Capítulo 02 - LD

1043 Words
LD NARRANDO Fala aí, meus püto. Me chamo Lucca Mantovani Pimentel, mas todos me conhecem pelo vulgo de LD, que significa Lucca Demo. Tenho 29 anos e sou herdeiro da Favela Vila Kennedy, a famosa VK. sou moreno, tenho 1,86 m de altura, meu corpo é quase todo coberto por tatuagens. Cheguei a assumir o comando, tivemos um baile, meu pai me apresentou, mas aí caí na fita errada e rodei na pista, vim parar em Bangu. Mas isso é papo para outra hora. Geral sabe que sou filho do demo e da pérola; minha mãe é tudo pra mim. É por ela que luto todos os dias para me manter de pé dentro desse inferno. Meu pai é meu herói; ele me ensinou tudo. Dizem que meu pai é perverso, mas só diz isso quem ainda não caiu nas minhas mãos. Consigo ser pior que ele. Minha mãe é meio louca, mas é gente boa e é metida até o pescoço; é igual a nós. Tenho uma irmã mais velha, a Mirella. Minha irmã é uma princesa; é formada em Direito, tem o escritório dela e mora no asfalto. Dizem que ela está noiva; cheguei a conhecer o i****a quando ainda estava na liberdade. Cantei a bola para minha irmã que aqui não é homem para ela, mas ela não abraçou o papo, me chama de ciumento e implicante. Fazer o que, né, Jão? Já diz a minha mãe que não ouve cuidado, depois escuta coitado. Mas se ele vacilar com a minha irmã, já tá ligado que vai rodar, vai para a vala bonitim; se não for pelas minhas mãos, vai pelas mãos do meu pai. Minha avó Lisiane também é advogada, mas perdeu a carteira dela da OAB e o direito de exercer a profissão por causa do meu avô Pardal. Quando meu avô morreu, começaram a investigar a vida dele e chegaram na minha avó. Infelizmente, é a vida, parceiro; ela estava envolvida em alguns esquemas do comando e, infelizmente, perdeu. Mas ela não precisava mais trabalhar; quem assumiu o escritório foi a Mirella. O comando deveria estar nas mãos do meu pai, mas apareceu um filho do Pardal e tomou a frente de tudo. Minha avó achou melhor meu pai não comprar guerra. A federal já estava em cima dela, investigando a nossa vida; a casa podia cair para todos. Foi aí que nossa derrota começou. Foram eles que armaram a emboscada e eu caí no lugar do filho do chefe, mas não tem problema. Eu vou sair daqui e vou pegar um por um. Eu segui ao lado do meu pai desde os meus 13 anos de idade. Aos 14, tive minha primeira missão de assassinato; era para matar apenas uma pessoa e eu acabei passando o chumbo em quatro. Meu pai disse que tem orgulho de mim, tem orgulho do que me tornei. Ele só não contava que um dia eu ia parar no mesmo lugar de onde ele fugiu. Sou igual ao meu pai e à minha mãe: adoro adrenalina, racha de moto e de carro, salto de paraquedas, voo de asa delta, escalada, tudo que tiver adrenalina além de um bom combate, pode me chamar. Não fujo da raia. Quando é para dar a cara a bater, nós metemos a cara também. Comigo não tem essa de nem trepa nem sai de cima; comigo, a palavra é uma só, parceiro: sim ou não. Não tem meio termo: vai ou racha. Comigo não tem essa de onde vou pensar ou vou depois; é naquela hora ou não tem trato feito. Também gosto de 157. Já bolamos altas fitas e executamos. Sou bom na grana, ainda estou nesse inferno por causa do maldito juiz que assumiu o caso. Não tenho namorada, nem juro fidelidade a ninguém, como as que se oferecem para mim. Tenho duas de lei, Valéria e Rayane. De lei porque, quando eu chamo, elas vêm, e as duas estão fazendo visita íntima. Cada uma vem no dia certo; deixei a ordem com meu pai para liberar o malote para elas todo mês. Rayane é mais ciumenta. Já pedi várias vezes para assumir, mas não tem um cara nenhum que eu vá assumir. Está louco? Preservo minha cabeça. Minha mãe não gosta de nenhuma das duas. Elas são proibidas de ir na nossa Goma. Pego as putas no meu barraco; não quero guerra com dona pérola. Afastaram a Mirella do caso, meus pais se desesperaram, tiraram até o agente que fazia uma fita pra nós, Os cara tão jogando duro. Até que um dia me chamaram e tinha uma loira dos olhos azuis me esperando na sala, Doutora Diana guerra. Pique princesa. — Não me leve a mäl, mas a senhora tem quantos anos? Parece mais ter 15. Vai ter competência para cuidar desse caso. Eu pretendo sair daqui um dia, meus pais não querem que eu fuja. Então, acho bom a senhora dar conta do recado — falei olhando nos olhos dela. — Não é de bom tom perguntar a idade de uma dama, mas faço questão de dizer: tenho 26 anos e sou formada há três. Você não é o primeiro bandïdo que vou defender e tirar da cadeia. Não se preocupe, Lucca, se eu não conseguir, ninguém mais consegue — ela falou me encarando. Me perdi na imensidão dos seus olhos. Ela começou a falar umas paradas, dizendo que temos que agir com sinceridade um com o outro, que a partir de agora ela é minha advogada e eu posso tratá-la como psicóloga também. Ela tem que saber tudo o que aconteceu para poder preparar a defesa. — Pelo que sei, a dona é amiga da minha irmã, que era minha advogada. Mirela não passou nada para você — falei, e ela colocou as duas mãos na mesa, toda mandada. — Sim, ela falou e também me passou todos os documentos. Mas eu quero ouvir da sua boca. Temos que construir uma boa relação. Eu trabalho de um jeito, Mirela trabalha de outro. Cada advogado tem o seu método, e eu gosto de trabalhar com provas concretas e ser agressiva na minha defesa — quando ela falou isso, arrepiou até o cabelo do meu cü. Dessa vez, o bagulho vai prosperar.
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