Revelações
28 de abril de 2019
Narrador narrando
Era segunda-feira e Matheus estava se preparando para ir para a escola como de costume. Ele estava emburrado neste dia porque no dia anterior, ele tinha tido uma briga séria com o pai e o pai estava muito furioso, tão furioso que rosnava quando Matheus passava perto dele. Matheus naquele dia tinha acordado, levantado da cama e descido as escadas para tomar café, Leonardo estava sentado na mesa com seus olhos penetrantes de lobo o encarando.
Ignorando completamente a presença do pai, Matheus pega uma xícara, coloca café, pega todos os três pães da sacola e com um leve sorriso, foi tomar café no sofá. Leonardo odiava quando Matheus ficava com ar de deboche e o clima estava pesado. Barone estava todo encolhido na cadeira cabisbaixo e com suas orelhas baixas, Juliana estava preocupada e Leonardo ficou tomando café e observava Matheus, o analisando dos pés a cabeça, enquanto Matheus tomava café e sorria.
Matheus termina de tomar seu café, coloca a xícara na pia, pega a bolsa, coloca nas costas e sai de casa. Leonardo continuou pensativo, Juliana preocupada e Barone desconfiado.
Matheus havia arrumado a bolsa às pressas e não havia percebido que o diário estava dentro dela, como de costume ele se dirige até a parada de ônibus pensativo sobre o que havia acontecido na noite anterior, falava consigo mesmo e se gabava de conseguir segurar o cinto e desafiar o pai, sem saber que estava brincando com o fogo.
O celular de Matheus começa a tocar e era Douglas, Matheus achou aquilo estranho porque Douglas nunca ligou para ele, Matheus resolveu atender a ligação e Douglas começa a dizer pra ele parar de fazer aquilo com o pai dele e Matheus ficava rindo e debochando dele. Em um momento da conversa, Douglas se descuidou e deixou escapar um pensamento dizendo — Se você soubesse o que teu pai faz, você não estaria debochando assim.
— Como é que é? — perguntou Matheus — Nada não… — disse Douglas — Minha vó pediu para mim falar com você e dizer para você parar de fazer isso porque seu pai não merece.
Ele achou aquilo muito estranho. Por que Douglas faria aquilo? Douglas não costumava falar com ele, os dois se odiavam e por que a avó estava tão preocupada se nunca havia demonstrado nenhum tipo de afeto por ele?
Matheus desligou o celular e ficou com a pulga atrás da orelha — Por que algumas pessoas parecem intimidadas na presença dele? Por que o pai o encarava e ficava o analisando? Por que o pai às vezes olhava para ele com tanto ódio? Por que a família é tão misteriosa? — Quanto mais perguntas Matheus fazia, mais dúvidas surgiam.
O dia passou bem rápido, como de costume Matheus sai da escola e se dirige até a parada para pegar o ônibus, do outro lado da avenida havia dois lobos policiais que ficavam olhando para ele e sorrindo e Matheus achou aquilo muito estranho. O ônibus não demorou muito e Matheus entra no mesmo se sentando em uma cadeira no meio de duas janelas amplas.
Antes do ônibus partir, Matheus olha na direção dos policiais e estes ainda olhavam na sua direção sorrindo, o ônibus deixa o local e Matheus sentia um misto de preocupação, curiosidade e até de medo.
— O que meu pai faz? O que tem neste diário que ele escondeu por tanto tempo? — Perguntas que fazia a si mesmo.
O ônibus ia na direção de sua casa e parou em uma parada próxima a uma praça, Matheus olha pela janela e vê os mesmos policiais, mas desta vez conversando com seu pai — O que meu pai tá fazendo? — pensou Matheus, o coração dele começou a ficar acelerado, duas paradas depois Matheus chega perto de sua casa, sai do ônibus e começa a caminhar em direção a sua casa, estava um pouco nervoso e enquanto caminhava tinha a impressão de está sendo observado.
Matheus chega em casa e pergunta a Juliana onde está o seu pai, ela responde que ele havia saído e ela diz que ele vai o levar para dar uma volta, Matheus achou aquilo estranho — Se comporta Matheus — diz Juliana — ele é seu pai e você deve respeitar ele.
Narra Matheus
O dia começou todo estranho, Douglas ligando para mim, minha vó preocupada comigo, policiais me observando e depois conversando com meu pai e agora este passeio fora a Juliana preocupada comigo. Pra onde será que ele vai me levar?
Eu estava com pouco apetite naquele dia, então coloquei pouca comida, comi, depois fui tomar banho, enquanto esfregava meu pelo percebia que ele estava mais liso, depois escovo os dentes me olho no espelho e percebo que realmente tô mudando muito.
Eu me enxugo, coloco um simples calção, tranco a porta do quarto, me deito na cama, ligo o ventilador e abro o diário e cai uma foto de dentro dele. — Parece meu avô e minha vó quando eram mais joven — pensei. Eu começo a ler o diário
Diário
Eu me lembro como se fosse ontem. O dia em que dos três irmãos, apenas dois haviam conseguido uma bolsa de estudos, minha mãe estava muito feliz e orgulhosa, na verdade a família toda estava. Todos os anos de sacrifício haviam valido a pena, eu havia feito uma prova quando estava no rio grande na casa de um tio e minha irmã também.
Eu só fiz por fazer, não estava com expectativa de passar, dois meses depois o resultado saiu e eu e minha irmã havíamos ganhado uma bolsa no mesmo estado, mas em cidades diferentes. Minha mãe insistiu que fizéssemos prova em outro estado, ela queria o melhor para nós, ela queria que a gente se mudasse para começar uma vida nova, bem longe, em um lugar onde não fossemos conhecidos.
José, meu irmão, ficaria com ela, a gente não queria sair de perto dela, mas ela insistiu que estava na hora e disse que não havia nada para a gente naquele lugar e realmente, não havia. Eu e minha irmã éramos muito excluídos, nós tínhamos 19 anos e nunca tínhamos namorado, só porque a gente era excluído, mas José nem tanto.
Antes de nos despedirmos, fizemos um jantar especial com poucos convidados, era o nosso último natal juntos e eu que não sou de chorar, chorava muito e minha irmã também. A gente não sabia se estava mais emocionado com os jingles de natal que tocava no radinho ou se a gente estava feliz por ter passado ou triste por ter que deixar minha mãe.
No dia seguinte, 25 de dezembro de 1955, nós tivemos que partir. Estávamos arrumados e de malas prontas, eu abracei minha mãe intensamente enquanto ela chorava, ficamos nós quatro se abraçando, eu, meu irmão, minha irmã e minha mãe, o carro já ia partir.
Nós colocamos nossas malas no porta malas, entramos no carro e nossa mãe ficou na calçada observando a gente partir, o Sr. Victor, o híbrido de hiena e lobo que nos levava, ele era um amigo da família e prometeu cuidar de minha mãe e disse para não desperdiçamos a oportunidade que a vida estava dando e que estava orgulhoso da gente aconselhando para esquecermos o passado.
Enquanto ele nos levava para nosso destino, doces melodias natalinas tocavam no rádio, fazendo a gente se emocionar.
Estávamos com o coração partido pois nunca mais voltaríamos a ver nossa mãe.
Seu Victor disse que éramos lobos agora e que seria bom a gente dizer tudo que nossa mãe havia dito. Que éramos filhos únicos e que ela havia morrido, como nós tínhamos parentes da parte de pai nas duas cidades, a gente diria que eles eram irmãos de nossa mãe, nós concordamos que a gente diria o que ela queria.
Ele nos deu um sermão quase a viagem toda dizendo que muitos como nós gostariam de ter aquela oportunidade e não tinham e que éramos sortudos e o primeiro dia de viagem acabou, com nós três indo para uma pousada.
Já era umas cinco horas e estávamos muito cansados da viagem.
Matheus continuou desfolhando o diário do avô e em um trecho ele viu que o avô narrava algo meio macabro. Era um lobo que se casou com uma loba e depois descobriu que ela não era pura e matou ela, o caso ficou conhecido como o caso Ana Maria.
Matheus resolveu pesquisar no Google a respeito do caso e ficou meio impactado, ele já havia visto a respeito de casos semelhantes nas aulas de história. Os resultados que apareceram era que ela era híbrida de lobo e hiena, mas parecia uma loba e era muito bonita.
Já a irmã invejosa, não teve a mesma sorte, ninguém queria ela por ser uma híbrida, aí a Ana Maria se apaixonou por um lobo e ele por ela, mas ela não tinha ideia de quem ele era de verdade. Os dois chegaram até mesmo a se casar, porém, a irmã revelou o segredo de Ana.
A família dele e ele ficaram furiosos e ele matou ela a bala, ele chegou a ser preso, arrependido de ter matado ela e depois foi solto, com o caso sendo abafado, foi uma tragédia. E a irmã amargurada e arrependida de ter contado, se matou logo em seguida.
Matheus leu tudo aquilo e ficou impactado e resolveu avançar algumas páginas. Ele estava começando a notar que em um dos trechos, o avô demonstrava um pouco de preocupação com seus filhos e que guardava um segredo, na mesma hora Leonardo bate na porta e diz que quer falar com ele e rapidamente ele esconde o diário e vai atender a porta.
Matheus narrando
Eu estava entretido lendo o diário de meu avô, quando meu pai bate na porta e diz que queria falar comigo. Eu rapidamente escondo o diário na bolsa e o atendo, ele parecia estar mais calmo, ele diz para mim tomar banho que ele vai me levar para dar uma volta, eu pergunto a ele pra onde e ele olhando no fundo dos meus olhos apenas diz — Você saberá, agora passa para o banheiro. — eu vou para o banheiro e enquanto tiro minha roupa para tomar banho, fico me indagando.
Por que meu avô deixou a mãe dele? Eu não sabia que ele tinha uma irmã. Que segredo ele guardava? Ou por que ele estava preocupado com os filhos dele? “Vocês são lobos agora” dizia o Sr. Victor, o que isso significava?
Eu entro embaixo do chuveiro e enquanto a água caia, me ensaboava e não conseguia parar de pensar naquilo. Eu termino de me lavar, depois me enxugo e vou para o quarto me arrumar e meu pai está no carro, bem sério e sombrio, eu entro no carro com o pressentimento de que algo estava muito errado pois antes de eu entrar no carro, Juliana disse — Se comporta e não irrite o seu pai. — eu notei a expressão no rosto dela e ela parecia muito preocupada.
Matheus — E então, para onde vamos?
Leonardo — você verá.
Leonardo começa a dirigir o carro em direção a estrada que dava acesso a outra cidade.
Matheus — O que nós vamos fazer lá?
Leonardo — Vamos fazer um desafio.
Matheus — Que tipo de desafio?
Leonardo — Veremos.
Matheus — Você não poderia me dizer?
Matheus já estava preocupado e pensando no que havia acontecido de estranho naquele dia. Próximo a cidade o carro faz um desvio e vai por uma estrada de areia, a mesma estrada por onde Lucas havia sido levado.
Matheus gaguejando e com medo Pai — O-o que vamos fazer neste lugar?!
Matheus já estava apavorado enquanto Leonardo somente acelerava o carro e não dizia nada fazendo Matheus ter mais medo. Ele começou a ter vários pensamentos a respeito do pai e estava pedindo desculpas e pedindo para voltar para casa.
E Leonardo não falava nada, nem mesmo demonstrava um sentimento.
O carro chegou numa clareira onde havia vários lobos e olhavam para Matheus, alguns de maneira bem séria outros rindo com deboche. Matheus olha pela janela e nota que os dois policiais que estavam o encarando pela manhã estavam lá também.
Leonardo olha para Matheus e diz — Vamos ver se você vai conseguir voltar para casa. — Leonardo sai do carro e manda Matheus fazer o mesmo, mas ele não queria sair, ainda mais com aqueles lobos o encarando.
Leonardo — Matheus, sai do meu carro!
Matheus chorando dizia — Desculpa, não vou mais fazer isso, eu prometo.
Leonardo pega Matheus pela camisa e o tira do carro dizendo — Eu devia ter te eliminado quando você era criança.
Matheus começa a chorar muito e Leonardo o empurra para os dois lobos que o levam para um carro. Matheus chamava por seu pai, mas ele não demonstrava nenhuma reação.
O carro deixa o local, em direção a cidade, Matheus tentava abrir a porta para escapar, mas não conseguia enquanto os dois lobos ficavam se divertindo com o desespero dele.
— Sem escapatória para você, hiena. — diz um dos lobos sorrindo.
— Para onde vocês estão me levando? — diz Matheus.
Os dois lobos deram risadas e um deles fala — Para que tanta pressa? Não é como se você fosse morrer se não souber.
— É o que acontece quando bate de frente com a gente. — dizia outro lobo.
O carro acelera cada vez mais em direção a cidade mais próxima e Matheus ficava cada vez mais desesperado sem ter como escapar.
De repente o carro entrou em uma rua e foi avançando até que parou perto de um bar cheio de hienas. — Desce do carro. — diz o lobo que estava no volante, mas Matheus estava com medo pois as hienas do local pareciam perigosas e eram tão intimidantes como os lobos, ele implorava para voltar para casa e dizia que não ia mais desafiar seu pai.
— Eu mandei sair do carro agora! — diz novamente o lobo que estava no volante, mas Matheus se segurou no carro e não queria sair dali.
O outro lobo que estava no banco da frente sai do carro, abre uma das portas da parte de trás de onde Matheus estava e como o garoto não queria sair, ele o puxa pela camisa, mas Matheus fazia se segurava.
— Tira logo ele de uma vez! — dizia o lobo que estava dirigindo.
— Ele não quer sair. — dizia o outro lobo e Matheus se debatia enquanto fazia força e chorava.
O outro lobo o segura pelos braços para tirá-lo do carro e levou uma mordida bem forte de Matheus, o fazendo gritar bem alto e as hienas que estavam próximas começaram a rir. O lobo se enfurece e já ia dar um cascudo bem forte em Matheus, mas acaba recuando. Por um momento Matheus baixou a guarda e foi retirado de uma só vez de dentro do veículo, sendo arremessado em uma calçada.
O lobo rapidamente entra no carro e diz — Agora tente voltar para casa. — e o carro deixa o local deixando Matheus sozinho no meio de hienas que odiavam lobos
Narrador narrando
Matheus estava sozinho no meio de várias hienas enfurecidas, sem perceber que Leonardo estava por perto o vigiando, no local onde Matheus foi jogado estava tendo uma festa e estava tocando umas músicas sem sentido e o povo estava rebolando igual doido. Matheus saiu logo do local e procurava o caminho de volta para casa quando esbarrou com as mesmas hienas que haviam perseguido Lucas.
— Um lobo. — diz uma delas.
— Pega ele! — diz as outras.
Mas diferente de Lucas, Matheus resolveu partir pra p*****a e venceu as três no soco. E isso foi a gota da água, na mesma hora a música parou de tocar e várias hienas enfurecidas partiram pra cima dele, ele não sabia no que estava se metendo, Matheus levou alguns chutes e socos.
Mesmo sentindo algumas dores no corpo e com sua boca sangrando, ele conseguiu correr em direção a floresta e se livrou de ser linchado, ele correu muito enquanto sua boca sangrava, até que ele chegou em uma clareira próxima, a qual para a sua surpresa seu pai estava lá, no escuro com seus olhos brilhando.