RETIDA

4

- UUUUUUHHHHH malvado - Sungwoon disse rindo e quase caindo da cadeira.

O coração de Jimin se apertou - Eu não sei se...

- Ah cara qual é, cade aquela historia de ser livre e fazer burrada hoje? Você nunca mais vai ver esse cara mesmo... - Taemin disse descontraido.

- Vamos Jimin, só um beijo... ou você só beija com sentimento? - Timoteo disse o cutucando.

- Uhhhh Jimin-ssi é garoto de labios puros, só beija se tiver apaixonado - Sungwoon apertou suas bochechas.

- Parem - Jimin riu afastando as mãos dos amigos - Ta bom eu faço. - disse arrumando as mangas da camisa do corpo, tinha tirado o paletó que vestia no caminho. - Quem mesmo?

Kai apontou para o rapaz que no exato momento saia da cozinha, os cabelos eram escuros como a noite, o rosto forte e felino, parecia mesmo um gato e nossa, era muito lindo, Jimin sentiu seu coração errar uma batida só de olhar para o rapaz.

- Ai, ja apaixonou - Sungwoon riu, levando os amigos a rirem mais alto enquanto Taemin rabiscava um numero qualquer em um guardanapo e entregava pra Jimin, arqueando as sobrancelhas. A verdade era que ninguem ali acreditava que Jimin realmente faria aquilo.

Mas ele fez, ele beijou o desconhecido, ele sentiu aqueles labios finos e macios contra os seus, dava pra sentir o rapaz assustado e parado a sua frente e talvez, talvez ele tivesse perdido toda a chance que talvez um dia teria com aquele cara, mas pelo menos ele podia dizer que tinha o beijado.

E quando colocou o numero em sua mão desejou do fundo do coração que fosse o numero certo.

?

Era segunda feira e Jimin não tinha conseguido dormir o fim de semana inteiro, primeiro pela ressaca infernal e depois pelo peso no coração de ter feito o que fez com o garçom. Sera que ele tinha o ligado? Sera que tinha se decepcionado muito por saber que o numero era o errado? Sera que estava morrendo de odio dele naquele momento?

Estava tão imerso em pensamentos que nem viu que bateu sem querer na xicara de café que estava na mesa derrubando-a no chão.

- Merda - disse tentando juntar os pedaços dos cacos, mas não tinha nenhuma vassoura dentro da imensa sala da reitoria. Ele pegou o telefone e ligou para sua secretaria - Amelia? Pode mandar alguem da limpeza aqui com urgencia por favor? Obrigado.

Jimin passou a mão no rosto, de repente o posto de que trabalhava tinha ficado sem graça, sem cor, os papeis pareciam borrar seus olhos, queria mais do que nunca se livrar de tudo aquilo e ainda pensava quem era aquela mulher naquela mesa aquele dia? Tudo culpa dela, sua vida estaria completamente em ordem se ela não tivesse acendido aquela chama em seu coração.

- Senhor Park? O rapaz da limpeza esta aqui.

- Certo Amelia, mande entrar - ele disse ainda olhando para os papeis. Ele ouviu a porta ser aberta e o barulho inconfundivel do carrinho ser puxado para dentro, um "obrigado" sussurado, então ergueu os olhos. - Sem querer eu derrub... - ele disse mas perdeu a voz.

Ele estava muito bebado aquele dia mas reconheceria aquele rosto em qualquer lugar.

Era o garçom, o garçom dono dos labios finos mais macios e do olhar mais felino que tinha. Um gatinho.

Ele engoliu em seco. Era possivel que a vida tivesse lhe dado outra chance apesar de tudo?

"A dor: você só tem que sobreviver a ela, esperar que ela vá embora sozinha e que a ferida que a causou sare. Não há soluções ou respostas fáceis. Você só respira fundo e espera que ela vá diminuindo. Na maior parte do tempo, a dor pode ser administrada, mas às vezes ela o pega quando você menos espera, acerta abaixo da sua cintura e não o deixa levantar. Você tem que lutar contra a dor, porque a verdade é que você não consegue escapar dela, e a vida sempre causará mais dor."

- Grey's Anatomy

Humilhação. Era isso que sentia. Apesar de já ter passado por momentos bem mais ruins que aquele, Yoongi se sentia no nivel mais alto de humilhação, vendo os outros garçons rindo e fazendo piadinhas sobre ele ser a "cadelinha" que o grupo de amigos bebado escolheu naquela noite. Ele queria sumir, queria muito desaparecer.

Foi correndo para o banheiro, sentindo seus olhos arderem por lagrimas que não queria derramar, sentindo seu corpo arrepiar e uma dor encher seu peito. Porque ele? Dentre tantos garçons naquele bar, porque escolher justo ele? Ja não bastava tudo que passava? Todas as privadas sujas que limpava todos os dias? A fome e os sapatos furados que tinha que usar? Ele tinha que passar por aquilo tambem?

De dentro do banheiro ele conseguia ouvir as risadinhas, e, por Deus, porque era tão fraco? Porque se deixava abalar por aquilo? Porque não conseguia engolir e fazer piada como se nada demais tivesse acontecido?

Bom, era porque pra ele não era nada demais, não era somente um beijo qualquer... não tinha sido seu primeiro beijo, mas foi o primeiro beijo que deu em um homem, e ele sonhava que seria diferente, não uma coisa forçada que o fizesse ter vontade de chorar e que lhe trazia um sentimento r**m toda vez que lembrava.

Yoongi não era romantico, mas queria viver suas primeiras experiencias do jeito certo, não dessa forma bruta e roubada. Era isso, se sentia roubado, violado, abusado.

Ele lavou o rosto no espelho olhando seu reflexo. Estava sendo dramatico? Estava reagindo de forma exagerada? Não parecia exagero o que ele estava sentindo dentro do peito.

- Yoon... - a voz de Rose surgiu com duas batidas fracas na porta - Você ta bem?

Ele apenas secou o rosto com papel toalha, respirou fundo e abriu a porta, passando pela amiga e saindo de volta para o bar. Permaneceu com o rosto impassivel, tentando ser profissional, mas torcendo por dentro que a mesa não o chamasse novamente. Atendia as outras pessoas com um sorriso forçado, sentindo a barriga gelar a cada risada que escutava vir da direção que não ousava olhar. Por sorte Rose percebeu seu desconforto e ficou naquela região, dando assim motivo para Yoongi não chegar perto.

Depois de alguns minutos a mesa se despediu do bar, deixando um suspiro de alivio sair do peito de Yoongi.

- Gastaram mais de 200mil wons... - Rose disse pegando a conta e franzindo a testa - Riquinhos filhinhos de papai que acham que podem fazer o que quiserem...

- Eles podem... - Yoongi murmurou limpando o balcão do bar.

- Ei, você ta bem? - Rose perguntou novamente vendo Yoongi esfregar com mais força o marmore, ela pegou sua mão, cessando os movimentos - Yoon...

Ele suspirou - To bem.

- Eles são uns babacas. Se voltarem pode ter certeza de que não vou deixar chegar perto de você.

Yoongi riu fracamente, voltando a esfregar o balcão - Não posso fugir Rose, eles nem devem lembrar da minha cara, ta tudo bem.

- Mas e você, vai esquecer rápido? - ela o observou enquanto os outros garçons limpavam e arrumavam tudo, fechando as portas do estabelecimento - Vou te pagar uma bebida, escolhe.

- Não quero beber Rose.

- Qual é Yoongi, escolhe.

- Eu de verdade não quero, só quero ir pra casa e dormir, to muito casado. Amanhã é sabado, não preciso acordar cedo, nos vemos a noite ok? - ele disse saindo e então se virou - Obrigado mesmo assim.

Ela sorriu, dando de ombros, vendo o amigo sumir pelos fundos do lugar. Yoongi trocou de roupa, pegou suas coisas no armario e então fez sua caminhada solitaria as 3 da manha ate o ponto de onibus. Ele respirou fundo, olhando o vai e vem dos carros na avenida movimentada. Era sexta feira, a noite era uma criança.

E ele começou a pensar como seria o mundo sem sua presença nele. Talvez a mãe e a irmã sentiriam sua falta, ou falta daquilo que ele provia a elas, mas, qual a diferença se ele continuava ou não? O que ele estava fazendo de bom? Tanto cansaço com apenas 21 anos... não era normal, talvez ele já tivesse vivido a quota de peso que poderia carregar, talvez era a vida o testando, talvez ele não queria passar no teste. Ele continuou observando os carros, pensando como seria se, por acaso, ele entrasse na frente de um. Pensou se sentiria muita dor. Pensou se fosse imediato. Mas então pensou no trabalho que daria se não tivesse exito na missão, ou no dinheiro que a mãe teria que arrumar se por acaso completasse o plano. Então ele suspirou e fechou os olhos, acabou dormindo no ponto de onibus.

Acordou sentindo o sol em sua bochecha, a cabeça encostada no poste de metal que sustentava o banco, olhou a mochila que abraçava, por sorte não tinha sido roubado.

Sorte. Seria mais normal se tivesse sim sido roubado. Ele riu de si mesmo, tirando o celular do bolso e vendo que já passava das 6 da manhã. Seu ônibus passou logo em seguida, o levando pra casa. Ele via a paisagem passar pela janela, cada vez entrando mais a fundo nos bairros, mudando o contraste do lugar mais chique que estava.

Chegou em casa e não era surpresa nenhuma que ninguem o esperava, ou que tinham mandado uma mensagem perguntando. O silencio reinava. Ele foi ate a geladeira e achou um pedaço de bolo, cortou no meio e o comeu, bebendo um copo de água logo depois. Deixou o dinheiro das gorjetas em cima da mesa e então foi tomar um banho.

Saiu do banheiro arrastando os pés, entrando no quarto e caindo na cama. Dormiu sem pensamentos e por sorte não sonhou com nada naquele dia.

?

Ele acabou dormindo o dia todo. Acordou quando já era quase hora de voltar para o bar. O estomago reclamou de fome e a bexiga por alivio, então ele correu para dar aos dois a devida atenção.

No banheiro aproveitou para tomar banho, indo para a cozinha logo depois que ficava junto com a sala. A mãe assistia tv, e não disse nada ao ve-lo sair do quarto já arrumado para o serviço.

- Tomou os remédios direito mãe? - ele perguntava toda vez que a via.

- Uhum - ela respondeu aumentando o volume da televisão.

Yoongi abriu a geladeira, a encontrando do mesmo modo de cedo - Eu deixei dinheiro, não compraram nada pra comer?

- Solar comprou uma coisinha pra ela e pra mim.

- E onde ela esta?

- Usou o resto do dinheiro pra sair. - disse simplesmente aumentando mais o volume da televisão.

Yoongi suspirou, pegando o pedaço de bolo que tinha deixado ali naquela manhã e o comeu. - Eu to indo pro bar, qualquer coisa me avisa.

- Tchau - a mãe disse e ele fechou os olhos. Era dificil as vezes.

?

- Min! - Jinki veio correndo ao encontro de Yoongi quando o viu chegar, já vestido com o uniforme - Bang quer te ver no escritorio.

- Ta - Yoongi disse guardando a mochila no armario - deixa só eu trocar de roupa...

- Ele disse que não precisa... - Jinki disse com um olhar caido no rosto. Yoongi suspirou e foi ate as escadas para ir ao escritorio do patrão.

Ele deu duas batidas na porta entreaberta e então entrou - O Jinki disse que o senhor queria me ver?

- Yoongi - ele disse o chamando com a mão - Sente-se. - Yoongi sentou, observando a feição de seu patrão, não era nada boa - Você já deve saber porque esta aqui...

- Na verdade não, senhor...

- Bom - ele suspirou - você sabe que é explicitamente proibido que haja relacionamentos entre os empregados desse estabelecimento - Yoongi acentiu - e tambem é proibido qualquer tipo de interação com os clientes.

- Senhor Bang...

- Yoongi, eu gosto de você, e já tenho ignorado seu caso com a Rose há muito tempo, mas o que aconteceu ontem não da pra passar a mão, todo mundo viu...

Yoongi arregalou os olhos - Eu não tenho nada com a Rose! E eu fui atacado ontem, não foi porque eu quis!

Bang apenas negou com a cabeça - Não posso fazer nada Yoongi, é proibido, você não fez menção de se afastar.

- Porque fiquei em choque! Senhor Bang, por favor, eu preciso desse emprego...

- Sinto muito Yoongi, não há mais nada que posso fazer. Aqui - ele disse colocando um envelope a sua frente - seu p*******o ate hoje. - suspirou - Você parece boa pessoa garoto, não deixe seus desejos da juventude falarem mais alto.

Yoongi olhava sem acreditar. Pegou o envelope de cima da mesa e saiu, descendo as escadas completamente em choque. Não era possivel que tinha sido demitido por um beijo que nem queria! Por alguem que certamente naquele momento nem lembrava da sua existencia.

De repente um fogo de ódio o consumiu e ele nem conseguia enxergar direito, correu ate seu armario, colocando tudo dentro da mochila novamente. Tinha ficado dois anos ali, feito tudo direito, não chegava atrasado, obedecia todas as ordens, e então, em um "deslize" que nem sua culpa foi, acaba sendo demitido.

- Ei, o que aconteceu? - Rose chegou o olhando preocupado.

- Fui demitido - Yoongi disse simplesmente.

- O que? Porque? - Ela perguntou completamente chocada.

- Pelo beijo do amiguinho bebado.

- Mas não foi culpa sua!

- Eu sei, mas explica isso pro Bang! - ele disse fechando a porta do armario com força fazendo um eco entrar na sala - Olha... se eu encontro aquele mauricinho de novo... e eu juro pra você Rose que a cara dele me é familiar...

- Esquece isso Yoon, mas você ficou dois anos aqui, conta no seu curriculo, esse bar é famoso e as pessoas respeitam, você consegue outra coisa rapido... - Yoongi assentiu, mordendo os labios com força pra não chorar - Vai ficar tudo bem... - ela disse acariciando seu braço.

Yoongi soltou uma curta risada de deboche - Não consigo acreditar mais nisso - disse colocando a mochila nas costas e indo em direção a saida - A gente se ve por ai Rose.

E foi embora sem olhar pra tras. Odiava despedidas, odiava ter que tirar de si parte de algo que já havia se acostumado, odiava dar tchau a pessoas que o ajudaram, odiava ter sido demitido, odiava o mauricinho familiar, odiava sua vida.

E quanto mais pensava em tudo mais ele ria, porque não era possivel, ele tinha que ter passado na fila do azar umas mil vezes pra ter todo tipo de má sorte na vida.

Ele não voltou pra casa naquela hora, ficou vagando pelas ruas da cidade, deixando curriculos nos bares, vendo as pessoas rirem e terem suas vidas normais, onde tinham uma familia estruturada normal e podiam fazer coisas que sua idade permitia.

Voltou pra casa quando já era tarde, quase madrugada. Tomou banho e deitou e dessa vez ele chorou, de soluçar, de desespero, de tristeza por ter deixado tudo chegar ao ponto que chegou. E de não ver solução nenhuma para nada em um futuro nada próximo.

Passou o domingo trancado no quarto. Ignorou todas as mensagens de Hoseok, se alimentou das besteiras que num impulso de insensatez comprou na noite anterior e escondeu na mochila. Até os chamados da irmã ele ignorou. Ela batia na porta com a voz manhosa, dizendo que queria ir na casa da amiga mas não tinha como chegar lá. Yoongi ignorou pois não estava com animo para responder de forma educada e não queria brigar.

Ele dormiu, e muito, e acordou na segunda feira se sentindo mais destruido que antes.

Ele estava limpando a o corredor da cozinha onde ficavam quando o telefone tocou. O surpervisor atendeu falando poucas palavras e então ele ouviu sua voz - Min! Tão precisando de alguem na sala do reitor, pode ir lá?

- To indo - ele respondeu puxando o carrinho. Estava relativamente perto, mas não era sua área a reitoria e a coordenação, então era a primeira vez que realmente pisava naquele lugar.

Entrou puxando as rodinhas pelos degraus das escadas, entrando da forma mais discreta possivel pela secretaria e coordenação, ate uma mulher muito bem vestida o abordar. - Você veio pra reitoria? - Yoongi assentiu - Pode me acompanhar. - ela disse sorrindo e Yoongi a seguiu ate uma sala onde tinha uma mesa e uma cadeira em frente a outra porta, que ela abriu. - Senhor Park? O rapaz da limpeza esta aqui. - ela disse abrindo a porta dando espaço para Yoongi entrar.

A sala da reitoria era enorme e linda, cheia de livros e cheirava a algo que Yoongi não conseguia identificar, mas era bom. Uma cabeleira loira estava abaixada na mesa quando ele ouviu - Certo Amelia, mande entrar - Yoongi puxou mais o carrinho para dentro da sala.

- Obrigado - ele murmurou para a mulher que devia ser a tal Amelia, ela apenas sorriu, fechando a porta.

- Sem querer derrub...- a voz do reitor sumiu quando seus olhos se encontraram.

Yoongi sentiu todo o sangue sumir de seu corpo. Raiva, dor e mais humilhação passando por suas veias. Ele deu uma risada baixa. Seria comico se não fosse tragico. Ele ergueu os olhos e o encarou com toda a raiva que podia transparecer, afinal estava frente a frente ao mauricinho que o beijou e o fez perder o emprego.

"Chega um ponto em que tudo se torna demais. Quando ficamos cansados ​​demais para lutar mais. Então desistimos. É aí que o verdadeiro trabalho começa. Para encontrar esperança onde parece haver absolutamente nada." -

Grey's Anatomy

Dentre todas as experiências que já tinha vivido Yoongi colocava aquela em seu top dez de frustrações da vida. Porque não bastava tudo que já tinha que carregar, ele ainda tinha que ficar cara a cara com aquele que o tinha feito perder o emprego que ajudava a sustentar sua familia. Era injusto, muito injusto, que dois mundo pudesse se colidir daquela fora. Um faxineiro e um reitor de faculdade, com certeza um filhinho de papai mimado acostumado a ter tudo o que quer e todos ao seus pés.

Yoongi fez uma curta reverencia ao patrão e começou a pegar os itens que precisava em seu carrinho. Quanto mais rapido terminasse aquilo, mais rapido sairia dali. O rapaz loiro a sua frente o observava e era completamente desconcertante. Por mais que Yoongi estivesse em ambiente de trabalho, nada impediria aquele homem a fazer ou tentar forçar algo com ele naquela sala, afinal, ele já tinha forçado um beijo, certo? Mas então passou pela cabeça de Yoongi que talvez ele não lembrasse, ele estava bebado no dia, talvez nem recordasse da carad e Yoongi. Ele calçou as luvas amarelas, e então empurrou o carrinho ate atras da mesa onde o mauricinho estava sentado o observando.

Ele se abaixou e começou a recolher os pedaços dos cacos que ainda tinham no chão, percebendo que a maioria ja se encontrava no lixo de debaixo da mesa.

- Eu posso ajudar se me falar o que fazer - o homem a sua frente afastou a cadeira se levantando.

Yoongi quis rir, uma risada de sarcasmo, ele estava brincando com a cara dele? - Não senhor, é meu trabalho, não se preocupe.

Ele pegou um pano e começou a passar no chão onde estava ajoelhado, logo depois derramando desinfetante para tentar remover a mancha de cafe. Quando ja estava limpo ele se levantou, removendo as luvas, fez outra curta reverencia e ia saindo empurrando o carrinho.

-Ei, espera - o homem disse e Yoongi parou, fechando os olhos com força, segurando o carrinho ate sua mão doer. Ele viu a silhueta do homem parar em sua frente, se encostando na porta. Era isso, se ele trancasse ele ia gritar. - Eu... eu queria me desculpar... por sexta feira... - homem disse sem graça.

Yoongi abriu a boca, mas depois fechou novamente, e então seus olhos se encontraram. Era extremamente bonito, Yoongi tinha que confessar, usando roupas caras, cabelo bem alinhado, e parecia realmente arrependido. Mas tudo poderia ser um jogo e Yoongi sabia muito bem disso. Não era de hoje que as pessoas brincavam com ele ou com o que ele sentia, fazendo ele se sentir pequeno, como se sua voz não valesse a pena ser ouvida, e por mais que toda vez que se olhava no espelho prometia que não ia deixar mais ninguem fazer isso com ele, nunca realmente conseguia se impor. Não era nada legal se sentir assim. Inferior. - Sem problemas. - ele disse simplesmente e tentou ir ate a porta mas o homem estendeu a mão.

- Não, é sério eu... era meu aniversario, meus amigos me desafiaram, eu não quis... eu não quera ter te dado um numero falso, me desculpe se você ligou e outra pessoa atendeu ou não deu certo...

Yoongi soltou a tal risada que estava presa em seus labios - Eu não liguei, fique tranquilo.

- Não ligou? - o rapaz parecia confuso.

- Não, eu joguei fora o numero assim que você me deu. - Yoongi disse tentando passar pela porta, mas o homem a sua frente o parou outra vez.

- E porque fez isso? - ele parecia ofendido? Era piada?

- O senhor achou mesmo que eu ligaria? Um garçom, faxineiro, pra um riquinho metido que acha que pode sair beijando quem quiser?

- Oh, o beijo te ofendeu? Me perdoe por isso, eu não queria...

- Tudo bem, vamos esquecer isso, eu preciso voltar ao meu trabalho...

- Sera que eu posso te pagar um cafe? Pra compensar tudo isso...

- Não - Yoongi disse sem acreditar no que estava ouvindo - Eu sinceramente só quero esquecer tudo isso senhor, então, por favor, me deixe sair. - disse duro olhando para os pés, vendo as pernas do homem a sua frente de afastarem da porta o deixando sair enquanto empurrava seu carrinho.

Yoongi saiu sem nem olhar pra tras, o coração martelando no peito, querendo se esconder no primeiro buraco que achasse. Ali era um daqueles momentos em que ele queria sumir. Queria pegar as poucas coisas que tinha enfiar em uma mochila e ir pra um lugar onde ninguem o conhecia, começar uma vida nova sem toda essa responsabilidade que ele tinha, sem tudo o que tinha vivido ali. Uma vida onde ele poderia assumir outro posicionamento, outra personalidade.

Ele odiava se sentir inferior, como se alguem por algum motivo o fizesse se sentir mudo, sem expressão ou voz. E ali ele se sentia assim. Era seu patrão afinal, e ele não poderia se dar ao luxo de perder outro emprego, então ele apenas jogou uma agua no rosto e voltou ao seu trabalho.

?

Jimin se sentia inquieto dentro do escritorio. Inquieto. Incomodado. Culpado. Ele viu nos olhos do rapaz algo que certamente não queria ver: mágoa. Talvez o que tinha acontecido tinha o afetado de uma maneira que ele jamais imaginava acontecer.

- Amelia - Jimin discou o numero da secretaria no telefone - Pode descobrir por favor como é o nome desse rapaz que veio limpar a sala? Ok eu aguardo.

Ele se sentou na cadeira, balançando ela para os lados enquanto esperava, ate que o telefone tocou de novo alguns minutos depois - Senhor Park, o nome é Min Yoongi.

- Obrigado Amelia.

Min Yoongi.

Nos proximos dias ele procurou Yoongi pelo campus mas não o achou, acabou descobrindo que seu setor era outro, e que naquele dia em que precisou de uma pessoa para limpar sua sala foi apenas a coincidencia dele estar disponivel no horario.

Jimin bufou, ainda se sentia m*l mesmo passando uma semana, não conseguia se concentrar em nada, nem nos papeis, nem nos amigos o chamando loucamente pra sair, nem no pai o importunando com os deveres da faculdade. Ele só pensava em Yoongi e em como desfazer aquilo que tinha causado.

Então, na noite de sexta feira ele voltou ao bar. Observou o movimento por alguns minutos, não vendo Yoongi como garçom em lugar nenhum. Primeiro ele pensou que talvez tivesse faltado, afinal, quem seria louco pra trabalhar em dois lugares com dois cargos puxados como esses dois empregos? Ele não sabia como era a vida de Yoongi, mas com certeza não devia ser facil pra ele se sacrificar tanto.

Ele ergueu a mão chamando um garçom, que veio correndo com o bloco de pedidos na mão - Pode me trazer uma coca cola por favor?

- Claro Senhor - o rapaz anotou o pedido e ja ia sair quando Jimin o chamou.

- Hm... por acaso um garçom chamado Yoongi não esta hoje?

O rosto do rapaz mudou - Yoongi não trabalha mais com a gente tem uma semana senhor.

- Serio? O que aconteceu? - Jimin ousou perguntar, talvez o garçom falasse, certo?

O garçom se aproximou - Parece que ele beijou um cliente e foi demitido, mas eu não te disse nada ok?

Jimin parou de respirar. Meu Deus, tinha sido a causa da demissão de Yoongi? Era sério isso? Ele poderia ir procurar o dono do estabelecimento e convence-lo a dar o emprego de volta, afinal ele era influente assim como sua familia, mas não conseguia pensar em fazer Yoongi voltar para um lugar como aquele.

Ele deixou uma nota alta na mesa e saiu, prometendo nunca mais pisar os pes naquele lugar. Entrou no carro mais frustrado do que quando saiu. Ele tremia de raiva. Raiva da sociedade. Raiva de si mesmo. Como ele tinha sido tão i****a? Algo que pra ele não fazia m*l nenhum talvez destruisse a vida de outra pessoa e em sua mente mimada aquilo nem passou na hora. Sentiu raiva dos amigos que o obrigaram a fazer aquilo, e ainda mais raiva de Yoongi, que pdoeria muito bem ter enfrentado ele na segunda feira, mas não o fez.

Passou o fim de semana todo remoendo, se sentindo m*l, pensando em como Yoongi estava, pensando se precisava daquele dinheiro, pensando se estava passando alguma necessidade. E quando a segunda feira finalmente chegou novamente, o primeiro lugar que ele foi era a sala dos faxineiros.

Todos se assustaram quando viram o reitor ali, coisa que nunca tinha acontecido. Jimin estava bem alinhado, camisa azul abotoada nos pulsos, calça jeans sem rasgos, sapatos sociais. O cabelo loiro jogado de lado com oculos escuros no rosto.

- Senhor Park, precisa de algo? - o chefe dos faxineiros perguntou e então Yoongi encontrou seu olhar. Jimin viu a suplica neles "por favor não me humilhe mais na frente de todo mundo". Era desesperador ser a causa daquilo, ser quem deixava outra pessoa naquele estado, então ele apenas deu um meio sorriso.

- Não, só estava passando mesmo. Um bom dia a todos - disse fazendo uma curta reverencia e então saiu.

?

Yoongi respirou aliviado, segurando o uniforme nas mãos enquanto sentia seu estomago gelar. Não ia aguentar se por acaso o senhor Park, como ouviu o rapaz ser chamado, falasse com ele ali no meio de todo mundo. Pelo menos ele entendeu seu pedido mudo e agradeceu internamente por isso.

Começou o dia limpando as salas que ainda não tinham aula enquanto o horario ainda não batia com a entrada dos alunos. Se sentia ansioso, sabia que se o senhor Park tinha ido ali falar com ele era porque tinha um motivo, por isso não se supreendeu, quando já eram quase 9 da manha, voltando a sala para reabastecer o carrinho, o chefe dos faxineiros disse que estavam o chamando na reitoria. Só esperava que não fosse outra demissão.

Ele foi ate o setor empurrando o carrinho que agora ja era seu companheiro e tentou passar despercebido pelos alunos que esperavam na coordenação. Amelia sorriu ao o ver chegar e então abriu a porta - Ele esta esperando o senhor. - ela disse amigavelmente.

Yoongi respirou fundo, empurrando o carrinho pra dentro do escritorio, já esperando a demissão, que seria ainda mais humilhante vinda do proprio reitor da faculdade e não pelo setor do RH.

Mas quando parou encontrou o senhor Park sorrindo do outro lado da mesa que estava cheia com paes, bolos, cafe e xicaras. Seu estomago revirou de fome. Nâo tinha jantado na noite anterior, não tinha comido nada alem do almoço servido na faculdade ao meio dia e ver aquela mesa fez sua boa encher de água.

- Bom dia senhor Min. - ele disse se aproximando da mesa.

- Bom dia senhor - o cheiro o torturava e o fez engolir - Aconteceu alguma coisa aqui? Onde eu sou necessario?

- Você é necessario sentado nessa cadeira aqui na minha frente. Venha, largue esse carrinho ai e sente.

Yoongi agiu automaticamente se sentindo nervoso, deixou o carrinho no canto e se sentou, apertando as mãos uma nas outras - Senhor, parece que esta esperando alguem, não é melhor eu sair logo?

- Eu estava esperando sim alguem, você. - Yoongi o olhou confuso, o coração batendo rapido - Eu... te chamei pra tomar um cafe aquele dia e você não aceitou - ele baixou o tom de voz e Yoongi se remexeu na cadeira - Não quero parecer insistente, eu só queria ter uma chance de me desculpar apropriadamente, acredite, eu não consigo parar de pensar no que aconteceu e de me sentir m*l por isso então, apenas aproveite o cafe. Não precisa falar comigo se não quiser, mas eu quero dizer que eu sinto muito, muito mesmo.