Matheus narrando
Era 1 de janeiro de 2016. Acordei bem cedo pela manhã, como de costume, para comprar o pão. Não consegui dormir direito na noite anterior, não parava de pensar em Lucas e em Ryan. Eu me levanto da cama, olho o relógio e são seis horas da manhã, lavo o meu rosto e desço as escadas, pegando o dinheiro que ficava em cima da mesa para comprar o pão.
Meu pai estava se arrumando para mais um dia de trabalho enquanto ele preparava o café, dei a ele um bom dia e ele disse “Bom dia, Matheus”. Ele parecia estar meio preocupado com algo, raramente vejo ele demonstrar algum sentimento.
Saio de casa com o dinheiro e me dirijo em direção a padaria, compro os pães e volto para casa.
O céu estava bem limpo, os bem-te-vis estavam cantando nas árvores e nos fios elétricos, e, simultaneamente, um ventinho com um friozinho agradável balançava meus pelos. A vida estava começando mais um dia, eu via pessoas com cara de ressaca nas ruas, copos descartáveis espalhados e pessoas arrumando a bagunça. Enquanto caminhava vi ovos quebrados no chão e maisena na rua, eu continuo andando e vejo Paulo, uma das hienas, segurando um guaxinim. Pera, aquele guaxinim é o Ryan!!
Ryan narrando
Eu estava distraído enquanto Leonardo encarava e brigava com o gato José e Luís, e sinto alguém pegar meus dois braços por trás. Eu tento olhar e vejo que é o Paulo, ele começa a prender meus dois braços para trás e começa a doer muito. Eu tento me soltar, mas não consigo, Paulo estava com muita raiva e ainda estava sujo de ovo.
Narra Paulo
Ryan estava distraído e eu aproveito para me aproximar sorrateiramente, quando ele percebe minha presença, ele tenta escapar, mas eu seguro os dois braços dele por trás. Eu estava morto de raiva. Eu tava de boa e ele faz isso comigo, ele vai me pagar!! — pensei.
Eu puxo os dois braços dele para trás e coloco a perna nas costas dele e ele começa a dizer pra parar porque tava doendo muito. Eu mando ele pedir desculpas e ele diz que não vai mais fazer isso, então eu dei três joelhadas nas costas dele e largo ele no chão. Ele estava com cara de choro e começou a chorar, eu me aproximo dele pra ajudar ele, estendo a mão e sabe o que ele faz? Ele começou a sorrir, colocando um pirulito na minha mão. Eu fiquei sem entender nada e enquanto estava confuso, ele pega areia e joga nos meus olhos.
— Guaxinim filho da mãe!! — eu gritei colocando as patas no rosto para tirar o excesso de areia dos meus olhos. Enquanto isso, ele começa a correr, mas eu o pego pelo r**o e arrasto ele de volta. Dessa vez, comecei a dar uns cascudos nele.
Até que de repente, alguém me puxa para trás e quando eu olho, é o Matheus, a hiena.
Matheus narrando
Era o Ryan e o Paulo, a hiena estava dando uns cascudos nele. Eu corro e tiro Paulo de cima dele, empurrando-o para longe. Paulo estava todo sujo e Ryan também.
— O que aconteceu? — perguntei para os dois.
Paulo estava com muita raiva, mesmo comigo por perto, ele ainda tenta se aproximar do guaxinim.
Paulo dizia irritado e com o rosto melado de terra:
— Eu vou te pegar Ryan! Você ainda me paga, eu vou te deitar na p*****a. Sorte sua que seu amigo apareceu agora, mas quando você menos esperar, eu vou ter meu acerto de contas.
Paulo depois vai embora, olhando para Ryan.
Ryan estava com medo e eu peço que ele me acompanhe até minha casa, e pergunto a ele o que houve.
Ryan: — Eu fui fazer umas compras e, do nada, jogaram refrigerante e eu revidei jogando ovos neles, então eles começaram a me perseguir, querendo me bater.
No meu pensamento: — Acho que já sei porque estavam perseguindo Ryan, ele provocou primeiro e agora tá com medo.
Convido Ryan para tomar café da manhã comigo, o rosto dele estava branco de maisena e a camisa também, de maisena e ovos.
— Você está mais branco que o meu pai — Matheus disse rindo.
Ryan: — Ah sim, jogaram maisena na minha cara Hihi. Afinal, você é realmente filho dele, tipo filho biológico? Vocês não se parecem.
Narrador
Sem saber, ao fazer aquela pergunta, Ryan tinha magoado profundamente Matheus. Aquele era um assunto delicado para Matheus, já que ele era rejeitado pela família de lobos por não se parecer com eles.
— É, eu sei, mas fazer o que, né? Confesso que às vezes penso que não sou filho dele.
— O que aconteceu aqui?
Vejo meu pai com o rosto todo sujo e ele parecia irritado. Ele estava se limpando com um lenço, parecia que um ovo tinha sido jogado na cara dele, eu percebi que Ryan estava com cara de riso como se tivesse segurando a risada.
— O que houve pai? — perguntei a ele.
Ele apenas respondeu enquanto encarava Ryan — Uns moleques passaram aqui e me acertaram um ovo, ainda sujaram o meu carro e este rapaz aqui estava junto deles.
Meu pai falava tudo aquilo com raiva, enquanto olhava Ryan todo sujo dos pés à cabeça. Ryan já estava intimidado. Meu pai diz que tem que ir logo, ele entra no carro e dá partida, enquanto o carro saia dos limites da calçada, ele ia encarando Ryan nos olhos. E Ryan já estava todo se tremendo de medo.
— Que alívio — diz Ryan quando o carro desaparece em outra rua e, do nada, a gente começa a rir e Ryan diz — Tentaram me acertar e acertaram o seu pai — disse rindo.
— Tu tá brincando com a sorte hahaha, vamos Ryan — disse para ele me acompanhar enquanto entrava na casa.
Ryan me acompanha enquanto entramos em casa e eu coloco a sacola com pães em cima da mesa, enquanto encho duas xícaras com café para nós dois, digo a ele que tem um banheiro próximo a cozinha e que ele pode se limpar se quiser.
Ryan e Matheus narrando
Ryan: — Nunca pensei que a casa do Matheus seria tão bonita, parece um museu e tem uns quadros de uns autores que nem conheço e uns vasos sei lá de que autor, além de móveis muito bonitos. Acho que o pai de Matheus é de alguma família tradicional. Vi uma foto do pai do Matheus com uma gata, um lobinho e acho que o Matheus quando mais novo, tinha um laptop em cima do sofá.
Matheus me convidou para tomar café da manhã com ele e como eu estava todo sujo, ele disse que se quisesse, eu poderia tirar a camisa e me limpar no banheiro. Enquanto eu tirava a camisa, tive a impressão que Matheus ficava olhando para minha barriga definida e um pouco mais para baixo, deixo minha camisa e casaco em cima de uma cadeira e me dirijo ao banheiro para lavar o rosto.
Matheus ainda brincou dizendo — Acho que branco desse jeito, você se pareceria filho do meu pai.
Eu rio e começo a lavar o rosto, enquanto observava detalhes do banheiro. Era um banheiro bem elaborado e todo decorado, igual ao de gente rica. Eu enxugo meu rosto com uma toalha e vou tomar café da manhã com Matheus. Ele leva o laptop para cima da mesa e enquanto tomava o café da manhã dele, ele começa a puxar assunto, tentando desviar o olhar da minha barriga definida.
Matheus: — Seu pai se parece com você?
Ryan: — Sim, a família toda se parece. Todos são guaxinins.
Matheus: — Minha mãe era uma gata.
Ryan: — Como é que é? Não parece, você não é adotado?
Matheus: — Meu pai diz que não.
Ryan: — Então como você saiu hiena?
Matheus: — Não tenho a menor ideia. Há rumores que eu tenha puxado pra algum avô, na verdade, não conheço a família da minha mãe, ela simplesmente desapareceu e eu quis confirmar isso com a família de meu pai, mas não me responderam. Eu vi uma foto do pai de meu pai e dizem que ele era lobo, mas ele parece ser um lobo um tanto estranho quando era mais novinho. O pelo dele era meio amarronzado e surgiram, depois, rumores de que ele não era um lobo de verdade.
— E você ficou sozinho? — perguntou Ryan depois de um gole de café.
Matheus: — Fiquei com meu pai e depois da minha mãe, ele namorou mais três vezes. Eu não me dei bem com elas, teve uma que me batia por qualquer motivo, ela era uma loba branca e era má. Ele se separou dela quando pegou ela me batendo, aí ele me levou em um parque e comprou uns brinquedos para mim.
Ryan: — O que você faz tanto neste computador?
Matheus: — Ah, eu gosto de navegar pelo Google assistindo vídeos e documentários de história.
Ryan: — Odeio história.
Matheus: — É legal, você vai gostar.
— Acho que você vai se amarrar nas páginas e vídeos que vou mostrar para você — Ryan disse isso com um sorriso diabólico, enquanto Matheus ficou sem entender nada.
Ryan: — Deixa eu te mostrar uma coisa.
Digo isso me levantando da cadeira onde estava sentado, e me aproximo dele. O laptop estava em cima da mesa, eu fico perto dele e começo a digitar com um sorriso maquiavélico no rosto, enquanto digitava, Matheus dava várias olhadas para minha barriga definida e depois desviava o olhar.
Matheus
Ryan começa a digitar no computador e meu deus, a barriga dele é tão definida que dá vontade de tocar. Ele fica perto de mim, e enquanto ele digitava, ele sorria, ele digitou uns nomes com vários "X" alguma coisa, “X” o filme, e apareceu a capa de um filme no YouTube.
Matheus: — Ah não, Ryan, isso não — ele me olha com olhar de deboche e começa a sorrir — Eu já sei do que se trata.
Ryan: — Sim, é isso mesmo. Vai lá, dá só uma olhadinha — digo isso, empurrando ele pelos dois ombros para baixo enquanto ele tenta tirar da página — Ah, deixa de ser chato, Matheus. Dá só uma olhadinha.
Matheus
Ryan tenta pegar o mouse e dá start no vídeo, enquanto eu tentava sair da página, nós começamos a brigar pelo mouse pra ver quem ia ganhar, aí na troca de forças, eu acabo caindo em cima de Ryan no chão e nossos focinhos vão ao encontro um do outro. Eu me levanto a mil e peço desculpas, todo envergonhado, e Ryan também se levanta do chão. Nós dois já estávamos duros, deve ser a adolescência, qualquer impulso ficamos duros e logo nós que só temos 13 e 14 anos.
Enquanto pensava, Ryan se senta na cadeira e coloca o vídeo pra rolar.
— Não Ryan — digo eu — Se meu pai descobrir.
— Ah, relaxa — diz ele — É só você apagar o histórico depois.
O vídeo começa a rolar e logo de cara aparece uma tigresa só de calcinha e sutiã rebolando entre duas piscinas que estavam cheias de lobos e cachorros, enquanto ela caminha, eles estavam com a língua pra fora babando. Não sei, mas a cena era só ela rebolando e Ryan ria da cena enquanto olhava para mim com cara de s****o. Eu digo:
— Tá bom, Ryan, chega.
Até que apareceu uma cena obscena na hora H, eu já estava duro e dava pra perceber.
— Tá, Ryan, para — digo isso fechando o laptop — Já vi o que tinha que ver, acho melhor você ir — disse para ele.
Ryan: — Tá bom, já tô saindo. À propósito, você não faz nada aqui?
Matheus: — O que você quer dizer com nada?
Ryan: — Você fica sozinho aqui a tarde toda, deveria trazer alguém para cá — digo com um sorriso e pegando minha camisa suja, me dirigindo para a saída — Até mais, Matheus — digo a ele.
— Até mais, Ryan — Matheus responde.
Quando Ryan sai, a primeira coisa que faço é sair da página e apagar todos os históricos. Meu pai odeia esse tipo de conteúdo e ele já falou comigo sobre isso. Eu apago todos os históricos e subo para guardar o computador em meu quarto.
Enquanto subia as escadas, percebi que meu pai deixou a porta do quarto aberta, o quarto que ele não quer que eu entre. Eu entro nele, ligo a luz e me deparo com vários sacos pretos que eu não faço a menor ideia do que existe dentro, parece que há umas barras com formatos retangulares como tabletes e um caderno em cima da mesa com o nome de algumas pessoas marcadas em vermelho.
Eu dei uma leve olhada nos nomes que estavam no caderno e depois sai logo do quarto, desligando a luz e o trancando. Eu já entrei nesse quarto uma vez e ele me colocou de castigo.
Nomes que consegui me lembrar: Júnior Souto Albuquerque, Maria Speranza Sousa de Jesus e José Rodrigues.
Eu fiquei o resto da tarde de cara pra cima sem fazer quase nada. Coloquei na televisão e estava passando uns desenhos na TV Brasil, depois mudei pra TV fechada e estava passando uns documentários sobre a história do Brasil, adoro assistir esses documentários. Já eram 5:40, estava anoitecendo e eu troco para a TV normal.
Estava passando um noticiário da cidade na TV normal com a notícia que um tal José Rodrigues havia sido assassinado na cidade próxima em uma troca de tiros, e que havia levado dois tiros na cabeça. Havia suspeitas de que ele estaria foragido e deveria ser capturado e levado para depor em uma investigação que apurava uma milícia que traficava drogas. Eu tomei um susto, o nome era igual ao que estava na lista do meu pai, mas não tive coragem de voltar no quarto para confirmar.
Eu resolvo mudar e voltar para a TV fechada, e assim eu fico até meu pai chegar. Ele chegou tarde hoje, ele costuma chegar às 6, mas desta vez chegou às 7.
Narrador narrando
As suspeitas só aumentavam em torno de Leonardo, cada vez que Matheus crescia, o pai ficava mais e mais paranoico com a possibilidade de Matheus descobrir sobre o conteúdo daquele quarto. Matheus começou a se perguntar se de fato era filho dele, por que o pai não deixava ele entrar naquele quarto, o que significava aquela lista, o que tinha naqueles sacos pretos, por que sua mãe e a família dela desapareceram sem deixar vestígios ,ou onde o pai arrumava tanto dinheiro para bancar os seus luxos, perguntas sem respostas.