Capítulo 04
_Malia
Observava as pessoas dançarem na pista de dança animadamente enquanto bebia minha terceira dose de vodka pura. Depois da pequena conversa com meu querido papai na academia, subi para meu quarto ficando trancada no mesmo até às dez da noite,e às onze e meia, dei um perdido nele e sai de casa pela janela de meu quarto,o que me custou alguns arranhões por causa de uma árvore no rumo de minha janela e por ela ter alguns espinhos. O que não faço para relaxar no meio de muitas pessoas e bebidas!
Enquanto fumava um dos cigarros que acabei comprando em um beco qualquer com um moleque - diria que o coitado teria de quatorze a quinze anos,em pensar que quase era eu em seu lugar. Ao olhar as horas em meu celular,vejo que se passava de uma e meia da manhã.
- Tô indo caindo fora! - o grupo de amigos que me ofereceu para ficar com eles naquela noite olham para mim e concordam em um único assento.
Sem muito me importar com eles,saio daquela boate e por sorte, encontro um táxi parado ali em frente. Apenas entrei e lhe dei o endereço torcendo para que ninguém esteja acordado a essa hora. Se fosse na Califórnia,a única pessoa que encontraria sentada no sofá da sala de estar me esperando para ter certeza de que estava bem, seria minha amada Dulce.
Ao pagar o taxista, saio do carro indo diretamente para a porta da minha mais nova casa, porém não entraria,caminhei para o jardim atrás e me sentei na borda da piscina observando meu reflexo na água clara.
O que você está fazendo da sua vida, Lia? O que está querendo com tudo isso? - sussurro deixando o lado bêbado sentimental tomar frente a minha situação deplorável.
Meu rosto não negava o quão havia bebido essa noite, minha feição abatida não escondia o quão cansada da vida eu estava,meu corpo necessitava de paz,minha mente precisava de tranquilidade e se desligar do mundo a minha volta, precisava de paz e tranquilidade e nada mais.
Virei a noite sentada naquela borda de piscina, pensando nas merdas que já fiz e faço até os dias atuais. Como seria se meu pai não tivesse me abandonado? Como seria se minha mãe pensasse um pouquinho em mim? Como seria se não tivesse existido? Perguntas sem respostas,mas para uma delas eu sabia perfeitamente bem qual seria: se não tivesse existido, certamente a vida de muitas pessoas seria melhor.
Você acha mesmo que pode me enganar por simplesmente trancar aquela maldita porta? - sem me virar em sua direção,tinha uma noção de como seria sua cara.
Ainda sentada, sinto Erick segurar em meu braço o apertando,porém não reclamei e muito menos iria lhe afrontar. Entrando na cozinha ainda sendo segurada pelas suas mãos, encontramos com Luisa - certamente iria fazer o café da manhã por Erick acordar em plena cinco da manhã - ela nos olhava preocupada, talvez por saber que esse homem não brincaria ao ser desrespeitado.
Ao pararmos em frente a porta de meu quarto, Ericka abre me jogando sobre a cama. Eu sabia o que aconteceria logo a seguir,me lembrava bem de como minha mãe costumava fazer comigo quando era mais nova. Depois que se casou com meu padrasto, seus castigos eram básicos e limitados,nada de agressões.
Lia? - seu tom de voz alterado pronuncia meu nome com raiva,o que me fez fechar os olhos já sabendo que, não por agora pois estava entorpecida com a bebida em meu organismo,a dor do castigo será forte.
Ao ver que não iria responder e me manteria deitada de costas para ele, ouço o mesmo soltar o cinto de sua calça e o segurar firmemente. Com os olhos fechados e com a respiração presa, sinto o primeiro contato do cinto em minhas costas, sendo seguido do segundo, terceiro, quarto e por aí vai.
Não lhe olhei um minuto sequer,até mesmo quando ele parou e colocou o cinto novamente permaneci da mesma forma. Ao ouvir a porta do meu quarto bater e a chave o trancando, permite as lágrimas caírem me fazendo soluçar.
Muitos podem julgar ser errado o que me foi feito, porém não o culpo por ter esse jeito frio. Se me lembro bem,meus avós - antes de falecerem - me contavam que meu pai escolheu ser militar por ter sido educado dessa mesma forma bruta. Meu avô não era pai biológico de Erick,a mãe de Erick se casou com o padrasto dois anos depois da separação de meus avós.
Lia? - ouço a voz doce de Luísa, certamente parada na porta de meu quarto - seu pai pediu para você tomar seu café da manhã - neguei permanecendo na mesma posição de antes, minhas costas e pernas adiam dolorosamente,o álcool em meu corpo estava perdendo o efeito,o que acontecia rápido demais para um pessoa que sempre bebe de mais, mas o dia estava se passando rapidamente.
E novamente ouço a porta ser fechada e trancada,o que provavelmente seria uma ordem de Erick Miller. Abraçando meu travesseiro enquanto as lágrimas não cessavam,me permito sentir a ardência em meu corpo e a dor que se formou em meu peito a anos. As minhas escolhas foram simples, porém a dor de cada consequência imposta a mim era arrebatadora,e não sei se irei aguentar até o final,e para ser sincera comigo mesma, não estou nem um pouco preocupada com isso. Deixei isso nas mãos do destino a muito tempo.
[...]
Abro meus olhos calmamente encontrando meu quarto totalmente escuro,acho que dormi demais devido ao cansaço em cada parte de meu corpo. Me movendo lentamente, sinto um cobertor - que provavelmente Luisa tenha posto - sobre meu corpo, ainda com as mesma roupas de ontem a noite.
Um gemido escapou pelos meus lábios enquanto tentava me mover naquela cama. Ao ver a porta do meu quarto ser aberta e as luzes acesas, vejo Erick entrando com uma bandeja em mãos.
Luísa me informou que você não se levantou durante o dia inteiro…- apenas desvio meu olhar dele para o criado mudo ao lado da cama e me posiciono da mesma forma que estava deitada - Lia...- aperto meus olhos que ardiam devido às novas lágrimas que se formavam. Não tirava sua razão,pois ele fez aquilo como um castigo,mas não conseguiria lhe olhar nos olhos, não hoje e não agora.
Me deixe sozinha, por favor! - Sussurrando o mais baixo possível para não deixar um soluço escapar por entre meus lábios, pude sentir que sua respiração estava frustrada e com um pouco de ressentimento. Acho que Erick não esperava ver essa minha reação. A realidade era que nunca consegui olhar para minha mãe no mesmo dia que ela me batia, e não seria diferente com ele.
Qualquer coisa é só me chamar ou a Luísa…- assenti sentindo-o se aproximar de mim e se abaixar em minha frente me fazendo fechar os olhos - me desculpa?... Eu só…- n**o para que ele parasse de falar.
Suas mãos tocaram em meus cabelos me fazendo deixar um soluço escapar, sentindo novamente as dores voltarem por todo meu corpo.
Por favor,pai…- se pondo de pé, Erick se afasta indo em direção a porta e se retira do quarto a fechando atrás de si.