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4615 Words
- Esse cafe... é pra mim? - ele perguntou baixinho. - É sim. - Você vai comer tambem? Porque já que me chamou pra um café, você precisa comer comigo. Jimin deu um simples sorriso e Yoongi sentiu algo diferente - Sim, eu vou comer com você. - Se aproximou da mesa servindo cafe em uma xicara - Não sei do que você gosta então tem cafe, cha, leite, achocolatado, suco... hmmm, pão de queijo, bolo de chocolate e laranja, sanduiches... pode ficar a vontade. Yoongi deu um meio sorriso, por um momento esqueceu que estava de uniforme de faxineiro. Esqueceu que estava frente a frente ao patrão, se esqueceu da vida de merda que tinha, se esqueceu que o rapaz tinha sido a causa de sua demissão. - Ok senhor Park. - Jimin, pode me chamar de Jimin. - ele disse sorrindo e Yoongi assentiu pegando um pão de queijo e o colocando na boca. A situação era estranha, mas por alguns momentos, conversando com Jimin naquela sala enquanto comiam e falavam sobre as coisas mais aleatorias, ele sentiu que talvez pudesse ter um amigo. Alguem com quem poderia conversar, alguem com quem poderia rir. Jimin se mostrou completamente diferente do que ele imaginou que fosse. Apesar de ter pose e realmente ser rico, ele estava arrependido de verdade pelo que fez, e fez questão de se desculpar diversas vezes durante a conversa, dizendo que foi obrigado por uma aposta com os amigos, que jamais teria feito aquilo por vontade propria, em que nenhum momento queria magoa-lo, e apesar de tudo, Yoongi acreditou. Naquele momento ele se deixou ser inocente e acreditou nas palavras de Jimin, em seu arrependimento, em seus olhos que o olhavam com remorso. Seus mundos eram completamente diferentes, mas talvez, só talvez, isso não importasse. Porque por alguns momentos ali naquele escritorio não importou, assim como no resto do dia que passou levemente. O problema foi chegar em casa naquela noite, quando tudo desmoronou e o fez se esquecer que pelo menos por alguns segundos tinha sentido alegria naquele dia. "Passamos toda a vida nos preocupando com o futuro. Fazendo planos para o futuro. Tentando prever o futuro. Como se desvendá-lo fosse aliviar o impacto. Mas o futuro está sempre mudando. O futuro é o lar dos nossos medos mais profundos e das nossas maiores esperanças. Mas uma coisa é certa: quando ele finalmente se revela, o futuro nunca é como imaginamos." - Grey's Anatomy - Você devia estar em casa - Solar, irmã de Yoongi falou sentada ao seu lado na sala de espera do hospital. Ela estava de braços cruzados, olhando pra um ponto em sua frene com um bico nos labios - Eu não sei lidar com as crises dela. - Mas já devia ter aprendido Solar, você é quem fica mais com ela - Yoongi disse brincando com a ponta da alça desgastada da mochila. - Mas é sua responsabilidade! Você devia ta la, você devia socorrer, você devia ligar pro hospital. - E não fui isso que eu fiz? - Ele disse ficando irritado. Tinha chegado em casa mais leve naquela noite, caminhou os bairros que o separavam da faculdade realmente com um pequeno sorriso nos labios e barriga cheia. Mas quando chegou a casa estava uma bagunça e Solar veio correndo o chacoalhando pelos ombros falando que a mãe estava desmaiada na sala. Ele ligou para a ambulancia que veio a buscar e a levaram para a sala de exames, onde estava fazia cerca de meia hora. Solar bufou, ainda na mesa posição. Ele reparou que a irmã estava vestida pra sair, uma saia preta e blusa amarela, e sapatos altos. Ela só tinha 15 anos, tinha idade pra usar aquele tipo de roupa? - Onde você ia arrumada assim? - Na festa da Dahyun - ela disse ainda brava. - Se você já tivesse la eu ja tinha ido. - Solar, a mãe ta sendo examinada, ela desmaiou... - Yoongi disse um pouco embasbacado, não era possivel que a irmã não estava nem um pouco preocupada, era? - Yoongi, ela tá com câncer terminal, isso vai sempre se repetir, ate que... você sabe... - Sim, era possivel, Yoongi concluiu. Ele focou seus olhos pra frente do mesmo jeito que a irmã fazia. Odiava hospitais, seu cheiro, o movimento das pessoas, tinha visto muitas coisas quando a mãe ainda fazia quimioterapia, se arrepiava só de lembrar das pessoas morrendo a sua volta. Não gostava daquela sensação de fim, apesar de varias vezes deseja-la para si mesmo. Achava que a vida poderia ser muito bonita se pelo menos as pessoas tentassem. Mas claro que ele achava que não se encaixava na regra. Tinha nascido em uma situação nada favoravel, não conseguia ver a luz no final do tunel nem se quisesse. Ele sentia que sua vida ia ser só assim, nem mesmo quando a mãe enfim se visse livre de seu sofrimento, ele ainda tinha a irmã pra cuidar, nunca seria só ele, nunca teria escolhas proprias. Estava fadado a esse destino, já tinha aceitado. - Senhor Min? - Yoongi virou o olhar olhando para o médico a sua frente - Sua mãe teve uma parada cardio respiratoria devido a uma massa que esta em sua traqueia, esta impedindo a passagem de ar, precisamos leva-la para a cirurgia, preciso que assine esses documentos para liberação. - C-claro - ele disse se levantando e assinando os papeis. - Doutor, quando tempo demora a cirurgia? - Solar perguntou ficando de pé. - Umas 6 horas, precisamos levar ate a patologia para vermos se não é maligno, afinal sua mãe ja trata de um câncer agressivo. Nós vamos leva-la, uma enfermeira vira dar informações ok? Yoongi assentiu, sentindo um peso em seu coração. Não tinha a melhor mãe do mundo, por muitas e muitas vezes lhe faltou carinho, atenção, cuidado, e foi cheio de cobranças, que ele tentava a todo custo suprir. Mas não queria que a mãe morresse. Queria que ela melhorasse, que se curasse. Ele suspirou, sentando outra vez no banco quando o medico saiu, voltando por onde tinha vindo. - Não adianta eu ficar aqui, o Sehun vai vir me buscas, amanhã eu volto - Solar disse pegando o telefone e discando um numero, saindo ate um canto do corredor. Yoongi coçou a cabeça com vontade de chorar, mas não ia, seria muito vergonhoso um marmanjo chorando no corredor do hospital. Ele precisava ser forte, por isso não disse nada quando a irmã disse que iria a festa e voltaria no dia seguinte. Ele fechou os olhos encostando a cabeça na parede e pegou no sono. [ ... ] - Hey cara... - Yoongi ouviu sentindo cutucões no ombro, ele abriu os olhos dando de cara com Hoseok a sua frente - Caramba te chamei um monte de vez, que sono pesado. - Desculpe - Yoongi disse se arrumando na cadeira desconfortavel, sentindo sua coluna fisgar o fazendo uma careta. - Desculpa eu cara, só consegui vir agora, to fazendo turno noturno na faculdade... - Que horas são? - ele perguntou procurando o celular nos bolsos. - São 11 horas - Hoseok disse olhando em seu relogio de pulso - Como ela ta? - Em cirurgia, acharam uma massa na garganta, torcendo pra não ser maligno se não aquele martirio vai começar de novo... - disse coçando a nuca. - Yoongles, relaxa, vamos viver um dia de cada vez e hmmm, tem alguem que quer te ver - ele disse apontando para a entrada do corredor onde Jimin estava parado com as mãos nos bolsos e a mesma roupa daquele fim da manhã onde compartilharam um cafe. Olhava com muita atenção o quadro de rodizio de médicos. - O que ele ta fazendo aqui? - Yoongi disse sussurrando como se Jimin pudesse escutar na distancia que estava. - Estavamos conversando quando recebi sua mensagem e fiquei preocupado acabei soltando, ele me deu uma carona ate aqui e quis saber se estava tudo bem, cade a Solar? - Hoseok perguntou olhando para os lados. - Foi pra uma festa... - Uma festa??? Mas que p***a, a mãe ta em cirurgia, ela não move um dedo pra ajudar mesmo, c*****o Yoongi, desculpa é sua irmã mas p**a merda. - Ta tudo bem, não tinha nada pra ela fazer aqui mesmo. - disse dando de ombros. - Não acredito que ta defendendo ela! Meu Deus Yoongi, ela ja tem idade pra trabalhar e te ajudar sabia? Não é só você que tem que se sacrificar pra manter os caprichos dela. Yoongi respirou fundo, ainda incomodado com a presença de Jimin no corredor, ate que uma coisa veio a sua mente - Vocês dois estavam conversando, tarde da noite assim? - Quem? Ah o Jimin? Sim, somos amigos. - Hoseok respondeu da forma mais simples. - Desde quando? - ele disse tentando não passar o incomodo na voz, porque sabia que era totalmente irracional, mas nada tirava aquela sensação de que tinha se sentido especial atoa. Que ele apenas tinha se desculpado mesmo pelo m*l entendido no bar, e que aquele cafe e aquela conversa jamais se repetiriam. - Ja tem um tempo, porque? - Ele sempre te da carona? Vocês vão embora juntos? Vocês tão ficando? - Yoongi - Hosoek começou a rir - Porque esse monte de pergunta? Ta com ciumes de mim ou dele? - Yoongi bufou, olhando de canto para onde Jimin estava - Yoongi, eu sou hetero lembra? To ficando com a Jisoo - ele disse pegando em seu braço, fazendo o amigo se virar a ele - Não sei o que rola ai entre vocês dois, mas ele parecia muito preocupado com você. Eu vou pedir um uber pra ir embora, converse com ele ok? - Yoongi mordeu o labio inferior, assentindo timidamente - Eu te amo cara, me liga se alguma coisa acontecer ta bom? - disse dando um beijo em seus cabelos e se afastou. Yoongi ficou brincando com os dedos, engolindo em seco de antecipação. Logo passos foram chegando lentamente e uma presença se sentou ao seu lado. Um perfume doce, mas leve chegou em seu nariz, cheirava a morangos frescos e o acalmava, tanto que ele respirou fundo para sentir mais e tambem para se acalmar. - Tem alguma coisa que posso fazer por você? - Jimin disse baixinho, apenas um leve sussurro. - Não precisa se preocupar, sei que tem outras coisas pra resolver. - Yoongi respondeu no mesmo tom. - Eu fiquei bem preocupado... me desculpe se vim numa hora não muito boa, afinal, m*l nos conhecemos, mas... eu fiquei muito preocupado... Yoongi suspirou - Minha mãe tem um câncer terminal. Ela foi desenganada há 1 anos atras, tentamos de tudo, todos os tipos de tratamento, agora ela só vive com os remedios esperando a hora chegar. Eu... eu tentei de tudo sabe, fiz meu melhor, compro todos os remedios, consegui levar ela nos melhores medicos - Yoongi contava sem perceber que ja estava com lagrimas nos olhos - eu me revirei em muitos empregos, dormindo pouco, deixando de lado minha vida, e nada funcionou, agora apareceu outra massa e estão operando ela, e vão vir mais gastos e eu não sei o que fazer - ele disse entre soluços, as mãos tremendo , estava quebrando, estava chorando pela mãe, e nem pelo motivo que realmente deveria - Eu sou muito egoista, eu to pensando no que vou ter que passar ao inves dela, mas é muito cansativo, não tenho ninguem pra me ajudar e eu... - seus ombros tremiam e ele sentiu a mão de Jimin neles o puxando pra mais perto. Ele caiu de encontro ao ombro de Jimin, chorando feito uma criança, sentindo um cansaço que nunca tinha se permitido sentir. Mas estranhamente, ali nos braços do patrão, Yoongi não sentiu vergonha de sua historia, ou daquilo que o fazia chorar, naquele momento ele sentiu que poderia chorar o tanto que quisesse, e foi assim que fez, chorou ate seus olhos não terem mais lagrimas pra derramar, ate sua barriga doer pelo esforço dos soluçoes e sua mandibula ficar dormente. Chorou porque sabia que daqui pra frente ia ser bem mais dificil do que foi antes. E chorou porque seu coração estava batendo bem mais rapido, e nem era por causa da situação. Mas sim por quem o carregava nos braços. "E até hoje, eu acredito que, na maior parte do tempo, o amor é uma questão de escolhas. É uma questão de tirar os venenos e as adagas da frente e criar o seu próprio final feliz." - Grey's Anatomy Ja haviam se passado algumas horas que Jimin estava ali no hospital. Depois de chorar muito, Yoongi acabou dormindo no ombro do patrão, que agora tinha um braço encaixado em seu corpo e sentia a respiração baixa e ritmada do mais velho em seu pescoço. Milhões de coisas se passavam pela sua cabeça de acordo com que as horas avançavam e ele via o ir e vir das macas e pacientes, de pessoas ouvindo noticias boas e ruins. Uma delas era como sua vida era completamente diferente da de Yoongi. Primeiro que aquele hospital seria um que não passaria nem na porta. Era público, por isso lento, e Jimin e sua família jamais frequentariam um ambiente assim. Na verdade, era a primeira vez de Jimin em um ambiente como aquele. Segundo que, ele não podia negar, a realidade em que Yoongi vivia era assustadora para ele. Trabalhando feito um condenado pra dar conta da família, da mãe doente, não tendo chances de estudar ou de avançar, se sacrificando todos os dias para dar a outros. Era algo que parecia tão surreal em sua mente... Ele que cresceu sem se preocupar com nada, tendo tudo de melhor, sem ao menos pedir... ele que pode fazer suas escolhas e trilhar seu caminho... claro que depois que se envolveu com os negócios da família o pai começou a suga-lo, mas não era nem de longe a realidade que Yoongi vivia. Ele chegou a conclusão de que talvez jamais fosse entender a dimensão de tudo aquilo. Ainda se sentia culpado pelo beijo, e por ter sido o motivo de Yoongi perder o emprego que com certeza precisava, mas ao mesmo tempo pensava no rapaz em seus braços, magro, abatido, com enormes olheiras embaixo dos olhos... com certeza resultado de horas de trabalho sem descanso... parecia novo, não tão mais velho que ele próprio... e começou a sentir uma empatia muito grande... Ele tinha feito o cafe da manha naquela manhã para se desculpar, sentia que devia aquilo a Yoongi. Mas não negava que, depois que o mesmo saiu de seu escritório, não tinha deixado seus pensamentos. Ele não sabia explicar nem pra si mesmo o que estava acontecendo ou sentindo, tinha o visto poucas vezes mas tinha se envolvido com sua historia mais do que já tinha se envolvido com outra antes, e quando viu a cara de pânico de Hoseok ao receber a notícia, e ao ouvir que era sobre "seu amigo Yoongi" ele não conseguiu se controlar e quando viu já estava ali no hospital. Ao mesmo tempo que queria sair correndo, fugir daquela situação que nada tinha a ver consigo, não conseguia se mover. Ele respirou fundo, sentindo o braço doer, sentindo as costas protestarem por estar sentado em um banco tão desconfortável. Olhou seu relógio caro de pulso e viu que ja estava perto das 6 da manhã. Ele olhou pra Yoongi, que dormia profundamente em seu ombro, seus traços finos e delicados, frágeis e fortes ao mesmo tempo, que despertavam em Jimin um instinto de proteção que ele não conseguia entender. O que estava acontecendo com ele afinal? - Senhor? - ele ouviu uma enfermeira o chamar então subiu o olhar - A cirurgia terminou. - Se for noticia r**m eu não vou acorda-lo... - Jimin sussurrou, afagando as costas de Yoongi. A enfermeira sorriu - Pode acordar. Jimin engoliu em seco, balançando devagar o ombro de Yoongi, o chamando baixinho enquanto o mesmo abria os olhos e se habituava ao local onde estava, olhando assustado para Jimin e para a o posição que se encontrava e depois olhando para a enfermeira. Minutos depois os dois se dirigiram ate o quarto onde a Senhora Min estava internada. A cirurgia tinha sido feita com sucesso, o tumor removido, mas apesar de tudo, era maligno, o que significava que mais uma leva de quimioterapia e remédios iam acontecer. Yoongi estava parado, segurando uma das mãos da mãe, olhando para ela. Jimin encostou na porta, vendo o rapaz respirar fundo, fungar e então passar a mão livre no rosto. Eram tantas coisas e sentimentos que Jimin não conseguia raciocinar direito. - Eu posso ajudar Yoongi - ele disse entrando mais no quarto - posso transferir ela para um hospital melhor, contratar uma enfermeira pra cuidar dela, posso ajudar nas despesas do tratamento... assim você pode ficar tranquilo e não se matar de trabalhar... Yoongi soltou uma curta risada debochada - A troco de que? - A troco... de nada Yoongi, seria uma ajuda... eu tenho dinheiro e quero ajudar... - Você já me beijou porque tem dinheiro, o que vai querer em troca dessa vez? - Quem você pensa que eu sou? - ele disse mais baixo se aproximando, a voz ficando grave, Jimin estava levemente irritado - Acha que to tentando comprar você de alguma forma? - Esse é o negócio senhor Park, eu não sei quem você é - Yoongi respirou fundo e então o encarou - Ninguém faz esse tipo de coisa por outra sem esperar algo em troca, seja qualquer coisa que for. - Isso é ridículo, minha família esta sempre fazendo doações a pessoas em necessidades e eu... - Ah, então somos pessoas com necessidades? Eu nunca deixei nada faltar pra minha casa, dei conta do outro tratamento da minha mãe sem pedir nada pra ninguém, trabalhei e consegui pagar tudo, e vou fazer de novo, nem que eu morra no processo! - Esse é o negocio Yoongi - Jimin chegou mais perto - Você não precisa morrer, eu quero ajudar, pensa nisso por favor... - Yoongi suspirou, voltando a olhar para a mãe - Eu vou falar com o RH e não descontar do seu salario o dia de hoje, fica tranquilo com sua mãe... - Jimin pegou a carteira, tirando um cartão do bolso - Meu número ta aqui - disse colocando o cartão no pé da cama - Não hesite em me ligar Yoongi, por favor, eu quero ajudar. - ele respirou fundo e virou as costas abrindo a porta mas se virou para o ver uma ultima vez. Jimin o olhou por mais alguns segundo e então saiu, indo caminhando devagar ate chegar ao carro, passando pela entrada do hospital. - Vocês foram um casal muito bonito - uma enfermeira disse quando ele estava passando - fiquei observando vocês dois, são poucos os que ficam em uma situação assim, devem se amar muito. Ele apenas sorriu sem dentes, saindo o mais depressa possível do local e entrando em seu carro, sentindo o cheiro do couro, o cheiro que lembrava seu lugar. Suas mãos tremiam e ele nem sabia o porque. Fechou os olhos e encostou a cabeça no encosto do assento do carro. Estava completamente confuso e levemente magoado. Yoongi não tinha o direito de ter insinuado as coisas que disse, como se ele quisesse compra-lo de alguma forma em troca de favores. Se sentiu completamente ofendido. Teria discutido se a situação fosse outra e não estivessem em frente a mulher que tinha acabado de sair de uma cirurgia de risco. E quem era aquela enfermeira pra pensar que eram um casal? Nunca que aquela possibilidade tinha se passado pela cabeça de Jimin. Claro que não era cego e Yoongi tinha uma beleza indiscutível e peculiar que o chamava a atenção, mas era só isso, e seu interesse por ele era apenas pra se desculpar e se redimir. Só isso. Ate porque Yoongi o odiava. Era nítido. E tinha ofendido Jimin, o que o deixava extremamente chateado com ele, sem possibilidades nenhuma de vê-lo de outra maneira. Era algo completamente impossível, completamente fora da realidade. Ele ia dar partida no carro quando seu celular vibrou e uma mensagem de um numero desconhecido apareceu na tela. [ xxxx-xxxx 07:34 ] Obrigado senhor Park Jimin suspirou, travando o celular e jogando no banco do carona. E nem notou que fez todo o caminho de volta com um leve sorriso no rosto, apesar de tudo. "E quando pensamos que temos controle sobre as regras... algo acontece... que muda todo o jogo." - Grey's Anatomy Yoongi travou o celular em sua mão com um suspiro de frustração. Não devia ter mandado aquela mensagem. Não depois da conversa que tinham tido. Ele não era ingênuo, sabia que tudo aquilo ia custar algo. Pessoas como Park Jimin nao se aproximavam de pessoas como Min Yoongi sem ter uma má intenção por trás. Bom, pelo menos era isso que Yoongi pensava. Os dedos de suas mãos não eram suficientes para contar quantas vezes ele tinha sido traído, humilhado, trocado e esquecido pelas pessoas que mais confiou. Tantas e tantas vezes se sentiu insuficiente, como se algo estivesse completamente errado com ele, o fazendo se auto sabotar. Porque deixar alguém entrar se esse alguém já sair e ainda levar um pedaço de Yoongi com ele? Nao valia a pena, definitivamente. Deviam ter tantos pedacinhos dele espalhados por aí que ele nem mesmo sabia mais quem era... O muro que tinha construído em volta de si mesmo era difícil de ser escalado. O único que, mesmo após ver o seu pior lado, de o amparar na sua pior dor, de ver a escuridão de Yoongi, permaneceu foi Hoseok. E Yoongi era completamente grato ao amigo. Não sabia o que seria sem ele. Mas então Jimin apareceu, e todo seu corpo gritava em alerta. Não era certo, ele ia se machucar. Se auto condenava por ter se mostrado tão fraco, por ter chorado em seu ombro, por ter confessado coisas tão íntimas e pessoais... Ele nao devia ter feito isso, agora Jimin tinha armas contra ele, e poderia livremente usar. Ele pegou o celular novamente pronto para excluir a mensagem e bloquear o número do patrão mas já era tarde demais, Jimin já tinha visualizado e já tinha respondido. [ Park Jimin 8:02 ] Não tem porque agradecer. Seu estômago estava gelado vendo a mensagem em sua tela, e ele percebeu que a foto do patrão apareceu, sinal de que tinha guardado seu número. Movido pela curiosidade clicou na foto e a ampliou. Jimin estava sorrindo para a camera, deixando seus olhos pequenos, os dentes brancos e levemente tortos dando um charme a mais naquela boca carnuda. E quando Yoongi percebeu, seu coração ja martelava frenético no peito. Ele travou o celular novamente jogando na poltrona ao lado da cama no quarto de hospital. Tentou prestar atenção nas máquinas ligadas, na mãe respirando através dos tubos, tentou pensar no que o futuro reservava, e definitamente, sentir o que estava sentindo não ia ajudar em nada, muito pelo contrário, só ia atrapalhar mais. Mas o sorriso não saia de sua cabeça. No outro dia a vida tinha que continuar. Yoongi deixou a mãe no hospital aos cuidados das enfermeiras. Ela ainda precisava ficar 5 dias em observação, e ele não podia mais faltar serviço, afinal, agora, mais do que nunca, precisava do pouco dinheiro que recebia. Ele foi para casa tomar banho e trocar de roupa. Sua irmã estava jogada na cama, dormindo. Pelo menos estava em casa. E quando viu já estava chegando na faculdade. Estava alguns minutos adiantados e acabou chegando junto com Jimin, que saia do estacionamento. Ele jogava seus cabelos loiros para trás, usando um óculos escuro, vestido com uma camisa jeans azul e calça preta. Estava impecável, como sempre e Yoongi com seu jeans velho rasgado, sua camisa puida de uma banda antiga e um casaco xadrez. Seu estômago revirou enquanto via a silhueta do patrão andar com elegância em frente à si, enquanto ele corria desajeitado com uma alça da mochila nas costas. - Senhor Park! - Ele chamou - Senhor Park - disse ofegante enquanto chegava mais perto, vendo Jimin se virar. - Yoongi? O que tá fazendo aqui? - disse tirando o óculos do rosto, revelando um olhar de total desaprovação. - Eu preciso trabalhar... - Yoongi respondeu ainda respirando fundo. Não estava acostumado a correr, nem que fossem apenas alguns metros. E juntando isso com a falta de comida sentia que podia desmaiar a qualquer momento. - Você tá bem? Parece pálido... - Eu to bem. - E sua mãe? Como está? - Está bem, precisa ficar no hospital por mais cinco dias, eu não podia faltar o serviço tanto assim. - disse arrumando a alça da mochila. - Não teria problema Yoongi, eu sou o reitor, tinha dito que arrumaria as coisas aqui pra você. - Não é certo. Eu prefiro assim. - falou duro. Jimin assentiu, franzindo a testa - Tudo bem então... - e se virou pra voltar a andar. Yoongi suspirou - Me desculpe - soltou e Jimin parou, se virando lentamente - Me desculpe pelas coisas que disse naquele dia no hospital. O senhor só estava querendo ajudar, e eu o ataquei. Não devia ter agido daquela forma... só é... difícil ver alguém interessado em me ajudar sendo que não tenho nada a oferecer. Quem suspirou dessa vez foi Jimin - Você estava em um momento delicado, eu entendo. Não se sinta m*l, está tudo bem. E então voltou a andar novamente, deixando Yoongi confuso, parado no mesmo lugar vendo Jimin se afastar. Seu coração ainda teimava em bater forte do peito, sentindo o perfume ir embora junto com o dono, o levando a sentir coisas que ele não entendia. Perto das 10 horas da manhã, enquanto tirava seu intervalo, sentado em um canto afastado da Universidade onde tinham alguns bancos embaixo de árvores, ele viu uma mensagem de Hoseok chegar. [ Hobi 10:17 ] Yoongles, pode passar no RH? [ Yoongi 10:18 ] [ Hobi 10:18 ] Agora Yoongi suspirou, guardou o celular no bolso do macacão azul de limpeza e rumou até o prédio onde o RH ficava. Será que seria demitido? Será que Jimin tinha ficado tão magoado assim? Ele tinha dito naquela manhã que estava tudo bem... Não era possível que ele, sabendo de sua situação, ia o demitir, era? Se bem que Yoongi não o conhecia... Não sabia quem ele era, e, apesar de tudo Jimin ainda era um patrão. E o patrão sempre vai ver seu lado primeiro. Ele bateu na porta, sendo recebido por Jihyo, a secretaria. - O senhor Jung está o esperando. - ela disse sorrindo fazendo uma reverência. Yoongi sorriu sem dentes e foi até a porta do escritório de seu amigo, que abriu um sorriso grande a o ver - Yoongles! - Não sorri assim se vai me demitir. - Ele disse frustrado, se jogando na cadeira em frente à mesa. Hoseok o olhou confuso - Te demitir? Eu vou é te promover, achei que você sabia... Yoongi se sentou na ponta da cadeira arregalando os olhos pequenos - Promover? Com base em que? Nao tenho estudo pra ser promovido. Hoseok sorriu de lado - Não tem estudo mas tem amizade com o reitor, ele próprio pediu pra que eu te promovesse. Agora você vai ser coordenador da biblioteca. Vai organizar tudo lá. E se você se sair bem pode subir de cargo. - Hoseok... - Yoongi disse sentindo que estava hiperventilando.
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