Perguntas sem resposta

2663 Words
26 de maio de 2019 Narrador narrando Matheus foi piorando cada vez mais, ele foi se tornando uma pessoa fria, egoísta, mesquinha e agressiva. Até o pai notou que ele havia mudado para pior e Leonardo se perguntava o que havia acontecido com seu filho. Secretamente, ele sentia saudades do antigo Matheus, do filho que era carinhoso, que se preocupava com ele, que gostava de o abraçar e que queria ser como ele, mas Matheus se tornava cada vez mais parecido com Leonardo nos piores aspectos. Leonardo começou a ficar preocupado com seu filho, pois ele próprio já não tinha controle sobre Matheus. Ele já não se intimidava mais e nem o obedecia mais. Matheus se tornou um inimigo para Leonardo e para sua família, os tratando com indiferença e desprezo. Matheus tratava a sua avó, mãe de Leonardo, de maneira grosseira, não queria encostar nela e limpava as mãos quando a tocava. Quanto aos tios, ele não os respeitava e com seus primos, pior ainda. Matheus sentia prazer em vê-los com algum problema, ridicularizava-os. Leonardo não conseguia perceber que era o causador de todo esse problema e estava colhendo o que havia plantado. Leonardo narrando Pensamento: Estou preocupado com esse garoto, ele vive me questionando, me desafiando e não me respeita. Mas, vive perguntando o que há naquele quarto, porque a mãe foi embora, se ele é meu filho de verdade, onde eu arrumo tanto dinheiro pra bancar meus luxos e pergunta sobre o meu pai. Ele me desafiou, me colocando contra a parede e olhando no fundo dos meus olhos. Não posso sair do quarto, estou doente e não consigo me levantar. Droga, sem minha liderança, o esquema todo vai cair. E se Matheus descobrir, ele pode me chantagear. Narrador narrando Matheus aparece na porta do quarto com minha comida, com um sorriso debochado. Matheus: — Aqui está sua comida, pai — falou com ironia, enquanto observava Leonardo deitado na cama, sem poder se levantar dela. Leonardo ficou encarando Matheus. Matheus coloca a comida em cima da mesa ao lado da cama de Leonardo. — Você não intimida ninguém, você é um fraco — Matheus disse isso enquanto sorria e apontava o dedo para Leonardo. Leonardo ficou assombrado, parecia seu próprio pai falando aquelas palavras. Antes de seu pai falecer, Leonardo e o pai se tornaram inimigos e a briga entre os dois tornou-se mais frequente. Matheus se senta em um banco perto de Leonardo enquanto olhava para seu rosto e sorria. — Uma família cheia de segredos muito bem guardados a sete chaves, um pai que odeia seu filho porque ele não é um lobo, dinheiro que brota de árvores, pessoas que desaparecem misteriosamente, roupas caras, móveis caros e um quarto misterioso. — Matheus disse isso enquanto se aproximava de Leonardo. Leonardo, irritado, pega Matheus pela camisa e começa a rosnar, mostrando as presas. — Calma, papai lobo, se é que você é pai — diz Matheus ironizando. — Cala a boca! — disse Leonardo enquanto rosnava para Matheus. — Alguma coisa você esconde, e eu vou descobrir — diz Matheus. Leonardo dá um t**a em Matheus. — Ops, se for para machucar, vai ter que fazer melhor do que isso — diz Matheus — Vou te mostrar como se faz — disse dando o troco. Leonardo começa a rosnar e puxa Matheus para perto dele, os dois rolaram na cama, trocando força com ambos tentando se morder. Os dois caíram no chão e continuaram brigando, e Leonardo com seus dentes bem à mostra tentando dominar a situação. Leonardo tentava morder Matheus, mas ele desviava e Leonardo acabava mordendo o lençol. Matheus narrando Não estava com um pingo de medo, eu estava até gostando da possibilidade de desafiar e derrotar ele. Eu até sorria e ele, fraco, estava cada vez mais cansado e ofegante. Ele ficou no chão enquanto eu bagunçava o pelo dele todo com ele rosnando, ele tentava me morder e eu tirava a mão, sorrindo. — Os lobos são carinhosos com seus filhos, mas que belo exemplo você está dando, tentando morder seu próprio filho como se fosse um inimigo — digo a ele — Você nunca foi carinhoso comigo, só porque pareço uma hiena e tudo o que você queria é A d***a DE UM FILHO LOBO! — falo isso bem alto e começando a chorar. Estávamos no chão com ele cansado e respirando ofegante, ele estava com uma cara assassina de lobo raivoso. Eu caio no choro enquanto ironicamente vou falando: — Eu devia ser assim. Um lobo, com o pelo bem lisinho e macio como o do Sr. — digo isso enquanto bagunçava o pelo dele — Assim seria uma família perfeita, tudo tão bonitinho, tudo lobinho, mas o quê que acontece? EU TINHA QUE SER UMA HIENA, UM FILHO INDESEJÁVEL. Por causa de gente como o Sr., pessoas como eu sofremos bastante, SABIA? Somos indesejáveis, perseguidos, e as pessoas sempre esperam o pior de nós. Narrador narrando Leonardo não queria expressar seus sentimentos, também não queria admitir que estava errado e que era o causador de todo aquele problema. — Filho, desculpe — diz Leonardo. Matheus pensamento Isso foi estranho, meu pai nunca falou isso. Mais estranho ainda, foi ver lágrimas escorrendo de seus olhos. Matheus: — Você me olha com desprezo quando lobos deveriam ser carinhosos com seus filhos, você ainda rosnou para mim, me olhando como um inimigo. Leonardo se aproximou de Matheus para abraçá-lo e Matheus chorando disse: — Eu queria ser um lobo igual o Sr., talvez assim eu seria aceito pelas pessoas. Pai e filho se abraçaram. — Isso dói, todos acham que não sou seu filho — disse Matheus enquanto Leonardo estava sem saber o que dizer e continuava abraçando seu filho. Matheus: — Você trata o Barone como seu filho, e eu, não — diz Matheus desfazendo o abraço — Não preciso do seu abraço falso. Se precisar de ajuda, chama o Barone, ele é seu filho, eu não. Barone, que tinha quatro anos, aparece na porta do quarto sem entender nada e sorrindo, vai em direção a eles para abraçá-los. Barone era filho de Leonardo com sua terceira esposa. — Não encosta em mim, guri! — diz Matheus enquanto saia do quarto, deixando Leonardo com Barone e falando com ironia — Tão bonitinho o papai e o filhinho lobo dele. Barone ficou olhando para Matheus sem entender nada, e Leonardo ficou sem reação. Matheus deixa o quarto do seu pai e vai para o seu, se trancando lá dentro. Ele se deita na cama e começa a mexer no celular. Sem ter nada para fazer, ele começa a vasculhar o celular e encontra algumas fotos dele, de Lucas e de Ryan, e também algumas músicas que costumavam ouvir juntos. Ninguém se importa comigo — pensou Matheus — Lucas é um miserável, ele se aproximou e depois se afastou. E Ryan, aquele filho da p**a, mereceu a surra que levou. Enquanto Matheus pensava nisso, começou a chorar e ficar com raiva. Deitado na cama, ele pega no sono, mas acorda no meio da noite chorando. De repente, memórias vieram à sua cabeça e ele sentiu uma raiva intensa pela mãe porque havia o abandonado com o pai, por Lucas que se afastou, pelo pai e por todos; logo, ele novamente pegou no sono. No dia seguinte, sem dizer uma palavra para o pai, ele acordou, tomou banho, se arrumou, tomou café e foi para a escola andando. No meio do caminho, ele encontrou o gato José e as duas hienas, e juntos foram conversando. Paulo notou que Matheus estava meio aéreo. José: — Matheus, tá tudo bem? Matheus: — Sim, só tô pensando. Luís: — Sobre? Matheus: — Acho que meu pai não é meu pai. José: — Você acha? A gente tem certeza que ele não é, você não se parece com ele. Matheus: — Como eu vim parar aqui? Ainda diziam que minha mãe era uma gata. Luís: — Pera que agora fiquei confuso. Paulo: — Mas você parece uma hiena, meio estranha, e você não parece ter puxado nada deles. Matheus: — Isso que tá me incomodando. Com quem eu pareço? Eu não conheço a família de minha mãe e a do meu pai não tem hienas, só lobos, até onde eu sei. Todos ficaram confusos. Paulo: — Você e o Lucas eram amigos? Matheus: — Sim. Paulo: — Aquele moleque só pode ser gay, só vive com aquele amigo dele. José: — Ryan — disse rindo — Até o nome é gay. Luís: — Vocês eram amigos, amigos muito próximos — disse sorrindo. Paulo: — Havia um climão entre vocês três. José: — Pareciam até namorados. Matheus já estava achando a conversa chata, não queria conversar, só queria ir pra escola. Matheus, zangado, disse: — Não me interessa. Lucas não existe mais para mim, assunto encerrado. Ninguém disse mais nada e todos caminharam em silêncio até a escola. Aquele foi um dia quente e chato, que demorou uma vida para passar. Matheus não aprendeu nada, estava esperando o dia passar logo, só pensando em ficar a tarde toda deitado na cama sem fazer nada. Era 12 horas e começou a aula de biologia sobre hereditariedade. Mais um assunto chato — pensou Matheus. Professora: — Herdamos características físicas de nossos pais através dos cromossomos, herdamos metade de cada um. Somos a combinação dos dois. Mas não eu — pensou Matheus. A professora continuou dando aula e usou dois lobos como exemplo. Ela explicou que se os dois tivessem ancestralidade de alguma outra espécie, como uma raposa, e tivessem uma criança, por mais que fosse uma chance muito pequena, a criança poderia sair raposa. Aquilo aguçou a curiosidade de Matheus, que começou a prestar atenção na aula. Matheus: — Mas pra sair de outra espécie ambos têm que ter ancestrais desta espécie? Tipo, se os lobos tiverem ancestralidade de cachorro, pode sair um cachorro, certo? — Sim! — respondeu a professora. Matheus ficou cada vez mais curioso e resolveu pesquisar antecedentes da família em busca de suas origens. A aula estava muito interessante até que o sinal bateu, eram 12:30 e todos teriam que retornar para suas casas. Matheus levanta da carteira com pouco entusiasmo, colocando as coisas na bolsa e saindo da sala, sendo acompanhado pelos seus amigos Paulo, Luís e José. Enquanto Matheus caminhava em direção a saída da escola, ninguém ousava ficar na frente dele e do seu grupo. Todos temiam eles, as duas hienas iam atrás de Matheus rindo e debochando dos outros, o gato José acompanhava Matheus e ele se importava mais com o amigo. Dos quatro, Matheus era o mais compreensivo com ele, lembrando de Júlio, seu antigo amigo que era um gato. José: — Matheus, sobre o que a professora falou… talvez dois avós seus fossem hienas. Matheus: — Não tem como eu saber, não conheço a família da minha mãe e não falo com a família do meu pai. José: — Você não tem algum álbum de fotos da família? Talvez você ache alguma coisa. Matheus: — Não tô afim de falar sobre isso, ontem eu e meu pai tivemos uma briga f**a. Ele tentou me morder, me olhando com aquele olhar de fúria dele, como se eu fosse inimigo dele. José: — Tudo bem. Os quatro continuaram caminhando até a parada de ônibus sem falar quase nada. Enquanto caminhava, Matheus pensava em Lucas, nos momentos que tivera com ele e no porquê ele se afastou dele. Matheus estava tão distraído em pensamentos quando esbarra em uma lixeira e cai com a cabeça dentro dela, com os pés pra cima. O corredor estava cheio nesta hora e todos seguraram o riso, até às duas hienas. José ajudou Matheus dizendo: — Cuidado, cara — tentando não rir da situação. Matheus se recompõe, encarando todos com seus penetrantes olhos verdes. Todos ficaram desviando o olhar de Matheus enquanto alguns continuavam conversando, como se nada estivesse acontecido. Matheus volta a caminhar em direção a parada de ônibus com as duas hienas, que ainda estavam se segurando para não rir. Já eram 12:40 e o ônibus chega à parada. Todos sobem no ônibus. Matheus tem uma surpresa quando entra no ônibus, ele encontrou Lucas sentado na cadeira do meio. Matheus finge que não o vê e vai para a parte de trás, se sentando nos assentos vazios com seus amigos. Matheus coloca o capuz e os fones de ouvido, e assim ficou a viagem toda. Lucas dava leves olhadas para trás, e Matheus na direção de Lucas. Ao perceber a troca de olhares, os três começaram a sorrir e Paulo cochicha no ouvido de Matheus: — Vai lá, campeão. Matheus dá um pisão bem forte na pata de Paulo e o grupo para de provocar. Ninguém disse nada, até que na quinta parada, os três descem, dando um adeus a Matheus e sorrindo com malícia. Matheus e Lucas davam apenas leves trocas de olhares, mas por algum motivo, Lucas tinha medo de se aproximar, e Matheus estava muito magoado também. Matheus se sentiu usado por Lucas e nutria por ele um misto de amor e ódio. Matheus continuou no ônibus até o momento em que teria de descer, ele deixa o ônibus e caminha sem olhar para trás. Lucas ficou vendo ele caminhar na rua em direção à sua casa. Em casa Matheus entra sem dizer uma palavra sequer. Ele jogou a bolsa no sofá, tirou suas roupas e as deixou jogadas no chão. Ele entrou no banheiro para tomar banho, e enquanto a água caía, Matheus chorava. Ele chorava por causa do pai, por Lucas o ter abandonado, chorava por nunca ter se interessado por mulheres, chorava por sentir ódio de si mesmo, chorava pela mãe e por não se parecer com a família. Enquanto a água escorria, Matheus lembrou do que José o havia dito e teve a ideia de vasculhar os álbuns da família em busca de alguma hiena. Matheus desliga o chuveiro, se enxuga e enrola a toalha na cintura. Enquanto se dirigia para o seu quarto, a madrasta reclama de ele ter deixado as roupas espalhadas pela casa. Matheus não diz nada, apenas dá o dedo pra ela e sobe as escadas. Ele vai para seu quarto, fechando a porta. Ele se olha no espelho, pelado, olhando para baixo, depois coloca uma cueca e um calção e se dirige ao quarto do seu pai, começando a vasculhar as coisas em busca de algum álbum de família. Leonardo narrando Vejo Matheus entrar no meu quarto e começar a procurar algo no guarda roupa. — O que você está procurando aí, Matheus? — pergunto a ele. — Não te interessa! — ele responde. Esse moleque tá brincando com fogo, quando eu me recuperar, vou dar uma lição nele. Vejo ele bagunçar o guarda roupa todo e pegar um álbum de família e levar para o quarto dele. Narrador narrando Matheus leva o álbum para o seu quarto e logo em seguida desce até a cozinha, coloca a comida em um prato e sobe de volta para o seu quarto. Enquanto comia, ele folheou o álbum de família e encontrou uma foto de quem seria o pai de Leonardo. Matheus já havia visto esta foto antes, mas queria analisar ela melhor. O seu avô, pai de Leonardo, era muito parecido com ele quando era mais novinho. Matheus ficou confuso, ele parecia um pouco com um lobo, um lobo bem estranho. Mas, a família de Leonardo negava que ele fosse metade hiena, até os dois tios, irmãos de Leonardo. Matheus ficou um pouco perturbado quando encontrou fotos de algumas pessoas que nunca havia visto na vida, fotos de pessoas com sua mãe quando era mais nova. — Por que meu pai nunca me mostrou essas fotos antes? — perguntou Matheus a si mesmo — O que ele está escondendo de mim? Por que todos se negam a falar sobre o pai dele ou sobre a família da minha mãe?
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