Capítulo 3

1370 Words
MARIA FERNANDA NARRANDO ❁❁❁❁❁❁ — Me fala n**a, o que aconteceu. – Cecília diz enquanto pinga álcool 70 na gaze e apoia sobre meu supercílio, nem eu mesma sei como consegui cortar isso. — Meu pai... – Suspiro. – Ele foi onde eu trabalho, me humilhou na frente de todo mundo e quis me bater. Estava drogado e bêbado. – Explico. — Onde você trabalha? – Pergunta passando mertiolate e tapando com gaze e esparadrapo. — No bar do seu Zé. – Sopro, desanimada. Ela faz uma cara estranha que da vontade de rir. — Então você é a tal gostosinha que eu já ouvi comentando... – Ela diz, um pouco sem graça. — Como assim gostosinha? – Pergunto incrédula. Não é possível que alguém julgue uma pessoa por ser "gostosinha". — A gostosinha do bar do seu Zé que n**o comenta direto... – Ouço uma voz conhecida, olho pra trás e me assusto ao ver um homenzarrão na porta, carregando umas sacolas, junto com o Deco. Era o tal dono do Morro e meu coração acelera de uma forma completamente desconhecida. — Eu não sou gostosinha coisa nenhuma. Meu Deus do céu! – Digo colocando a mão na testa e sussurro. – Que falta de respeito. — É sim... – Ele diz curvando a boca num sorriso malicioso e o Deco da um tapa no peito dele. – Qual é, cara. Verdades. – Deco pega as sacolas na mão dele e coloca em cima da mesa de jantar, do outro lado da sala. — Tá com fome, Fernanda? – Cecília pergunta. — Pode me chamar de Mafê. Estou não, estou tranquila. – Falo mesmo sentindo minha barriga roncar de fome. — Não quero saber, vai ter que comer. – O Deco abre uma marmita e coloca no meu colo, junto com um garfo. Quem esse cara pensa que é pra mandar em mim desse jeito? Olho pra Cecília com os olhos arregalados e ela apenas balança os ombros, como se dissesse: "Não posso fazer nada". Bufo e começo a comer, quase que desesperadamente, sem me importar se estavam olhando ou não. Mas penso na minha mãe, que estava a essa hora, sentindo fome, e guardo mais da metade da marmita pra ela. Fecho a mesma e coloco a tampa em cima. Olho pra eles que me olhavam meio surpresos, mas agem como se nada tivesse acontecido e continuam comendo. — Vou guardar pra minha mãe. – Sussurro. — Vocês estão sem comida em casa? – O dono do Morro pergunta. — Calibri... – Cecília diz alto, repreendendo-o com a pergunta. Então esse era o vulgo dele... Calibri... — Eu preciso ir embora agora. Obrigada pela comida e pelo curativo. – Digo juntando minhas coisas pra sair pela porta. — Espera, eu te levo. – Calibri afirma, levantando. — Não precisa, eu vou andando. – Ele finge que não me ouve e pega a chave da moto em cima da mesa de vidro. — Tchau, Mafê. Se quiser vir me visitar, só me chamar no portão. – Cecília diz e eu sorrio sinceramente. Havia gostado muito dela. Me despeço del ela e do Deco, que apenas acena com a cabeça e continua comendo. Ele era meio estranho e parecia ser uma pessoa que guardava muitos segredos. Sigo pra fora e vejo aquele homem bonito e musculoso montado em uma moto enorme em tons dourado e preto. Ele parecia ser o tipo de homem cafajeste, que não aceita um não como resposta e que faz de tudo por aquilo que quer; Ele tinha cara de mau, e eu gostava disso. — Impressionante você me esculachar há algumas horas atras e agora está me oferecendo uma carona pra casa. – Falo escondendo o sorriso, ele segura na minha mão pra eu subir na moto, que era maior que eu. — Se continuar falando muito eu te deixo aqui mesmo e você vai ter que suar nesse sol quente pra ir pra casa. – Ele diz conduzindo a moto pela saída. — Eu falei que não precisava de carona, você que é teimoso. – Ele acelera e por impulso, eu agarro em suas costas largas. — E você é metida e linguaruda demais. Sabe que tá falando com o dono do Morro, né? – Ele fala enquanto eu o guio para a minha casa. — Sei e até agora não entendi porque você quer me espantar falando essas coisas. – Falo quando ele entra na minha rua. Aliás, na rua onde havia mil bueiros abertos. Paramos em frente à minha casa e ele olha surpreso. Parece que todo mundo se espantava com o lugar que, infelizmente era o único, em que podíamos morar. Não tínhamos dinheiro para exatamente nada, eu tinha apenas minhas economias que, se bobear, não bancava nem uma ceia. E o tempo estava cada vez mais curto. — Eu posso te matar. – Ele diz quando eu saio da moto, segurando a sacola de comida como se fosse a minha vida. — Você vai me matar? – Pergunto olhando em seus olhos. Ele permanece me encarando e com um sorriso de lado, sai de cima da moto e é nesse momento em que meu coração para. Ele realmente vai me matar. Mas eu não me deixo abalar, observo-o saindo da moto e vindo até a mim. Ele olha pra minha rua, com lixos espalhados, alguns cachorros revirando os restos de comida, bueiros abertos com uma montoeira de mosquitos em cima. O cheiro não era nada agradável. — Eu não preciso te matar. Esse sujeira vai acabar te matando com alguma doença mesmo. – Ele diz girando os dedos no local. — Infelizmente é o único lugar que eu tenho. – Suspiro, decepcionada. — Vamos. — Vamos pra onde? — Entrar. – Ele aponta pra minha casa e eu engulo seco. — Não podemos. — Por que? – Ele pergunta franzindo o cenho. — Não é lugar em que um dono do Morro deve frequentar. – Sorrio amarelo vendo-o ir na minha frente. Vou logo atrás e ele não espera atitude minha, apenas abre a porta e entra, como se fosse a casa dele. Abuso de homem! Pelo menos minha casa era limpa. — Que abusado! – Sussurro. — Que? – Ele vira pra me olhar e eu reviro os olhos, passando na frente e indo pro quarto, vendo minha mãe dormindo. Beijo sua testa e aliso seu rosto. — Mãe... Eu trouxe comida. Está quentinha. – Falo baixo, ela me olha e sorri. Linda como sempre. — Oi, minha princesa. – O seu sorriso morre na hora em que ela vê o meu machucado. – Meu Deus, minha filha! O que fizeram com você? – Ela leva aos mãos na boca. — Nada, mãezinha. Eu tropecei e caí. – Falo me sentindo péssima por mentir. Calibri aparece atrás de mim, assustando minha mãe. — Oi, tia. – Ele diz pegando na mão da minha mãe e beijando, eu rio da cena. — Oi, meu jovem. – Minha mãe fala, me olhando surpresa. — Mãe, a comida está aqui. Eu vou levar esse moço até a porta e já volto pra gente conversar, ok? – Falo e pisco pra ela, que entende o que eu estou falando e pisca de volta. Ela se senta na cama e pega no garfo de plástico, comendo a comida. — Beijo, tia! – Calibri grita quando eu empurro-o pra sala. — Que i********e é essa? – Coloco a mão na cintura mas ele me ignora. — Esse lugar é podre! – Ele fala olhando para os lados. — Já te falei que é o único que eu tenho! Para de falar m*l da minha casa! – Me irrito e ele vira as costas pra ir embora. — Pra onde você vai? – Pergunto, indo atrás. — Providenciar algo. – Ele liga a moto e sai a mil. Que homem mais louco! Reviro os olhos e fecho a porta de casa. ❁❁❁❁❁❁ Eita! O que que ele vai aprontar? O que estão achando? Lembrando que eu estou tentando ser a mais realista possível com fotos e etc! Espero que estejam gostando. Até a próxima! ♥️
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