Capítulo 2

4002 Words
Ashley caminha apressada até chegar à entrada da mansão elisabetana , sendo recepcionada pela governanta, Daisy, a governanta de mais de setenta anos que serve a família Campbell há pelo menos seis gerações. — Bom dia, Lady Ashley de Argyll. – cumprimenta Daisy . — Bom dia, Daisy – responde Ashley, desanimada. — Por favor, avise ao Carter que o meu carro estragou na rodovia, mas que já foi conduzido à oficina. Peça que ele compareça ao local e verifique as condições do veículo e quanto tempo levará para ficar pronto... – ela dá mais alguns passos e então pede — E que apronte o outro, pois tenho um compromisso mais tarde. — Sinto informar, mas isso não será possível – alega Daisy — O Sr. Smith não faz mais parte do corpo de funcionários da residência, My Lady. — Desde quando? – questiona Ashley , surpresa. — A Duquesa de Argyll o dispensou há alguns dias... Da mesma forma fez com o outro carro. — A Duquesa de Argyll já acordou? – pergunta Ashley irritada. — Sua graça a espera na sala de música – responde a governanta, sem rodeios. —E como ela está? – questiona a jovem retirando o casaco, nervosa. —Melhor que os outros dias, madame. – responde a senhora pegando o casaco das mãos da patroa. Ela então nota que o casaco não a pertence, encarando com curiosidade. — Obrigada – agradece Ashley ignorando o olhar curioso da governanta. Ela caminha pelos tapetes vinhos que ficam sobre o piso de madeira envernizado enquanto analisa os quadros dos condes, marqueses, e duques de Argyll pendurados no hall da escada e suas paredes de madeira , tentando captar das pinturas a óleo o pouco de coragem que lhe falta para encarar a duquesa, mesmo ciente de que ela está em seus melhores dias. Nota também novos espaços onde outrora havia quadros de grandes artistas adquiridos pelos seus antecessores. Sobe escolhendo o lado direito da dupla escada que dá acesso a sala de música. Percorre o corredor com calma apreciando a música que vai aumentando de tom conforme ela se aproxima, pelo visto ela está feliz, pois raramente a escuta tocar o piano. Empurra com certo esforço a porta de madeira branca, fazendo surgir a sala de música , com sua parede de vidraças empilhadas. A abundância de janelas até o teto permite que a luz natural domine todo o ambiente, uma das coisas favoritas da jovem naquela sala que ainda possui cabeças de animais nas paredes, algumas criaturas já extintas que foram caçadas ao longo das gerações. A sala ainda possui uma Harpa irlandesa de 36 cordas , um violoncelo feito de madeira Acero no fundo e nas laterais, tampo superior de Abeto e acessórios em Ébano, um violino Guarneri del Gesu,, Oboé, Flauta de Pã e os outros onze tipos de flautas existentes no mundo, como a transversal e a doce, Cornamusa, vielas de arco e de roda, Alaúde, Percussão, Rabeca, Saltério e um piano C. Bechsteins Art case decorado com ouro, detalhes esculpidos à mão e pintura angelical feitas à mão na caixa do mesmo. Ashley aprendeu a tocar todos eles, mas são poucos os que de fato chegou apreciar. Fecha a porta e caminha em direção da senhora de cabelos curtos e grisalhos pelo tempo, mas perfeitamente arrumados, vestido bege esparramado pelo assento de madeira, alheia a presença da jovem. Uma imagem que causava inveja a todos os quadros da casa. Suas mãos manicuradas percorrem o piano com leveza, finalizando a música. Essa era a deixa para Ashley anunciar sua chegada à Duquesa de Argyll: — Olá, vovó. **** Stephanie Elizabeth Catherine Mary Campbell , Duquesa de Argyll, se levanta analisando a neta dos pés a cabeça, com certo desprezo ,pois Ashley está diante dela molhada dos pés a cabeça, cabelos desgrenhados e a roupa está longe de ser algo aceitável para ela. A jovem tenta se arrumar ao notar o olhar de sua avó , mas sabe que nada fará sua presença ser mais tolerável. — Como foi sua entrevista? – pergunta a duquesa, sem qualquer interesse. — Eu me atrasei – responde Ashley, nervosa. — Você e os seus atrasos – comenta Stephanie revirando os olhos e sentando novamente. — Eu nunca me atraso... – reage Ashley, indignada. — Pelo menos dessa vez, vejo um lado bom. – fala ignorando a indignação da neta. — Lado bom? Que lado bom, vovó? Eu perdi uma grande oportunidade, não há lado bom. — Claro que há. Eu vejo seu atraso como um sinal para você desistir dessa loucura de querer trabalhar... — Lá vem a senhora com essa discussão novamente. — Sim, até você entender que não é qualquer uma e que não precisa trabalhar. Uma Campbell, jamais deverá ser uma serviçal – dispara a duquesa ríspida. — Eu também sou uma Davenport – defende-se a jovem. — Não por escolha minha. — Minha mãe trabalhava. – argumenta Ashley, irritada. — E onde ela está mesmo? – questiona Stephanie erguendo os braços ao redor. —Não quero começar o dia discutindo a respeito dos meus pais, Your Grace.  – intervém Ashley estendendo sua mão espalmada em direção a avó. Ela respira fundo e continua — Eu vim aqui pra falar a respeito da demissão do Carter Smith e também saber por que vendeu o outro carro. Aliás, por que não me diz o que está acontecendo? —Não está acontecendo nada. –  n**a  a duquesa tranquilamente. —Como assim nada? Semana passada, a senhora demitiu um segurança, uma das nossas melhores cozinheiras , além do mordomo.  Notei também que alguns quadros desapareceram... Então vou perguntar mais uma vez e espero que seja sincera: O que está acontecendo? — E eu vou responder só uma vez: Esta casa é minha e não lhe devo satisfações. EU sou a duquesa e faço o que EU quiser com os MEUS criados e todos os MEUS bens. —Obrigada por esclarecer o meu lugar nesta casa , madame – finaliza Ashley se inclinando levemente em direção a sua avó. Então caminha pisando duro em direção a porta. — Não lhe dei permissão para sair – intervém Stephanie. Ashley para diante da porta, sua vontade é de batê-la com toda violência e mostrar que o assunto estava encerrado. Aperta a maçaneta com toda a força e então a solta, se virando: — O que mais temos para conversar, Your Grace? — O vestido do seu casamento, querida – responde Stephanie, devagar. — O que tem ele? – pergunta Ashley, cruzando os braços. — Postura, Ashley – repreende a avó que se levanta e caminha em direção a neta. Segura os braços da jovem —  Uma lady nunca cruza os braços. — O que tem o vestido de casamento, vovó ? – reforça Ashley ajeitando a postura. — Eu o encontrei – responde Stephanie com um leve sorriso. — Onde ele está? – pergunta Ashley, curiosa. — Agora, ele está no seu quarto. **** Mangas em balão que vão até o pulso, saia rodada , renda renascença contornando o decote levemente em V, pérolas do corset até a saia e o brasão da família no b***o. Ali estava o vestido feito de seda e tafetá usado pelas mulheres da família Campbell desde 1810. Ashley toca com cuidado no vestido que até o momento só o conhecia através das fotos espalhadas pela casa. — Procuramos em todas as casas, mas eu sabia que ele estava guardado aqui. – comenta Stephanie, orgulhosa. — Até porque esta é a única casa que lhe restou – murmura Ashley soltando as mangas que deslizam de volta para perto do vestido. — É um belo vestido. — O vestido da próxima duquesa – enfatiza sua avó que pega a caixa azul de cima da cama de Ashley, e entrega para a neta que abre deixando o colar de pérolas e a pulseira de diamantes pertencentes à família surgirem — Bem como as joias. — A senhora sabe que se eu me casar com Darwin, não serei a Duquesa de Argyll. – explica Ashley fechando a caixa. — Se? Você irá se casar com Darwin! – corrige a duquesa, irritada, pegando a caixa de volta. – Você será a próxima Duquesa de Norfolk e se casará com o vestido da casa dos Campbell. — Vovó, sei que a senhora teve um enorme trabalho em encontrar o vestido, mas eu e Darwin andamos conversando e achamos melhor que eu não usasse o vestido de nossa família... Ou melhor, nenhuma das duas famílias. — Como assim?– questiona Stephanie , horrorizada com as palavras de sua neta. —Por que não? — Porque a senhora sabe a posição delicada em que Darwin se encontra agora. Qualquer passo que dermos será prejudicial para ele, ainda mais por conta do partido que ele representa. — Progresso, mudança , desenvolvimento, crescimento, evolução... Eu sei bem do que ele está falando. Todavia , a tradição vem antes de qualquer coisa. Nosso país é feito de tradição e isso é o que o torna forte, estável e memorável. – argumenta Stephanie ,encarando a neta —É isso que você irá enfiar na cabeça do seu futuro marido quando falar para ele que irá usar o vestido de nossa família. Precisa lembrá-lo do motivo pelo qual  o partido o indicou para a candidatura. Estamos entendidas? — Vovó,eu não sei se ele aceitará  – responde Ashley. — Então faça com que aceite – rebate a avó tocando no queixo da neta — Você é uma Campbell , antes de qualquer coisa. — Tudo bem , vovó. Eu falarei com ele, quando surgir a oportunidade hoje no jantar de sua candidatura – concorda Ashley retirando a mão de sua avó. — Ótimo. – solta Stephanie com um sorriso de satisfação —É uma pena que eu já tenha um compromisso inadiável hoje. Porém, tenho plena certeza de que Daisy não se importará de acompanhá-la. — Não será necessário, sei me virar sozinha, vovó.– informa Ashley. — Além do fato que os pais dele também estarão presentes. — Tudo bem, mas esteja em casa antes da meia noite – determina Stephanie. — Vovó, nós estamos no século 21, meu carro não irá se tornar uma abóbora – zomba Ashley. — Eu sei, mas não desejo que fique até mais tarde na casa dele e depois saem falando a seu respeito. Para todos os efeitos, vocês dois são imaculados. — Pode deixar , vovó. Apesar de que  Darwin cumpre muito bem seu papel de cavalheiro. Então se tem uma coisa que eu ainda sou é imaculada. — E é  assim que uma lady deve agir. – afirma Stephanie. — Tudo bem, vovó. Agora , por favor, pode me deixar descansar? Tive uma manhã difícil e agora tudo o que eu mais quero é um bom banho. – finaliza indicando para a porta. — Tenho que estar descansada para o evento de hoje à noite. — Pedirei a Daisy para vir buscar o vestido. – comenta a duquesa caminhando até a porta. — Não precisa... Quero apreciá-lo mais um pouco – responde Ashley admirando o vestido mais uma vez. A resposta vem com a porta se fechando, finalmente Ashley pode respirar fundo. Ela vai para perto da sua cama, se abaixa e vasculha embaixo até encontrar seu sketchbook, um caderno com páginas sem pauta, frequentemente usado por Ashley para desenho até algumas pinturas, como parte do seu processo criativo até finalmente passar para a tela. Algo que raramente acontecia, pois aquilo era apenas um hobby adquirido durante seu internato, como válvula de escape. Tinha vários rascunhos com retratos, cenários e o cotidiano do colégio. Em algum momento, a jovem pensou em tornar seu hobby uma profissão, mas não foi incentivada pela duquesa , bem como a faculdade, mas sua avó acabou cedendo pelo último. Ashley pega seu estojo e retira seu carvão em p*u, afia com a navalha , se ajeita na cama e então começa a plasmar a atmosfera , a luz e outros componentes ao redor do vestido que está apenas com leves traços. De início, idealiza fazer todo o vestido, mas então surge uma nova ideia: fazer mais um retrato. Ela abandona o esboço e então decide usar a barra de carvão na página nova. Analisa com cuidado, até que aos poucos os seus traços fluem no papel, combinando com o lápis grafite, dando valores tonais de claro e escuro para compor os detalhes do vestido à sua frente. Os traços variados estão ricos em efeitos, se transformando aos poucos em braços que se posicionam no colo do vestido, b***o , os cabelos soltos com a fluidez de um véu. Os olhos são um desafio para a loira que toma o dobro de cuidado para que fique o mais próximo da realidade, bem como o nariz, boca, queixo. O rosto fica cada vez mais familiar, o que deixa Ashley satisfeita. Ajeita os últimos detalhes com a borracha pão, o pano de camurça e até sua própria mão. Levanta o caderno e passa a camada de spray para fixar o retrato da única mulher que não usou o tradicional vestido dos Campbell: Janet Leonor Dorothy Campbell Davenport, sua mãe.   **** O táxi de Ashley desliza para dentro do estacionamento privado do imponente edifício localizado no coração do West End, centro de Londres. Sai do veículo e então caminha até o elevador privado que dá acesso ao oitavo andar. Confere seu visual no reflexo do elevador: vestido preto com renda que vai até o meio da coxa e seus cabelos presos em um coque solto. Verifica a maquiagem e então ajeita a postura enquanto espera as portas se abrirem quase dentro da penthouse de Darwin Henry Miles Edward Beaufort. O apartamento tem proporções espetaculares, beneficiado ainda pela abundância de luz natural, além de uma vista panorâmica de Londres em quase todos os cômodos, agora com o pôr do sol como tela de fundo . A sala de recepção é composta por uma parede de plantas dando uma ambientação mais verde por entre as outras paredes brancas, sofás ovais púrpuras em harmonia com a mesa de centro também oval de vidro e o chão de madeira rústica. O aparador de aço com fotos do casal que são admiradas por alguns dos vários convidados, sendo o divisor para a sala de mídia com o enorme e aconchegante conjunto de sofá cinza já tomado por algumas pessoas,  praticamente contorna toda a segunda sala. Além de ter um divã branco , mesa de centro vermelha e a televisão de 80 polegadas colocada dentro da parede branca que combina com o rack da mesma cor. Os últimos raios de sol preenchem as salas, chamando atenção de Ashley para as janelas que vão do teto até o chão. No canto, uma pequena adega de onde surgem alguns garçons com as bebidas para serem servidas , além de alguns quadros contemporâneos sendo contemplados pelos presentes no recinto. Ela caminha pelo corredor, acompanhada pelo pôr do sol, chegando ao terraço e a piscina transparente com raia. Olha para cima e encontra algumas estrelas no céu. Entra no quarto principal, no quarto de vestir ,sobe as escadas e admira a decoração das outras três suítes daquele andar.  Ashley decide finalizar sua busca pelo noivo descendo e até a sala de jantar onde encontra Darwin distraído saboreando um vinho tinto enquanto conversa seriamente com uma bela senhora de cabelos em corte Chanel harmonicamente grisalhos, usando um vestido preto de decote levemente escaleno e mangas longas, mas deixando suas pernas bem à mostra e seu salto da mesma cor..Ela observa o belo rapaz de cabelos acobreados, tentando desvendar o que se passa em sua mente.Conhece o noivo muito bem para saber que a forma como seus lábios se comprimem, indica que as coisas não estão correndo como gostaria. Ashley e Darwin se conheceram na Brillantmont, onde ele também era interno. Assim que contou para sua avó que era amiga de Darwin , Marquês de Beaufort, recebeu aprovação imediata para a amizade. O ducado de Beaufort é um dos últimos títulos britânicos que detém o direito hereditário de fazer parte da Câmara dos Lordes, e o seu detentor é designado como Premier Duke, ou o Primeiro Duque no Pariato da Inglaterra e, adicionalmente, detém também o título de Earl Marshal e Marechal Hereditário da Inglaterra. Historicamente, foi uma das primeiras famílias aristocráticas da Inglaterra. A família é tradicionalmente católica e  reside oficialmente em Badminton House, perto de Chipping Sodbury, em Gloucestershire. Conforme os anos foram passando , os seus objetivos passaram a ser direcionados por suas famílias.Cresceram sabendo que estavam predestinados a viverem juntos, tanto que o pedido de namoro foi feito por Henry John Albert Wellington Beaufort, pai de Darwin à sua avó, que o concedeu. Aliás, sua avó tinha o imenso prazer em ter o próximo Duque de Beaufort e  Lord Speaker, como parente direto. Apesar de seu noivo ainda não ser o Duque de Beaufort, ele passou a fazer parte da Câmara dos Lordes, para ser preparado como o próximo Lord Speaker. Foi então que o jovem decidiu que passaria a morar em Londres, comprando a Ambika para sua residência, até que se tornasse duque,o que acontecerá assim que casar com Ashley. Aliás, foi ela quem decorou toda a penthouse, tornando-se referência em decoração. Com o noivado, passaram a ser o casal mais influente de todo o Reino Unido, ficando atrás apenas dos membros da família real. Ashley pega uma taça de champanhe com um dos garçons e então se aproxima devagar tentando não incomodá-los, mas acaba atraindo a atenção da mulher e de seu noivo para sua chegada. Ele sorri e segura na mão da jovem enquanto aproxima seu rosto , o colocando por entre seus cabelos, como se fosse beijá-la, quando na verdade está sussurrando algumas palavras levemente ríspidas: — Está atrasada. –  ele se afasta e então sorri em direção a Harriet — Ashley, essa é  Harriet Miller, atual líder do partido conservador. Harriet, essa é Ashley... —  Lady Ashley de Argyll – completa Harriet inclinando sua cabeça levemente em direção a loira. — Pelo visto, já se conhecem. – comenta Darwin a contragosto terminando o vinho com um gole só. —De forma alguma. – n**a Harriet com um leve sorriso enquanto admira Ashley — Porém, devo admitir que  é impossível  não notar a semelhança. — Então a senhora conheceu a minha mãe. – deduz Ashley. Com o passar dos anos se acostumou com o fato de todos dizerem o quanto ambas eram parecidas, quase possível confundi-las quando Ashley passou a pintar seus cabelos na mesma tonalidade dos fios de sua mãe. —Sim, conheci Janet, ela era uma grande mulher. Porém, eu a reconheci mais pelo Phillip, o nosso memorável Lord Chancellor e seu avô. – explica a líder do partido , deixando a jovem levemente emocionada de ver alguém falando tão bem de sua família. — E em breve ela terá a honra de ser reconhecida como esposa do quinto Lord Speaker e  Duquesa de Beaufort. – completa Darwin beijando a mão de sua noiva. —  Acredito que é o senhor, My Lord , quem terá a honra de fazer parte de uma família tão distinta e comprometida com o nosso país, como são os Campbell. – rebate Harriet apreciando sua taça lentamente. Ela sorri e continua encarando Ashley — Sabe, a semelhança é tamanha que até posso vê-la ingressando na política, My Lady... Já chegou a analisar essa possibilidade? —Bom, eu... – começa Ashley.  Ela não pode negar, por algum tempo pensou em enveredar por esse caminho, seguir os passos de todos os membros da família Campbell, incluindo o de sua própria mãe. Lembra-se perfeitamente dos passeios que já realizou ao Palácio de Westminster, sede do Parlamento britânico. Em um deles, sua mãe fez questão de lhe mostrar a gritante diferença entre a Câmara dos Lordes e a Câmara dos Comuns. A Câmara dos Lordes era enorme e luxuosa, com seus ornamentos em ouro , além  dos assentos com seus belos estofados de couro vermelho. E claro , o belíssimo trono do Monarca, feito de ouro puro. Lembra-se de ter ficado encantada com o lugar e com as palavras de Janet que lhe narrava a história de alguns dos membros que fizeram parte da Câmara, até chegar em seu avô. —A senhora também ficará aqui? – pergunta Ashley, curiosa olhando em direção ao trono. — No Palácio , sim. Nesta Câmara, não – responde Janet colocando um enorme ponto de interrogação no rosto de sua filha. Ela estende a mão em direção a Ashley — Venha, vamos conhecer o novo lugar de trabalho da mamãe. As duas caminham animadas até chegar na Câmara dos Comuns. A sala tem estofado na cor verde e não há a luxuosa ornamentação da Câmara dos Lordes. Tampouco existem detalhes em ouro. A beleza fica por conta da madeira talhada. O espaço é pequeno e  claramente não há assentos para todos os parlamentares.  — Por que a senhora vai ficar aqui? – pergunta Ashley desapontada com o espaço. — Porque fui eleita e aqui é o lugar dos eleitos pelo povo. – responde Janet sorridente, ao contrário de sua filha — O que foi, Ashley? —Aqui é f**o, mamãe – responde Ashley rapidamente. — Ashley – chama Janet se ajoelhando na frente da criança. Ela ajeita os cabelos negros de sua filha atrás de sua pequena orelha — Não importa se o lugar é f**o, mas sim o que nós somos capazes de fazer para torná-lo melhor.O importante é dar o nosso melhor, independente de onde e como estamos, entendeu? — Sim – responde Ashley sacudindo a cabeça. — E você dará o seu melhor para o mundo? — Impossível – intervém Darwin  trazendo Ashley de volta a realidade.  — Ashley está mais voltada a deixar o mundo um lugar mais belo e elegante. — É verdade, eu havia me esquecido que  se formou na área de decoração. Parabéns. – comenta Harriet sorrindo para Ashley. — Obrigada – agradece Ashley lisonjeada com o elogio. — Não era bem sobre a profissão dela que eu estava falando, mas sim de ser uma mulher bela e elegante, como uma esposa deve ser. Esse é o talento da minha noiva. – afirma Darwin sorridente para Ashley. Ele se vira para Harriet com a mesma amabilidade — Enquanto o meu talento é estar à frente da Câmara dos Lordes, orientá-los e representá-los tanto no Reino Unido quanto em qualquer lugar do mundo. —Porém, My Lord, você precisa convencer os outros nobres de que seu talento é esse... — Eu estou fazendo isso – alega Darwin engolindo seco o comentário ácido de Harriet. — Terá de fazer mais e melhor do que já está, se realmente quiser mostrar esse seu ... talento. – rebate Harriet entregando sua taça ao rapaz. Ela ergue sua mão em direção a Ashley — Um prazer conhecê-la, My Lady. — O prazer foi todo meu, madame – retribui Ashley que observa a senhora inclinar levemente a cabeça em direção a Darwin antes de se afastar , caminhando em direção a outros nobres e políticos ali presentes. Ela se vira em direção ao noivo que está com semblante fechado — Eu perdi alguma coisa? — Não, isso é apenas Harriet tentando ser a próxima Thatcher. – alega Darwin respirando fundo. O ruivo encara sua noiva, irritado —  Por que chegou atrasada? — Digamos que meu dia não foi nada como o esperado – responde Ashley tomando um gole de sua taça. — O que você quer dizer com isso? – questiona Darwin, preocupado com as palavras da noiva. Ela o encara mordendo levemente os lábios, o que para ele significa que o que Ashley tem a dizer  era pior do que imaginava. A loira se prepara para revelar o que havia acontecido em seu dia quando seu noivo  desvia o olhar, tendo sua atenção atraída para outro lugar, ou melhor alguém.
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