Capítulo 3 - Ivan

1042 Words
Conhecendo Ivan A paz! Me chamo Ivan Lins, tenho 41 anos, sou formado em Teologia e Letras, sou professor e também pastor, pela graça de Deus. Sirvo ao Senhor com alegria desde a minha infância; meus pais conheceram a Cristo quando eu ainda era menino, então cresci no lar cristão. Somos em cinco irmãos, todos servos do Senhor, pastores e missionárias. Meus pais já dormiram em Cristo, morreram velhinhos, mas tive a honra de cuidar deles até o último suspiro. Sou casado com a missionária Marta. Eu poderia dizer que é uma mulher de Deus, mas não vou falar uma coisa dessas, até porque seria pecado. Minha mulher é uma verdadeira mical, uma hipócrita, que só aguento por causa do nosso enlace matrimonial, pois prometi diante de Deus, dos pais dela e de todos os presentes naquela cerimônia que ficaríamos juntos até que a morte nos separasse. Marta é filha do pastor presidente. Já pedi perdão a Deus muitas vezes, mas me arrependo do dia em que fui naquele almoço jovem e cai na tentação de beijá-la, e um dos seus irmãos viu e foi contar ao pai dela. Meu Deus, como me arrependo disso. Acredito que para tudo há um propósito. Se foi o Senhor que determinou essa cruz para mim, é só pegar e seguir, é o que venho fazendo ao longo desses 20 anos, apenas suportando, seguindo e carregando esse fardo pesado. Às vezes até penso que os pais dela queriam se livrar dela por saberem que tipo de filha têm. Por isso, me forçaram, entrando na minha mente e na dos meus irmãos mais velhos, para que eu me casasse com essa bendita. Não vou falar demais para não pecar. Marta sempre evitou ter filhos. Hoje, ela está com 38 anos e lamenta porque o tempo passou. Tentamos várias vezes nos últimos dois anos, mas não foi da vontade do nosso Senhor. Ela passa o dia inteiro dormindo. Quando não está dormindo, está assistindo TV e se empanturrando de doces. Todo ano, quer fazer uma cirurgia plástica porque não consegue perder peso. Minha vida é uma batalha atrás de uma peleja. Pastoreava uma igreja em Suzano, posso dizer que pastoreava sozinho, porque minha mulher só ia nos cultos de domingo à noite e ainda queria oportunidade para se exibir cantando. Isso ela faz muito bem; tem uma voz linda, canta muito. Mas a unção passa bem longe dela. Leciono na UNIP, é uma universidade, então não vivo da obra. Trabalho e tenho meu salário. Trabalho na obra por prazer de servir ao Senhor, ajudar os mais necessitados e também para ficar longe da Marta. Ela não gosta de consagração, círculo de oração, culto de libertação, culto de ensino, escola bíblica. Marta só gosta de culto de festividade ou culto da família no domingo à noite. Muitas vezes, os irmãos mais necessitados me procuram pedindo uma palavra, uma ajuda financeira com remédios, alimentos ou uma visita para orar. Alguns até preparam jantar ou almoço para nós. Mas sabemos que minha esposa vai ficar com a cara enfiada no celular enquanto eu converso, oro e aconselho a família. Às vezes converso com o Senhor e expresso meu desejo por alguém ao meu lado para verdadeiramente viver comigo, não apenas de forma carnal, mas em todos os sentidos. Os irmãos podem até me perguntar se amo minha esposa, e minha resposta será: eu não sei. Já me acostumei. Um dia estávamos discutindo, afinal, ninguém é de ferro para aguentar tanta coisa por tanto tempo, e eu a chamei de "filha das trevas". Ela levou isso até o pai dela, e ele me chamou atenção. Tive que pedir perdão ontem diante do conselho de pastores e obreiros da sede. Então, quando não estou trabalhando, estou reunido com os irmãos, o que me faz muito bem. Meu sogro me chamou e comunicou que vai me transferir da congregação onde estou pastoreando para a igreja de Paraisópolis. Já preguei lá algumas vezes e sei que é um povo abençoado. Pedi a ele para conversar com sua filha, mas ela não é fácil. Moro no Itaim Bibi, que fica a 8 km de Paraisópolis, então é pertinho e não vou precisar sair do meu apartamento. Meu sogro foi comigo dar a notícia à minha mulher, que se esperneou e falou que não irá para nenhuma igreja na favela. Meu sogro até pensou em voltar atrás, mas mantive o pulso firme e falei que vamos. Melhor que vou, e se ela quiser servir, venha comigo. Se não, fica em casa deitada na cama comendo doces como fez a vida toda. Os irmãos fizeram um culto de despedida na congregação, com um jantar lindo e muitas homenagens. Saí de lá com os olhos inchados de tanto chorar, abracei a mocidade e agradeci o carinho de cada um. Fui assumir a igreja de Paraisópolis no lugar do pastor Balbino, que está jubilando após quase 40 anos de pastoreio. Ele fundou a igreja junto com meu sogro e nunca foi substituído, sempre amou aquela comunidade e aqueles irmãos. Ele até tentou me falar sobre alguns irmãos, mas pedi para conhecer cada um pessoalmente, sem pré-julgamentos, para que o Senhor me guie para ajudá-los. Chegamos em Paraisópolis, Marta estava de tromba maior que a de um elefante. Tomei meu assento quando, de repente, entrou uma jovem. Naquele momento, pedi perdão ao Senhor, mas ela é muito linda. Acho que deve ser uma nova convertida ou ainda não é convertida, pois as roupas eram muito extravagantes e seu corpo tinha muitas tatuagens à mostra. Fechei os olhos e repreendi em pensamento. Olhei para Marta, que estava com a cara enfiada no celular, e quando olhei para o lado, a jovem cruzou as pernas de um jeito que me mostrou mais do que deveria. Engoli seco e quase babei na beleza daquela mulher, mas mantive o foco e clamei por força divina durante todo o culto. Essa mulher é uma verdadeira tentação, tá amarrado. Depois da apresentação, acabou o culto, e alguns irmãos vieram me dar as boas-vindas, mas a jovem não se aproximou de mim, apenas me olhou com desejo. Não sei quantas vezes enxuguei o suor da testa e arrumei minha gravata. O olhar daquela jovem é o verdadeiro pecado.
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