MARIA FERNANDA NARRANDO
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Mais um dia de aula, minhas olheiras estavam escuras por ter ficado acordada a noite toda acudindo mamãe que estava m*l. Os remédios dela já estavam acabando e meu coração apertado por não ter dinheiro suficiente pra bancar a cirurgia da mesma, o tempo já estava acabando e o câncer tomava conta cada vez mais do corpo da minha mãe. Aliso seu rosto antes de sair pro colégio, ela dormia tão serenamente que minha vontade era de permanecer ao seu lado o tempo todo.
Entro dentro da sala de aula atrasada, e como de costume, sento na primeira carteira. Era o meu último ano, e o meu maior sonho tão distante, era estudar numa faculdade federal. Não havia circustância pra isso acontecer e eu me dedicava a pessoa que se dedicou por mim durante 18 anos, não iria abrir mão de nada, minha mãe dependia de mim. Amanda puxou a cadeira pra perto de mim depois da professora ter pedido pra gente se organizar em duplas para um trabalho de apresentação, eu apenas a conhecia por nome, há boatos que eu faço questão de não repetir por serem totalmente chulos. O tema era sobre Machismo e eu agradeci aos céus por saber abordar bem o assunto.
- E aí, mina. Vamos fazer?
- Vamos sim.
Nos juntamos e Amanda falou o que ela achava sobre o assunto. No início, eu quis rir. Ela era totalmente patética e acreditava que o homem podia fazer o que quisesse dela, inclusive trair, mas que ela mesma não podia descobrir porque senão iria cair na porrada com a outra trouxa que foi enganada pelo macho safado.
- Menina, em que mundo você vive? - Pergunto abismada.
- Respeita minha opinião. - Ela diz jogando os longos cabelos pro lado e o som dos dentes mastigando o chiclete me irritavam ainda mais. Era evidente que ela não tinha muita noção do que falava simplesmente por não ter conhecimento sobre o assunto.
- Nunca vamos entrar em um consenso com esse seu argumento inútil. - Falo com raiva, batendo a caneta na mesa.
- Olha aqui garota, coloca qualquer merda nesse papel! Por isso que eu sempre te vejo sozinha pelos cantos, sem ninguém! Não deve parar com homem nenhum porque não sabe respeitar, servir, satisfazer. - Abri a boca umas duas vezes, incrédula, por ela ter a mente tão pequena. - Se eu vejo meu boy se esfregando com alguma mina na minha frente, eu tasco um p*u que ela nunca mais vai esquecer.
- Você tem que meter é o p*u nele! Quem te deve fidelidade é ele, não ela. E quanto a mim, esse seu pensamento medíocre te cega! Não te devo explicação nenhuma da minha vida, sua escrota! E antes estar sozinha, do que se submeter a um macho que te faz de gato e sapato. Aprende a virar mulher o suficiente pra se impor no relacionamento e na sociedade, e depois venha conversar comigo! - Falo num tom alto e grosseiro.
Algumas pessoas da sala olhavam curiosas e intrigadas com a nossa repentina discussão, me assustei quando Amanda, com sua blusa do colégio marcada nos s***s e o seu exagerado sutiã vermelho que se fazia bem presente na blusa fina. Ela tromba para cima de mim pronto para rebater e eu levanto para encará-la, mas antes que ela desse um pio, a professora entra na nossa frente mandando irmos para a "diretoria".
Mas, Colégio Público era sempre uma moleza, ainda mais quando era Ensino Médio. Os alunos faziam o que queriam, matavam aula na biblioteca precária, iam embora antes da hora, e era isso que eu estava fazendo. Andava em passos longos ignorando os protestos daquela babaca que achava que sabia da minha vida. Pior do que homem machista, era mulher machista.
Meu dia estava sendo uma péssima merda.
Esperei no ponto durante uns 45 minutos e aquela merda não vinha de jeito nenhum. Uma chuva fina caia e foi aumentando, eu iria me atrasar pro trabalho depois de não ter ido no dia anterior. Merda! Mil vezes merda! Bufei irritada e conferi no meu relógio simples, 20 minutos pra eu estar no Bar do seu Zé. O ônibus veio, igual sardinha, e eu me enfiei naquela multidão até chegar perto da porta, onde desceria depois de uns minutos.
Corri igual uma condenada até a minha casa, minha mãe estava deitada como sempre de banho tomado assistindo a sua novela.
- Querida, está atrasada.
- Ai mãe, nem me fala! Meu dia foi péssimo! - Lamentei enquanto trocava de roupa.
Estava 20 minutos atrasada, dei um beijo na testa da mulher que me motiva a continuar nessa rotina insuportável e corri rápido até o meu trabalho. Estava movimentado e havia uma outra menina servindo, será que finalmente ele tinha senso pra ver que o trabalho para uma só era pesado demais? Me animei e adentrei ao bar, passando pela portinha restrita indo pegar meu avental, mas notei o que o mesmo não estava ali.
- Mas cadê esse aven... - Fui interrompida por um velho nojento, me olhando com sarcasmo.
- Você foi substituída, gostosinha. Esta despedida.
Ele diz e eu sinto meu mundo abrir sobre os meus pés, me jogando num abismo sem fim. Eu praticamente necessitava daquele emprego! Eu precisava ajudar a mamãe! Sinto lágrimas brotando nos meus olhos e meu coração se aperta de angústia, isso não podia estar acontecendo.
- Não faça isso, por favor! - Digo chorando, juntando as mãos e quase implorando.
- Já está feito. Guarde suas lágrimas pra chorar por outro emprego, vai precisar. - Ele diz alisando o bigode branco e sorrindo. Sorrindo do meu sofrimento.
- Eu faço qualquer coisa! Mas não me demita! - Insisto, em prantos. Ele me analisou bem, olhou para o meu corpo.
- Qualquer coisa?
Eu entendi de imediato as suas segundas intenções, e eu odeio quem me olhava como um pedaço de carne. Agora que estou demitida, posso fazer o que sempre quis. Puxei da garganta meu saliva e cuspi em seu rosto, com vontade e satisfação.
- Nojento!
Sai pelo bar e andei sem rumo pelas ruas, pensando o que seria de mim sem um emprego? Como eu conseguiria salvar minha mãe? Os pensamentos eram tantos, o tempo estava esgotando e eu me via num beco sem saída. Eu mais que necessitava desse dinheiro. Sento no banco da pracinha, sem me importar com os olhares, sem ligar para o meu cabelo pro alto e despenteado ou pra minha blusa molhada com minhas lágrimas. Eu só queria sofrer em paz, e não podia fazer com minha mãe em casa.
Não sei quanto tempo fico ali, mas sinto uma mão forte tocando no meu ombro, me assusto e forço a vista para saber quem é, meus olhos estavam embaçados devido o choro e deveria estar tão vermelho quanto meu saldo do banco. Mas vejo que é o tal Deco e o tal Calibri junto com um homem que eu não conhecia.
- O que aconteceu contigo?
Calibri perguntou, parecia até preocupação, mas eu seria muito iludida mesmo de acreditar que sim. Deco me olhou meio sem jeito, ele não gostava muito de manter contato visual comigo e eu não sabia se o problema era eu, ou ele.
- Nada. - Digo me levantando, limpando minha b***a com a poeira que havia se instalado lá e limpando meus olhos com o ante-braço.
- Não quer falar... então problema é seu. - O Chefão murmura ríspido, com uma arma trajada nas costas, acoplada com um cinto.
- Calma, Calibri. - O Deco se refere ao amigo com raiva e me puxa. O homem que estava com eles, permanece calado. Ele era loiro, um dos homens mais bonitos que já vi no Morro, mas não chegava aos pés do escroto.
- Aconteceu alguma coisa com sua mãe? - Deco pergunta analisando minhas expressões, e eu estaco.
- Não. - Suspiro.
- Ótimo então.
- Me fala qual é a sua? - Me irrito.
- Desculpa?
- Essa história de saber de toda a minha vida e não me contar como! - Cruzo os braços.
- Um dia você vai saber. - Ele se vira de costas, mas a minha raiva é tanta que eu tenho a ousadia de puxá-lo de volta.
- Você vai me dizer! Agora!
- Você é insuportável assim sempre ou só de vez em quando? - Ele diz e eu vejo quase uma sombra do seu sorriso.
- Só quando certas pessoas testam os meus limites. Nunca precisei ser agressiva com ninguém, sempre resolvi na base do dialogo, mas parece que você vive fugindo de mim e não consegue conversar comigo.
- Não fujo, só não faço questão de conversar com você. - Ele me olha com desdém e eu olho-o do mesmo jeito.
- Vamos logo, filho da p**a!
Ouço o outro babaca chamando. Viro as costas marchando pra minha casa, detestava pessoas misteriosas, e esse menino tinha tudo isso. Ao mesmo tempo que me passava proteção, me passava medo, receio, angústia e um outro sentimento indecifrável.
Talvez o meu erro inicial tivesse sido criar algum vínculo com aquelas pessoas que não faziam e não farão parte do meu ciclo social. Mas antes de me livrar de vez dessas pessoas, preciso descobrir o que esse homem sabe sobre minha família. E eu vou descobrir.
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Capítulo quentinho pra vocês.
Espero que tenham gostado, porque é sempre uma honra escrever pra vocês.
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