Helena
Claro que aceitei o convite! O que eu mais preciso é de dinheiro. Me arrumei com a ajuda da minha avó e ela estava curiosa para saber para onde eu ia de salto, camisa de manga e calça social.
— Então eles te chamaram mesmo? — vovó estava desacreditada da minha história.
— Sim. A senhora não acredita na minha capacidade não, é? — estendi o braço para ela abotoar o punho. Essa roupa tem botões meia-pérola, nunca consigo abotoar os punhos sozinha.
— Olhe, minha filha. Eu sei que você se entrega a tudo, e isso é bom, mas tem horas que é perigoso. Não se entregue a esse povo. Essa família só leva má sorte para os outros.
— Como assim, má sorte? — juntei as sobrancelhas. Me deu até um medo de ir até lá.
— É um povo ganancioso. Passa por cima de todo mundo pra ter o que quer. Eu me lembro do tal Martin… Tão ganancioso que arrebentou o olho e hoje em dia é cego.
— Mas vixe… — fiquei impressionada com a história. O pessoal não fala muito sobre isso. É como se essa família fosse uma lenda. Eu morei em outros lugares e agora que estou aqui, ouço falar destas pessoas e para mim é como se fossem mesmo lendas. Esse Lorenzo, o pai dele e sua reclusão... essa história de má sorte, ganância e olho cedo. Tudo isso me causa calafrios. — Eu só vou trabalhar, Vovó. Não vai acontecer de eu cair na ganância deles não. — fiquei rindo comigo mesma, para tentar amenizar o frio na barriga que me apareceu.
Eu sou que tipo de coisa para se tornar objeto da ganância de alguém?
Uma pobre camponesa.
Ela terminou e deu um tapa na minha b***a. — Vá tomar café.
— Tá bom. — esfreguei o lugar do tapa rindo da sua ousadia. Ela tem uns tapinhas que doem bastante.
De roupa bem profissional, peguei a minha bolsa de pobre que se acha rica e apareci na cozinha.
— Hum. — Bernardo pigarreou, olhando o seu prato de cuscuz. — Tem uma história por aí que a polícia bateu na porta de um povo que estava com som depois das 11h.
Meu pai ficou olhando para mim.
— Oxe. — fingi naturalidade. — Apois… — aproveitei a provocação e sentei do lado do meu irmão, lhe tacando num beliscão.
— Deve ter sido alguma maluca da rua 15. — ele comentou fazendo careta de dor.
— Helena, eu sei que não estava metida nisso. — meu pai ficou tranquilo. — Nunca a vejo ouvindo música alta, nem bêbada.
Ainda bem. Porque eu sou surtadona.
Bernardo riu, porém engasgou com o cuscuz.
Ô coisa bem feita.
— Engasgou, irmãozinho? Quer ajuda? — lhe acertei um soco nas costas e ele arregalou os olhos.
— Vai com calma, desgraça!
— Desculpa. Tem momentos que eu não sei me podar. — abri um sorriso aterrorizante para ele.
Ele até tenta sujar a minha imagem com o meu pai, mas não consegue. Meu pai é cego pelo orgulho que sente por sua única filha mulher estar formada na faculdade e por ter voltado para perto da família. E o meu trabalho não é tão superestimado como o do meu irmão empalitozado. Eu achei que voltaria fazendo a diferença, mas foi só achismo mesmo. Depois da formatura a realidade bate e as coisas não acontecem da noite para o dia.
Tomei meu café da manhã com pressa, na esperança de ainda pegar uma carona com Bernardo. Eu não tenho carro, mas ele tem.
Ele trabalha no banco da cidade, que é um pouco antes do hotel-fazenda, mas ele vai chegar até onde eu preciso ir. Por bem ou por m*l. Querendo ou não.
Saímos os dois no Fiat Uno 2010 que é da família, mas acaba sendo dominado por quem mais utiliza e logo que pegamos estrada, eu já comecei a reclamar.
— Bernardo, por que você fica querendo me fazer raiva na frente do nosso pai? Você sabe que eu posso te matar, né? Ou ao menos destruir a sua vida social.
— Você não tá doida! Eu não sou seus ex-namorados, ou seja lá quem você faz ameaça.
— Não fica fofocando pra ele. Isso é chato. Eu vou mandar o pai te mandar pra casa da sua mãe. — ameacei e eu sabia que o meu pai ouvia meus pedidos.
— Aí você não terá carona para canto nenhum mais.
Ele dirigiu a uma velocidade boa, até que passamos por uma determinada rua. Havia uma garota bem bonita andando do outro lado da rua. De cabelos castanho claro, longos, lisos, um rosto angelical e um corpo esguio.
Bernardo diminuiu a velocidade do carro e buzinou para ela, quase jogando a cabeça para fora do carro.
— Preste atenção na direção, Bernardo!
— Tô prestando. — ele olhou pra frente, mas logo estava de olho no retrovisor.
Homem é bicho b***a mesmo. E quando é mulherengo como o meu irmão é, então!
— Você ao menos conhece a garota ou é só palhaçada de cafajeste?
— Todo dia eu a vejo quando estou passando por aqui. Ela estudava na mesma escola que eu, mas era muito tímida, nem saía da sala.
— Você é afim dela desde quando? — ergui a sobrancelha.
Ele sorriu. — Não é bem afim. Eu só quero pegar ela mesmo.
Cafajeste.
Saí do carro na frente do hotel-fazenda Bragança. Sempre quis vir nesse lugar, mas como as meninas falaram, é lugar de rico.
— Boa sorte. — Bernardo buzinou e se foi.
Preciso de sorte mesmo, pois esse é o lugar mais chique que terei a possível chance de prestar meus serviços desde que me formei.
Assim que comecei a andar, senti que meu parente distante chegou para a visita do mês.
— Ô desgraça. Logo agora? — falei comigo mesma e passei pela recepção, onde uma mulher estava no balcão, digitando num computador. — Bom dia. Eu tenho uma reunião com o diretor daqui.
— Bom dia. Seu nome?
— Helena.
— Helena?... — ela ficou olhando a tela do computador. — Parece não estar na lista…
— Não está? — apertei minha periquita enquanto isso. Esse é meu maior problema no momento. — Tem algum banheiro aqui? Estou naqueles dias… — expliquei num tom mais baixo. Que vergonha! Mas as mulheres se entendem neste período.
— Sim. Sim. Você pode entrar. É naquele primeiro módulo. — apontou para além das portas de vidro. Eu nem tinha reparado em como lá dentro era lindo, mas só agradeci e passei para o jardim do hotel. O lugar estava vazio. Meus passos rápidos pareciam lentos diante da minha necessidade de um banheiro.
Chegando no tal lugar, vi uma porta e logo imaginei que era o banheiro. Abri a porta e entrei.
Quando levantei o rosto, com a porta do banheiro já trancada, me virei para trás e dei de cara com um bonitão de cabelos e barba escuros, alto e bem distraído segurando o p***o na direção da pia.
Gritei de imediato e ele olhou para mim e se assustou.