05 de maio de 2017
Narrador narrando
Lucas toca a campainha de sua casa e dá algumas olhadas para trás para ver se Leonardo ainda estava lá e quando sua mãe responde que já iria atender a porta, o carro de Leonardo vai deixando o local, mas antes de Leonardo pisar no acelerador, ele coloca um dos dedos na boca, gesticulando a frase “nenhuma palavrinha”. A mãe de Lucas abre a porta e este entra em casa como se nada tivesse acontecido.
Nicole narrando
Estava ficando preocupada com Lucas, já estava tarde e ele não havia chegado em casa ainda. Eu atendo a porta e notei que ele parecia meio nervoso, como se tivesse acontecido alguma coisa, ultimamente ele está bem estranho. Ele fica demorando demais na casa do Matheus e também fica olhando para Ryan e Matheus de maneira bem estranha. Pergunto a ele por que estava demorando tanto e ele me diz que estava tirando umas dúvidas do Matheus.
— De qual matéria? — eu questiono e ele demora a responder.
— Língua portuguesa. — ele responde depois de pensar por alguns segundos.
— Aconteceu alguma coisa Lucas? — pergunto para ele.
— Não — disse Lucas gaguejando, com a voz trêmula e quase chorando.
Ele me diz que está muito cansado e que só quer ir para o quarto descansar. Eu não o impeço, mas ele parecia estar querendo chorar e eu queria saber porque, penso em chamar o Ryan ou ter uma conversa séria só com ele.
No quarto
Lucas narrando
Naquele momento, depois de ter visto tudo aquilo, eu só queria chorar. Eu subo as escadas, me dirijo ao banheiro para tomar um banho e ligo o chuveiro, enquanto a água caia e molhava meu pelo, lágrimas escorriam dos meus olhos. Chorava todas aquelas pessoas que vi serem mortas, chorava por ter escapado com vida e chorava pelo Matheus. Ele não merecia ter um pai daquele tipo, pensei que seria uma boa ideia dizer para o Matheus o que havia visto, mas eu corria o risco de vida, porque o pai dele estava de olho.
Enquanto eu tentava digerir tudo o que eu havia visto, minha mãe reclama que tô demorando demais e tô desperdiçando muita água.
Eu desligo o chuveiro e me enxugo, vou para o quarto, visto só uma cueca e me deito na cama e me desabo em lágrimas. Não saia da minha cabeça aquela pobre raposa, pedindo para não morrer implorando pela vida, isto é injusto. O que aqueles animais fizeram para merecer aquilo?
Enquanto eu chorava eu me abraço no travesseiro, me perguntava. — Por que o pai de Matheus fez aquilo? Por que ele é tão m*l? — o medo começou a virar raiva dentro de mim, estava pensando em contar tudo para Matheus, até pensei em esconder uma faca no bolso me aproximar de Leonardo e enfiar a faca na barriga dele, mas logo este ódio virou puro medo de novo. Estava com medo de perder a vida, e se aqueles lobos viessem atrás de mim ou da minha família?
No mesmo instante a memória do barulho ensurdecedor de balas atravessando os outros animais, o cheiro do sangue deles, tudo isso me vinha à mente, me atormentando e cada vez mais eu tentava abafar o choro.
Quando meu pai chega em casa e começa a conversar com minha mãe, eu enxugo as lágrimas e por curiosidade me aproximo das escadas e fico escutando o que eles estavam falando, era sobre mim.
Minha mãe dizia para o meu pai que tinha demorado demais na casa do Matheus e estava trêmulo e quase chorando quando falava.
Ela disse ainda que tô muito estranho ultimamente, que fico olhando para Ryan e Matheus de maneira estranha, dizia também que seria melhor eles terem uma conversa comigo e estava até pensando em chamar Ryan ou os pais dele.
Eu começo a ficar nervoso e preocupado quando escuto ela dizer isso.
Meu pai não diz quase nada, fica só escutando tudo e uma hora ele diz que iria conversar comigo, mas é impedido por ela.
Ela diz a ele — Agora não, amanhã conversamos com mais calma, deixa ele descansar agora. Acho que deve haver alguma coisa entre os três, a gente precisa falar com ele e seja o que for, não deve ser coisa boa. — diz minha mãe.
Eu escuto meu pai caminhar em direção a escada e eu rapidamente volto para o meu quarto, deito e finjo que tô dormindo, então ele abre a porta e dá uma olhada na minha direção e depois fecha.
Ela havia acompanhado ele e diz baixinho — Amanhã Roberto, descanse agora.
— Meu filho não pode ser isso — diz ele — imagina a vergonha para a família, o que as pessoas vão falar?
Enquanto escutava isso eu chorava e como eu estava cansado, de tanto chorar, eu acabei caindo no sono. Eu estava sonhando e Matheus e Ryan estavam comigo, eu tava na casa do Matheus e o sonho mudou do nada.
Matheus estava caminhando em uma estrada de terra no meio de uma floresta, ele pede para eu acompanhá-lo, mas eu não conseguia. De repente, Leonardo apareceu no meio do caminho, entre nós dois e estava com um sorriso diabólico, eu fiquei paralisado de medo, tentava me mexer e não conseguia e ele sorrindo, sacou o revólver da cintura e atira na minha direção.
As balas passaram por mim enquanto eu gritava de tanto medo e eu só escutava gritos da raposa dizendo — POR FAVOR, NÃO! — e o cenário muda de novo.
Eu estava vendo os animais que haviam sido mortos, levantando de dentro das covas, perfurados por balas e gritando por
socorro e então eu acordei de uma vez, no meio da noite, já chorando e com o coração a mil por hora, e suando muito pela visão perturbadora.
Eu demorei para voltar a dormir naquela noite, me mexia de um lado para o outro na cama, tentando pegar no sono e nada. Eu estava muito nervoso, e depois de muita luta, consegui pegar no sono e conseguir dormir. Eu acordo no dia seguinte, com o sol batendo no meu rosto e com minha mãe me cutucando para eu levantar porque já estava tarde e eu já devia ter levantado.
Eu estava meio sonolento, mas mesmo assim me levanto da cama e me dirijo ao guarda roupa, visto um calção e desço para a cozinha.
— Acabaram os doces? — pergunto a ela e ela confirma e me diz que meu pai havia ido para a padaria comprá-los. Como estava meio sonolento, eu coloco um pouco de café na xícara e começo a beber.
Minha mãe parecia meio reflexiva e preocupada, o clima estava meio tenso, eu notei isso, mas não disse nada. Enfim ela quebra o silêncio e diz que quando meu pai voltar terá uma conversa comigo.
Eu preocupado pergunto — Do que se trata?
E ela me diz que é sobre mim e meus amigos e disse também que vai chamar o pai do Matheus e do Ryan para uma conversa.
Ao escutar aquilo, meu coração começa a bater mais forte e senti meu sangue gelar.
Narra Roberto
Não dormi muito bem na noite anterior, estava muito preocupado com Lucas. Ouvi alguns boatos de pessoas insinuando que meu filho era gay, ele e os dois amigos dele, aquilo por um acaso é um trisal? meu deus.
Nicole me disse que ele chegou muito tarde em casa e chegou quase chorando o que será que aconteceu?
Eu também comecei a observar Lucas e notar comportamentos estranhos, para um homem ele é carinhoso até demais com os amigos dele, os olhos dele brilham quando olha aqueles dois rapazes. às vezes até parece que eles sentem ciúmes ou algo assim, outras vezes ficam rindo o tempo todo quando tão juntos, Lucas não era assim. Acho que Ryan tem alguma coisa a ver com esta mudança, o guri é atentado demais.
Naquele dia eu acordei às seis da manhã, como os salgados e doces haviam acabado, vou até a padaria comprar mais. Não saia da minha cabeça a possibilidade de meu filho ser gay, eu estava preocupado porque não queria que ele fosse gay, eu queria é que ele fosse como quando era jovem, um garanhão.
Chego na padaria, compro os salgados e doces, estava tão distraído pensando que quase esqueci de pegar o troco de volta. Eu me dirijo de volta para casa e enquanto caminhava, havia um lobo branco caminhando na minha direção, eu já tinha o visto algumas poucas vezes, mas a gente não se falava.
O estranho é que, às vezes ele me encarava como se já me conhecesse e eu tinha a impressão que também já o conhecia. Nós passamos um do lado do outro — Não pode ser — pensei — eu conheço este cara, eu estudei com ele, era o cara que eu infernizava e ele me reconheceu também e me fitou com um olhar de raiva.
Eu fiquei em choque, — Como as pessoas mudam. — pensei ele parecia ser tão frágil, um pouquinho bobo e desengonçado, nem parece a mesma pessoa de antes. Eu continuo caminhando para casa pensativo eu, Lucas e Nicole teríamos uma conversa e tanto.
Narrador narrando
Roberto chega em casa com os doces e salgados e os põe em cima da mesa, ele serve um pouco de café na xícara e se senta à mesa junto com Nicole e Lucas fica meio nervoso e Nicole o olhou com uma expressão de preocupação.
Roberto — Lucas, o que aconteceu ontem?
Lucas — N-na-nada. — diz gaguejando e quase chorando.
Nicole — Alguma coisa aconteceu ontem, por que você chegou todo trêmulo e quase chorando? Por que você demora tanto e o que vocês fazem tanto naquela casa?
Lucas — A gente joga e estuda juntos. — diz tentando segurar as lágrimas.
Nicole — Por que todos insinuam que vocês são gays? — pergunta Nicole com preocupação.
Lucas — Eu não sei, nós só somos amigos.
Roberto — Lucas, alguma coisa aconteceu ontem para você chegar em casa quase chorando?
Lucas — Não aconteceu nada.
Nicole — Então por que você chegou chorando
Lucas — Eu já disse que não aconteceu nada!
Roberto — Lucas, é o seguinte, se você chegou em casa quase chorando, alguma coisa aconteceu e se alguma coisa aconteceu, POR QUE É QUE VOCÊ NÃO FALA?! — gritou já perdendo a paciência.
Lucas se encolheu todo e suas orelhas ficaram baixas e desviando o olhar.
Nicole — Eu só queria saber por que todo mundo insinua que você é gay, você olha para aqueles rapazes de maneira estranha.
Lucas — Nós somos amigos só isso, eu só gosto de passar o tempo com eles
Roberto — Somos os seus pais Lucas, qualquer coisa é só falar conosco. — diz respirando impaciente.
Roberto — Vou chamar o pai do seu amigo Matheus e o do Ryan para saber o que tá acontecendo, esta amizade tá passando do normal, você não era assim Lucas e acho que seu amigo Ryan tem um dedo nessa sua mudança de comportamento.
Lucas — Não envolve eles nisso, eu já falei que nós somos apenas amigos.
Nicole — Lucas eu tenho certeza que alguém vê alguma coisa entre vocês. Todo mundo insinua que vocês são gays as pessoas notam isso e outra coisa, por que o Ryan deixou a camisa dele aqui naquele dia?
Lucas fica sem responder nada, com o coração a mil e com o sangue gelado, ele estava tão nervoso que sentia que ia desmaiar.
Nicole — E aqueles arranhões nas paredes, no chão e nas suas roupas? Eu bem que percebi naquele dia que vocês estavam jogando e você parecia meio ansioso, você não sabe disfarçar, eu percebo tudo.
— Aquelas garras só podem ser de guaxinim — diz Nicole — sei lá o que vocês dois andam fazendo.
Roberto — Meu filho vai se casar com uma loba e me dará netos lobos.
Nicole — Com o Ryan né? Era bem a sua cara mesmo namorar outras espécies e agora seu filho também faz isso.
Os pais de Lucas começam a brigar entre si e trocarem insultos e falar m*l de gays e de outras espécies.
Nicole — Vou falar com a mãe do Ryan, ele que causou tudo aquilo e talvez ele apanhe por isso, era pra você ter amigos lobos.
Roberto — Pare Nicole. Nós já estamos indo longe demais, eles podem até ser de espécies diferentes, mas são nossos amigos.
Lucas ouvia tudo aquilo enquanto sentia a sua cabeça girar e a visão ficar turva, então ele desmaia ali mesmo, a última coisa que sentiu foram seus pais o sacudindo e falando — Lucas? LUCAS!?
Narra Lucas
Eu acordo me sentindo tonto, minha consciência vai voltando ao normal e pouco a pouco, vou me lembrando do que havia acontecido, eu estava deitado no meu quarto eu vejo Ryan, Raul e Bianca do meu lado.
Bianca grita que eu havia acordado e minha mãe sobe as escadas dizendo — Que bom que você acordou. — enquanto se aproximava e me abraça.
Ryan parecia meio preocupado e sério
Bianca e Raul pareciam felizes por eu ter melhorado. Bianca com seu sorriso doce me diz que havia trazido uma nova versão do Minecraft e que a gente poderia descer para jogar se quisesse.
Raul meio sem saber o que dizer, comentou que ficou sabendo que eu havia desmaiado e resolveu vir para ver se estava tudo bem.
Bianca ainda pergunta se estava tudo bem comigo pois ela nota que há algo diferente no meu olhar, como se houvesse um vazio e uma preocupação nele.
Eu digo a ela que tá tudo bem enquanto tentava não pensar na cena dos animais sendo mortos.
Eu me levanto da cama e eu estava só de cueca e todo mundo ficou rindo, exceto Ryan. Eu rapidamente tento pegar o lençol para me cobrir, mas Raul foi mais rápido e o puxa para longe.
Eu pego um travesseiro e me cubro e ainda estava ficando duro, eu rapidamente me aproximo do guarda roupa, pego um calção e me visto a mil, mas mesmo depois de me vestir, eu continuei vermelho de vergonha e Raul ficou me zuando.
A gente desce as escadas e se dirige para o sofá, colocando a nova versão do minecraft no playstation. Era uma versão nova, tinha até cavalo e uma bruxa nesta versão. Havia quatro controles e a gente poderia jogar a vontade, mas Ryan, indiferente, preferiu ficar na dele e minha mãe não olhava diretamente para ele.
Notando a ausência de meu pai eu pergunto a ela onde ele estava e ela me diz que ele foi resolver uns assuntos pendentes, mas já estava de volta. Minha mãe se retira para a cozinha para fazer o almoço e eu pergunto a Ryan se tá tudo bem e ele diz que sim.
Nós todos almoçamos juntos, meu pai não havia chegado ainda e minha mãe parecia preocupada, Ryan só beliscou a comida, por algum motivo não estava sentindo nada, apenas um vazio por dentro e uma tristeza.
Ryan parecia estar meio triste e minha mãe também.
Após o almoço, nós jogamos um pouquinho mais até a hora que Bianca e Raul decidiram voltar para casa e eu estava cansado, não havia dormido muito na noite anterior então, eu resolvi subir e cochilar um pouco e Ryan ficou sozinho lá embaixo jogando.
Quando acordo, eram quatro horas, tive uma soneca bem longa, eu escuto algumas conversas lá embaixo, parecia com a voz do pai do Ryan, do pai do Matheus e do Ryan.
Eu desço as escadas e me dirijo para o local — Que bom que você acordou. — diz meu pai sério.
— Sente-se nesta cadeira e vamos conversar. — diz meu pai.
Eu fiquei no meio da roda de conversa, o clima estava tenso, o pai de Matheus estava lá e ele ficou me encarando com seu olhar penetrante, Ryan estava todo encolhido de cabeça e orelhas baixa, perto de seu pai, que estava bem sério.
— Lucas. — diz minha mãe — Diga, o que aconteceu ontem? Por que você chegou em casa chorando?
Quando eu ia abrir a boca, eu olhei para o Leonardo e senti um frio na espinha enquanto ele me encarava e eu dizia — N-Nã-Não aconteceu nada.
O pai de Ryan olhava para ele bem sério
— Há alguma coisa entre vocês pergunta minha mãe?
— Não, nós só somos amigos digo eu
O pai de Ryan que já estava furioso e olhava para meu pai, apontando o dedo dizia para ele não falar mais o que ele havia dito antes, disse também a respeito deles e que acontece de errado não é culpa do filho dele. Então ele se levanta da cadeira e leva Ryan consigo. Ryan o acompanha de cabeça e orelhas baixas.
A conversa já estava no final e Leonardo apenas se levanta deixando o local, sem dizer nada e inspecionando algumas roupas e nos olhando com desprezo. Meu pai ficou sem reação, depois de alguns dias tudo voltou ao normal, mas tudo piorou para mim, tive que me afastar do Matheus e também fiquei sem o Ryan.
Narrador narrando
Ryan e seu pai caminhavam em direção a sua casa e o pai estava furioso, não conseguia acreditar no que os pais de Lucas haviam dito a respeito de seu filho e de sua espécie, justo ele que eram amigos a tanto tempo.