele nem sabia o que era, mas esperava que fosse alcoólico.
Era. E no segundo copo entornado ele já se sentia um pouco melhor. Mas não totalmente relaxado.
— Posso segurar sua mão de novo? — perguntou a Eduardo.
— Claro. A noite inteira se quiser... — falou no ouvido de Kauan, fazendo com que o frio na barriga voltasse prazeroso. Ficaram de mãos dadas até a falação no palco acabar e as luzes reacenderem menos intensas do que quando eles chegaram.
Foi servido um coquetel e as pessoas começaram a fazer o networking. Alguns convidados reconheceram Eduardo e o parabenizaram pelo artigo polêmico, outros o olhavam feio, pois acreditavam que ele havia divulgado mensagens falsas ou adquiridas de forma criminosa, como diziam alguns youtubers de extrema direita que vivam de propagar fake news e tinham um público fiel tal qual uma seita digna de ser sediada em Jonestown. Os que tinham ideias alinhadas a essas, torciam o nariz para o jornalista, que pouco se importava.
— Você se importa se eu te abraçar um pouco? Pra que as pessoas vejam? — Eduardo perguntou, quando, num dos cantos mais tranquilos, ele tinha acabado de terminar uma conversa com um jornalista.
— Não.
Kauan então foi lentamente levado pela cintura para perto do corpo de Eduardo. Passou os braços em volta de seu pescoço e, com a ajuda do terceiro copo daquela bebida gostosa que ele acreditava ser champanhe, ele ficou cara a cara com seu editor, sem tremer.
— Eu prometo que te solto rapidinho, tá? — ele falou, olhando de perto para o jovem.
— Não precisa me soltar... — disse Kauan, arrancando um sorriso confuso de Eduardo, que não sabia o que sentir ou pensar ouvindo aquilo. Sentindo-o tão perto.
Aproximando-se mais, Kauan fez com que seus rostos, colados, impedissem-os de se olhar nos olhos. Mas os corpos se mantinham colados e Kauan estava na ponta dos pés, para se encaixar melhor no seu falso namorado.
As luzes diminuíram novamente e começou a tocar uma música tranquila, alta o suficiente para que algumas pessoas dançassem, porque, afinal, era uma festa. Mas não alta o suficiente para que as pessoas distantes do palco não pudessem se ouvir. Eles estavam num canto distante do palco e longe também da mesa na qual foram instalados.
Eduardo não o soltou quando a música começou a tocar. E começou a mover o corpo de leve, sem mover os pés do chão, no ritmo moroso da canção. Era uma dança quase imperceptível, acolhedora e sensual, que fez com que Kauan não quisesse mais ir embora.
— Você acha que a gente parece namorado? — Eduardo perguntou em seu ouvido.
— Acho que sim... — Kauan respondeu, voltando a ficar de frente com ele.
— Você acha que não? — o estagiário quis saber, sentindo-se levemente culpado por não parecer um namorado. Sentindo ter falhado naquela missão tão fácil, tão gostosa.
— Não sei... — Eduardo respondeu sorrindo e, imprudentemente, Kauan o beijou. Não como aqueles selos que haviam dado antes. Era um beijo mesmo, com língua, com paixão e delicadeza. Eduardo sentiu sua boca ser tocada pela dele de repente. E, para seu próprio espanto, sua reação instintiva não foi se afastar, mas fechar os olhos. Ele fechou os olhos no segundo seguinte ao que sua boca recebia a de Kauan tão inesperadamente. Rápido sentiu a língua dele invadir suavemente sua boca, conquistando-a por completo. Ainda de olhos fechados, com o garoto agarrado ao seu pescoço, ele se entregou àquele beijo súbito, quente e surpreendentemente delicioso.
Envergonhado, Kauan o abraçou ligeiro quando o beijo terminou, impedindo Eduardo de olhar para ele nos olhos. Estava com medo de ser repreendido, criticado. Mas o que ouviu confirmava o oposto.
— Acho que agora parecemos namorados. — Eduardo sussurrou em seu ouvido e sentiu que ele enfraquecia em seus braço. Que não conseguiria mais se sustentar na ponta dos pés.
Deu um sorriso aliviado ao escutar aquilo e a coragem para olhá-lo de novo ressurgiu.
— Desculpa se... — Kauan tentou dizer, mas foi silenciado sutilmente por outro beijo, tão inesperado quanto o primeiro, que o fez soltar um gemido levinho, ouvido por Eduardo, no exato momento em que ocupava sua boca. Foi um beijo mais pausado, totalmente controlado pelo mais velho dessa vez. Kauan sorriu tímido quando se afastaram e Eduardo passou o dedo nos lábios recém-beijados, para secá-los, ainda que preferisse vê-los levemente úmidos, mas não ali, onde poderia deixar Kauan incomodado.
— Deixa eu secar você... — disse gentilmente e Kauan fez o mesmo nele, sorrindo, sem dizer uma palavra.
— Vamos embora? — Eduardo perguntou baixo. Kauan concordou com a cabeça, pois ainda não tinha certeza se conseguia falar. Foi ao banheiro antes de ir embora e molhou o rosto de leve, pois estava vermelho devido às ondas de calor que haviam percorrido seu corpo. Secou-o com papel antes de sair.
Saíram da festa de mãos dadas e com a missão cumprida. Eduardo não desgrudou dele nem quando esperavam o carro, como havia prometido. Ficaram em silêncio quase o caminho todo, tendo ele sido quebrado por Kauan.
— Obrigado por não ter me deixado sozinho... — ele disse.
— Eu sou o único que tem que agradecer aqui. Por tudo. Por tudo mesmo.
— Você não tem que agradecer também... eu tenho me divertido muito com você. — ele falou.
— Mas hoje ficou nervoso e eu não queria te colocar em situação que te deixasse assim.
— Mas valeu a pena... eu gostei muito de hoje. Muito mesmo. — Kauan disse, olhando pra ele e o deixando sem graça.
— Que bom. — foi o que ele falou. E isso deixou Kauan arrasado, por ele não ter dito que também tinha gostado.
Assim ele saiu do carro meio emburrado, sem que Eduardo entendesse o motivo. Logo que chegou em casa, Eduardo viu que tinha foto deles dois na internet. Em mais de um site. Vibrou de alegria. Agora eram um casal famoso e talvez ele pudesse recuperar sua fonte. Porque no fundo, e talvez, aquilo era o que mais importava.