Helena
Que rôla grande do c*****o!
— Me desculpa. Desculpa. Desculpa. Eu achei que não tinha ninguém. — me virei fechando os olhos e procurei a maçaneta.
— Não abre. — ouvi o barulho de zíper e uma risadinha dele. — Eu vou sair. — ele colocou sua mão encima da minha e eu tirei imediatamente, ao lembrar que ele pegou na rôla com essa mão e nem lavou.
Mas tem uma pia lá fora, então… essa maçaneta só deve feder a rôla.
Ele abriu a porta e eu os meus olhos.
Ai que vergonha. Espero nunca mais ver esse cara na minha vida.
Ele saiu que eu nem olhei.
— Um banheiro só pra homem e mulher não dá certo. — desabotoei minha roupa e fui reparar os estragos. — Porque esse cara não passou nem a chave? Deve ser do time dos bonitões desleixados.
[•••]
Voltei para a recepção e agora sim, foquei no outro problema.
— Então, moça, você disse que meu nome não tá aí na lista?
— Não estava. Mas o chefe passou aqui e avisou sobre a sua reunião com ele. Eu vou te levar até a sala. — ela saiu de trás do balcão.
É, parceira. O chefe. Foi O chefe que chegou e falou.
Sou pouca merda não.
A acompanhei até a tal sala, agora observando cada detalhe desse lugar. Tudo muito bem acabado. Tudo bem feito. Muito chique. Eu gostei daqui. Talvez eu goste de vir trabalhar aqui.
Ela bateu na porta e depois abriu uma fresta e avisou que eu cheguei.
— Ok. Certo. — ela balançava a cabeça olhando para dentro da sala. — Você pode entrar, Helena.
— Obrigada. — segurei a maçaneta e empurrei a porta.
Logo de cara, assim, perdi as pernas.
O chefe que estava sentado do outro lado da mesa era ninguém mais, ninguém menos que o boy da rôla.
Ele ficou rindo da minha reação.
— Fique à vontade, Helena.
Fechei a porta, pensando na minha sorte desgraçada e puxei a cadeira para sentar. — Depois do que aconteceu? Como vou ficar à vontade? Só quero que você saiba que eu não vi nada.
— Tudo bem. Faz parte dos relacionamentos.
— Eu já tive outros chefes e nunca vi a rôla deles.
Ele ficou rindo. — Você sempre fala tudo que pensa?
— Sim. E sempre falo comigo mesma. Porque a minha opinião é muito importante pra mim.
Ele me encarou sorrindo.
Olhando sem pressa. Que pedaço de m*l caminho. Ele tem uma barba por fazer que dá um charme danado, e esse jeito de olhar, com o queixo mais retraído e o sorriso… benza Deus. Eu caía facinho no golpe.
Me toquei que a gente se encarou por longos segundos e quebrei a conexão do olhar, um pouco sem jeito. — Então…
— Então. — ele levantou a mão. — Muito prazer, eu sou Lorenzo Bragança.
— Lorenzo Bragança? — repeti de olhos arregalados e dei o aperto de mãos.
As meninas não mentiram. O filho da mãe é bonitão mesmo!
— Sim. Você se lembra de mim?
— Porquê? Você lembra? — fiquei perdida.
Ele abaixou as sobrancelhas, pensativo. — Época de infância, talvez.
— Ah. Nessa época eu tinha muitos meninos ao meu redor. É difícil lembrar.
Ele sorriu com a mão perto da boca. — Realmente, você atraia muitos olhares.
— Pelo visto eu atraia o seu também. Já que você lembra. — garanti com um sorrisinho esnobe.
Esses meninos…
Ele riu. — Digamos que sim. Mas eu não era um moleque de atitudes.
— Mesmo se tivesse não ia conseguir nada. Quando eu era criança só gostava de brincar de boneca e de comer.
— E hoje em dia?
— Ainda gosto muito de comer.
Ele sorriu.
— Quem sabe não marcamos um dia. Para comer. — sugeriu, erguendo a sobrancelha.
— Convite de comida eu tenho dificuldades em recusar. — contestei em lamento, mas sorrindo e ele continuou no sorriso.
— Então, Helena. — se concertou na poltrona. — Já estamos bem íntimos, agora eu quero saber como podemos trabalhar juntos. Eu vi seu trabalho. Adorei. Você faz coisas bem feitas, é criativa…
Tô gostando dos elogios.
— … Eu quero trazer mais pessoas para o hotel-fazenda, sabe? Agora que todo mundo tá conectado. Dá pra vir gente de tudo que é canto. Então eu quero um marketing pesado, que alcance muitos.
— Tranquilo. — assenti. — Para isso eu vou precisar gerenciar todas as redes sociais e sites do hotel...
— Então. — ele me interrompeu. — Esse é o problema. Não tem nada aqui. O meu pai é um pouco atrasado em relação às tecnologias e ultimamente ele nem tem focado tanto no hotel. Eu voltei porque acredito que esse lugar ainda pode nos dar muito lucro e mais do que isso, é um negócio de família. Não podemos deixar morrer.
— Então começamos do zero. — defini.
— Sim. — ele sorriu. — Como você faz? Eu vou te ver todo dia? Digo, você vem pra cá ou tem um escritório próprio?
Ele tá querendo me ver sempre.
— Eu trabalho em casa. Porém, eu sempre estou visitando os locais. Então provavelmente eu virei aqui algumas vezes na semana. A depender do nosso contrato.
— Faça o preço e eu vou levar para a aprovação do chefe supremo.
O pai…
— Tranquilo. — abri minha pastinha e entreguei uma das planilhas que deixo pronta. — Quando se decidir, você pode me ligar. Aí tem meu contato também.
— Tá certo. — ele levantou e me acompanhou até a porta. — Muito obrigado por vir. Foi um prazer revê-la, Helena.
— Pra mim também. — o cumprimentei uma última vez e peguei meu caminho para a rua.
Que babado. Eu não esperava isso pra hoje.
A única coisa r**m dessa rua é que não tem ponto de ônibus. Ou seja, eu terei que ir andando até um.
Onde tem um? Deve ser a quilômetros dali.
Comecei a andar e dando uma leve olhada no jardim. Que lugar bonito! Por dentro deve ser mais ainda.
Adiantei os passos e depois de uns 5 minutos, os meus sapatos começaram a incomodar. Parei e tirei eles do pé. Se me atrase, preciso não usar.
Com os pés livres pude continuar caminhando rápido e sem dor.
Passei pela frente do banco e vi o carro da nossa família. A vontade de carregar é grande, mas deixei quieto.
Pouco tempo depois, passei pela área mais esquisita da cidade. É o trecho da ribanceira.
Um lugar sombrio. As árvores são muito altas e em certo ponto eu senti um calafrio. Apressei meus passos e assim que consegui, passei para o outro lado da rua. Longe do lugar alto. Eu tenho um medo de altura que não é normal.
Felizmente, logo virei a esquina mais habitada. A entrada da avenida principal e vi um ponto de ônibus. E tinha um bendito ônibus prestes a passar ali. Ele estava esperando o sinal abrir.
Comecei a correr para pegá-lo.
Cidade pequena passa ônibus de 1 em 1 hora.
O que eu vou fazer em 1 hora esperando no ponto de ônibus?
— Que esse sinal não abra.
Corri feito uma desesperada. O sinal abriu. Os carros começaram a andar e o ônibus parou no ponto. As pessoas subiram e bem olharam para mim. Ainda faltava um bocado para chegar. O ônibus saiu e passou do sinal livre com tudo. 10 segundos depois eu cheguei no ponto de ônibus, morrendo de cansaço e p**a da vida.
— Maldito! Maldito! — pulei de raiva.
Um carrão parou do meu lado. Um carro novinho em folha. Preto, luxuoso. Bem brilhante.
Eu parei de me manifestar.
As janelas do carro desceram e eu vi um homem me encarando.
Ele é barbudo, cabelo arrumado, uma roupa bem elegante, com pinta de galã das 9. Galã não. Vilão.
Virei meu rosto olhando para a rua. Mas pela visão periférica, sabia que ele ainda estava me encarando.
Quando pensei em perguntar o que ele queria, alguém buzinou atrás e ele parou de me encarar e seguiu viagem.
Eu hein.
Porque esse cara ficou me encarando assim?
Será que eu tava muito louca no surto de perder o ônibus?
Será que a minha roupa tá manchada? Mas não. Ele tava olhando para o meu rosto.
Eu hein.
Fiquei assustada agora.