-Existe algum oraculo nesta cidade? – Perguntou Tristan curioso atraindo atenção de Calídece que arrumava o cabelo em uma trança longa – sempre quis ver.
-Oraculo? Não sei bem – Murmurou Calídece jogando a trança simples para trás – Alethea talvez saiba, é a mulher mais sabia que conheço, Alethea! Vem cá.
-Que foi? – Perguntou Alethea entrando pelo banheiro com brincos dourados e um lenço rosa preso na tiara em seus cabelos pretos – estou ocupada.
-Só queria saber se existe algum oraculo, Tristan nunca foi em um – Respondeu Calídece pegando a trança e adornando a com pingentes dourados.
-O mais conhecido é o de Delfos, mas existe um no litoral de Vênus que dizem ser muito mais preciso, e pelo que eu ouvi – Começou Alethea sorrindo com a informação – Epires vai muito nela, e dizem que é por isso que ele é bem sucedido, ninguém sabe nada sobre ele e nem quanto ele oferece aos Deuses, mas abençoado ele é!
-Com aquele rosto deveria começar abençoar – Brincou Agatha vinda do banheiro e se sentando ao lado de Tristan – precisamos encontrar uma roupa decente e acessórios, isso vai levar muito tempo.
-Por quê? Não é só colocar algumas coisas e só? – Perguntou Tristan apreensivo.
-Pelos Deuses – Exclamou Brumália amarrando uma tornozeleira prateada – você realmente não é dessa terra, se fosse saberia que a aparência vale mais do que sua origem.
-Verdade – Concordou Alethea –garotas o que vocês acham de tons de azul? Na pele dele ficaria deslumbrante.
-Azul celeste? Ou azul cobalto? – Questionou Brumália pensativa – poderíamos pintar sua pele também
-Azul celeste, para dar aquele ar de pureza e delicadeza – Sugeriu Agatha colocando sua mão no ombro do jovem.
-Em um lugar como este? Seria um contraste muito bom – Falou Calídece colocando agora anéis que havia na caixa aos seus pés – os clientes ficaram deslumbrados.
-Clientes? Eu não vou apenas dançar? – Questionou Tristan em pânico.
Dançar era uma coisa agora fazer algo a mais era demais. Não suportaria a ideia de ter que fazer algo que não queria apenas para não ser castigado. As mulheres pareceram perceber o medo no garoto. Agatha deu tapinhas em suas costas para acalmá-lo.
-Não é tão r**m – Tentou Calídece sorrindo torto.
-Nós também não gostamos, quando são muito velhos nós colocamos algumas ervas para que durmam, eles pagam antes de qualquer maneira – Contou Alethea cruzando as pernas e pegando as mãos de Tristan – duvido que a Senhora vá deixar alguém toca-lo, você é o novato, ela vai criar um grande propaganda em cima de você para que os valores cresçam, é assim com todo mundo ou pelo menos com todas que passaram por aqui.
-Então apenas pense na dança e nada mais, dependendo da dança você vivera até amanhã – Avisou Donatília aparecendo no cômodo vinda da entrada – vi os mensageiros saírem correndo.
-São os que avisam aos clientes habituais as novidades – Explicou Agatha vendo a expressão confusa de Tristan – se eles saíram então teremos muito movimento hoje.
-Não acham que a Senhora está muito apressada? Geralmente ela espera cerca de dois dias, aumentando sobre a pessoa até mostra-la pela primeira vez acho que ela está com segundas intenções além das que já conhecemos – Pensou Donatília em voz alta indo se sentar ao lado de Calídece em frente a Tristan e Agatha – cuidado hoje Tristan, não nós conhecemos, mas não desejo a ira dela a ninguém.
Tristan engoliu em seco diante do aviso. Quem era aquela Senhora? Era uma mulher jovem com sorriso calmo, mas que por trás era vista como perigosa e vingativa? Não iria irritá-la, não mesmo.
-Donatília decidimos vesti-lo com as roupas azul celeste – Contou Brumália ignorando o pensamento anterior – o que você acha?
-Azul? Tem certeza? – Questionou Donatília preocupada – da última vez...
-Não ocorrerá novamente – Interrompeu Alethea admirando os anéis em seus dedos, mas lançando um olhar severo a outra.
-O que aconteceu da última vez? – Perguntou Tristan olhando para cada mulher que desviaram o olhar, mas Brumália continuava a olhar.
-O azul é meio que... – Começou Brumália apertando a saia que usava.
-m*l presságio – Exclamou Agatha batendo na boca – mas é coisa da nossa cabeça, não é real, o que aconteceu com aquela dançarina não vai acontecer com você.
-O que aconteceu com ela – Repetiu Tristan impaciente tirando a mão de Agatha de seu ombro para vira-se para vê-la melhor – ele morreu?
-Quem dera – Resmungou Brumália triste – ela estava dançando com o azul, mas então um incêndio começou e todo o seu corpo foi consumido, mas ela sobreviveu e agonizou até a morte, dizem que foi Hera quem a amaldiçooupor causa da cor Azul que era contraria a homenagem que fazíamos a ela, azul é a cor de Zeus e Poseidon assim como Branco, talvez Hera tenha visto como um convite para ambos os deuses e a castigou por “flertar” com seu marido.
-Só por causa da cor? Eu imaginaria que é a cor do Mar, então seria um convite a Poseidon? É ridículo, uma roupa não é convite – Retrucou Tristan incrédulo – vou vestir essa cor aí e vou provar que essa cor não tem nada a ver com maldições.
Brumália encarou Alethea que suspirou. Agatha estava radiante. A cor azul era única e poderiam ser recompensadas caso usassem ela.
-A Senhora pediu mesmo que você usasse a cor – Comentou Donatília pegando na mesa a tiara com o lenço verde – quem vai pegar a roupa?
O silencio caiu sobre as mulheres deixando Tristan desconfortável. Elas pararam de se arrumar. Donatília tossiu para espantar o momento e virou se para o rapaz.
-Senhora quer que vá até ela, acho que a roupa está com ela – Contou Donatília – possivelmente nem será agente a te arrumar, vi as garotas de Safar.
-Safar aqui? A Senhora realmente está tramando alguma coisa, Safar só vem quando é algo importante demais – Murmurou Brumália – será que você está certa Dona? E se Tristan pertencerrealmente a Epires e for o dançarino do Senador, então teremos a atração da noite, dois homens poderosos disputando uma pessoa, iram vir para ver o quão bom ele é, Tristan sinto muito, mas o seu preço acabou de triplicar.
-E fica cada vez melhor, nada melhor do que ser disputado como um objeto por pessoas que nem se importam com o meu nome – Grunhiu Tristan furioso – não quero
Tristan pegou a almofada ao seu lado e escondeu o rosto. Deu um grito e afastou o objeto com mais calma. Colocou a de volta no lugar e sorriu. De repente uma mulher entrou no recinto. Suas vestias na coloração amarelada com uma coroa na cabeça. Seus olhos felinos focaram no jovem.
-Espero que esteja pronto – Falou a mulher com voz grave – não temos tempo, mas farei de você um tesouro, vamos!
Tristan se pós de pé rapidamente e se aproximou com cautela. A mulher o analisou de cima a baixo e franziu o cenho desgostosa. Balançou a cabeça e segurou o rosto do jovem com rudeza o virando de um lado ao outro.
-Teremos trabalho – Suspirou ela quando uma mulher apareceu e o cobriu com um manto – vamos logo.
O jovem foi empurrado para longe das outras mulheres. Tristan conseguiu virar uma última vez e viu Brumália com pena. Aquilo era r**m, definitivamente muito r**m mesmo, teria que se cuidar.
A mulher misteriosa praticamente o abraçava por cima do manto quando passaram pela porta de madeira vazada destrancada e passavam em frente ao tablado. Uma sala se abriu ao passarem pela porta. Era uma câmara secreta? Com um tablado menor com almofadas maiores a sua volta. Era visivelmente muito mais bonito e trabalhado. Deslumbrando com o cuidado com os detalhes Tristan não notou quando a mulher parou. Ela segurou o manto e o tirou de uma vez fazendo o jovem cair em uma almofada.
-Quero que ele seja preparado para um Deus – Ordenou a mulher encarando o de cima – não poupem nada, quero que se pareça com algo valioso, nascido do próprio Universo, filho de uma estrela!
-Sim senhora – Concordaram vozes em uníssono.
A mulher deu um passo para o lado revelando quatro mulheres vestidas iguais. Seus rostos eram direcionados para o que carregavam. A primeira carregava tecidos azuis. A segunda carregava uma caixa com cheiro delicioso. A terceira carregava uma caixa encrustada de joias. A última carregava nada menos nada mais do que uma tiara em uma almofada. Sentia-se indo a uma coroação. Encolheu se na almofada sabendo que aquilo seria muito desconfortável.
-Não seria muito? – Perguntou Tristan baixo engolindo em seco.
-Nunca é demais aparecer – Retrucou a primeira colocando os tecidos no tablado e oferecendo sua mão para que o modelo se levantasse – e você será impossível de ser ignorado, posso prometer.
De pé novamente o jovem apenas concordou. A porta foi fechada e sua esperança teve que se manter intacta, fugiria aquela situação. As mãos de desconhecido tocaram sua camiseta. Ele se afastou. Pelo menos tiraria ele mesmo. Elas apenas concordaram esperando-o tira-la pela cabeça. Estar exposta naquele jeito era r**m.
-Poderíamos colocar os braceletes com pingentes, movimento seria melhor – Sussurrou a segunda espalhando os perfumes no tablado.
-O tecido azul pode fazer parte da peça – Murmurou a terceira colocando a caixa de joias no tablado ao lado e virando se para Tristan que continuava seminu – sabe apresentar uma dança em homenagem a Poseidon?
-Não sei... – Respondeu Tristan.
-Consiste em dançar para adorar o Divino, deverá ser mais ondulatória e vibrante, as outras dançarinas acompanharam seus movimentos com lenços azuis, é uma coreografia difícil, consiste mais em sentir e criar na hora – Explicou a quarta mulher com a coroa em mãos ainda – vai conseguir.
-Então acho que sim – Falou Tristan nem um pouco confiante.
Foi quando a primeira pegou o tecido e este se mostrou ser uma saia. Azul celeste com fios prateados que reluziam os raios solares que entravam pelos vitrais na parede. Parecia de tecido leve e fluido. Ela se aproximou e olhou para a calça do jovem que tapeou com a mão envergonhado. Ela colocou a saia ali e se virou assim como toda as mulheres.
Respirou fundo e abaixou a calça que vestia já colocando a outra como podia. Ela foi posta por cima e caiu em seus quadris. A leveza daquilo era irreal. Parecia que nada vestia. Balançou os quadris e percebeu como ela flutuava. As mulheres se viraram e começaram a trabalhar. A base já estava posta.
A primeira tinha olhos castanhos claros e se ajoelhou para arrumar a saia que na verdade tinha um botão perto do pé para abotoar. Ajustado ali ela segurou sua canela e a levantou quase o derrubando para ver o caimento. Seu joelho estava a mostra assim como sua coxa. Ela abaixou e fez com a outra. Elas poderiam avisar pelo menos, pensou Tristan quando a segunda mulher, está com olhos amendoados, veio com um incenso que começou a passar em seus braços e peito. Sua mão passava tão rápido que era como se nunca tivesse estado ali.
A terceira, com olhos castanho escuros, veio com as joias. Colocou nos pulsos e no braço mais a cima perto dos ombros braceletes com pingentes melodiosos. Não eram sinos, pareciam outra coisa. Enquanto em sua cintura era posto uma correntinha.
A última, de olhos mais esverdeados, já arrumava o tecido azul celeste na tiara com cuidado. Nenhum som era ouvido além do tecido e o tilintar dos braceletes. O silencio era seu parceiro, pensou Tristan apenas ignorando as mãos em seu corpo. Seu cabelo caia sobre seus olhos e foram borrifados um pó dourado em cima deles.
-Coloque os raminhos para que pegue o cheiro – Lembrou a de olhos esverdeados indo pegar na caixa de perfumes e voltando com raminhos familiares – alecrim, segundo a Senhora, ela disse que gosta muito, é estranho nunca achei que ela gostava desse cheiro.
“Cheirar a alecrim principalmente em um lugar como este significa que você está pronto para qualquer coisa e fará qualquer coisa que pedirem” a voz de Epires ecoou em sua mente quase que imediatamente ao sentir o cheiro do alecrim. Balançou a cabeça para espantar tais pensamentos. Seu rosto foi segurado pela segunda mulher que levantou um pincel até o seu rosto. Arregalou seus olhos confuso.
-Seus olhos serão os únicos a serem vistos, temos que dar a eles mais destaque – Explicou a de olhos castanhos claros – fique parado, temos pouco azul para desperdiçar assim, feche os olhos
Ele concordou em silencio e fechou seus olhos. Sentiu o pincel macio passar por seus olhos, indo e voltando. Então algo mais frio foi posto ali e espalhado. Um pequeno puxão em seus cílios e eles foram soltos. Sentiu seus cabelos serem colocados de lado. Um toque em seu queixo e ele abriu seus olhos. As mulheres deram um passo para trás e avaliaram o que haviam feito.
A última se aproximou e o coroou com a tiara. O tecido foi arrumado e caiu sobre seu nariz, cobrindo suas bochechas e deixando os olhos a mostra. Elas sorriram deslumbradas. Um toque na porta e ela se abriu para a Senhora que ficou de queixo caído.
-Está quase pronto Senhora – Avisou a terceira mulher calmamente.
-Coloquem mais joias, quero que ele brilhe – Pediu a Senhora sorrindo ao pensar nas quantias que ganharia naquela noite – já temos clientes que estão esperando, chegaram mais cedo, mas só mais tarde.
-Sim Senhora – Falou a quarta mulher deixando o tecido azul mais arrumado.
A porta se fechou e elas relaxaram. Se juntaram e começaram a cochichar entre elas. Tristan apenas ficou ali parado esperando alguma coisa acontecer quando a que lhe colocara os braceletes se aproximou com a caixa. Com ajuda das outras ela a colocou aos pés do jovem que pode ver o quanto de ouro existia ali dentro. Cada uma pegou algo.
Em seus ombros foram colocadas ombreiras de correntes que lhe prendiam nos braceletes um pouco abaixo do ombro. Em seus dedos foram os anéis com correntes presas em seus pulsos. Parecia acorrentado á ouro. Um simbolismo que o fez querer gritar. Respirou fundo o aroma de alecrim presente no ambiente fechado. Em seus quadris um cinto de sinos e pingentes brilhantes. Elas voltaram a se afastar e dessa vez pareciam mais satisfeitas.
-Parece uma Divindade – Elogiou a primeira procurando falhas – dance alguma coisa, quero ver se algo lhe atrapalha.
Tristan concordou. Ondulou o abdômen sendo presenteado pelos sinos. A lembrança da expressão do Senador o fez contorcer o rosto. Balançou os ombros sentindo as correntes acariciarem a pele assim como suas mãos que ao levantar provocaram um leve carinho.
-Parece bom – Murmurou a quarta mulher – vou chamar a Senhora Safar.
Ela abriu a porta e sumiu. Tristan deixou a tristeza consumi-lo naquele instante. Tudo estava dando voltas e não saia do lugar. Rodara de mão em mão e agora estava naquela situação. Droga. Precisava voltar logo para casa. porém como? Se desse um passo sem supervisão poderia ser seu último dia.
-Não fique triste – Pediu a segunda mulher tirando uma mecha preta da testa – senão sua dança mostrará tristeza.
-Não tem como ficar feliz sabendo que para cada pessoa sou nada mais nada menos do que uma mercadoria ou objeto que pode ser usado como quiser – Retrucou Tristan tentando controlar o tom de raiva em suas palavras.
-Eu entendo – Disse a mulher encarando o com seus olhos amendoados – não faz ideia de como eu entendo.
Ele teve vontade de abraça-la, mas ela se virou e saiu pela porta. A terceira mulher foi guardar as coisas nas caixas com ajuda da primeira. Elas estavam em completo silencio. Tristan começou a analisar os objetos que lhe cobriam a pele. Ouro. Era tão fácil assim conseguir ouro? Senador ter ouro era uma coisa, mas aquele lugar... os clientes eram ricos então não era lá muito inacreditável, mas de onde eles tiravam?
-Está na hora – Anunciou a mulher que fora chamar a Senhora Safar que apareceu atrás já entrando.
Seus olhos rápidos cobriram o corpo do rapaz admirando. Seu sorriso foi aumentando até que encontrou os olhos verdes de Tristan, seu sorriso parecia rasgar o rosto de tamanha satisfação. Ela se aproximou tocando a tiara e alisando o tecido no rosto.
-Se você não fosse de Geruza, eu o levaria comigo –Sussurrou Safar tocando com a unha o queixo do garoto e o levantando – o Senador não mentiu, você é belo.
-Obrigada – Falou Tristan afastando seu queixo da mulher que deu uma risada – é melhor me preparar.