MARIA FERNANDA NARRANDO
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— Me fala n**a, o que aconteceu. – Cecília diz enquanto pinga álcool 70 na gaze e apoia sobre meu supercílio, nem eu mesma sei como consegui cortar isso.
— Meu pai... – Suspiro. – Ele foi onde eu trabalho, me humilhou na frente de todo mundo e quis me bater. Estava drogado e bêbado. – Explico.
— Onde você trabalha? – Pergunta passando mertiolate e tapando com gaze e esparadrapo.
— No bar do seu Zé. – Sopro, desanimada. Ela faz uma cara estranha que da vontade de rir.
— Então você é a tal gostosinha que eu já ouvi comentando... – Ela diz, um pouco sem graça.
— Como assim gostosinha? – Pergunto incrédula. Não é possível que alguém julgue uma pessoa por ser "gostosinha".
— A gostosinha do bar do seu Zé que n**o comenta direto... – Ouço uma voz conhecida, olho pra trás e me assusto ao ver um homenzarrão na porta, carregando umas sacolas, junto com o Deco. Era o tal dono do Morro e meu coração acelera de uma forma completamente desconhecida.
— Eu não sou gostosinha coisa nenhuma. Meu Deus do céu! – Digo colocando a mão na testa e sussurro. – Que falta de respeito.
— É sim... – Ele diz curvando a boca num sorriso malicioso e o Deco da um tapa no peito dele. – Qual é, cara. Verdades. – Deco pega as sacolas na mão dele e coloca em cima da mesa de jantar, do outro lado da sala.
— Tá com fome, Fernanda? – Cecília pergunta.
— Pode me chamar de Mafê. Estou não, estou tranquila. – Falo mesmo sentindo minha barriga roncar de fome.
— Não quero saber, vai ter que comer. – O Deco abre uma marmita e coloca no meu colo, junto com um garfo.
Quem esse cara pensa que é pra mandar em mim desse jeito? Olho pra Cecília com os olhos arregalados e ela apenas balança os ombros, como se dissesse: "Não posso fazer nada". Bufo e começo a comer, quase que desesperadamente, sem me importar se estavam olhando ou não. Mas penso na minha mãe, que estava a essa hora, sentindo fome, e guardo mais da metade da marmita pra ela. Fecho a mesma e coloco a tampa em cima. Olho pra eles que me olhavam meio surpresos, mas agem como se nada tivesse acontecido e continuam comendo.
— Vou guardar pra minha mãe. – Sussurro.
— Vocês estão sem comida em casa? – O dono do Morro pergunta.
— Calibri... – Cecília diz alto, repreendendo-o com a pergunta. Então esse era o vulgo dele... Calibri...
— Eu preciso ir embora agora. Obrigada pela comida e pelo curativo. – Digo juntando minhas coisas pra sair pela porta.
— Espera, eu te levo. – Calibri afirma, levantando.
— Não precisa, eu vou andando. – Ele finge que não me ouve e pega a chave da moto em cima da mesa de vidro.
— Tchau, Mafê. Se quiser vir me visitar, só me chamar no portão. – Cecília diz e eu sorrio sinceramente. Havia gostado muito dela. Me despeço del ela e do Deco, que apenas acena com a cabeça e continua comendo.
Ele era meio estranho e parecia ser uma pessoa que guardava muitos segredos.
Sigo pra fora e vejo aquele homem bonito e musculoso montado em uma moto enorme em tons dourado e preto. Ele parecia ser o tipo de homem cafajeste, que não aceita um não como resposta e que faz de tudo por aquilo que quer; Ele tinha cara de mau, e eu gostava disso.
— Impressionante você me esculachar há algumas horas atras e agora está me oferecendo uma carona pra casa. – Falo escondendo o sorriso, ele segura na minha mão pra eu subir na moto, que era maior que eu.
— Se continuar falando muito eu te deixo aqui mesmo e você vai ter que suar nesse sol quente pra ir pra casa. – Ele diz conduzindo a moto pela saída.
— Eu falei que não precisava de carona, você que é teimoso. – Ele acelera e por impulso, eu agarro em suas costas largas.
— E você é metida e linguaruda demais. Sabe que tá falando com o dono do Morro, né? – Ele fala enquanto eu o guio para a minha casa.
— Sei e até agora não entendi porque você quer me espantar falando essas coisas. – Falo quando ele entra na minha rua. Aliás, na rua onde havia mil bueiros abertos. Paramos em frente à minha casa e ele olha surpreso.
Parece que todo mundo se espantava com o lugar que, infelizmente era o único, em que podíamos morar. Não tínhamos dinheiro para exatamente nada, eu tinha apenas minhas economias que, se bobear, não bancava nem uma ceia. E o tempo estava cada vez mais curto.
— Eu posso te matar. – Ele diz quando eu saio da moto, segurando a sacola de comida como se fosse a minha vida.
— Você vai me matar? – Pergunto olhando em seus olhos. Ele permanece me encarando e com um sorriso de lado, sai de cima da moto e é nesse momento em que meu coração para.
Ele realmente vai me matar.
Mas eu não me deixo abalar, observo-o saindo da moto e vindo até a mim. Ele olha pra minha rua, com lixos espalhados, alguns cachorros revirando os restos de comida, bueiros abertos com uma montoeira de mosquitos em cima. O cheiro não era nada agradável.
— Eu não preciso te matar. Esse sujeira vai acabar te matando com alguma doença mesmo. – Ele diz girando os dedos no local.
— Infelizmente é o único lugar que eu tenho. – Suspiro, decepcionada.
— Vamos.
— Vamos pra onde?
— Entrar. – Ele aponta pra minha casa e eu engulo seco.
— Não podemos.
— Por que? – Ele pergunta franzindo o cenho.
— Não é lugar em que um dono do Morro deve frequentar. – Sorrio amarelo vendo-o ir na minha frente. Vou logo atrás e ele não espera atitude minha, apenas abre a porta e entra, como se fosse a casa dele. Abuso de homem! Pelo menos minha casa era limpa.
— Que abusado! – Sussurro.
— Que? – Ele vira pra me olhar e eu reviro os olhos, passando na frente e indo pro quarto, vendo minha mãe dormindo. Beijo sua testa e aliso seu rosto.
— Mãe... Eu trouxe comida. Está quentinha. – Falo baixo, ela me olha e sorri. Linda como sempre.
— Oi, minha princesa. – O seu sorriso morre na hora em que ela vê o meu machucado. – Meu Deus, minha filha! O que fizeram com você? – Ela leva aos mãos na boca.
— Nada, mãezinha. Eu tropecei e caí. – Falo me sentindo péssima por mentir. Calibri aparece atrás de mim, assustando minha mãe.
— Oi, tia. – Ele diz pegando na mão da minha mãe e beijando, eu rio da cena.
— Oi, meu jovem. – Minha mãe fala, me olhando surpresa.
— Mãe, a comida está aqui. Eu vou levar esse moço até a porta e já volto pra gente conversar, ok? – Falo e pisco pra ela, que entende o que eu estou falando e pisca de volta. Ela se senta na cama e pega no garfo de plástico, comendo a comida.
— Beijo, tia! – Calibri grita quando eu empurro-o pra sala.
— Que i********e é essa? – Coloco a mão na cintura mas ele me ignora.
— Esse lugar é podre! – Ele fala olhando para os lados.
— Já te falei que é o único que eu tenho! Para de falar m*l da minha casa! – Me irrito e ele vira as costas pra ir embora.
— Pra onde você vai? – Pergunto, indo atrás.
— Providenciar algo. – Ele liga a moto e sai a mil.
Que homem mais louco! Reviro os olhos e fecho a porta de casa.
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Eita! O que que ele vai aprontar?
O que estão achando?
Lembrando que eu estou tentando ser a mais realista possível com fotos e etc! Espero que estejam gostando.
Até a próxima!
♥️