Erica não aguentava mais ficar praticamente isolada no apartamento de sss. Ela tinha sido solta pela polícia, mas sabia que era monitorada, então m*l usava a internet e se usava era apenas para amenidades e ler notícias em sites comuns. Não sabia a sofisticação dos funcionários do governo, então não quis arriscar, mas era um tormento ver o namorado sair para trabalhar todos os dias e ela ter de ficar em casa. Era como se fossem casados. Horrível. E sss era um amor, nada exigia, era paciente e ótimo parceiro s****l. Pagava uma pessoal para limpar a casa, era organizado e cozinhava bem. Seu salário era excelente, pois além de ótimo profissional, tinha bom papo, ótimo trânsito entre os setores, fazia amizade fácil, era de bom trato. Esperto. Ascendia rápido, sem puxar tapetes.
Assim, eles não viviam num buraco cheio de coisas velhas, restos de comida e computadores espalhados por toda parte. Era um bom apartamento, confortável e limpo. Muito melhor que o que ela morava, inclusive. Mas ela se sentia presa. E sentia uma falta imensurável de Andrei, que não via nem falava há muitos dias. Duas coisas podiam fazer Erica se sentir mais liberta: a amplitude da rua ou a profundidade da internet. Ela não tinha ambas.
Ela podia sair, é verdade. Não havia impedimento objetivo. Mas se sentia mais presa lá fora, pois acreditava estar sendo observada, vigiada. Vivia sob uma paranoia constante. E se soubessem que foi ela quem vazou as informações? Estava com medo. Ela não tinha proteção policial, porque, afinal, se a polícia soubesse que ela era mesmo a responsável ela seria presa. Não tinha segurança particular, e não podia ganhar dinheiro encontrando vulnerabilidade em sistemas e aplicativos de empresas, porque não podia se arriscar, então seus dias estavam fadados à monotonia. Ela lia, via TV, limpava alguma coisa. Tentava cozinhar, mas conseguia ser ainda pior que Andrei. E passava o dia lendo de forma pausada sobre o que se comentava da sua operação.
Aos poucos ia tomando de coragem de sair. Mas não se aventurava muito. Ia ao mercado ao lado, à padaria. E de resto, suas horas se resumiam a acompanhar pela internet, ansiosa, as notícias sobre as mensagens que vazou. Intercalando-as com diversos tipos de bobagens, para não parecer, caso vigiada, ler apenas sobre o assunto. Reclamava todos os dias, mas sss adorava tê-la por perto. Erica era fascinante. Sem dúvida a pessoa mais impressionante que ele já conhecera. Andrei também era, todo mundo que o conhecia achava, mas de uma forma irritante, na opinião de sss. Achava-o esquisito demais, excêntrico e perdido em devaneios. Parecia que ele precisava da atenção de Erica em demasia, que parecia cuidar dele como de um filho que vive sendo chamado na diretoria, como se fosse frágil e não estivesse preparado para a vida.
Sempre achou estranha a relação dos dois, incomum, mas certamente não havia nada de romântico ou s****l nela. De qualquer forma, a despeito de um possível ciúme de Andrei, sss bolou um plano para que eles se comunicassem à moda antiga, pois via, diariamente, que todos os sofrimentos que a situação impunha à Erica, ficar longe do amigo era o pior de todos. Descobriu onde o irmão de Rodrigo trabalhava, mesmo sobrenome, pois Erica mencionou certa vez durante o jantar. Foi até lá pessoalmente. Explicou por cima a história. Disse que eles estavam impossibilitados de conversar por meios digitais e, caso ele não achasse arriscado ou estivesse disposto a se arriscar, pediu para que ele fosse à casa do irmão e pegasse uma carta de Andrei. Acreditou que isso acalmaria os ânimos tão instáveis da garota que vivia com ele.
Bruno concordou. E, sem avisar o motivo pelo celular, apenas perguntou se o irmão estava sozinho em casa no sábado seguinte à visita de sss. Como a resposta foi negativa, ele foi até lá e explicou a razão da visita. Andrei o abraçou num raro momento de demonstração espontânea de afeto, e agradeceu, com os olhos úmidos. E enquanto foi buscar papel e caneta para escrever a carta, ainda atordoado, Rodrigo contava para o irmão, antigo amigo de Erica, os detalhes do caso. Bruno ainda ficou um bom tempo com o irmão e o namorado antes de ir embora com a carta que seria entregue na segunda-feira. Garantiu mais de uma vez que ela estava bem. Que o namorado havia dito que ela tinha saudades. Que sempre falava dele.
Mas sss não foi na segunda à empresa em que Bruno trabalhava, não tinha certeza se ele tinha conseguido. Foi na terça. E à noite ele chegou em casa com o presente para Erica. Ela olhou aquelas duas folhas dobradas sem entender, assim que abriu, reconheceu a letra. E como Andrei fez em Bruno, ela fez em sss, só que com mais força, com mais ímpeto. Talvez fosse a i********e maior que tinham, talvez por Erica ser mais visceral, ela o agarrou em desespero, enchendo-o de beijos e agradecimentos por toda parte.
— Esse foi o melhor presente de todos — disse ela, segurando o rosto de sss com as duas mãos.
E foi a primeira vez que ele a viu chorar. Não chorou quando foi presa. Foi então que compreendeu a importância daquela amizade estranha. Não queria, mas ficou vaidosamente feliz por ter proporcionado uma alegria profunda para ela. E a visão de uma Erica inédita para ele.
Ela sentou no sofá e leu a carta em meio a prantos e risos alternados. Uma carta! Uma hacker lendo emocionada uma carta. Porque a vida, essa fanfarrona ingrata, faz de nós contorcionistas, malabaristas e tantos outros artistas do mesmo espetáculo. E Erica, a destruidoras de impérios, estava ali, vulnerável, desfazendo-se em lágrimas e com o coração partido de saudade, lendo uma carta, escrita a mão.
A lápis.
Andrei não achou uma caneta. E por algum motivo, na casa de um advogado, foi mais fácil achar um lápis que uma caneta. Mistério indecifrável.
— Você tem ideia de quanto tempo eu vou ter que ficar longe dele, sss? Vai ser muito tempo! Muito tempo! — Ela chorava. Ele se sentou ao seu lado e a abraçou, deixando ela por para fora o choro acumulado.
— Tudo porque eu errei! Eu errei... — ela se culpava.
— Para, Erica... Isso acontece... Podia ter sido ele, eu.
— Ele não. — falou, saindo do abraço. Sem dizer o nome. Nomes eram proibidos naquela casa. Só o dela não, porque ela já era fichada.
— Tá bom. — concordou, pois aquele não era o momento para discordar. — Mas não se culpe...
Ela ia se acalmando depois das lágrimas. E ele acariciou seu rosto molhado e vermelho. Ela sorriu em meio ao caos e à escuridão que estava sua vida e agradeceu mais uma vez.
— Foi o melhor presente! — ela repetiu, abria um sorriso grande toda vez que lembrava. Involuntariamente.
— Que bom que gostou. — ele falou, sorrindo de volta para ela. E explicando que infelizmente seria arriscado levar uma carta dela de volta.
— Eu sei. Tá ótimo já. Eu preciso saber dele, porque ele só faz besteira... você não tem ideia. Ele mora sozinho, mas tem inteligência emocional de um menino de treze anos. Eu sei que não sou mão dele, mas é como se ele fosse meu irmão, minha família.
— Eu entendo. — ele mentia. Ele ainda achava meio bizarro. Mas como Andrei sempre teve dificuldade de se relacionar com a própria família, foi em Erica que encontrou apoio para muita coisa também. Via nela uma irmã mais velha. Era amor. As pessoas estranhavam porque eles não eram parentes e porque não tinham interesse s****l um no outro. Pura convenção social. Pessoas estranham relações pouco convencionais. Mas ela, se soubesse que sss achava incomum, pouco se importaria.
Erica estava especialmente carinhosa aquela noite, não que seu jeito impetuoso se refletisse necessariamente nas suas atitudes mais íntimas. "As pessoas se espantariam", ela costumava dizer, sem deixar claro o porquê. sss sabia, mas não se espantou por completo. Talvez um pouco, no começo. Erica era uma montanha-russa e naqueles dias ela estava particularmente enraivecida pelo que chamava de aprisionamento voluntário, então andava mais intensa que de costume. E sua fúria se estendia às vezes para o quarto. sss, particularmente, preferia o contraste entre a Erica intensa do dia e a indescritivelmente sutil da noite, como o costumeiro. E a carta de Andrei, capaz de acalmá-la, fê-la voltar a transitar tênue entre os dois mundos.
A deliciosa tentativa vã de conciliar aquela oposição era capaz de levá-lo à loucura. Era ele o prisioneiro.
Mas naquela noite, depois do seu presente, ele voltou a observá-la em sua contradição e era adorável. E mais! Teve o prazer de conhecer um pouco da versão Erica doce/doce. E essa era ainda uma desconhecida. Talvez nesse sentido ela fosse parecida com Andrei. Seu jeito arredio, ácido, assustava um pouco as pessoas. Mas diferente dele, ela ainda conseguia controlar o jogo da vida, transitava bem em vários ambientes, era articulada. A vida amorosa que era a sua ponta invertida do iceberg. Era na profundidade da rede que ambos se sentiam livres, e isso eles compartilhavam com poucos. Talvez nem sss fosse tão de cabeça para baixo como os dois. Poucos entenderiam.
Ela e sss não dormiam sempre no mesmo quarto. O apartamento tinha dois quartos e ele deixou que ela guardasse suas coisas em um deles, que ficou para ela. Lá tinha uma cama de solteiro, na qual ela dormia algumas noites. Explicou para ele que estava acostumada a dormir sozinha e deu outras excusas. Ela não dormia com ele apenas quando transavam, porém. Ela era excêntrica. Ele sabia. Embora preferisse que ela dormisse com ele toda noite. Imaginava que talvez quisesse ficar sozinha, pela tristeza da situação pela qual passava. Enfim, cada um cria para si a narrativa mais ou menos aprazível, a depender da personalidade. Eles se entendiam. Dividiam o único banheiro do apartamento, que tinha um tamanho razoável e era bem organizado. Erica era menos bagunceira do ele supunha. E, depois de tomar banho, quando ele já estava deitado, ela bateu na porta de se quarto, abrindo-a devagar em seguida.
— Pode entrar. — ele falou. Estava sentado na cama, vendo alguma coisa no celular.
— Eu quero te falar uma coisa. — disse ela, indo até ele, com a voz suave e o rosto já desinchado. Exceto os olhos, que ainda apresentavam leves sinais do choro passado. Ela vestia uma camiseta branca larga e comprida, dessas feitas para dormir de fato, e calcinha. Ela era naturalmente bonita. Não gostava de adornos. Ele sorriu ao vê-la caminhar até a cama.
— Eu queria te agradecer de novo. — ela disse, sentando-se na cama, perto dele, que estava sentado bem no centro, encostado na cabeceira.
— Não precisa. — ele assegurou, tranquilo.
— Eu posso ir aí? — ela pediu.
— Aqui? — estranhou, precisava de precisão. Queria mais do que precisava.
— No seu colo. — ela precisou. Com o peito se movendo rápido e piscando muitas vezes, como se não tivesse feito aquilo antes.
— Ah... claro. — concordou surpreso, não pelo que ela disse, mas pelo modo diferente que ela agia. — Quer que deixe um travesseiro? — perguntou, pois não sabia o teor da coisa. Ela tinha chorado há pouco e ele estava incerto.
— Não... — falou, enquanto já se ajeitava em seu colo cuidadosamente, levantando de leve aquela camiseta que vestia. — Eu quero sentir você.
Mesmo vivendo na mesma casa e dormindo juntos algumas noites, Erica ainda era um mistério. Até mesmo para um rapaz descolado como sss.
— Foi a coisa mais linda o que você fez, sabia? — Erica sussurrou
— Você gostou? — ele sorriu, ladino, ajeitando-a sobre si.
— Aham... Eu nunca vou esquecer. —ela olhava nos olhos dele, querendo chorar de novo. Então o abraçou apertado. — Eu não quero te soltar... — falou em seu ouvido.
— Não solta. — ele respondeu, no dela. Ele a segurou de leve pelas costas e ela passou a beijá-lo em toda parte, lentamente, com a ajuda das mãos que seguram seu rosto ou seu pescoço devagar, ela pedia:
— Posso beijar seu pescoço?
E beijava até cansar. Ele deixava. Para ver até onde ela ia com aquela permissão dada. Depois pedia outra coisa. Assim iam brincando.
— E a sua orelha? — e fazia o mesmo. Até que ele não se aguentasse de arrepio e de rigidez, que ela sentia, indubitavelmente, embora não se movesse.
— Posso beijar sua boca? Posso beijar muito sua boca? — ela pediu, não ao seu ouvido, mas onde não podiam se ver.
— Você quer muito beijar minha boca? — ele perguntou, trazendo o rosto dela para a frente do seu com cuidado, pois ela estava cuidadosa.
— Quero... — ela disse, sôfrega.
— Você quer beijar só a minha boca? — ele perguntou, fazendo-a sacudir internamente e mostrando que ela não estava controlando a brincadeira totalmente.
— Só a sua... eu quero beijar só a sua boca... de mais ninguém. — ela não titubeou. — Eu posso?
— Pode... — ele sorriu num suspiro, sem se mover, esperando-a, que o beijou apaixonadamente por vários minutos. Ela passou a se mexer sutilmente sobre ele, que tentou colocar a mão por dentro da camiseta, mas por algum motivo desconhecido, foi impedido. Não insistiu. Era estranhamente bom para ele teimar e arruinar o momento.
— Tira a calça. — ela pediu, com jeito. Ele tirou e ela voltou exatamente para onde estava, porque a brincadeira não tinha acabado.
Sentindo-o muito melhor, pois eram separados apenas pelo tecido de sua calcinha, ela emitia pequenos sons enquanto o beijava e precisou parar.
— Deixa eu sentir ele lá dentro enquanto eu te beijo. — pediu em seu ouvido... — eu prometo que não me mexo... vou ficar quietinha... só quero ver como é te beijar e... ele lá...sem nada. — ela pedia, mesmo sabendo ser errado, arriscado, inseguro. Mas para quem já tinha sido presa e vivia escondida. Aquilo era nada.
— Erica... — ele resistia. Querendo não resistir.
— Por favor... vai ser só um pouquinho. — ela não seduzia com peripécia extravagantes. Nem a mão ela colocou. Sabia que estava duro, porque sentia. Mas nem sequer se movia muito, ou falava bobagens. Ela pedia. Apenas.
E não precisava de mais.
— Deixa... — ela o beijava.
Ele a sentia úmida.
— Só um pouco... — ele sorriu.
E ela o pegou com a mão, beijando sua boca e afastando sua calcinha, começou a introduzi-lo lentamente, emitindo sons curtos como sua respiração em meio àqueles beijos. Ela queimava de vontade de se movimentar, mas como o prometido, não se mexeu.
— Ah, Erica... Você vai me matar... —ele murmurou em seu ouvido, antes que ela voltasse a beijar todo o seu rosto devagar. Eles pulsavam. Ardiam. Enquanto faziam o amor lento, quase inerte, e o mais violento de todos.
FB sentia pequenos e leves apertos, que não podiam ser chamados de movimentos, então não poderia dizer que ela descumpria o que prometeu. Ela o beijava, incansavelmente, docemente, adoravelmente. Ele não conseguia pedir para que parasse, porque ele não queria que ela parasse.
— Erica... — era o que ele conseguia dizer vez ou outra, quando se afastavam. Não para tomar ar, porque arfavam, mas não chegavam a perder o fôlego, já que estavam quietos, e davam muitos beijos curtos, pois queriam se olhar o tempo todo. Estavam ambos vestidos. Só a calça dele havia sido retirada. Mas os beijos eram tão sutilmente intenso que pareciam um detalhe sem importância.
— É bom te beijar assim. — falou, soltando todo o corpo em cima dele e arrancando um suspiro maior.
— Erica... — ele soava como um aviso. Rouco e sensual.
— Você não gostou de me beijar assim? — perguntou, simulando ingenuidade.
— Eu adorei... mas... a gente não pode... você sabe... — ele tentava falar, entre os beijos dela, que não cessavam.
— Eu sei... já vamos parar... — ela também falava com dificuldade.
Ela o beijou mais uma vez e o abraçou forte, como numa despedida, confessando em seu ouvido:
— Fernando, eu ia amar se você também beijasse só a minha boca...
Antes que ela conseguisse afastar seus lábios do ouvido dele, ele a apertou, fazendo com que ela se movesse, se esfregasse. Então ela repetiu o que tinha dito e sentiu um aperto forte, gostoso. Ele a puxou, abraçou-a, e junto com o abraço houve a explosão, os gemidos, os espasmos. Ela fechou os olhos e sorriu, sentindo o coração acelerar no momento que compreendeu o que acontecia. Sentiu-se inundar, pela primeira vez. Deleitou-se com ele.
Assim que os segundos de euforia passaram, ela se soltou do abraço, segurou em seu rosto e pediu desculpa.
— Me desculpa!! — disseram juntos. Riram.
— Foi minha culpa... — ela dizia.
— Mas eu não consegui me controlar...
— Euque tô errada... não fica chateado comigo, por favor...- ela falava, preocupada.
— Ei, eu não tô chateado... você não tem culpa... como você ia imaginar que o idiotão aqui ia gozar como... você sabe... com aquilo que você disse...
— Para de ser bobo... — ela segurou seu rosto, desviado. Eles ainda estavam encaixados, ela ainda o sentia. — Foi incrível!
— Foi a coisa mais louca... eu adorei.- ela riu.
— Foi, né? — ele riu também.
— Você não gostou? — ela perguntou.
— Eu amei. — ele respondeu e a beijou.
— Acho que você quer se lavar... né?
— Não quero.
— Mas...?
— O estrago já está feito... preciso que me compre pílula do dia seguinte amanhã, por favor. E eu prometo que a gente não brinca mais assim.
— Tá bom. — ele assentiu, com ela já deitada ao seu lado.
— Eu quero dormir aqui. Posso? - perguntou Erica.
— Claro.
— Vou me comportar...
— Eu não... — ele sorriu de lado, com a cumplicidade do olhar dela, e retirou sua calcinha. Levou seus lábios para onde eles se encontraram, sem objeções. Sentiu o gosto dos dois. Mas não chegou a ficar muito tempo entre suas pernas para que ela também gozasse violentamente, assim como ele tinha feito minutos antes. Dormiram logo em seguida, como estavam.
No dia seguinte, e a rotina tinha voltado quase ao normal na prisão. Com algumas pequenas variações de tom. Erica tinha uma carta de Andrei. sss tinha uma quase quase declaração e um constrangimento, porque, afinal de contas, ele tinha razão: quem goza ouvindo aquilo? Talvez por ela ter dito o nome dele. Talvez a surpresa da frase. Talvez tudo junto. Ele ainda sentia envergonhado quando lembrava. Ela achou adorável. Não fosse tão constrangedor, ele pediria para ela repetir o que disse. Queria tanto ouvir novamente. Mas preferia fingir, como se pudesse, que era indiferente. Ela, espantosamente, não falava no assunto. Tinha se deliciado com a confissão, mais ainda ao ver que era correspondida tão fortemente, tão física e visceralmente. Mas não via a hora de surpreendê-lo mais uma vez. Ele não sabia. Mas estava perdido.
E assim passou gostar de seu castigo. Já esperava feliz por Fernando. Não dormia com ele toda noite porque queria que ele sentisse sua falta. Funcionava. Ela era boa estrategista. No mais, sua vida era esperar. E acompanhar a repercussão como espectadora, como pessoa comum. Não como salvadora da humanidade. Ainda mais, porque sem suas máquinas e seu acesso profundo ela era uma mera espectadora de seu próprio feito de fato. Mas não acompanhava como quem quer glória, ou quem acredita que pode salvar o país. Não era uma tola ingênua. Seguia o desenrolar dos acontecimentos como quem acredita que pode colocar o nariz para fora, para respirar, em meio a um afogamento. Como quem tem uma oportunidade de dar um respiro e uma olhada pra fora. Como quem tenta dar o primeiro passo.
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Nota da autora: essa é uma obra de ficção e, claro, apresenta personagens ficcionais. Não tenho a intenção de incentivar, portanto, o não uso de preservativos, pois pessoas reais pegam doenças reais que podem matar. Por isso, sejam sensatos e façam sexo seguro. Deixem esse tipo de loucura para as pessoas de mentira.