Três meses depois
(Aurora)
Eu sonho com ele. Todas às noites. E ele me ignora, sempre, mesmo quando estamos um na frente do outro o sonho todo. Mas tudo bem.
Sério, tudo bem mesmo. Assim eu foco nos meus estudos.
Comecei com o curso de moda à um mês, e estava indo tudo bem, até chegar a segunda semana e uma aluna nova aparecer. Luna. É. Ela mesma, que está fazendo minha vida virar um inferno. Ela está super de marcação comigo, sua profissão é fazer meus dias cada vez piores.
Às vezes penso que, ou ela tem inveja de mim, quer ser eu, ou ainda tem ciúmes do Lucas, por causa daquele dia na formatura. Seja como for, eu não vou cair nessa. Se ela quer que eu me sinta menor e insegura, está muito enganada, porque não vai conseguir me fazer sentir assim. Ela é quem vai se sentir assim, se já não está.
- Com licença. - Digo à bibliotecária da universidade assim que entro no prédio. - Pode me dizer onde fica os livros de história?
- Que tipo de história, meu bem? - A mulher, com a aparência jovem demais para estar nesse cargo, me pergunta.
- Ahm... - Dou uma olhada no papel com a lista de livros que eu tenho que ler. - História geral... Da moda... Coisa assim.
- Entendi. - Ela assente, se levanta e aponta para um dos imensos corredores formados por livros. - Siga o corredor H, bem na metade você irá encontrar uma placa para o corredor HG, talvez você encontre algo lá ou no HM.
- Muito obrigada.
Sigo pelo corredor, olhando em volta, pelos corredores transversais. E quando vejo um casal aos amassos, é o que me faz parar e os olhar, incrédula, com a aparência deles. O garoto parece o Arthur e a garota a Luna.
Eles interrompem o beijo e me olham. Arthur parece surpreso, e envergonhado. Luna parece gostar do meu choque. Eu realmente não sei porquê não estou surpresa, a ponto de deixar meu queixo cair.
- Parece que a gorda está com ciúmes, não é, Arthuzinho? - Luna se dirige à ele, sem parar com o nosso contato visual. Ela me encara como se estivesse me desafiando. - Só que ela vai ficar sozinha, e sofrendo, porque ninguém a quer!
Ela ri, sozinha, e eu e Arthur a olhamos, porque ela está totalmente histérica.
Reviro os olhos e volto a andar pelo corredor, à procura da seção onde está os livros que procuro.
- Não vai dizer nada?! - Ouço a insuportável atrás de mim. - Está com tanto medo assim, ou está confirmando minha total razão?
Bufo e viro no corredor HG. Começo a procurar os livros nas estantes, e vejo pelo canto do olho quando Luna entra no corredor, super nervosa e à procura de uma confusão.
- Fala alguma coisa! - Luna continua.
Revirou os olhos e realizo o seu desejo. Me viro e a encaro.
- Eu não tenho medo de você, e você não tem razão. Não que eu te deva satisfação, mas não estou com ninguém porquê eu não quero. Além disso, você está com meu resto, pela segunda vez.
- Segunda...?
- É. - Sorrio e cruzo os braços, super afrontosa, desafiadora e corajosa. - Eu estava pegando Lucas antes de você. Mas com ele nunca foi sério. Você sabe, tem meninos que não servem para ter alguma relação séria, e Lucas é um desses. Não é atoa que ele terminou com você antes de ir viajar, e na mesma noite já estava com outra.
Praticamente chamei o Lucas de galinha. Tomara que isso não chegue à ele; mas eu duvido que não chegue. Mas aí vai ser bem feito, para ele ver como estou morrendo de ódio, tanto dele quanto da Luna, que não me deixa em paz.
- Isso quer dizer que você, além de gorda, é uma v***a. - Agora Luna diz menos histérica. - Você traiu o Arthurzinho, para ficar com o galinha. - tá legal, ela pegou pesado, mas não tanto quanto eu.
Dou de ombros. - Como se você nunca tivesse feito isso.
Agora ela que bufa, bate o pé e vai embora. Porque ao contrário dela, eu sempre tenho razão. Não que eu me orgulhe muito disso.
***
Pelo resto do dia, Luna finalmente parece me esquecer, e me deixa em paz. Arthur também, graças à Deus.
Vou para minha casa no meio da tarde, depois de estudar até meu cérebro quase estourar. Depois de entrar no apartamento batendo às portas, subo os degraus até meu quarto, batendo os pés.
Assumo que às vezes sou dramática demais, ou mimada. Mas, caramba! Tive um dia h******l!
Entro no meu quarto, bato a porta na hora de fechar, jogo minha mochila para qualquer lado e me jogo na cama. Talvez eu esteja de TPM.
Respiro fundo algumas vezes para limpar a mente. Então percebo que está tudo muito silencioso, silencioso demais para essa hora da tarde.
Geralmente Elizabeth está com o som nas alturas, ou com algum colega fazendo lição de casa. Fecho os olhos e conto até 100. Se eu não ouvir nenhum sinal de vida, vou me levantar e procurar minha irmã pela casa. As vezes ser irmã mais velha é sinônimo de: 1. Dor de cabeça; e, 2. responsabilidade ao extremo, precocemente.
Me levanto quando chego a duzentos, e saio do meu quarto. Olho de um lado para o outro, no corredor. Nada. Caminho até o quarto dela e bato em sua porta.
- Elizabeth? - Falo com a porta cor-de-rosa. Nenhuma resposta. - Elizabeth, você está aí? - Colo meu ouvido na porta, na esperança de ouvir alguma coisa. Nada! - Vou ter que abrir a porta, mana, mil desculpas.
Abro a porta e o quarto arco-íris, como ela o chama, está impecávelmente arrumado. E vazio. A porta do banheiro está aberta, dou uma olhada lá dentro, mas está na mesma situação que o quarto.
- Dona Elizabeth, onde você se enfiou? - Falo sozinha, saindo do quarto e rodando o triplex inteiro atrás da minha irmã.
Eu não a encontro em lugar nenhum, então pego meu celular e ligo para ela. Ligo uma, ligo duas, ligo três vezes.
E NADA DE ELIZABETH!
Talvez seja melhor ligar para a Abby, talvez elas estejam juntas. Melhor assim, em vez de já ligar para a mamãe, não é?!
Ligo para a Abby, que atende na terceira tentativa.
- Oi! - Ela diz com a voz mais animada que o normal.
Estranho.
- Oi, Abby, tudo bem? - Tento ser simpática, mesmo nervosa. - A Elizabeth está com você?
- Ah... Então... Ela está sim. Ela meio que perdeu a chave, então veio aqui pra casa... Tem problema? - Abby gagueja um pouco. Mas Abby nunca gagueja.
- Bem... Mais ou menos. Ela deveria ter avisado para mim, ou para a nossa mãe. Eu posso falar com ela?
- Não! Quer dizer... Olha, ela tá meio ocupada... Acho que o lanche da escola não lhe fez bem...
Reviro os olhos.
Que desculpa esfarrapada!
Como se eu não fosse sacar!
Elas acham que eu nasci ontem?!
- Abby, eu já tive a idade de vocês. - agora falo séria. - Se você não me disser onde, e com quem a Elizabeth está, eu vou ligar para a mamãe e dedurar as duas.
- O que?! - Ela fica mais nervosa ainda. - Olha, Aura, ela está aqui, acredita em mim!
- Então passa o telefone pra ela, ora!
- Mas Aurora...
- O que? - Bufo e me sento no sofá da sala. - Qual o problema em me falar onde ela está? Eu preciso saber! Melhor do que a dona Victória, não acha?
Ela resmunga alguma coisa, fica quieta por uns segundos, mas, finalmente, decide falar a verdade.
- Ela saiu com o Bernardo, meu primo. - Ela fala um pouco rápido demais. Por pouco eu não entendo o que ela diz. - Mas eles já estão chegando! Não brigue com ela, Aurora, nem fala para a tia Victória. Por favor.
- Depende do que ela foi fazer. E onde.
- Aimeudeus, sério que você quer saber?! - Ela parece um pouco exasperada. Tento segurar o riso, porque isso é engraçado. - Eles só disseram que iam no cinema. Mais nada, juro! Se eles mentiram para mim então já não é minha culpa.
- Tá! - Olho para o teto e penso um pouco. - Vê se consegue falar com ela, ela não me atende. Diz pra ela vir pra casa. Mamãe chega daqui à meia hora.
Desligo a chamada.
Rio de leve. Mamãe vai chegar mais tarde hoje, uma pena que nenhuma das duas saibam.
Mas isso é bom, para elas aprenderem que não é assim que a banda toca. Apesar de comigo ter sido diferente. Mas tanto faz.