Bruna narrando - 1 semana depois
Peguei meu celular que não parava de tocar e recusei a ligação do Dirley, que estava aparentemente desesperado.
Depois daquela briga que tivemos por causa do que aconteceu com a Maju, eu e ele nos resolvemos, porém, ficou extremamente chata a nossa convivência, o tempo inteiro ele falando para eu me afastar da Maju porque ela não presta e tudo mais.
Diz ele que se pegar eu andando com ela novamente, o bagulho vai ficar feio para o meu lado, mas eu não estou nem aí. Segundo ele, como que pode a primeira dama da favela andar do lado da piranh* mais rodada.
Cara, eu penso assim, o que ela faz ou deixa de fazer, é do particular dela, sabe? Eu não tenho nada haver com isso, e, eu posso andar junto, comer junto, sair junto e tudo mais, a diferença é que eu não me igualo. Já sou bem grandinha para saber o que é certo e o que é errado, e para saber que sou casada com um bandido dono de uma favela, e que em primeiro lugar de tudo, devo manter a postura.
O tempo inteiro o Dirley está me enchendo o saco, dizendo que eu devo parar de andar com a Maju, e tudo mais, e isso ja estava ficando insuportável, por isso parei de atender e falar com ele já tem dois dias.
Notícias minhas, eu tenho certeza que ele tem, mas não vou atender a chamada dele, e nem falar com ele, até chegar o dia da visita, eu hein.
Não consigo entender o Dirley, de verdade... Ele conhece a Maria Júlia desde pequeno, ela nasceu aqui na favela, assim como ele, e se eu não me engano, eles até eram amigos, antes de ele ter sido preso agora, pela segunda vez.
A Maju, por sinal, nem fala m*l dele, fala bem demais, até, que eu às vezes até estranho, mas fico na minha.
Não sei como vai ser quando ele sair da cadeia, o que está cada vez mais perto... Não quero perder a amizade dela, assim como não quero perder o meu marido.
Maju pode ser cabeça quente, ingrata às vezes, mas é minha única amiga. Claro que eu tenho a Grazi também, mas com a Grazi é diferente, ela por ser mais velha é tipo uma mãezona para mim, corre mais pelo lado da razão e querendo ou não, ela tem a vida dela, o filho dela, o marido dela, a família dela, e vive para eles.
Escutei meu celular tocar pela décima vez, e decidi atender extremamente put* da vida.
Bruna: Alô?
Dirley: Eai vida, porr*, maior neurose para falar contigo, o que tá pegando? Tá bolada por que?
Bruna: Nada Sombra, nada.
Dirley: Sombra não, para tu é Dirley, agora fala, qual foi?
Bruna: Tá me ligando por que?
Dirley: Pô amor, maior saudade de você... Caralh*, fiquei como, achando que tu tava bolada com algum bagulho, já.
Bruna: Tá devendo Dirley?
Dirley: Ih, pronto...
Bruna: Quem não deve não teme, hein.
Dirley: Tô devendo um beijo nessa sua boca gostosa, única coisa que eu tô devendo no momento.
Bruna: Uhum, sei...
Dirley: Mas passa a visão, como anda as coisas? Tá precisando de grana, tá querendo algum bagulho?
Bruna: Não, amor.
Dirley: Pode falar meu amor, tu sabe que comigo não tem que ter vergonha, se quiser algum bagulho pede que eu te dou.
Bruna: Quero você aqui comigo, não aguento mais essa saudade.
Dirley: Isso eu te dou semana que vem, sem falta, minha princesa.
Bruna: Isso me conforta demais.
Dirley: Tú é minha jóia rara Bruna, porr*, mulher... Vou te mandar quinhentos reais aí na sua conta, e tu faz o que tu quiser, compra roupa, faz o cabelo, se faltar grana me dá um toque.
Bruna: Obrigada meu amor, mas não precisa, você sabe disso.
Dirley: Lógico que precisa, tá maluca? Quero minha mulher linda e arrumada, sempre.
Bruna: Tá me falando que quando eu não estou arrumada eu sou feia?
Dirley: Tô falando nada disso não, vem chapar minha mente com as suas paranoias agora não, hein Bruna.
Bruna: Então eu sou feia, né?
Dirley: Compra comida, vai no cinema, chama a Grazi para ir contigo, faz o que tu quiser, pô.
Bruna: Boa ideia, vou chamar a Maria Julia.
Dirley: Vai chamar o caralh*, não fod* Bruna, na moral... Essa mina tem inveja de você e só tu que não vê isso, se afasta mano, tô falando sério.
Bruna: Ih, vai começar, já...
Dirley: Começar nada, tô mandando o papo reto, tô te avisando o tempo inteiro porque eu te amo, tu sabe, mas já que tu não quer escutar, vou nem tocar nesse assunto mais contigo.
Bruna: Melhor mesmo, te amo demais e não quero brigar.
Dirley: Vou emprestar o celular para o amigo aqui, depois te mando mensagem, se cuida aí, minha jóia rara.
Bruna: Te amo.
Desliguei o telefone e dei um sorrisinho lembrando do meu pretinho. Está para nascer, um homem que me trate tão bem como ele, sabe? Nunca vi igual, de verdade, ele é o amor da minha vida e eu tenho certeza disso.
Coloquei uma música do Dilsinho - Tique nervoso na tv, sempre lembro do meu homem, com essa música, coisa mais linda.
Entrei no banheiro e tomei um banho refrescante, me senti bem ao sentir a água descendo pelo meu corpo, sempre achei isso extremamente relaxante. Lavei meu cabelo e terminei meu banho.
Entrei no quarto e coloquei um short jeans cintura alta, e uma regata vermelha, calcei uma rasteirinha e mandei uma mensagem para um salão no centro de São Pedro da Aldeia, perguntando se tinham horário e eles agendaram para às 15h00s da tarde de hoje.
Mandei uma mensagem para a Grazi, chamando a mesma para ir no cinema e ela aceitou na hora. Conheci ela quando eu tinha quinze anos e ela tinha vinte e dois, agora no caso, ela tem vinte e sete, e o que me deixa mais feliz é que a nossa amizade continua perfeita, quando é para brigar a gente briga, mas nunca nos deixamos de nos falar.
Temos aquele tipo de amizade que quase não se fala, mas se eu precisar ou ao contrário, sempre estamos lá uma pela outra.
Terminei de me arrumar e dei um toque para ela me encontrar no pé do morro. Sai de casa e pedi para um vapor me levar lá em baixo.
Quando cheguei ela já estava lá, cumprimentei a mesma com dois beijos, chamamos o uber e entramos.
Grazi: Mas e então, como está indo você e o Dirley? - Falou enquanto entravamos no shopping.
Bruna: Ah, tudo de bom, né amiga, não vejo a hora da liberdade cantar.
Grazi: Porr*, nem fala... Tô morrendo de saudades do Nathan, principalmente agora que pegaram ele fazendo merd* e privaram ele de receber visita por seis meses. - Olhei para a mesma desacreditada.
Bruna: Ser mulher de preso não é fácil. - Falei rindo e ela negou com a cabeça.
Por fim, íamos assistir filme, mas a conversa estava tão boa que ficamos passeando pelo shopping tomando sorvete.
Grazi: Você viu que a Yasmin Fernandes voltou para a favela? - Arregalei os olhos.
Bruna: Oi?
Grazi: Pois é, mulher, e o filho dela está grandão, já, deve ter uns sete anos de idade.
Bruna: Caracas, que coisa boa, pelo menos, né? Nunca tive nada contra ela.
Grazi: Ela é uma piranh*, agora sua amiguinha te abandona. - Falou rindo mas eu sei que ela estava zoando.
A Grazi nunca gostou da Maju também, e a Maju era melhor amiga dessa Yasmin antes de ela ir embora. Quandk eu me mudei para cá, ela estava grávida, e morou na favela por uns dois anos, e depois resolveu se mudar para sabe Deus onde.
Do nada resolveu voltar, espero que não dê trabalho, já que a Grazi fala que ela é uma put* de uma menina sem vergonha na cara... Mas é aquela coisa, né, Grazi é minha amiga, mas eu não julgo nínguem antes de conhecer, então prefiro não tomar ranço precipitado.
Grazi: Mas então, amiga, eu estava pensando aqui, e você, não pensa em ter filho?
Bruna: O sonho do Dirley é ser pai, mas eu não me sinto pronta, sabe? Acho que está muito cedo, e eu não sei como vai ser quando ele sair da cadeia e estiver comigo aqui... Tipo, eu nunca casei, ele foi o meu primeiro em tudo, e nem sei se agora que vamos morar juntos vai dar tudo extremamente certo
Grazi: Entendo, mas é aquela coisa, ser pai é facil, ser mãe não. - Me olhou séria. - Faz o que você achar melhor para você, casamento não é eterno, vínculo com filho, sim.
Bruna: Sim, e eu já esperei tanto tempo por ele, acho que é necessário nós termos um tempo para nós dois, no nosso cantinho.
Grazi: Claro que sim.
Ficamos conversando até dar umas 14h30s, e eu ter que ir para o salão. Me despedi da Grazi que voltou para a Praia Linda e entrei em um uber indo fazer o cabelo.
Cheguei no salão e a moça começou a fazer meu cabelo enquanto eu mexia no meu celular dando uma olhadinha no i********:. É incrível como as pessoas tentam cuidar da nossa vida mais do que nós mesmo, isso chega a cansar.
Abri o w******p e tinha mensagem da Maju, perguntando onde eu estava e o motivo de eu não ter chamado ela. Ignorei as mensagem e desliguei o celular, tô afim de dar satisfações para ninguém hoje.
Quando a moça terminou a progressiva, paguei e pedi um uber novamente para a Praia Linda, porém, para estragar meu dia, estava chovendo demais e não tinha uber disponível.
Sentei numa lanchonete e pedi um lanche e um suco, comecei a comer até um branquinho tatuado parar na minha frente.
***: Eai princesa, tá sozinha? - Meu coração acelerou quando ouvi aquela voz grossa, mas mantive a postura.
Bruna: Estou, mas sou casada.- Dei um sorriso fraco.
***: Seu marido vê problemas em você ter amigos? - Levantei uma sobrancelha.
Bruna: Claro que não. - Apontei para a cadeira e ele sentou.
***: Esqueci de me apresentar, prazer Túlio.
Bruna: Prazer, Bruna. - Peguei na mão dele.
Túlio: Quantos anos você tem?
Bruna: Tenho vinte, e você?
Túlio: Tenho vinte e três. Mora por aqui?
Bruna: Moro na praia linda.- Ele assentiu. - E você?
Túlio: Não moro aqui, estou de passagem, mas minha família é do Boqueirão. - Assenti.
Bruna: Mora por onde?
Túlio: Me mudei para Nova Iorque, recentemente, porém a cada quatro meses, eu venho visitar a família.
Bruna: Legal. - Observei ele olhando o relógio.
Túlio: Olha só, eu tenho uma reunião marcada daqui quinze minutos, então, se você me chamar no w******p podemos conversar melhor. - Me deu um papel com o número dele e se despediu de mim.
Fiquei fitando o papel pensando se valeria a pena ou não, porque não quero ter problemas, mas ele pareceu ser um cara legal, para ser amiga, claro.
Procurei novamente um motorista de uber e encontrei um que me levou de volta para o morro rapidinho.