Adriana retornou à área externa com o estagiário, confuso e curioso. Sentaram-se no banco ao lado de Eduardo, que começou a explicar ao jovem o pedido inusitado que faria.
— Então Kauan, a Dri te trouxe aqui porque eu quero te pedir uma coisa. — Eduardo iniciou, sem jeito.
— Ela me disse. Pode pedir. - falou Kauan, animado por poder ajudar o editor, mas sem fazer ideia do que estava por vir.
— Eu vou deixar vocês conversarem sozinhos e daqui a pouco eu volto. — ela avisou, saindo em seguida.
— Olha só... — Eduardo olhava nos olhos dele. — é um pedido bem estranho que vou te fazer e antes eu quero dizer pra não se sentir constrangido em recusar se você não quiser, tá bom? Não vou ficar com raiva nem guardar ressentimento e isso não vai mudar em nada a nossa relação de trabalho aqui. — ele falava calmamente, embora estivesse nervoso. Eduardo tinha uma calma quase zen para tratar de assuntos tensos.
— Tá bom. — o estagiário começava a se preocupar.
— Então... eu estou com um problema com uma fonte e por um motivo que não posso te dizer agora eu preciso aparecer em público com um namorado. Como você sabe, eu não tenho namorado e não vou conseguir arrumar um até amanhã. Por isso, eu queria te perguntar se você se importaria em fingir ser meu namorado publicamente por uns dias, poucos, só pra me ajudar a não perder essa fonte... eu sei que é chato e nem é o correto eu te pedir isso, e eu juro que não queria, mas a Dri disse que você não se ofenderia, então tô aqui te pedindo. — ele falava, sem graça, mas tranquilo.
— Claro! Nossa... sem problema. Eu topo! — ele disse, todo animado, feliz e com um brilho evidente nos olhos que Eduardo só não percebeu porque tinha outras preocupações.
— Jura?! — o jornalista parecia aliviado.
— Uhum. — Kauan sorria.
— Mas talvez a gente apareça na internet... seus pais sabem que você é gay? Teria problema isso?
— Meus pais sabem, sim. Meu pai não gosta, mas sabe. E eu sou maior de idade, então...
— Então... Muito obrigado! Você não imagina como você tá me ajudando... e não se preocupe que não vai precisar fazer nada de mais, ou algo que não queira, porque eu sei que eu nem deveria te pedir uma coisa dessa. Sei que soa até meio infantil, mas minha fonte é realmente... complicada.
— Sem problema. Vai ser legal. — o sorriso não ia embora. Ele pulava por dentro.
— Obrigado mesmo! — Eduardo segurou a mão dele, fazendo com que seu corpo se eletrificasse sutilmente, imperceptivelmente.
— Por nada... vai ser um prazer te ajudar... quando a gente começa? — perguntou, ansioso.
— Como você concordou, eu pensei em aceitar um convite pra fazer uma entrevista em uma cidade do interior, não lembro agora qual, porque recebi alguns convites esses dias, na filial de uma emissora grande. Se você puder ir e não se importar, acho que podíamos começar por aí... eu falo com o Aquiles que você vai fazer um trabalho comigo.
— Pra mim tá ótimo. É só dizer quando.
— Vou entrar em contato com eles hoje mesmo e te falo.
Eduardo agradeceu mais algumas vezes enquanto Kauan ia aos poucos atingido o seu pequeno nirvana particular. Entrou no escritório quase flutuando e pela sua cara Adriana soube que tinha aceitado a proposta, com ela previra. Ainda tirou um sarro dele.
— Gostou do pedido? — ela brincou.
— Claro... adorei!
— Então se joga, moleque. — ela piscou para ele.
Eduardo tinha ido falar com Aquiles. Explicou que precisaria do Kauan para um trabalho sobre aquele material divulgado em seu artigo, disse que tentaria ver com a fonte a possibilidade de escrever também para o BW, revelando também material inédito. Aquiles ficou empolgado e não se opôs à ida de Kauan.
— Ele vai aparecer como meu namorado na mídia, não estranhe e não me pergunte o motivo, porque não posso dizer. Mas vai ser de mentira... exigência da fonte. — Eduardo explicou.
— Tudo bem. — Aquiles sorriu e não fez perguntas. — Fica tranquilo, cara. Faz o que tem que fazer. — falou, dando um tapinha nas costas de Eduardo, que agradeceu e foi à mesa da Adriana pedir a ela que explicasse para os colegas na sua ausência que o namoro dele com o Kauan era uma farsa e tinha a ver com uma fonte. Que ele não podia ainda explicar o motivo.
Ele não queria que alguém conhecido visse na mídia e achasse que era verdade e que eles estavam escondendo. E talvez não tivesse tempo ele mesmo de explicar. Já que não tinha quase ninguém na redação naquele dia.
Kauan não conseguia conter as expressões de felicidade e sorria à toa, enquanto fingia que trabalhava, em sua mesa. O que ele fazia de fato era remexer em papéis e fantasiar com o namoro de mentira. Ele estudava em uma universidade pública, que entrou com muito esforço e bolsa de estudo que ganhou para fazer cursinho um ano antes de entrar, pois não passou na primeira tentativa. Morava com os pais e um irmão pequeno em uma casa simples, limpa e bem cuidada, da periferia da cidade. Muito distante de onde a maioria dos outros jornalistas morava.
Ele tinha conseguido o estágio na BW porque seu blog chamou a atenção de um dos editores. Era um blog sobre os problemas do bairro em que vivia, no qual ele abordava diversos temas semelhantes aos que o jornal tratava. Ele fazia, sozinho, o trabalho de jornalista investigativo e ia atrás de autoridades, conseguindo, muitas vezes, melhorias para a região. Fazia denúncias, era um crítico perspicaz e fazia do jornalismo uma ferramenta de atuação política. Além de tudo, ele escrevia muito bem, por isso, entre os outros candidatos ele foi o escolhido.
Fazia parte da equipe há quase um ano e durante praticamente todo esse tempo ele vinha nutrindo uma paixão quase secreta por Eduardo. Havia a admiração como profissional, mas Kauan sabia que não era apenas isso. Por essa razão, aquele pedido tinha sido a melhor das surpresas.
Enquanto Kauan sonhava, Eduardo agilizava os detalhes daquele farsa que preparavam e já havia ligado para a emissora e combinado o dia da entrevista. Seria em dois dias, o que fazia com que eles tivessem que viajar no dia seguinte.
Ao saber da notícia, Kauan quase foi ao chão. Ainda nem havia se recuperado do impacto produzido pelo pedido, pelos olhos nos olhos, pelo toque em sua mão.
— A emissora disse que pagaria passagens de avião pra gente, mas como a cidade fica a menos de três horas de carro eu preferi não pegar avião, tenho pouquíssima paciência pra aeroporto, caso você não se importe... — Eduardo explicava, parado em frente à mesa de Kauan.
— Por mim tudo bem.
— Ótimo! Me passa seu número que à noite eu te falo que horas vamos sair amanhã. E você não precisa vir pra cá, eu te pego na sua casa.
— Tá bom. — suas pernas já tremiam quando ele deu o número para o jornalista.
— Então até mais tarde. — falou Eduardo.
— Até mais tarde. — murmurou Kauan.
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Eles saíram às quinze horas de uma quinta-feira, com a previsão de chegar à cidade antes das dezoito horas. Eduardo dirigia com cautela, não ultrapassava os limites de velocidade, então, dependendo do trânsito da estrada, eles poderiam levar um pouco mais de tempo. Por isso, ele calculou alto. Pegou Kauan no horário combinado e partiram.
A reserva tinha sido feita pela emissora, que pagaria os custos da viagem, então eles não sabiam o tipo de hotel nem de acomodação. Só descobriram quando chegaram que o hotel era ótimo. Um dos melhores da cidade, o que deixou Kauan animado. Porém, como a reserva era para uma pessoa, o quarto só tinha uma cama, de casal.
Tentaram mudar de quarto, mas como tinha um evento na cidade no fim de semana, havia poucos disponíveis, tendo todos apenas uma cama, o que daria na mesma. Assim, eles subiram.
— Se você quiser, a gente pega outro quarto pra você... com uma cama só. — Eduardo sugeriu.
— Não precisa. É muito caro aqui. Eu fico naquele sofá ali. — apontou para o sofá, que não era grande, mas parecia confortável. — Eu não sou muito grande mesmo.
— Não! Então eu fico... eu também não sou tão grande. — argumentou o editor.
— Mas é maior do que eu. — contra-argumentou Kauan.
— Depois a gente resolve isso, então... Eu vou tomar um banho e depois a gente sai pra jantar, tá bom? Porque está cheio de jornalista aqui por causa desse evento, quem sabe alguém veja a gente...
— Tudo bem. — disse o estagiário, já com frio na barriga.
Colocou sua mochila em uma poltrona, tirou os tênis e deitou no sofá para ver TV, enquanto Eduardo tomava banho.
Eduardo só queria duas coisas: não perder as fontes e, quem sabe, conhecer melhor aquele jovem misterioso que ele não sabia o nome, então, quanto mais rápido ele mostrasse que tinha namorado, mais rápido ele poderia voltar a trabalhar no caso. Ele não queria que Andrei/ZL pensasse que ele tinha namorado, mas não tinha outro jeito.
Trocou-se dentro do banheiro e em seguida Kauan entrou para tomar banho também. Saíram do quarto por volta das oito horas da noite e como estavam na região de maior movimento da cidade, não precisaram ir de carro ao restaurante, que Eduardo havia previamente pesquisado na internet, para não ter surpresa.
A cidade ainda não estava cheia para o tal evento de esporte que começaria no dia seguinte, mas havia pessoas nos bares e restaurantes do lugar, embora nenhum estivesse lotado. Eduardo escolheu um restaurante próximo e muito bom. Não excessivamente extravagante, nem elitista demais. Era um restaurante que ele achou honesto. Kauan achou incrível. Sentaram em uma mesa no canto e a fraca luz proposital do lugar deixava o ambiente ainda mais charmoso.
— Que horas é a entrevista amanhã? — perguntou Kauan, depois que eles já tinham feito o pedido ao garçom.
— A gravação está marcada para às onze horas da manhã.
— Achei que seria ao vivo.
— Não... eu até preferiria, porque geralmente é mais rápido.
— É... dizem que gravação às vezes precisam voltar e refazer algumas coisas.
— É, mas não creio que seja uma entrevista longa, não. Tomara. Porque, sinceramente, eu prefiro falar no rádio.
— Sério? Por quê? — Kauan o olhava, interessado.
— Acho uma mídia mais interessante... apesar de hoje em dia as rádios transmitirem o conteúdo em vídeo online... mas acho mais confortável, parece mais descontraído.
— Hum. Deve ser mesmo...
— Na verdade eu nem daria essa entrevista se não fosse por causa desse contratempo.
— Do namoro? — perguntou Kauan.
— É... A essa hora eu já estaria escrevendo mais um artigo e agora nem imagino que informações existem naqueles arquivos. — falava, enquanto tomava a cerveja trazida pelo garçom.
— É sobre aquelas informações da emissora de TV? — o jovem quis saber.
— É, sim... mas ninguém pode saber, tá? — ele pediu.
— Claro. Não vou falar nada pra ninguém. — Kauan garantiu. E logo o jantar foi servido e eles comeram quase em silêncio. Kauan ameaçou pegar a carteira para ajudar com a conta, mas foi educadamente repreendido por Eduardo, que disse ser um absurdo ele fazer um favor e ainda ter que pagar alguma coisa. E ele não deixaria o garoto que ainda era um estagiário pagar a conta em nenhuma outra ocasião, mas isso ele não disse.
Ao sair do restaurante, Eduardo foi surpreendido por uma pergunta inesperada de Kauan, que mostrou que ele realmente não se sentia m*l de estar ali, deixando o jornalista mais tranquilo.
— Você quer voltar de mãos dadas para o hotel? — ele perguntou, impulsivamente. Eduardo olhou para ele, surpreso. — Para o caso de alguém te reconhecer... sei lá... — Kauan moveu os ombros.
— Você não se importa? — Eduardo perguntou.
— Claro que não. — falou, estendendo de leve a mão para que Eduardo a segurasse. Eduardo sorriu e entrelaçou seus dedos nos pequenos de Kauan, que se sentiu esquentar imediatamente.
Eduardo sentiu um sutil desconforto. Não por dar a mão a ele, mas por gostar de sentir aquela mão pequena e quente na sua. Fazia tanto tempo que ele não andava de mãos dadas, que quase se esquecera de como aquilo era bom. Piscou os olhos devagar como se sentisse também com eles aquele toque. E sorriu discreto, um sorriso que Kauan não viu, pois estava absorto em suas próprias sensações, no toque leve do vento em seu rosto, na mão que acolhia a sua com firmeza, no calor que Eduardo o fazia sentir.
Eduardo sentiu uma pequena pontada no estômago, aquela sensação gostosa de quando se está apaixonado, e pensou que aquela mão entre a sua poderia ser a daquele jovem misterioso, que era sua fonte, lindo e distante como a lua que eles deixavam para trás enquanto caminhavam.
Kauan só teve sua mão desenlaçada quando eles entraram no elevador, mas seu coração ainda batia com tanta força e rapidez que ele sentia um pequeno incômodo. Ele também sentia aqueles sintomas de paixão, mas eles eram todos direcionado a Eduardo.
Como já tinham tomado banho, eles apenas trocaram de roupa e ficaram naquela tensão estranha de ver pela primeira vez um estranho de pijama, de roupa de dormir. Havia algo de muito íntimo naquilo, de particular. E já era a segunda i********e que trocavam no mesmo dia. E para duas pessoas que m*l se falavam, aquilo parecia demasiado, parecia rápido demais.
Nitidamente desconfortáveis, eles se olharam e sabiam que tinha algo a decidir.
— Eu durmo no sofá. E não se fala mais nisso. — anunciou Eduardo.
— Para. Deixa que eu durmo. Eu não me importo... — insistia Kauan.
-— Vou me sentir m*l de deixar você dormir aí e eu naquela cama enorme...
—E eu vou me sentir m*l de ser menor e deixar você dormir nesse sofá pequeno. — Kauan retrucou e os dois riram.
— Você seria um ótimo advogado, sabia? — comentou Eduardo.
— Sou chato, né? — brincou o estagiário, espirituoso.
— De forma alguma. —Eduardo o olhou. — Então vamos dormir os dois na cama. — falou em seguida. — Já que não conseguimos resolver esse impasse e não podemos solucionar isso de forma salomônica, dividindo a cama ao meio... — brincou.
— Tem certeza? — perguntou Kauan, nervoso.
— Claro. A cama é enorme e eu não não me mexo muito à noite, pode ficar sossegado. A não ser que você não se sinta confortável, e nesse caso eu entendo. Mas aí eu teria que dormir no sofá...
— Tá bom.
— Tá bom o quê? — perguntou Eduardo, rindo.
— A gente dorme na cama. — confirmou Kauan, desesperadamente tenso.
— Que lado você prefere? — Eduardo quis saber.
— Tanto faz.
— Ah, escolhe um... — pediu sorrindo.
— O esquerdo, então. — Kauan riu.
— Ótima escolha. — Eduardo disse, retirando o lençol de cima. Buscou dois cobertores no armário, um para cada um deles, assim não corriam o risco de se tocarem. E perguntou se Kauan queria mais um, que ele pediria para levarem até o quarto.
— Não. Tá ótimo esse. — e eles se deitaram, meio sem saber como se comportar.
Eduardo ligou a TV e entregou o controle a Kauan.
— Pode escolher você. — falou o jovem.
— Você vai deixar eu escolher tudo? Como eu vou poder ser legal com você e retribuir esse favor que você tá me fazendo assim? — ele sorriu, olhando para Kauan.
— Eu escolhi o lado da cama. — ele tinha boas respostas, que faziam Eduardo sorrir pelo conteúdo e pela forma que elas eram dadas.
— Tá bom, vai...
— E você não precisa se preocupar em retribuir. — ele falou em seguida.
— Você é uma graça. — Eduardo disse, olhando mais uma vez nos olhos de Kauan, que apenas sorriu, pois não conseguiria falar nada depois de ouvir um elogio dele. Qualquer elogio que fosse.
— Fica tranquilo que eu não vou fazer nada, tá? — Eduardo afirmou.
— Eu sei. Eu tô tranquilo. — ele mentiu.
Não estava tranquilo, não por achar que o homem faria alguma coisa que ele não quisesse, mas porque ele estava ali, na mesma cama que Eduardo e isso era algo que fazia parte apenas de uma fantasia inalcançável até dias atrás. Mas eles estavam ali, ainda que numa grande farsa, dividindo a mesma cama. E para Kauan nada era mais real que aquilo.
Kauan se cobriu e ficou meio encolhido, enrolado no cobertor, fingindo assistir ao filme que Eduardo colocou para evitar um silêncio constrangedor de dois homens deitados na mesma cama sem ter nada entre si. Não conversavam, olhavam para a TV apenas e Kauan resolveu virar de lado, para o lado de fora da cama. E, pensando que o garoto queria dormir, Eduardo diminuiu o volume da TV consideravelmente e ficou mexendo no celular. Esperava sempre em vão que receberia uma mensagem do jovem pelo qual se sentia apaixonado.
Após alguns minutos, ele colocou o celular para carregar e deitou também de lado, mas para o lado de dentro da cama.
— Posso desligar a TV? — Eduardo perguntou baixinho.
— Pode, sim. — Kauan respondeu. E em segundos a escuridão dominava o quarto de hotel.
Sem saber que Eduardo estava ainda virado para aquele lado, Kauan se virou, ficando com o rosto voltado para o centro da cama, tal qual o jornalista. Embora a cama fosse realmente grande, o estagiário sentia a respiração de Eduardo chegar tênue até si, seu perfume, por outro lado, chegava forte, mas não se impunha. Era como uma caminhada noturna na praia ao som de uma música suave. Kauan o queria, mas não imaginava que ficaria tão perto dele como estava naquela cama, sentindo seu cheiro e ouvindo sua respiração. Era como um sonho e, suspenso no ar em meio à escuridão, ele despertou.
— Você está com frio? — Eduardo perguntou baixo, interrompendo os devaneios de sensações que a privação da visão causavam em Kauan.
— Não... — ele definitivamente não tinha frio.
— Se quiser posso ligar o ar quente... — ofereceu Eduardo, que, constrangido por fazer o garoto se sujeitar àquela bobagem, queria deixá-lo confortável.
— Não precisa. Eu tô bem. Obrigado. — disse Kauan em voz baixa.
— Tá bom, então. Dorme bem.
— Obrigado. Você também.
A conversa cessou novamente, deixando para trás o coração acelerado do jovem estagiário, que, insone, queria aproveitar, da maneira que pudesse, aquele momento ao lado do homem que desejava. Ouviu os primeiros sons que indicavam que Eduardo estava dormindo, a respiração pesada, com ritmo caraterístico, e então foi se acalmando.
Ao contrário do que disse o jornalista, ele não tinha o sono tão calmo e quando Kauan estava quase pegando no sono, sentiu a mão de Eduardo tocar a sua de leve. Ele ficou imóvel para não perder aquele toque, ainda que involuntário. Aquele toque bobo foi responsável por causar reações tão intensas e diversas que Kauan só conseguiu dormir quando seus corpos se desencostaram.
Dormiu poucas horas. Tomaram café da manhã juntos e foram para a sede da emissora. Eduardo não estava nervoso, mas a ideia de protagonizar uma farsa não era cara a ele e não se sentia tão confortável. Kauan estava tenso porque embora estivesse no último ano de jornalismo e já tivesse entrado em estúdio de gravação antes, ele nunca tinha ido com um namorado, ainda que falso. Ambos não sabiam muito bem como se comportar naquela situação improvisada, em cima da hora, temporária.
— Meu namorado veio comigo, gostaria de saber se ele pode assistir à entrevista. — ele perguntou ao apresentador que iria entrevistá-lo, depois das devidas apresentações.
— Claro. Vou avisar a equipe para que o instalem em um lugar confortável. — disse João Alberto, o apresentador, famoso na região, e responsável pela área de jornalismo da filial.
Kauan foi instalado num local onde conseguia ver todo o estúdio. Duas pessoas participariam da entrevista, o apresentador e uma mulher, especialista em política internacional da universidade local. Ele estava apreensivo, e******o. Tinha ficado feliz quando uma moça foi chamá-lo e perguntou se ele era o namorado do entrevistado. Respondeu cheio de si que sim, ele era o namorado de Eduardo. Então, ela gentilmente o acompanhou até o lugar onde ele ficaria, dando-lhe água também.
A gravação começaria em alguns minutos e ele via, já preparado, sentado na poltrona, o seu namorado, tranquilo, esperando que a entrevista começasse. Viu que ele o procurava e acenou discretamente para que Eduardo o visse. Ficou ainda mais calmo depois de ver Kauan sentado, acomodado, olhando para ele. Ouviu-se então o aviso de que seria iniciada a entrevista e todos os olhares dos bastidores, agora em silêncio, voltaram-se aos três no estúdio.