José narrando
Era início das aulas de 2014, minha mãe sempre dizia para eu fazer amigos já que eu era sozinho e inseguro. No ano anterior, eu não havia feito nenhum amigo, a única coisa que consegui foi uma inimizade com um guaxinim chamado Ryan, que implicou comigo e tudo porque a Bianca estava a fim de mim, não tenho culpa por ela ser uma gata e eu um gato.
Ele era muito pegajoso e também era um ciúme doido, ela não podia falar com ninguém que ele aparecia.
Ele tinha vários amigos. Não sei o que ele disse sobre mim, mas ele fez todo mundo se virar contra mim.
Agora a Bianca tá com o Raul, que é amigo do Ryan, aquele i****a que fica só com as sobras. Ainda tá preocupado com o tamanho do p***o, devia tá mais preocupado é em não ser tão i****a, isso sim, por ficar com uma garota de um amigo dele, se é que ele é amigo. Ryan vive zuando da cara dele.
Não sei o que ela viu no Raul, existem aqui outros felinos melhores que ele. Fiquei tão magoado com a Bianca, ela se aproximou de mim e se afastou depois, nem olha mais para mim. Não quero mais nada com gatas.
Estava tudo indo de m*l a pior, eu estava sozinho, sem ninguém e com Ryan no meu pé. E os namorados de olho nas suas namoradas, como se eu fosse tomar elas ou algo assim. Um dia, a Bianca estava conversando comigo e Ryan aparece abraçando e beijando ela. Eu fiquei sem reação enquanto observava eles dois se beijando lá e se abraçando, e eu de cara para o vento. Isso me deu uma raiva e todos ainda ficaram rindo, aí a Bianca não gostou e disse para ele parar com isso. Eu saí dali emburrado e comecei a caminhar em direção à minha casa. Eu tinha uma cópia das chaves e como havíamos sido liberados mais cedo, talvez meus pais não esperassem que eu chegasse naquele horário.
Eu abro a porta da minha casa, me sento no sofá para retirar os sapatos e começo a escutar um barulho vindo do quarto dos meus pais. Pareciam risos e zoeiras de unhas rasgando e respirações ofegantes.
Eu me aproximo do quarto quando meu pai sai de dentro dele, ele parecia não ter gostado muito dos dois arranhões que levou nos dois lados do tórax dele e ele estava enrolado numa toalha com um calção na mão.
Ele toma um susto quando me vê. Ele estava suando e ofegante, com a língua pro lado de fora.
— Filho? O que você tá fazendo aqui a esta hora? — ele pergunta, espantado.
— Fui liberado mais cedo hoje. — eu disse para ele, meio desconfiado.
Eu ficava olhando para dentro do quarto e minha mãe estava com a roupa toda bagunçada e com um sorriso amarelo. O meu pai, rapidamente, coloca uma das patas em um bolso, abre a carteira e tira vinte reais. Ele dá na minha mão e diz para eu dar uma volta. Eu, sorrindo, peguei o dinheiro da mão dele e sai dali rapidinho.
Eu estava ainda com a mesma roupa que tinha voltado da escola, que era um short e camisa, só coloquei um chinelo e saí em direção à lanchonete mais próxima.
Eu saí pensativo, confuso e sorrindo com malícia — Nossa, é assim que eu fui feito? Haha — pensei. Eu ficava rindo comigo mesmo, lembrando da cena de meu pai todo vermelho e de minha mãe toda desconfortável.
Eu vou até a lanchonete, me sento em uma mesa próximo a uma janela enorme e fico analisando o cardápio, depois peço uma lasanha e uma coca-cola para um garçom, que deu vinte reais o total.
A lanchonete estava cheia, todos os garotos com as suas namoradas e eu era o único sozinho ali. Um tempo depois, a mesa à frente foi desocupada e vejo pela janela Bianca e Ryan chegando. Eles entram no local e se sentam justamente na mesa da frente.
Que sofrimento! — pensei, já que eu estava no início da puberdade, com os hormônios à flor da pele e estava na seca sem nenhuma garota.
Depois de um tempo, os dois estavam se acariciando e Ryan me olhava com olhar de deboche. Eu olho ao redor e todos estavam trocando beijos, presentes ou cantadas apaixonadas.
Ryan se levanta da mesa deles, passa por mim sorrindo e pisa no meu pé dizendo — Opa, desculpa, não vi que você estava aí. — enquanto ria com deboche.
Ele tinha ido buscar um cardápio e na volta ele me dá um tapinha na cabeça, na mesma hora a lasanha e a coca-cola chegam.
Eu começo a comer e às vezes Bianca olhava para trás na minha direção e dava umas risadinhas. Ela parecia não estar muito interessada no Ryan e nem no que ele estava dizendo. Como vingança pelo pisão que ele me deu, eu começo a corresponder os olhares dela e a rir também. Ryan ficou furioso, olhando na minha direção.
Eu termino de comer e beber, p**o a conta e ando na direção da porta. Antes de sair do local, dei uma olhadinha para trás e uma piscadinha na direção da Bianca enquanto Ryan ficava furioso. Eu caminho pela calçada e dou mais uma olhadinha para a Bianca pelas enormes janelas de vidro na frente da loja e ela sorri. Eu atravesso a avenida e começo a caminhar em direção à minha casa. Já era noite e quando chego lá, minha mãe já tinha preparado o jantar, era carne cozida. Eu já estava de barriga cheia e não gostava de carne cozida.
Eu percebo que meu pai e minha mãe m*l me olham nos olhos.
Fico rindo e olhando para eles, ainda mais para o meu pai, que é chato comigo.
Ele estava sentado no sofá assistindo TV quando me aproximo e cochicho no ouvido dele — Então é isto que vocês fazem quando não estou?
Ele me olha com o olhar penetrante de lobo dele, então eu recuo e fico sentado pertinho dele, rindo.
Ele estava usando uma camiseta para esconder os dois enormes arranhões no peito.
Eu pergunto com ironia — Pai, por que você tá usando camisa se tá tão quente?
E ele me dá só um olhar zangado, depois continua assistindo à TV enquanto eu ria — Papai tá tão bom comigo, me deu até 20 reais. O que aconteceu? — eu digo com ironia.
— Não enche, moleque — ele disse, tentando ficar sério enquanto eu dava risada. Minha mãe não quis jantar na sala, ela só comeu, escovou os dentes e foi dormir. Ela parecia meio triste também.
Naquela noite, eu não consegui dormir de jeito nenhum, estava com muita raiva do Ryan e ver meus pais saindo daquele quarto não saia da minha cabeça. No meio da noite, meus pais aparecem no meu quarto.
— Ele tá dormindo — sussurrou minha mãe e eles dois voltaram para o quarto deles. Eles começaram a falar algo, eu prego minhas orelhas na parede e fico escutando. Ele reclama por ela ter arranhado ele, diz que todos vão ficar tirando sarro dele por causa dos arranhões, ela se desculpa e diz também que ele tem que ir devagar, se não vai machucar ela.
Eles começam a discutir, ele diz que não tá satisfeito e ela diz o mesmo. Ele diz que os gatos são pegajosos e gostam de arranhar e ele odeia isso. Eu escuto ela chorar, ela diz que não tá tendo prazer. Ele diz que os dois eram grandes amigos, mas não deviam ter ficado juntos porque gatos e lobos não dão certo.
Enquanto eu escutava a minha mãe chorando, eu comecei a chorar também.
— Não fica assim, venha cá, me abrace — ele disse a ela, e eu começo a escutar ele chorar também e dizer que fará de tudo por mim.
Ela diz que ele foi a única pessoa que ela amou.
Eles eram apenas amigos, os pais dela eram metade lobo e gato. Os dois foram fruto de uma relação ilegítima e minha avó da parte de pai era metade lobo e gato. Eles eram amigos desde a infância, só amigos. Os relacionamentos dele e dela não davam muito certo e eles acabaram se aproximando mais. Como estavam muito carentes, por impulso, eles fizeram o que os casais fazem. Ela acabou engravidando dele e eu nasci.
Eles acabaram tendo que ficar juntos. A relação entre eles nunca foi muito boa, ele sempre foi mais fechado e reservado, já ela era mais extrovertida que ele e sempre pedia por mais atenção, mas ele nunca dava o que ela queria. Ela sentia o pelo dele quente e queria dormir pertinho dele, amaciar com as patas o pelo dele, coisas que os gatos gostam de fazer, e ele odiava isso.
Quando ela ficou grávida dele, foi um escândalo. A família dela ficou com muita raiva dele e a dele também. Eles queriam que ela arranjasse um gato e a dele uma loba, mas tiveram que ficar juntos.
Acho que isso é algum tipo de dependência, ela não consegue se separar dele. Mesmo ele a traindo várias vezes, ela sabe que ele a trai com umas lobas, ela só não quer ver.
Me lembro de uma briga f**a que os dois tiveram uma vez, me lembro bem daquele dia. Eu estava brincando com uma bola de linho, estava puxando fio por fio e uma vizinha veio falar algo pra ela. Ela saiu de casa, dizendo pra mim que voltava já já.
Depois de um tempinho, vejo meu pai entrando em casa muito nervoso e ela furiosa, com os pelos tudo arrepiado. Eles começaram a brigar na cozinha uma briga doida.
Várias panelas e pratos caíram do armário, se estilhaçando no chão, ela estava furiosa e chorando muito por ele estar traindo ela. Ela avançou pra cima dele, arranhando todo o seu rosto e ele tentava segurar ela, mas estava sendo difícil. Ele ficou todo marcado de garras e os amigos dele chegaram e conseguiram segurar ela, quase que ela furou um dos olhos dele este dia, ele se viu apertado. Eu, vendo tudo aquilo, comecei a chorar.
O tempo foi passando e desta vez, eu notava que ele se esforçava para ser mais carinhoso com ela, mas enquanto a situação deles melhorava com o decorrer dos anos, a minha só estava indo de m*l a pior. No início das aulas em 2014, minha mãe sempre dizia a mesma coisa, para eu fazer amigos. Já tinha um guaxinim implicando comigo, aí duas hienas, um ano mais velhas que eu, começaram a implicar comigo também. O nome de uma era Paulo e outro Luís, eu percebi que Paulo era mais bruto e Luis um pouquinho mais bobo que ele. Pensei até que eram irmãos, mas eles só andavam juntos porque eles eram amigos.
Com tanta gente na escola, por que justo eu seria o alvo deles? Eles implicaram comigo logo no primeiro dia de aula.
Primeiro dia de aula
José narrando
Minha casa não era muito distante da escola, então resolvi ir caminhando até lá. Estava caminhando sozinho e quando chego na frente da escola, vejo que a escola tá cheia. Eu caminho em direção à entrada e lá estava a Bianca e Ryan, que estava rindo debochado para mim. Eu ignoro ele e continuo caminhando. De vez ou outra, eu olhava para algumas garotas que achava atraentes, mas elas viravam a cara para mim. Eu ainda escutei alguns cochichos de algumas pessoas enquanto olhavam e riam de mim. No meio da escola, tinha um pátio enorme e bem amplo.
Atravesso este pátio na direção da minha sala e na sala ao lado vejo duas hienas machos, que riam de alguma coisa, não sei o que. Elas olhavam as pessoas ao redor e ficavam rindo, notei que alguns estavam com medo delas e outros que os animais estavam andando em grupo. As hienas olhavam ao redor, como se estivessem procurando algo, e elas olham na minha direção. Elas trocam olhares entre si e começam a rir. Eu me aproximo da sala e começo a rir também, mas de nervoso.
O que elas querem de mim? — pensei.
De perto, elas eram ainda mais intimidantes, com aqueles enormes sorrisos brancos. Eu entro na sala e elas não paravam de me olhar com um olhar diabólico, ainda acenavam para mim dando um tchauzinho e eu faço o mesmo, ainda rindo de nervoso. Quando chego na sala, tem outra hiena lá — Meu deus, vou ter que ficar perto delas e não tinha nenhuma outra cadeira vazia. As outras estavam ocupadas com bolsas dos donos ausentes — eu pensei que as bolsas eram das hienas que estavam do lado de fora, mas felizmente não era — Mas, pera — eu pensei, olhando melhor a hiena que estava na sala. Aquela outra hiena era diferente, os olhos dele, a cauda e ele parecia mais manso que as demais.
Eu me sento perto dele, desviando o olhar e ele era até engraçado. A professora pediu que ele se apresentasse e ele ficou rindo, era só a gente olhar ele nos olhos que ele dava risada.
A Bianca estava lá, ignorando completamente minha presença e parecia mais interessada na hiena do que em mim. Percebi que Ryan não gostou muito disso.
Eu dava umas risadas vendo a situação, Bianca parecia bem feliz por todos os amigos dela estarem na mesma sala.
Naquele dia, a professora de história passou uma revisão e depois passou um trabalho. Cada equipe pegou um tema, eu fiquei com Guilherme, o lobo, o qual logo de cara não tinha ido com a cara de Matheus. Talvez por ele ser um lobo, lobos e hienas são inimigos históricos.
O tema do nosso trabalho foi sobre a Revolução Industrial, trabalho bem chato. Guilherme não queria colaborar e eu tive que fazer tudo sozinho, e ele ainda ganhou pontos. Toda vez era a mesma coisa, ele nunca fazia nada, mas eu andava perto dele por causa das hienas, aí não falava muito. Ele só me procurava quando estava precisando. Guilherme era o Bully da sala, ele era um lobo grande e forte. As hienas não mexiam com ele, mas diferente delas, ele era mais na dele e gostava mais de apelidar os outros e fazer perguntas bobas, além de tirar sarro da cara dos outros. E ninguém ousava tirar sarro dele porque isso o irritava muito e ele tinha alvos específicos, o alvo dele se chamava Matheus. Depois ele migrou para mim, que sorte eu tenho, ajudava ele e ele ainda fazia isso.
Meses depois do início das aulas
Dois dias após escutar a conversa que meus pais tinham tido no quarto, teve uma briga f**a na escola. As duas hienas estavam brigando com dois lobos que se uniram contra elas.
A briga foi f**a, um dos lobos saiu tão ferido que cuspia sangue e Paulo, a hiena, estava com um olho roxo.
A briga começou por causa de uma das hienas, que estava perseguindo um lobinho que era irmão de um lobo mais velho. A briga foi separada logo, mas mesmo assim os ânimos estavam inflados. Lobos e hienas se encaravam nas ruas e nas escolas, até meu pai pareceu meio furioso. Eu percebi que Lucas estava meio confuso e Matheus também, ele ficou três dias sem aparecer na escola esperando a poeira baixar.
É preocupante a briga entre hienas e lobos, eles são as espécies mais fortes e às vezes as espécies mais vulneráveis acabam sendo prejudicadas. Ainda havia pessoas tocando fogo na história, mas graças a Deus a poeira baixou.
Meu pai me contou uma vez que o pai dele testemunhou um m******e entre hienas e lobos.
No tempo deles, eles viviam em bairros separados, formavam times de futebol separados e havia uma competição entre os bairros. A partida estava sendo vencida pelos lobos e estes acabaram ganhando a disputa, as hienas não ficaram muito felizes com o resultado. Todos os lobos começaram a festejar do lado de fora do estádio, quando um dos lobos foi atingido por uma bala. Era um acerto de contas pessoal entre um lobo e uma hiena, e o local estava cheio de lobos e hienas.
Na mesma hora, começou um quebra-quebra com lobos e hienas avançando uns nos outros com paus e cacos de vidro, e aquilo durou duas horas. Havia alguns trocando tiros enquanto alguns tentavam sair dali, mas não conseguiam. Alguns foram acertados por balas, tinha gente caída e sangrando, e até crianças sendo mortas. Meu avô era uma criança no meio de tudo isso, uma loba na frente dele foi esfaqueada no pescoço quando foram pegar ele, uma hiena o tirou dali e o levou para um lugar seguro. O exército foi acionado para separar a briga e demorou dois dias para tudo voltar ao normal. Deu um total de 50 mortos de ambos os lados e 200 feridos, entrou para a história.
Meu pai nunca engoliu isso, ainda que timidamente ele odiasse hienas, mesmo tendo uma que salvou o pai dele da morte e não sendo considerado lobo por alguns, por não ser puro.
(Meus pais em um momento engraçado, meu pai cabeça dura insistiu em entrar em um mato cheio de aranhas)