- Blake narrando:
Tenho tentando transformar a minha mente em um grande vazio nos últimos minutos, mas não consigo.
Abro os olhos e encaro a tela em branco na minha frente. Eu precisava que a minha mente estivesse assim, um grande borrão branco pronto para criar alguma coisa, mas não consigo.
Há semanas não consigo pintar nada, nem ao menos consigo compor, e isso tem tirado completamente a minha paz.
É isso que eu sou. Só isso que sei fazer com a minha vida.
Viver de arte.
Qualquer uma delas.
Sou bom em tocar, compor, pintar... Os meus desenhos sempre foram os melhores da escola.
Grandes artistas gravam as minhas composições quase todos os meses e as minhas telas estão penduradas em paredes por todo o país.
É assim que vivo. Só isso que sei fazer.
Mas nas últimas semanas não consigo me concentrar em nada.
Suspiro pesadamente e tiro os meus pés do descanso do banco alto de madeira crua que estou sentado. Me inclino para frente, na diagonal para direita, e coloco a paleta de tinta que seguro em cima da mesa de cavalete. No lugar dela, volto com o cigarro que estava queimando sozinho no cinzeiro.
Retorno meu corpo completamente para o banco e coloco o cigarro entre os lábios. Cruzo os braços na frente do peito e volto a encarar a tela.
Você precisa pintar alguma coisa!
Tenho uma exposição aqui no atelier no próximo mês e não tenho quase nada para colocar na amostra. Tenho algumas telas antigas, as mesmas de sempre. Aquelas que nunca consigo vender.
Merda!
— Porque você não volta para cama? — escuto a voz dela antes de sentir os seus braços sobre os meus ombros.
Os seus fios loiros de cabelo roçam na minha bochecha e logo depois sinto que os seus lábios estão no meu pescoço.
Isso é bom!
Qual o nome dela? Jess, Jenna, Jenny, j**k?
Foda-se!
Isso não importa agora. O que importa é que ela é boa com as mãos e suas mãos agora estão deslizando pela lateral da minha cintura e se infiltrando no meu short de corrida.
— Ainda não são nem 6 da manhã. — ela ronrona no meu ouvido.
— Continue.
Ordeno quando me inclino para frente e devolvo o cigarro ao cinzeiro. A sua mão começa a se movimentar em mim e isso é bom para c*****o.
Não a conheço e isso m*l importa agora. s**o sempre ajudou a despertar a minha veia criativa. Tudo bem que eu já transei com ela duas vezes desde que ela entrou no meu loft, mas acho que mais uma vez não vai fazer m*l.
A puxo pelo braço, a coloco no meu colo, de frente para mim, e a seguro firme pela nuca.
— Vai ter que terminar o que começou. — a ameaço e ela dá uma risadinha s****a, travessa.
Me levanto com ela no meu colo e caminho em direção a escada preta, de aço e madeira.
Moro onde eu trabalho. Em baixo fica meu atelier, e tudo o que ele precisa para funcionar, e em cima fica a minha casa. Tudo bem amplo, aberto, e arejado. Colorido também, porque uso as minhas próprias paredes para pendurar e secar os meus quadros. Então tem telas pintadas por mim por todos os lados.
Meu celular começa a tocar assim que jogo a garota na cama.
— Não atende. — ela suplica, manhosa, abrindo os botões da minha blusa social que ela veste.
Sorrio para ela e caminho até a mesa de cabeceira. Quando olho o visor vejo o nome de Andrew, o motorista do meu pai.
Fecho os olhos com força e inspiro profundamente. Eu queria poder não atender, queria muito, mas a garota disse que ainda não são nem 6 da manhã e se Andrew está me ligando é porque meu pai se meteu em alguma confusão, em algum bar da cidade de Chicago.
Abro os olhos e olho para a garota, agora nua na minha cama. Meu p*u ainda está duro, mas ele vai ter que esperar.
— Me dê um minuto. — mostro o indicador a ela e me afasto o suficiente para ter um pouco de privacidade com Andrew. — Andrew?
— Sr. Ward me desculpe ligar essa hora. — sua voz aflita me atinge em cheio. O filho da p**a aprontou alguma.
— Sr. Ward é o meu pai, Andrew. — o lembro um pouco irritado. — O que aconteceu dessa vez?
— Me desculpe mais uma vez... Seu pai está no bar de sempre, estão mantendo-o preso. Não podemos ir embora...
— O que houve dessa vez, Andrew? — repito, o interrompendo e ficando em alerta.
— Seu pai está sendo acusado de e*****o por uma moça. Bateram nele e estamos esperando a polícia chegar. — ele sussurra do outro da linha. — Acho melhor o senhor vir para cá.
De todas as coisas que meu pai já fez por causa desse vício maldito, uma acusação de e*****o vai ser a pior delas. Já tirei ele das piores merdas. Já livrei ele de ir para a cadeia muitas vezes, já driblei a mídia sensacionalista várias vezes, até fiança eu já paguei, mas dessa vez ele foi longe demais.
— Ele tocou na mulher? — pergunto baixo e me viro para a cama, mas a mulher está de bruços. Prestando mais atenção no cabelo que enrosca em seus dedos do que em mim. Tento me controla porque se ele fez mesmo o que Andrew disse, ele merece apodrecer na cadeia.
— Eu... eu não sei, senhor.
— Chego aí em 5 minutos.
Encerro a ligação e caminho até a cama.
— Vou dar uma saída, não sei que horas eu vou voltar. — ela solta um som de insatisfação, mas não fala nada.
Tiro o short e visto uma cueca, uma calça jeans, uma camiseta preta e pego minha jaqueta de couro preta. Enfio o celular no bolso de trás da calça e vou até a mesa de jantar pegar a chave da minha moto.
— É só bater a porta quando for sair. — a garota me olha espantada quando ouve as minhas palavras e eu desço a escada, apressado, em direção ao atelier.
Do último degrau, através da parede de vidro ao lado da porta, já dá para ver que cai uma chuva torrencial do lado de fora.
Pego meu capacete no aparador encostado na parede de alvenaria do outro lado e saio de casa, em direção a garagem na lateral da minha casa.
O pequeno trajeto já me deixa encharcado e isso me deixa puto.
Eu poderia estar em casa pintando a m***a de um quadro novo ou fodendo a loira que está deitada na minha cama, completamente, nua, mas, mais uma vez, estou indo socorrer o meu pai que só faz m***a quando está bêbado e isso se resume a 99% do seu dia.
Monto na minha Yamaha e encaixo a chave na ignição, a giro e piso forte do pedal de partida. Isso faz o ronco do motor ecoar alto, abafado pelas paredes da garagem.
Irrompo pela chuva e giro o acelerador na minha mão direita. Aumento a velocidade conforme deslizo pelas ruas de Chicago. Preciso chegar ao Miami Bar antes da polícia e ter a mínima chance de entender o que está acontecendo lá.
Ainda está de noite, mas quando viro a primeira esquina, no horizonte, já vejo indícios de que o dia amanhecerá em breve.
Mal consigo manter os meus olhos abertos com a intensidade e velocidade que os pingos de chuva caem, mas me esforço ao máximo e giro mais o acelerador. Fechar a viseira só iria piorar a minha visão.
Quando entro no último quarteirão para chegar ao bar, sinto o celular vibrar no meu bolso e quando o pego, escuto um barulho forte de buzina e uma luz intensa vir na minha direção, muito, muito próximo a mim.
E então a escuridão.
Ela é a última coisa que me lembro daquele dia.
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