Capítulo 03
malia -
Ao sair do quarto onde passei a noite, desço as escadas encontrando a casa em maior silêncio, certamente Erick não estaria. Ao entrar na enorme cozinha dessa mansão, encontrei uma mulher um pouco mais nova que minha mãe, seus cabelos estavam presos em um coque enquanto lavava as louças,seu uniforme incrivelmente branco me fazia deduzir que seria a cozinheira e empregada da casa.
— Bom dia! - lhe cumprimentei educadamente enquanto me sento no balcão a observando calmamente, me fazendo lembrar das diversas manhãs de ressaca com Dulce.
— Bom dia Srta Malia! - o sorriso encantador em seu rosto me fez retribuir.
Mesmo sendo quem sou e conhecida pelas minhas merdas,era incrível a forma que as pessoas me tratavam. Acho que somente minha mãe me vê como um monstro que ao menos devia ter nascido.
— Pode me chamar de Malia, ou apenas de Lia - assentindo enquanto voltava sua atenção para a pia repleta de louça suja, descubro seu nome através das nossas conversas enquanto tomo apenas um suco de laranja - Luisa? Sabe onde posso encontrar uma academia aqui? - Ao se virar em minha direção secando as mãos em uma pano de prato, Luísa me guia por um corredor saindo da cozinha e me levanto novamente para as escadas.
Ao abrirmos uma porta no final do segundo corredor da casa, encontramos uma academia perfeitamente montada,o que me fez sorrir. Me deixando ali dizendo que voltaria para seus afazeres, me volto para todos os equipamentos necessários para um bom exercício físico, porém o que me fez sorrir foi o saco de pancadas no canto daquela sala.
Após pôr as luvas em minhas mãos,me posiciono em frente ao objeto dando-lhe o primeiro soco seguido de outros cada vez mais fortes, me permitindo lembrar de um dos piores dias da minha vida...
[...]
Enquanto mantinha a arma apontada em sua direção, deixava diversas lágrimas molharem minha face. Estava em frente a sete armas enquanto apontava outra para ele, meu corpo estava tenso com a possibilidade de morrer ali por não querer matá-lo.
— Escolhe Harley! Ou você,ou ele - aquela maldita voz não se cala em momento algum,o que me deixava extremamente irritada e sem saber o que fazer.
Minhas mãos trêmulas seguravam aquele objeto de forma segura e firme,era somente puxar o gatilho e ir para casa. Ele era um traidor e merecia tal destino, porém não conseguia me tornar um monstro que atiraria em uma pessoa a sangue frio.
— Atira Lia! Nós dois sabemos que somente um poderá sair vivo disso - negando enquanto tentava controlar aquelas malditas lágrimas de fraqueza,olho para todos que apontavam uma arma em minha direção. A escolha era minha e as consequências também - Atira,agora!
Deixando a arma cair no chão, sinto um chute em minhas pernas, fazendo-me ficar de joelhos em frente ao meu melhor amigo. Seus olhos banhados por lágrimas me encaravam com o mesmo carinho de sempre, suas mãos seguraram as minhas, e meu controle emocional se desfez ao vê-lo cair no chão com um ferimento de bala em seu peito.
Na tentativa de me aproximar de seu corpo ainda com vida,fui puxada para fora daquele galpão, ouvindo a sequência de tiros que me fez gritar por ele com todas as minhas forças.
— Eu te avisei, Lia! Essas pessoas não são quem você pensou serem, elas são frias e matam sem dó e piedade - ao olhar para um dos caras que apontou a maldita arma em minha direção,o vejo me encarar com pena - Escolhe! Se ficar terá que aprender que até mesmo seus pais são inimigos, não poderá ter amigos ou pessoas próximas a você. Mas se não está disposta a renegar tudo isso, peço que saia e vá para casa sem pensar em contar para alguém o que aconteceu aqui. Faça a sua escolha!
Sempre soube que eles eram pessoas sem coração e sem amor a alguém,porém nunca imaginei que precisaria atirar em meu próprio amigo,nunca pensei que estaria colocando todos ao meu redor em risco. Apenas quis experimentar algo novo e acabei fudendo a vida de ambos.
— Eu não quero ser como você, não quero ser como eles! - as palavras saíram pelos meus lábios de forma rápida e sem exitar em algo referido a eles.
— Você sabe as regras. Se sair por aqueles portões, não poderá nos mencionar em momento algum, ou alguém da sua querida família pagará as consequências. Serão um por um até chegar em você - assentindo secando as poucas lágrimas que restaram ao me lembrar que o corpo de meu melhor amigo estava dentro daquele galpão e que certamente seria jogado em algum lago ou rio da cidade,até mesmo nos bueiros da cidade, saio por aquela estrada deserta, cercada por árvores de uma floresta qualquer.
[...]
Ao me sentar no chão em frente ao objeto que distribui meus socos,sinto uma lágrima em minha bochecha sendo seca com agressividade. Olhando em direção a entrada daquela sala, encontro Erick me observando atentamente, seus olhos não negavam a curiosidade sobre mim. Se olhar em cada detalhe de seu rosto, posso encontrar aquela famosa feição de curiosidade e um pouco de orgulho.
— Está me observando a muito tempo?- voltando a minha atenção para as luvas ainda em minhas mãos,me permito esquecer por um minuto sequer que o homem parado no mesmo ambiente que estou,era um filho da p**a que simplesmente abandonou a filha com uma mulher que garantiu que seus dias seriam os piores possíveis.
— De pé! - o encaro sem entender o seu tom autoritário naquele momento,sei que as coisas iriam piorar no momento em que começasse a sair para as minhas noitadas, mas enquanto isso não acontece, prefiro manter a paz e tranquilidade - De pé, agora! - Mesmo cansada demais,lhe obedeço o vendo se aproximar em passos rápidos, pegando uma luva sobre uma bancada ao nosso lado - Me mostre o que sabe fazer! - apenas assenti me preparando para lutar com meu querido papai cretino.
Ao me dar permissão para começar,me aproximei do mesmo lhe dando um soco um pouco forte no abdômen,o que lhe fez revidar cortando meu ar por alguns minutos.
— Filho da p**a…- sussurro me colocando novamente na posição de antes.
Lhe dei uma rasteira o jogando no chão e subo em cima dele, distribuindo socos enquanto se defende com as mãos. Minha mente traiçoeira me levou diretamente no primeiro dia de aula no colégio, onde alguns alunos me cercaram a pedido de uma v***a que pensava ser dona da p***a toda. Aquele dia cheguei em casa toda dolorida e com alguns ferimentos,desde então meu melhor amigo fora do colégio,me ensinou a me defender para depois aprimorar minha habilidade para algo além defesa.
Erick troca de posição ficando por cima de mim enquanto distribuía alguns golpes em direção ao meu rosto. Ao ver que a luta estava ficando mais séria, bati com o joelho em suas costas com toda força da minha perna.
— Quem te ensinou a lutar assim? - o ajudo a se levantar devido a dor que uma pancada nas costas causa. Me sento sobre o balcão à sua frente, ficando a sua altura por ser mais baixa que ele.
— Porque você teve que agir daquela forma? Porque desapareceu da minha vida como se não importasse para você? - Ao ouvir minhas perguntas, Erick respira fundo como se estivesse cansado e não quisesse tocar naquele assunto.
Por muito tempo quis saber essas respostas,por mais que estivesse com raiva do filho da p**a que ele foi ao desaparecer sem ao menos pensar em me ver ou até mesmo me fazer uma visita de alguns minutos,eu só o queria por perto quando mais precisei.
— Escuta, Lia! - Erick se aproxima de mim, tocando em meus cabelos e fincando no meio de minhas pernas - Juro que tentei manter contato com você,tentei entrar com o pedido da sua guarda, mas...a sua mãe não me permitiu que me aproximasse! Ela sabia que se tentasse entrar na justiça por você,ela perderia qualquer direito a você, até mesmo as visitas e férias - olhando em seus incríveis olhos castanhos, consigo ver que estava sendo sincero. Mas o fato da minha mãe poder perder a minha guarda é estranho,por mais que ela não fosse tão responsável,ela ganharia por ter Ricardo ao seu lado - sua mãe não é apta para cuidar de você Lia! Lorena nunca foi boa esposa e nunca seria boa mãe - isso eu tinha que concordar! Minha mãe sempre agiu como se fosse livre e não tivesse filha e muito menos marido.
— Você desistiu ao ouvir uma ameaça ou algo do tipo,o que indica que você ao menos pensou na possibilidade de enfrentá-la para ficar com minha guarda! - o empurrando para trás, desço do balcão e sai daquela sala, o deixando sozinho.